Artigo VII. ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DE GRAMÁTICA EM ELE1 Solange Fernandes Guimarães [1] Elzimar Goettenauer de Marins Costa O ensino de gramática em sala de aula tem sido um problema para os professores desde que surgiu uma interpretação incorreta das atuais metodologias e enfoques, tem se crido que ao enfatizarem a comunicação em sala de aula não se deve trabalhar a gramática. Isso tem gerado um desespero que cerca o professor ao programar o conteúdo gramatical de sua aula fazendo com que muitas vezes relegue esse conteúdo a um plano de inferioridade, por pensar que não podem trabalhar os pontos gramaticais sem que seja de uma forma camuflada, isto é, os alunos não devem perceber que estão estudando gramática. Quando abrimos mão da gramática em nossas aulas estamos afirmando que os nossos alunos não têm capacidade para aprendê-la ou que ela é irrelevante para um efetivo ensino de línguas? Encina Alonso em seu livro ¿Cómo ser profesor y querer seguir siéndolo? (1999: 79) nos faz refletir acerca da gramática, ela lança alguma perguntas que são de grande importância: 1. Que entende por gramática? 2. Que entende por ensinar gramática? 3. Crê que seja necessário ensinar gramática? 4. Quem ensina gramática? 5. Há alguma diferença entre ensinar expoentes funcionais e ensinar gramática? 6. Tem idéia de como praticar a gramática? A gramática tem sido definida como um conjunto de regras que o falante conhece e através disso lhe permite fazer escolhas acertadas no momento de fala. Muitos têm o hábito de elencarem os prós e os contras do ensino de gramática mas é fato que através da gramática conhecemos as estruturas relevantes típicas da língua e que a fazem ser chamada de língua estrangeira. É certo que há conteúdos irrelevantes para um êxito comunicativo, mas também é certo que não se deve romper a união atos de fala e gramática. O que tem ocorrido é que ao ensinar gramática, devido a esta separação inconsciente feita pelo professor, tem se lançado frases descontextualizadas como forma de estudo dos pontos gramaticais em 1 Texto publicado em Anais do XVI Seminário do CELLIP. CD-ROM. Ref.: 474. UEL: Out./2003. voga, o resultado é que o aluno consegue se superar em conhecimento gramaticais mas não consegue aplicar esse conhecimento à sua fala. A contextualização é de importância prima para se atingir um efetivo conhecimento da língua, pois é através da apresentação da situação quase concreta que o aluno consegue captar o momento do uso da regra. É fazer com que o aluno primeiro visualize os usos para que depois possa teorizá-lo. No momento em que aprendíamos nossa língua materna necessitávamos fazer inferências, deduções que muitas vezes descobrimos serem incorretas, mas foram de crucial importância para uma aprendizagem, é certo que se trata de situações reais de atos de fala, mas isso não elimina o fato de que experimentamos algumas construções frasais durante a comunicação que demonstram haver uma problematização inconsciente do falante ao construir frases. Durante o ato de fala podemos falar muito mais do que está transcrito literalmente, por exemplo: Quando o telefone toca e uma pessoa fala para a outra “o telefone está tocando”, essa pessoa fez muito mais do que informar algo que uma pessoa que desfrute de uma boa audição já não soubesse, ela, através disso fez um pedido: “atenda o telefone”, em outro contexto se estivéssemos diante de um deficiente auditivo, poderia sim se tratar de uma frase com a função referencial. O Centro de Auto Acesso (CAA) que é um espaço destinado ao estudo individual de língua inglesa, espanhola e francesa totalmente ambientado com equipamento, material, tranqüilidade e conforto para que o aluno possa se dedicar ao estudo de LE de sua preferência e/ou necessidade, no intuito de estender a sua dedicação ao estudo de língua estrangeira, sob orientação da professora orientadora, elaborou alguns materiais de estudo que facilitasse a aprendizagem intitulado “Otimização das estratégias de aprendizagem”, neste momento voltado para o estudo de gramática, focando o uso dos pretéritos na língua espanhola . Esse trabalho teve por objetivo primeiro, como o próprio nome diz, otimizar as estratégias que o aluno pode utilizar para facilitar a aprendizagem e assimilação dos conteúdos privilegiando a compreensão oral, seria como uma reeducação escolar, pois o aluno direcionaria a sua aprendizagem se desvinculando das amarras do professor de forma a alcançar a autonomia do estudo, todos nós estamos acostumados a esperar que o professor nos transmita os “conhecimentos”, mas através do uso adequado das estratégias o aluno passa a ter o domínio de sua aprendizagem. Trabalhos anteriores a esse nos conduziram a algumas modificações na confecção deste material, o evento anterior de pronúncia não recebeu o trato que as estratégias exigiam, e através dos depoimentos e críticas dos alunos que participaram do evento anterior pudemos fazer algumas reformulações importantes como focalizar as estratégias e dar um contexto para os exercícios. A primeira etapa a ser transposta para esse evento era identificar qual ponto gramatical poderia ser trabalhado, a princípio foi cogitado trabalhar os verbos em presente do indicativo, mas logo foi descartado, pois para isso teríamos que trabalhar com alunos que desconhecessem o espanhol e esse tempo verbal em geral não apresenta muitas dificuldade, e como visávamos resultados totalmente empíricos neste evento, achamos melhor escolher um conteúdo gramatical que já fosse do conhecimento de estudantes do nível básico de espanhol e que para eles ainda não tivesse uma forma definida de compreensão, dessa forma elegemos o estudo de pretéritos indefinido e composto do indicativo. Até mesmo pela dificuldade apresentada a um falante de língua portuguesa, pois a mesma apresenta somente uma forma para o passado nestas mesmas situações e desejávamos atentar o futuro professor que deve eliminar a definição confusa, trabalhada por alguns livros didáticos, de relacionar o uso dos referidos tempos verbais a questão de proximidade ou distanciamento em relação ao momento no qual a ação foi realizada . Como o objetivo era tirar alguns vícios de uso dos ditos pontos gramaticais de alunos que já os conheciam, iniciamos as atividades com um texto que contemplava o ponto gramatical meta, e antes mesmo de qualquer explicação foram feitas perguntas chaves que faziam com que o aluno refletisse sobre o porquê do uso de um tempo do pretérito em lugar do outro, desta forma poderíamos acionar seus conhecimentos anteriores sobre o assunto. Para a confecção deste material foram utilizadas estratégias há muito relegadas pelos estudantes em geral: Uso de fonte, como o aluno sempre está a espera da explicação do professor dificilmente ele se dispõe um tempo para fazer um estudo teórico sobre o conteúdo alvo. Na apostila preparada para o evento foram apresentadas variadas fontes, pois como estamos trabalhando com futuros professores o nosso desejo foi mostrar que há livros que apresentam definições insuficientes ou até confusas acerca de um certo ponto gramatical e que devemos pesquisar vários materiais para desfazer qualquer tipo de incompreensão. O uso de fonte foi divido em dois momentos (todos os materiais abaixo listados foram colocados a inteira disposição dos alunos participantes do evento como consulta no CAA): 1. Nesse primeiro momento foram apresentadas livros didáticos e gramática convencionais, como: (p.4) Gramática de español lengua extranjera de ª González HERMOSO Gramática básica de español de Aquilino SÁNCHEZ Prácticas de fonética española para hablantes de português de Rafael Fernãndes DÍAZ. Español para brasileños de Jair de Oliveira SOUSA Español sin fronteras de María de Los Ángeles GARCÍA A seguir, um exemplo de definição de uso dos referidos tempos verbais: El pretérito perfecto simple se emplea para indicar una acción acabada en un tiempo lejano Ej: Ayer Pedro Habló con María / El mês pasado vendimos nuestro coche. El pretérito perfecto compuesto se emplea generalmente para indicar una acción acabada en un tiempo próximo. Ej. Esta mañana Pedro ha hablado con María / Este me hemos vendido nuestro coche. GARCÍA, María de Los Ángeles. Español sin fronteras. 2. No segundo momento foi apresentado fontes um pouco mais refinada ou completa: (p.6) Punto Final. Curso Superior ELE de Maria del Carmen MARCOS DE LA LOSA Hacia el Español de Játima Cabral BRUNO. Gramática Esencial de Español de Manuel SECO Formas y usos del verbo en español Gramática Comunicativa del español de Francisco MATTE BON A seguir, uma explicação mais detalhada do uso dos pretéritos focalizados: Se suele explicar el indefinido refiriéndose a actos o procesos que duran, que se repiten o puntuales; pero, en realidad, estas distinciones no son petinentes en el análisis de este tiempo. No existen acontecimientos que, por sí mismos, exijan el empleo del pretérito indefinido más que el del imperfecto o el de un tiempo compuesto. Un mismo acontecimiento puede ser relatado de distintas maneras mediante el empleo de uno u outro de estos tiempos. Para entender el funcionamiento del pretérito indefinido no hay que analizar, pues, lo que son los hechos en su realidad estralingüística, ya que existen independientemente de la lengua. Como ya hemos dicho, al referirse a ellos com la lengua, el enunciador hace com ellos distintas cosas, según sus intenciones y sus intereses del momento: usará el pretérito indefinido cuando quere informar sobre hechos en sí, sin añadir nada más. El enunciador no quiere describir o evocar una situación, ni referir los hechos en relación com outra situación, sino limitarse a informar sobre cosas sucedidas en el pasado.(grifo nosso) Dificilmente puede empearse este tiempo con marcadores temporales que se refieren a momentos no acabados, o que abarcan un periodo de tiempo que ermina en el momento de la enunciación (como por ejemplo todavía: “Esperé todavía un rato sin decidirme a hablar.” Cuando el enunciador emplea el pretérito perfecto no le interesa contar el hecho al que se refiere en sí, sino tan sólo en la medida en que está en relación con el tiempo presente de indicativo, sea cual sea el tipo de relación que haya entre los dos: el acotecimiento pasado puede constituir una explicación de la situación descrita en presente de indicativo o, sencillamente, seguir teniendo relevancia en dicha situación: (grifo nosso) MATTE BON, Francisco.Gramática Comunicativa del Español Transferência de conhecimento, é importante que o aluno saiba fazer pontes entre a língua alvo e a língua materna, é certo que muitos autores criticam essa prática ao que se refere a língua meta como sendo o espanhol, mas sabemos que não devemos ser tão radicais ao ponto de proibir que os alunos façam essa conexão que em muitos casos faz com que o professor identifique que a dificuldade do aluno residia na língua materna. No caso do conteúdo abordado, era importante que o aluno relacionasse os tempos estudados ao pretérito perfeito do português justamente para distinguir os matizes que tornam o emprego dos pretéritos do espanhol tão problemático para os aprendizes do nível inicial. Inferência, através de nossos conhecimentos anteriores podemos analisar de forma elaborada definições para algumas situações, ou seja, chegar a conclusões sobre algum ponto através de conhecimentos prévios que transitam de forma similar. Os exercícios abaixo pediam em conjunto o uso tanto de inferência como de transferência de conhecimento: Escucha y lee el siguiente diálogo, atento a las palabras subrayadas: (p.2) ...................................................................................................... Sra Julia: Si, claro. La verdad es que he analizado tu curriculum y me ha parecido muy interesante, por eso te hemos llamado. Ahora, cuéntame un poco sobre tu intrerés hacia la pintura. ¿Qué tipo e investigación has hecho sobre obras de arte? Andrés: Pues como digo en mi curriculum, yo estudié Historia del Arte en Madrid. Terminé la graduació en julio del año pasadoy al año siguiente ingresé en el postgrado com el objetivo de especilizarme en pintura y desarrollar un trabajo de investigación sobre Picasso. ......................................................................................................... Pretérito Indefinido (Pretérito Perfecto simple) y Pretérito Perfecto compuesto. Ambos pretéritos figuran en el diálogo anterior ¿Qué te parece? Observa y contesta: a) ¿En qué situaciones se usó el Pretério Indefinido? b) ¿En qué situaciones se usó el Pretérito Perfecto compuesto? · Resumo, esse exercício de extrema importância é o mais desprezado pelo aluno, pois mesmo quando é alimentado pelo “conhecimento” do professor não se preocupa em estar organizando ou esquematizando este novo conhecimento. Consulta el material que te indicamos a continuación. Lee com atención las explicaciones sobre el uso de los Pretéritos Indefinidos y Perfecto compuesto: (p.4) .......................................................................................................... ¿Qué has comprendido? ¿Eres capaz de resumir lo que has leído? Usos del: Pretérito Indefinido: Pretérito Perfecto Compuesto: Também foi apresentado um resumo do livro Expansión de ROMANOS e foi pedido que juntamente com o restante das fontes fornecidas os alunos chegassem a uma conclusão sobre o ponto gramatical: (p. 6). O objetivo era que os alunos pudessem perceber as diferenças nas definições, e definissem o uso adequado dos tempos verbais. Através da compreensão auditiva foi trabalhada outra estratégia de aprendizagem a atenção seletiva e geral, a qual foi utilizada em muitos casos, como: Escucha y lee el siguiente diálogo, atento a las palabras subrayadas (pp. 1 e 2) Escucha los diálogos y descubre el sitio correcto de cada forma verbal (p. 4) Escucha y repite (p. 10) Escucha la grabación. Apunta los verbos que están en Pretérito Indefinido (p.10) Escucha la grabación y contesta las preguntas. Usa verbos en las respuestas (p.10) Escucha y escribe la respuesta com una frase completa: (p. 12) Escucha la grabación y ordena el texto (p.12) Não se pode aprender uma língua sem que se exercite a escrita, e esta estratégia, sem que saibamos, já faz parte de nosso sistema de aprendizagem/memorização que é o de tomar nota, escrever para não esquecer, por isso houve momentos em que foi enfatizada a produção escrita: Mire y describa: (p. 9) Haz una frase para cada dibujo com el verbo en el pretérito indefinido: (p. 11) Ahora usa la información de los dibujos para escribir la biografia de Ernesto Echevarría. (p. 15) Foram estabelecidos 3 encontros com a turma sendo que o primeiro foi para a apresentação do material e esclarecimentos gerais, inclusive acerca das estratégias, os outros encontros que se seguiram serviram para a correção e comentários dos exercícios, sendo que no último encontro foi pedido que os alunos entregassem um relatório por escrito sobre a apostila acompanhado do resumo do conteúdo gramatical que conseguiram assimilar. Ainda que a professora houvesse explicado acerca das estratégias foi verificado que o aluno não fez uso consciente das mesmas, não planejaram sua aprendizagem, e ainda que o material privilegiasse as estratégias, os alunos não conseguiram perceber a importância de estarem aprendendo a estudar sozinhos. Nos relatórios apresentados foi verificado que os alunos apresentaram resistência para se locomoverem até o CAA, Sei que a proposta do mini-curso é a divulgação para a utilização do centro de auto-acesso, mas como já tenho conhecimento do assunto que foi abordado, acreditei que poderia resolver os exercícios... (2º ano de letras noturno) Inicialmente, li o matéria em casa e procurei resolver os exercícios que eram do meu conhecimento. Por Ter já conhecimento da matéria, achei os exercícios fáceis. (2º ano de letras noturno) Ao receber a apostila, primeiramente quis ver o que tinha e ver se conseguia resolver algum exercício sem precisar do auxílio do material. Desta forma em casa, fui resolvendo os exercícios que conseguia e pulando aqueles que não sabia e que precisava da escuta da fita. (4ºano de pedagogia vespertino) Pode ser verificado uma resistência por parte dos participantes de virem ao CAA. Também houve o caso de dois alunos que não retornaram no último dia do evento, somente enviaram seus relatórios, o que dificultou determinar se haviam realmente eliminado a falha de aprendizagem, em seus relatórios disseram tratar-se de um ponto gramatical fácil e que eles já conheciam, mas como não retornaram não pode ser verificado se realmente haviam compreendido ou se mantiveram sua aprendizagem deficiente. O material falhou ao não apresentar um exercício que reforçasse a definição correta do ponto gramatical ou até mesmo que constasse se haviam compreendido, pois estamos tão viciados como a definição de proximidade que não atentamos para a intenção do falante, talvez se houvéssemos incluído exercícios definidores como: 1. Ontem comprei um carro novo – Ayer compré un coche nuevo 2. meu avô morreu este ano e sinto muito a sua falta – Mi abuelo ha muerto este año y lo extraño mucho (a morte do avô ainda se reflete no presente) 3.Ontem fui ao cinema – Ayer fue al cine Este mês ainda não fui al cinema. - Este mes todavía no he ido al cine. (o falante considera que ainda pode ir al cinema, por isso relaciona o fato passado no presente) Nestes exemplos se desfaz o vínculo com a proximidade ou distanciamento do momento em que a ação foi realizada. O que importa é informar sobre coisas sucedidas no passado ou a relação entre o acontecimento do passado e o presente, como ressalta a definição de MATTE BON. No último encontro a professora orientadora tenha elaborado exercícios desse tipo com os alunos presentes, foi nesse momento que se verificou a deficiência do material e que após acrescidos ele logrou completar a aprendizagem, também pode-se verificar que realmente os alunos não haviam atentado para os diferentes conceitos teóricos apresentado pelos materiais. Para o próximo evento estamos pensando em criar um material que lembre ao aluno a necessidade de se usar as estratégias, pois pudemos perceber que, mesmo que os exercícios focassem as estratégias, se os alunos não se utilizarem delas conscientemente o trabalho não alcançará o resultado desejado. BIBLIOGRAFIA ALONSO, Encina. ¿Cómo ser profesor y querer seguir siéndolo? Madrid: Edelsa, 1994. pp. 79 – 91. CYR, Paul. Les stratégies d’apprentissage. Paris: Clé International, 1998. Tradução de Rejane J. de Q. F. Taillefer. As definições das estratégias de aprendizagem. GARCÍA, María de Los Ángeles J. y HERNÁNDEZ, Josephine Sánchez. Español sin fronteras 2. São Paulo: Scipione, 2002. MATTE BON, Francisco. Gramática comunicativa del español. Tomo I. Madrid: Edelsa, 1999. [1] [email protected]