Apr ppt 6 - Instituto de Economia

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Possas
Sumário
4. Elementos de teoria evolucionária neoSchumpeteriana e alguns modelos
macrodinâmicos
Schumpeter (1943); Nelson, Winter (1982), caps. 1 e
2; Silverberg, Verspagen (1994); Silverberg, Lehnert
(1994)(*); Possas (2002); Possas et al. (2004)(*); Possas,
Dweck (2005); Dweck (2006)(*)
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4. Elementos de teoria evolucionária neoSchumpeteriana e alguns modelos
macrodinâmicos
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4.1. Introdução à teoria Schumpeteriana da
concorrência e da inovação; a explicação básica do ciclo
 No livro Capitalismo, Socialismo e Democracia (1943),
Schumpeter finalmente introduz a concorrência para
oferecer o contexto em que surgem as inovações,
reconhecidas como fundamentais para a dinâmica
capitalista (que prefere denominar “desenvolvimento”)
desde seu livro Teoria do Desenvolvimento Econômico”
(1911).
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 No livro Capitalismo, Socialismo e Democracia (1943),
Schumpeter finalmente introduz a concorrência para dar
o contexto em que surgem as inovações, fundamentais
para a dinâmica capitalista (“desenvolvimento”) desde
seu livro Teoria do Desenvolvimento Econômico (1911).
 A novidade é a ideia de concorrência como processo,
não como um estado terminal de equilíbrio como até
então (exceto em Marx, sua maior referência intelectual).
 A “concorrência Schumpeteriana” nada tem a ver com
atomismo (grande número de ofertantes) de mercado,
mas com uma interação entre empresas capaz de gerar
mudanças estruturais – inovações, em sentido amplo - e
dinamizar a economia. Ela é perfeitamente compatível
com oligopólio - e até monopólio! (ameaça de entrada). 4
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 Em Schumpeter, não há lucro normal, logo tampouco
extraordinário (o lucro normal é zero!). No capitalismo, os
empresários, em busca de lucro, recorrem ao crédito
(criação de poder de compra do nada) fornecido pelos
capitalistas (bancos) a fim de investir em inovações – de
produto, de processo, organizacional, novas matérias
primas, novos mercados etc.:- em suma, qualquer
mudança no espaço econômico que dê oportunidade de
investimento lucrativo.
 A concorrência tem essa dimensão ativa de diferenciação,
que é a principal, e não só a passiva, mais óbvia, de
eliminação de diferenças (imitação, expansão da oferta,
menor lucro), presente em todas as tradições da H.P.E.
Não há tampouco qualquer referência a algum equilíbrio. 5
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 O efeito básico das inovações que emergem do processo
de concorrência é a mudança estrutural, imanente à
economia capitalista, dado o incentivo da busca pelo
lucro.
 Mas tem consequências em dois níveis: o micro, em que
as estruturas produtivas estão em constante mutação; e o
macro - que nos interessa mais de perto aqui -, no qual
inovações de maior porte (“major”) afastam a economia
como um todo irreversivelmente de alguma posição
inicial, produzindo o desenvolvimento e eventualmente
ciclos econômicos.
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 A teoria do ciclo de Schumpeter baseia-se em inovações que
se aglomeram (“clusters”) no tempo, geralmente
interrelacionadas, e com capacidade de gerar efeitos
econômicos relevantes (expansão da produção, renda etc.).
 É claro que a ocorrência de ciclos depende não só desse
impulso inicial de grande porte e sua capacidade de difusão,
mas da reversão da expansão econômica – a “onda
secundária” - que o segue (implicitamente, trata-se de
efeitos multiplicadores e aceleradores).
 O autor não consegue demonstrar isso; parece acreditar que
“cessada a causa, cessa o efeito”. Logo, sua teoria do ciclo é
inconsistente à luz do P.D.E. (no qual não acreditava!), pelo
qual a “onda secundária” pode ser autossustentada, gerando
per se expansão ou flutuações.
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 Ele teve a infelicidade de publicar o livro principal,
Business Cycles (1939), em simultâneo ao artigo seminal de
Harrod, e de não ter levado Keynes – menos ainda Kalecki,
a quem menosprezava - a sério...
 Mas agora vem o esforço de síntese: que a explicação não
baste para o ciclo convencional (decenal) não afasta sua
validade para o ciclo longo (Kondratiev) – ou “onda longa”,
conceito melhor por dispensar regularidades.
 É a tendência baseada em “fatores de desenvolvimento” de
Kalecki! A complementaridade entre esses autores se
oferece de forma gritante: Kalecki explica o ciclo pelo
P.D.E. (interação multiplicador x investimento “tipo”
acelerador) e Schumpeter explica a tendência de
crescimento a longo prazo pela mudança estrutural baseada
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em inovações lato sensu.
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 Note-se que a tendência pode flutuar! Nada de “steady
states” em Schumpeter (ou Keynes e Kalecki). Claro que
o P.D.E. funciona o tempo todo, não só no ciclo, mas isso
não nos impede de homenagear o insight de Schumpeter.
 Por fim, caberia a Keynes a unificação mais geral por sua
“Teoria Geral do Capital” (sem esquecer Marx, aqui
implícito).
 Os determinantes dicotômicos do investimento,
familiares às teorias dinâmicas neo-Keynesianas e à
própria lógica empresarial, ilustram bem a divisão
complementar entre os outros dois autores: Kalecki
corresponde ao investimento em ampliação de
capacidade induzido pela demanda; Schumpeter
corresponde ao investimento autônomo motivado pela
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busca de inovações e modernização.
 A integração entre os dois componentes – voltamos a
ela! – não é teórica, pois as motivações são claramente
distintas, mas analítica e modelística.
 O esquema abaixo sintetiza a proposta de integração
entre os três autores para uma teoria mais completa da
dinâmica:
Keynes: teoria geral da aplicação de capital
Kalecki: teoria da
instabilidade dinâmica
(estrutura estável)
→ ciclo econômico
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Schumpeter: teoria da
instabilidade estrutural
(inovações)
→ tendência
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4.2. Bases do enfoque neo-Schumpeteriano
evolucionário: Nelson & Winter
 Em seu livro clássico, N&W (1982), cap. 1 e 2, assumem
explicitamente um enfoque evolucionário para a mudança
econômica. Ele é também “neo-Schumpeteriano” porque
a inspiração de Schumpeter é onipresente, em particular a
ênfase na importância da concorrência e da inovação para
a dinâmica industrial e a mudança estrutural.
 A proposta é relativamente ambiciosa, envolvendo uma
crítica aos fundamentos da ortodoxia neoclássica e sua
substituição, destacando-se os dois pilares essenciais:
 a maximização de lucros, substituída por rotinas e
comportamento “satisficing” (Simon); e
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 o equilíbrio, substituído por trajetórias dinâmicas.
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 Em lugar das premissas neoclássicas propõem uma
abordagem baseada numa analogia com a evolução
biológica, em que as firmas são os indivíduos, o mercado
é o ambiente de seleção, a concorrência o processo
seletivo, fatores competitivos os mecanismos de seleção,
rotinas (ou, possivelmente, tecnologias) as unidades de
replicação (os “genes”) e inovações são as mutações.
 A atividade seletiva efetuada pelas firmas e mercados é
tratada pelo binômio busca (search) e seleção (selection).
 A busca segue a adoção de rotinas, que podem ser de três
tipos básicos: operacionais, de investimento e de
inovação.
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 A seleção ocorre essencialmente via mercado, mas pode
se dar ou no mínimo ser influenciada por outras
instituições (públicas ou privadas).
 O resultado é uma interação dinâmica que gera uma
trajetória, com um feedback do ambiente de seleção para
as decisões das empresas, a cada passo influenciadas
pelos passos anteriores; decisões essas que
frequentemente envolvem alguma inovação ou
diferenciação no processo competitivo. Na essência, esse
é um processo “evolutivo”, de tipo Schumpeteriano.
 Uma conclusão relevante é que as “configurações”
competitivas resultantes – as “estruturas” industriais e de
mercado, no jargão econômico comum – não são dadas,
mas endógenas ao processo competitivo e inovativo. 13
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 As trajetórias das indústrias – e, por extensão, das
economias capitalistas – devem, portanto, ser analisadas
fora do equilíbrio. Esse é um contexto teórico em que a
Economia se converte em sistema complexo evolutivo.
 A presença de não-linearidades, especialmente associadas
ao progresso técnico e aos processos de aprendizagem,
criam mecanismos de retornos crescentes dinâmicos e de
path dependence, que geram instabilidade, reforçando o
afastamento do equilíbrio e a indeterminação das
trajetórias.
 Os desafios analíticos se aprofundam, requerendo nos
casos menos simples o abandono de modelos com
soluções analíticas (matemáticas) e recomendado o uso
de modelos dinâmicos de simulação em computador. 14
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4.3. Modelos dinâmicos neoSchumpeterianos evolucionários
 A modelagem de simulação se desenvolveu amplamente
no campo evolucionário neo-Schumpeteriano, no âmbito
setorial, após a contribuição original de N&W.
Entretanto, foram muito poucas as tentativas de modelar
a economia como um todo, ou de incorporar a dimensão
macrodinâmica aos modelos setoriais, estendendo-os.
 Entre outras, algumas tentativas iniciais nessa direção
que podem ser mencionadas foram as de Silverberg &
Verspagen (1994) e Silverberg & Lehnert (1994). O foco
é sobre o crescimento econômico, considerando
múltiplos agentes e aprendizado coletivo, que geram
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crescimento endógeno.
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 No nível micro, as firmas decidem os investimentos em
P&D, influenciando o sucesso inovativo. As vantagens
resultantes são temporárias, com difusão entre firmas.
 Na dimensão macro, porém, não há uma estrutura
analítica definida, limitando-se a tratar a economia como
um todo como uma agregação de firmas, sem
especialização setorial e sem efeitos macroeconômicos
típicos, de tipo multiplicador e acelerador.
 Só mais recentemente, no final dos anos 2000, começam
a surgir modelos mais consistentes de simulação com
integração micro-macrodinâmica.
 O artigo Possas & Dweck (2005), apresentado em
separado, e a tese de Dweck (2006) ilustram essa nova
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linha de investigação teórico-analítica.
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