INTOXICAÇÕES AGUDAS Prof. Dr. Walter Pazinatto Introdução • Medicamentos são os principais agentes tóxicos (1° causa de intoxicação aguda em criança e adolescente); • Domissanitários (2°) e praguicidas (3°); • Em < 5 anos: causa acidental; • Em adolescentes e adultos: tentativa de suicídio. Diagnóstico • Mais fácil quando responsável pela criança ou adolescente informa o agente tóxico envolvido, a quantidade e o horário da exposição Tratamento • Varia conforme o agente tóxico e da via de exposição; • Deve-se: manter o estado geral; diminuir a exposição por descontaminação; Aumentar eliminação; Tratamento – manutenção do estado geral • Assegurar ventilação adequada: Aspiração de secreções; Entubação orotraqueal; Traqueostomia; Ventilação mecânica; Tratamento – manutenção do estado geral • Corrigir distúrbio ácido-base e hidreletrolítico; • Tratar hipotensão; Reposição de volume • Tratar arritmia; • Tratar convulsão; Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico • Via inalatória: Retirar o paciente do local contaminado; Colocá-lo em local de boa ventilação; Se necessário, oxigenação Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico • Via dérmica: Retirar roupas se o tóxico estiver nas roupas; Lavar áreas do corpo afetadas (usar água e sabão e escovar por 15 minutos) Queimaduras químicas: não usar sabão e escova; Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico • Via ocular: Lavar olhos com água corrente ou soro fisiológico (15 minutos – manter olhos abertos) Oclusão ocular com colírio anestésico; Encaminhar para oftalmologista; Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico • Via oral: Lavagem Gástrica: o Sonda NG grosso calibre; o Paciente em decúbito lateral esquerdo com cabeça mais baixa que os pés (para evitar aspiração) o 500 mL de soro em RN; Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico o 2 a 3 L de soro quando idade entre 2 e 3 anos; o Pré-escolar: 4 a 5 L; o Escolar: 5 a 6 L; o Adultos: 8 a 10 L; Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico o Volume deve ser fracionado: crianças = 5mL/kg/vez; adultos = 250mL/vez; o Provocar Vômito até 30 minutos após ingestão (Xarope de Ipeca ou mesma dose de Xampu Infantil) Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico o Xarope de Ipeca: o 6 meses a 1 ano: 2 cc com 1 a 2 copos de água; o 1 a 2 anos: 2 cc com 1 a 2 copos de água; o 2 a 12 anos: 1 cs com 2 a 3 copos de água; o Adultos: 2 a 4 cs com 2 a 3 copos de água; repetir após 30 minutos. Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico • Via Oral Carvão ativado; o Dose: 1 g/kg/dose, máx. 50g/dose por sonda nasogástrica; o Repetir a cada 6h; o Diluição: 250mL água/ 50g carvão ativado; Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico o O paciente deve permanecer em jejum durante o uso do carvão; o Indicação: absorção de substância no estômago ou intestino o São adsorvidos: anfetamina, arsênico, antidepressivo tricíclico, atropina, azul de metileno, barbitúrico, Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico Carbamazepina, benzodiazepínico, cocaína, estricnina, fenobarbital, inseticida organofosforado e organoclorado, iodo, ipeca, salicilato, morfina, nicotina, paracetamol, paraquat, sulfonamida, valproato de sódio Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico o Não são adsorvidos pelo carvão: ácidos inorgânicos, bases fortes, alcoóis e corrosivos, derivados do petróleo, lítio, metais e sulfato ferroso. o Contra-indicações: RN, pacientes debilitados, cáusticos, corrosivos, cirurgia abdominal recente, ruídos hidroaéreos diminuídos ou ausentes; Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico o Se paciente em coma ou com depressão neurológica importante: preceder uso do carvão por entubação orotraqueal (evitar brocoaspiração) Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico • Via Oral Catártico Salino; o Usado para evitar obstrução decorrente do uso de carvão ativado; o Facilita remoção do agente tóxico; Tratamento – diminuição da exposição do agente tóxico o Sulfato de sódio ou de magnésio; o Dose: 250mg/kg/dose até 15 a 20g/dose, VO ou por sonda nasogátrica; Síndrome Anti-colinérgica • Sintomatologia: rubor de face, mucosas secas, hipertermia, taquicardia, midríase, agitação psicomotora, alucinações e delírios. • Principais agentes: atropina, antihistamínicos, anti-depressivos tricíclicos e plantas (saia branca – vegetal beladonado). Síndrome Anti-colinesterásica • Sintomatologia: sudorerse, lacrimejamento, salivação, aumento das secreções brônquicas, miose, bradicardia, fibrilações e fasciculações musculares • Principais agentes: inseticidas organofosforados e carbamatos. Síndrome Narcótica • Sintomatologia: depressão respiratória, depressão neurológica, miose, bradicardia, hipotensão, hiporeflexia. • Principais agentes: derivados opiáceos. Síndrome Depressiva • Sintomatologia: depressão neurológica (sonolência, torpor e coma), depressão respiratória, cianose, hiporeflexia, hipotensão. • Principais agentes: barbitúricos e benzodiazepínicos. Síndrome Simpatomimética • Sintomatologia: midríase, hiperreflexia, distúrbios psíquicos, hipertensão, taquicardia, piloereção, hipertermia e sudorese. • Principais agentes: cocaína, descongestionantes nasais, cafeína e teofilina. Síndrome Extra-piramidal • Sintomatologia: distúrbios de equilíbrio, distúrbios de movimentação, hipertonia, distonia orofacial, mioclonias, trismo, epistótono e parkinsonismo. • Principais agentes: lítio e fenotiazínicos. Síndrome Metamoglobinêmica • Sintomatologia: cianose de pele e mucosas, confusão mental e depressão neurológica. • Principais agentes: nitritos e nitratos Exemplos de Plantas Tóxicas Plantas Parte Tóxica Características Comigo-ninguém-pode Látex Oxalato de cálcio Pinhão-do-paraguai Mamona Sementes Toxalbumina Vômitos Cólicas Diarréia sanguinolenta Insuficiência renal Saia-branca Toda planta Alcalóides Pele quente e seca Agitação Alucinação Rubor de face Mandioca-brava Entrecasca da raiz Glicosídio cianogênico Vômitos Cólicas Sonolência Convulsões / Coma Asfixia Salicilatos - AAS • Quadro clínico: acidose metabólica, cetonemia, cetonúria, hipo ou hipernatremia. Cefaléia, hipo ou hiperglicemia, zumbido, irritabilidade, confusão mental, agitação, convulsões, coma, disfunção plaquetária, hemorragia digestiva, elevação de enzimas hepáticas, hipertermia, sudorese, arritmias e choque. Salicilatos - AAS • Diagnóstico laboratorial: salicilemia 6 horas após a ingestão • Tratamento: esvaziamento gástrico e administração de carvão ativado (doses repetidas a cada 4 horas) e de catártico salino. Deve-se hidratar e administrar bicarbonato de sódio para correção de acidose metabólica. Salicilatos - AAS • Tratamento: alcalinização urinária a fim de manter o ph urinário entre 7 e 8. Compressas frias no caso de hipertermia. Diazepam no caso de convulsão e vitamina K no caso de sangramento. Hemodiálise ou hemoperfusão devem ser realizadas se a salicemia for superior a 120 mg/dL, até 6 horas após a ingestão, em caso de acidose refratária. Imidazolinas – Afrin, Sorine adulto e Aturgil • Quadro clínico: hipotermia, bradiocardia, apnéia e depressão do sistema nervoso central (sonolência, torpor e coma). • Tratamento: como a absorção é muito rápida, o esvaziamento gástrico não é recomendado após 1 hora da ingestão. Deve-se proceder aquecimento e suporte ventilatório e circulatório. O suporte ventilatório é fundamental. Teofilina – Teolong e Aminofilina • Quadro clínico: náusea, vômito, dor abdominal, diarréia, cefaléia, irritabilidade, taquicardia, convulsão, arritmia cardíaca e choque cardiovascular. • Tratamento: Deve-se realizar esvaziamento gástrico e administrar carvão ativado em doses repetidas a cada 4 horas. Administrar o catártico salino após o carvão ativado. Em caso de convulsão dar Diazepam IV. Paracetamol - Tylenol • Quadro clínico: é dividido em quatro fases: 1. 30 min a 24 horas – não há manifestação clínica importante. Observa-se anorexia, náusea, vômito, palidez e diaforese. 2. De 24 a 72 horas – dor em hipocôndrio direito, elevação de enzimas hepáticas e prolongamento do tempo de protrombina. Paracetamol - Tylenol 3. De 72 a 96 horas – icterícia, náusea, vômito, insuficiência renal, encéfalopatia hepática, anúria, coma e óbito. A biópsia hepática revela necrose centrolobular. 4. 4 dias a 2 semanas – se o dano não for irreversível, ocorre recuperação completa nesta fase. Paracetamol - Tylenol • Diagnóstico laboratorial: realizar nível sérico de paracetamol após 4 horas da ingestão. Quando não se conhecer o tempo decorrido da ingestão, colher uma amostra na admissão e outra após duas a quatro horas da mesma. Paracetamol - Tylenol • Tratamento: lavagem gástrica até duas horas após a ingestão. O carvão ativado deve ser administrado em dose única. O antídoto Nacetilcisteína é eficaz se for administrado até 8 horas após a ingestão. A via de administração IV é a mais recomendada. Opiáceos – Imozec, Belacodid, Gotas Binelli, Colestase, Lomotil • Quadro clínico: tríade clássica – miose, depressão respiratória e coma. • Tratamento: manter os sinais vitais e administrar o antídoto denominado naloxone. Cândida (hipoclorito de sódio) • Quadro clínico: irritação intensa ou corrosão da pele e da mucosa e por distúrbios gastro-intestinais. • Tratamento: administrar demulcentes, como leite, gelatina, clara de ovo batida em neve com açucar e sintomáticos. • Quando a cândida é vendida em caminhões, ela pode conter também, soda cáustica. Soda Cáustica (hidróxido de cloro) • Quadro clínico: observam-se lesões cáusticas de pele e mucosa • Tratamento: o tratamento depende do grau de lesão da mucosa oral, devendo-se realizar endoscopia digestiva alta de urgência. Planta comigo-ninguém-pode (cristais de oxalato de cálcio) • Quadro clínico: observam-se eritema e edema de mucosa, ocorrendo distúrbios gastrintestinais como náuseas, vômito, dor abdominal e diarréia. Raramente ocorre reação anafilática. • Tratamento: administrar água por via oral e demulcentes como leite gelatina e clara de ovo batida em neve com açúcar. Resumo • Água sanitária, anticoncepcionais orais, batom, detergentes de uso geral, esmalte para as unhas, giz, lápis, pasta de dentes, pilhas alcalinas, pintura para olhos, removedor de esmalte, sabões, tintas acrílicas, velas e xampus. EM GERAL, NÃO APRESENTAM PROBLEMAS. NÃO NECESSÁRIO TRATAMENTO ESPECÍFICO. Resumo • Analgésicos e Aspirina XAROPE DE IPECA - Crianças de 6 meses a 1 ano: 2 colheres de chá (10 mL) seguidas de 1 ou 2 copos de água, sem repetir. - Crianças de 1 a 2 anos: 2 colheres de chá (10 mL) segidas de 1 ou 2 copos de água, podendo repetir após 30 minutos. - Crianças de 2 a 12 anos: 1 colher de sopa (15 mL) seguida de 2 ou 3 copos de água, podendo repetir após 30 minutos. - Adultos: 2 a 4 colheres de sopa (30 a 60 mL) seguidas de 2 a 3 copos de água, podendo repetir após 30 minutos. CARVÃO ATIVADO A CADA 4 HORAS ENTRAR EM CONTATO COM CENTROS DE REFERÊNCIA PARA INTOXICAÇÕES Resumo • Chumbo e Sais de Mercúrio XAROPE DE IPECA ANTÍDOTOS ESPECÍFICOS PODEM SER INDICADOS ENTRAR EM CONTATO COM CENTROS DE REFERÊNCIA PARA INTOXICAÇÕES Resumo • Inseticidas (ingestão), opióides e raticidas. XAROPE DE IPECA DOSE REPETIDA DE CARVÃO ATIVADO ANTÍDOTOS ESPECÍFICOS PODEM SER INDICADOS ENTRAR EM CONTATO COM CENTROS DE REFERÊNCIA PARA INTOXICAÇÕES Resumo • Derivados do petróleo, gasolina, querosene. NÃO PROVOCAR VÔMITOS. NÃO FAZER LAVAGEM GÁSTRICA. ENTRAR EM CONTATO COM CENTROS DE REFERÊNCIA PARA INTOXICAÇÕES Resumo • Cocaína ADMINISTRAR CARVÃO ATIVADO Resumo • Plantas e descongestionantes nasais, limpadores de forno. ENTRAR EM CONTATO COM CENTROS DE REFERÊNCIA PARA INTOXICAÇÕES Resumo • Inalação de inseticidas ANTÍDOTOS ESPECÍFICOS PODEM SER INDICADOS REMOVER PARA O AR FRESCO. CUIDADOS RESPIRATÓRIOS SÃO FUNDAMENTAIS ENTRAR EM CONTATO COM CENTROS DE REFERÊNCIA PARA INTOXICAÇÕES Resumo • Inseticidas contendo iodo. NÃO PROVOCAR VÔMITOS. NÃO FAZER LAVAGEM GÁSTRICA. CONSULTAR ENDOSCOPIA IMEDIATAMENTE APÓS O TRATAMENTO ENTRAR EM CONTATO COM CENTROS DE REFERÊNCIA PARA INTOXICAÇÕES FIM