Apr ppt 1 - Instituto de Economia

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Mario
Possas
Sumário
1.1. Conceitos básicos: tempo e equilíbrio;
instabilidade dinâmica e instabilidade
estrutural
Hahn (1984), Intr. e cap. 2; Kaldor (1972); Boland
(1986), caps. 9 e 10; Vercelli (1991), caps. 2 a 4.
Apêndice: uma formulação geral do princípio da
demanda efetiva
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1.2. Fundamentos keynesianos para a
macrodinâmica sem equilíbrio (I): demanda
efetiva e expectativas de curto prazo
Keynes (1936), caps. 3, 5 a 7; Possas (1987), pp. 48-90;
Possas (2015); Macedo e Silva (1994), caps. 1 a 6;
Macedo e Silva (1995a); Macedo e Silva (1995b).
1.3. Fundamentos keynesianos para a
macrodinâmica sem equilíbrio (II): investimento,
expectativas de longo prazo e instabilidade
Keynes (1936), caps. 11, 12, 16 e 17; Minsky (1975),
caps. 4 e 5; Possas (1986); Possas (1987), pp. 137-144;
Possas (2015); Macedo e Silva (1994), caps. 8 a 10.
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1.1. Conceitos básicos: tempo e equilíbrio;
instabilidade dinâmica e instabilidade
estrutural
 Não deveria haver dúvida do papel crucial que a noção de
equilíbrio tem desempenhado na Economia. Ele é de tal
forma essencial que há muito (pelo menos desde o advento
da hegemonia neoclássica) se tornou mais metodológico
que teórico – e por isso não é discutido!
 Tentarei mostrar que essa posição crucial é tão espúria
quanto implícita, o que dificulta ainda mais o seu
enfrentamento crítico. São poucos os economistas que se
ocupam disso, em parte por não se darem conta desse
papel central – metodológico - da noção de equilíbrio.
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 Dentre muitos defensores e poucos críticos, seleciono
alguns para discutir, começando pela quase-controvérsia
entre Kaldor e Hahn, com foco mais teórico que
propriamente metodológico.
 Já em Boland as críticas entram explicitamente no campo
metodológico. Finalmente, os capítulos indicados de
Vercelli representam a meu ver a melhor e mais completa
incursão teórico-metodológica (com ênfase neste último
aspecto) no assunto.
 A maioria dos economistas, e não só do mainstream,
tendem a considerar, sem maior discussão, que a Ciência
Econômica não pode abrir mão da noção de equilíbrio.
Por que isso?
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 Aparentemente a principal razão dessa opção restritiva
é a impressão – falsa – de que uma determinação
estática (simultânea) das variáveis é essencial em
Economia, no mínimo ao estilo do equilíbrio (parcial)
entre oferta e demanda, e do equilíbrio geral para a
determinação formal de todas as variáveis.
 Ou seja, a causalidade essencial a qualquer ciência é
confundida de forma indevida, pelo hábito (vício?)
arraigado dos economistas, com a determinação
simultânea (estática) das variáveis.
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 Ao contrário, o que pretendo neste tópico é mostrar
sucintamente as razões que recomendam:
(i) Adotar uma definição (conceituação) de equilíbrio
menos abrangente e tautológica que as usuais,
explicitando o seu conteúdo semântico (cf. Vercelli),
que é dinâmico; e
(ii) Propor o abandono da noção de equilíbrio como
pressuposto metodológico básico em Economia,
relegando-o a um mero resultado teórico/analítico
apenas possível, mas nem por isso provável ou,
menos ainda, essencial.
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 Comecemos por uma brevíssima síntese de Kaldor
(1972):
 posições de equilíbrio são tornadas teórica e
empiricamente irrelevantes pela presença importante
de retornos crescentes de escala, que (v. Sraffa) são
incompatíveis a longo prazo com a concorrência pura;
 muitos dos demais elementos constituintes do
equilíbrio, seja pela oferta ou pela demanda, são
excessivamente restritivos e irrealistas;
 a ênfase convencional nas funções alocativas dos
mercados deve ser substituída pelas suas virtudes
criativas – como um “instrumento para transmitir
impulsos da mudança econômica” (v. Schumpeter).
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 Por sua vez, Hahn (1984) ignora a proposta “positiva” de
Kaldor, preferindo defender o Modelo de Equilíbrio
Geral (M.E.G.) de suas críticas. Os pontos principais são:
 ainda que seja criticável em vários aspectos, não
haveria “alternativa teórica séria” ao M.E.G.;
 o equilíbrio é defendido como opção metodológica,
embora ressalvando seu uso inadequado pelos
modelos de expectativas racionais à la Lucas;
 definições tautológicas de equilíbrio (como em
Lucas) relegam os importantes problemas monetários
levantados por Keynes a “meras” situações
(temporárias”) de desequilíbrio;
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
muitas das hipóteses do M.E.G. podem ser relaxadas,
total ou parcialmente, de forma a desenvolver
programas de pesquisa relevantes e não
inexoravelmente irrealistas;
 uma noção de equilíbrio relevante deve ser dinâmica,
incorporando na definição um processo de
aprendizado, tal que o desequilíbrio também seja
relevante ao acarretar algum aprendizado;
 especificamente, propõe que o equilíbrio seja
definido quando “expectativas dos agentes não sejam
sistemática e persistentemente inconsistentes”.
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
A questão central passa a ser como os agentes
formulam suas hipóteses (“teorias”) e como aprendem
sobre elas com os dados;
 a estabilidade do equilíbrio só poderá ser definida
localmente e nas suas vizinhanças, bem como sob
perturbações modestas, afastando inteiramente a ideia
de um equilíbrio globalmente estável;
 por fim, o enfoque do equilíbrio como “resultado
tendencial do processo de ajustamento do mercado”
coloca a análise da formulação das expectativas e do
aprendizado dos agentes no centro da agenda teórica.
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 A posição de Boland (1986) é em vários aspectos
semelhante, com menos esforço conciliatório e uma clara
perspectiva metodológica. O ponto central é, até certo
ponto como em Hahn, a necessidade – raramente
reconhecida e enfrentada – de tratar teoricamente o
aprendizado dos agentes que fatalmente deve ocorrer
durante os processos de ajuste.
 O autor ressalta que soluções mecânicas ou
“indutivistas” para esse problema do aprendizado –
e.g. quando supostamente os “fatos falam por si” –
violam implicitamente o pressuposto do
individualismo metodológico, dado que decisões
individuais pressupõem obrigatoriamente uma escolha
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entre alternativas.
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Torna-se então essencial à teoria do equilíbrio apresentar:
1) uma explicação de como os agentes formam suas
“teorias” (processo cognitivo); e
2) uma explicação de como os agentes aprendem com os
dados/resultados, de forma a eventualmente confirmar
ou rejeitar a “teoria” prévia.
Sua crítica à Hipótese de Expectativas Racionais (H.E.R.)
ilustra o ponto: esta assume que só existe um processo de
aprendizado, relativo a um único método (teoria)
“verdadeiro”, o que reduz o processo de aprendizado do
agente à mera obtenção de informações. Ou seja, são
excluídas possíveis divergências entre “teorias”, que
poderiam levar a diferentes expectativas, e estas portanto
se reduzem a diferenças do conjunto de informações. 13
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Em suma, embora a H.E.R. não suponha informação
perfeita, supõe, sim, um método perfeito de aprendizado.
Em termos metodológicos, a H.E.R. implica uma crença
na eficácia absoluta do método indutivo de aprendizado, a
partir dos “fatos brutos”, ao mesmo tempo em que a
diversidade individual é eliminada, aparecendo apenas
como variação estocástica numa “distribuição em torno
da previsão da teoria” (J. Muth, 1961) e abrindo espaço
novamente para o “agente representativo”.
Os modelos Bayesianos de aprendizado não resolvem o
problema, uma vez que não se explica nem a “teoria”
prévia nem como ela se reduz a probabilidades definidas.
O que ocorre é a redução do problema cognitivo a um
gap de informação (acesso a dados).
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Por fim, a substituição desse enfoque estocástico por um
instrumentalismo de tipo Friedmaniano ainda piora o
problema: ao não enfrentar a questão de como os agentes
tomam suas decisões racionais, abandona-se
implicitamente o próprio individualismo metodológico.
Boland discute ainda, em algum detalhe (cap. 9), como o
M.E.G. trata essa questão: (i) o “leiloeiro” Walrasiano; e
(ii) os processos de “non-tâtonnement” (processos de
Hahn, Edgeworth, etc.). No primeiro caso, a questão é
afastada por hipótese, ao proibir-se transações fora do
equilíbrio; no segundo, todos os processos são ad hoc,
sem explicitar um comportamento racional maximizador.
O caminho deveria ser enfrentar o “paradoxo de Arrow”
– de como agentes price takers decidem sobre preços! 15
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 A posição de Vercelli (1991) é a mais interessante, por
entrar no mérito epistemológico da noção de equilíbrio
em Economia. Começa (cap. 2) pela distinção entre
conceitos “sintático” e “semântico” do equilíbrio:
 A noção “sintática” corresponde a uma configuração
(conjunto de valores de variáveis, p. ex. vetor de
preços) que logicamente concilia as posições dos
agentes individuais. Isso equivale formalmente à
solução de um sistema de equações simultâneas.
Importante consequência: o desequilíbrio é excluído
por definição, já que é tornado logicamente
impossível. Exemplo óbvio: H.E.R.
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A noção “semântica” corresponde a alguma definição
que torne possível o desequilíbrio, com o que o
equilíbrio deixa de ser um pressuposto (tautológico) e
passa a ser uma possibilidade entre outras. Quando o
equilíbrio é visto como um “atrator”, esta se torna
necessariamente uma definição dinâmica, já que passa
a ser crucial a demonstração de uma tendência ao
equilíbrio, uma vez fora dele. Formalmente, torna-se
essencial demonstrar a estabilidade, além da
existência e unicidade de um equilíbrio.
 Na definição de Vercelli, esse conceito (dinâmico) de
equilíbrio corresponde a uma situação caracterizada
pela ausência de um processo dinâmico endógeno.
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O autor ilustra esse conceito com a tradição
matemática de decompor a solução de uma equação
diferencial em solução homogênea e solução
particular, em que a primeira representa o componente
endógeno da dinâmica do sistema.
 Vercelli observa que sua definição “semântica”
(dinâmica) de equilíbrio deve ser distinguida da ideia
de “repouso” – uma situação em que “nada acontece”
-, centrando-se apenas na ausência de movimento
endógeno. E ilustra essa tese com o equilíbrio
Keynesiano sem pleno emprego: emprego e salários
reais podem permanecer constantes, em equilíbrio,
mesmo que preços e salários nominais variem.
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Em outras palavras, o equilíbrio é compatível com
mudanças no sistema, mas em variáveis outras que não
as variáveis de estado, que definem o equilíbrio. Assim,
mudanças devidas a variáveis exógenas por hipótese
não implicam desequilíbrio, que supõe uma dinâmica
endógena.
 O autor aponta duas possíveis justificativas
epistemológicas para o uso da noção de equilíbrio em
Economia, mas com a ressalva de evitar seu uso
acrítico:
1) Como ponto de referência para a dinâmica do sistema (caso
ele exista, é óbvio!), permitindo separar movimentos
exógenos dos endógenos; e
2) Para “simplificar” (sic – cuidado!) a estrutura funcional do
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sistema.
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Claramente a segunda justificativa é mais precária, e
a meu ver só faz sentido se sua utilização for
suficientemente útil para compensar os riscos que
envolve (e.g. as confusões criadas por Keynes com
sua insistência em usar a noção de equilíbrio, mesmo
de forma imprecisa e vaga).
 Em suma, a principal vantagem da opção conceitual
proposta por Vercelli é tornar o desequilíbrio,
também ele, semântico, implicando que sua
ocorrência é normal e não anômala, tornando a
análise da eventual dinâmica por ele provocada
necessária, e não espúria.
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Assim, a redução, proposta por Lucas, de situações de
desequilíbrio à análise do equilíbrio, apenas tornando-a
mais complexa, é enganosa, porque faz perder de vista
diferentes níveis da dinâmica (e do equilíbrio),
representados pela distinção usual entre movimentos
exógenos e endógenos.
 Por exemplo, uma sucessão de desequilíbrios devidos a
uma dinâmica endógena pode não ser percebida como
tal, passando por ser uma sucessão de equilíbrios
deslocados por forças exógenas ao sistema.
Especificamente, uma situação dinamicamente instável
(um desequilíbrio) poderia ser interpretada como um
equilíbrio móvel, consistindo em “reações ótimas” a
fatores (choques) exógenos – como no método de
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equilíbrio de Lucas.
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Vercelli também destaca a propósito os “paradoxos”
do equilíbrio, que apontam as limitações do enfoque
sintático e suas variantes, que não enfrentam a questão
da estabilidade: o de Arrow e o de Grossman &
Stiglitz (mercados eficientes retiram incentivos à
coleta e processamento de informações).
 Na discussão da instabilidade dinâmica de sistemas
econômicos (cap. 3),Vercelli prossegue na análise da
“dinâmica do desequilíbrio”, destacando a importância
crucial de situações que são criadas, e só são
percebidas, quando se analisam situações fora do
equilíbrio.
 São exemplos básicos: path dependence e
indeterminação
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1) path dependence: a trajetória depende não só das
condições iniciais e das equações do sistema, mas também
do “caminho” anterior da própria trajetória; e
2) indeterminação do equilíbrio: múltiplos ou nenhum
equilíbrio – situações inteiramente normais em sistemas
econômicos – mostram as limitações do método de
equilíbrio.

A análise da instabilidade dinâmica se torna essencial
justamente quando se focalizam situações fora do
equilíbrio. Nesses casos, vêm à tona com força
questões fundamentais como: (i) velocidade de
ajustamento; (ii) retornos crescentes; e (iii) a
complexidade do sistema.
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 Em sistemas complexos, não só a instabilidade
dinâmica ganha importância, mas a instabilidade
estrutural (cap. 4) – envolvendo mudança endógena
dos próprios parâmetros - que pode ser considerada
uma característica desse tipo de sistema.
 É o caso do sistema econômico capitalista, na
perspectiva de Schumpeter (seguindo Marx), com sua
capacidade de gerar mudança estrutural endógena via
inovação e progresso técnico. Nesse contexto, impõese a análise dinâmica, e o postulado metodológico do
equilíbrio (i.e. como prerrequisito da teoria) se torna
insubsistente.
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