TRAUMATISMO DE CRÂNIO CONFERÊNCIA Dr. Antonio J. V. de Pinho Conceito Qualquer agressão física que resulte em alteração anatômica e/ou funcional das estruturas da cabeça Epidemiologia 3% das enfermidades neurológicas 66% são de média intensidade 24% são de severa intensidade 20% são de grave intensidade FISIOPATOLOGIA Os traumatismos podem agredir: 1) A pele 2) O crânio 3) As meninges 4) O tecido nervoso 5) Os vasos 1) Traumatismos Da Pele Podem ser: A) Fechados: Sem corte na pele, e: a) Sem contusão b) Com contusão: (edema e rubor) c) Com hematoma (céfalo-hematoma) B) Abertos: Com corte na pele (epiderme, derme, fáscia, músculos, periósteo) 2) Traumatismos Do Crânio Podem ser: A) Sem fraturas B) Com fraturas da calota ou da base: a) Simples: um traço de fratura b) Complexas: dois ou mais traços - dois: sem fragmento - três ou mais: com fragmento (sem e com afundamento) Fraturas Simples Da Calota Podem ser: - Benignas: - Graves: Na asa maior do esfenóide Sobre os seios da dura-mater Fraturas Complexas Da Calota Sem Fragmentos Podem ser: - Benignas: igual as simples - Graves: igual as simples Fraturas Complexas Da Calota Com Fragmentos Podem ser: - Sem afundamento: Como as simples - Com afundamento: Podem lacerar: as meninges, a Art. Meningéia Média, os seios venosos, as veias do espaço subdural, os vasos corticais, o tecido nervoso, os vasos de dentro do tecido nervoso Fraturas Simples Da Base Podem ser: - Graves: - Muito graves: Rompem as cavidades aéreas (meningites) Rompem os seios venosos (sangramento interno e/ou externo) Fraturas Complexas Da Base Sem Fragmentos Podem ser: - Grave: Como a simples - Muito grave: Como a simples 3) Traumatismos Das Meninges Podem ser: - Sem laceração: - Com laceração: Ocorre, nas fraturas que vão e que vem e, nas fraturas com fragmentos e com afundamento Importante Traumatismos abertos, com fraturas de crânio e com rompimento da duramater, teremos a entrada de germes e o ferimento deverá ser considerado contaminado. 4) Traumatismos Do Tecido Nervoso Podem ser: - Por lesão direta e por contra-golpe: Causam, Concussão, contusão, lesão axonal difusa, brain swelling, 5) Traumatismos Dos Vasos Podem ser: - Sem hematoma/micro-sangramento/ sangramento do espaço sub-aracnoideo: - Com hematoma: extra-dural sub-dural intra-parenquimatoso Sangramento Sub-aracnoideo Não forma hematoma, pois o sangue se dilui no liquor e não se acumula. Nem por isso é menos grave, pois o sangramento pode ser abundante. Hematoma Extra-dural Ocorre por rompimento do tronco ou ramos da Art. Meningéia Média, de suas veias satélites ou dos seios venosos da dura-mater. Os mais freqüentes são na convexidade cerebral, na base temporal e na fossa posterior. Hematoma Sub-dural Decorrente do rompimento de veias no espaço sub-dural. Pode ser: - agudo: quando ocorre em seguida do traumatismo - crônico: quando ocorre dias ou semanas após o traumatismo SINTOMATOLOGIA Considerar duas situações: 1) O paciente está acordado 2) O paciente está em coma O Paciente Acordado Pode ocorrer que: A) Em tempo algum ocorreu a perda da consciência B) Já teve perda da consciência A) O Paciente Que Não Teve Perda da Consciência - Pode ter ou não sangramento do couro cabeludo, fratura simples ou não, cefaléia, tonturas, náuseas. - Exame neurológico normal - Quadro sem gravidade inicial. B) O Paciente Que Teve Perda Da Consciência - Três situações podem estar ocorrendo: a) Pode ter tido uma concussão b) Pode estar em intervalo lúcido c) Pode estar iniciando um hematoma subdural crônico a) Concussão Cerebral Perda da consciência por cerca de 30 minutos, seguido de quadro confusional por algumas horas que pode ser somado a cefaléia, vertigens, náuseas e vômitos, tudo pouco intenso, e que desaparece em até 48 horas. Quadro sem gravidade b) Intervalo Lúcido É o tempo em que se está formando um hematoma extra-dural ou sub-dural agudo. Esses hematomas mostrarão sintomatologia em minutos ou poucas horas. O quadro é de eminente gravidade c) Hematoma Sub-dural Crônico Quadro que se apresenta dias ou semanas após o traumatismo de crânio. Mostra uma cefaléia permanente, vômitos e edema de papila, seguido de midríase homo-lateral e deficit progressivo motor contra-lateral ao hematoma. 2) O Paciente Em Coma Pode estar com: a) Contusão b) Brain Swelling c) Lesão Axonal Difusa d) Hematoma extra-dural e) Hematoma sub-dural agudo f) Hematoma intra-parenquimatoso a) Contusão Cerebral Aqui o paciente apresenta os estados de Coma Verdadeiro, Coma Profundo ou Coma Irreversível. b) Brain Swelling ........................................ c) Lesão Axonal Difusa ................................................ d) Hematoma Extra-dural Dois quadros clínicos podem mostrar: - TCE leve, perda da consciência, intervalo lúcido, coma, midríase homolateral e hemiplegia contralateral ao hematoma. - TCE grave, coma, midríase homolateral e hemiplegia contralateral ao hematoma. e) Hematoma Sub-dural Agudo Quadro semelhante ao do Hematoma Extra-dural f) Hematoma Intraparenquimatoso Coma profundo, midríase homolateral, hemiplegia contralateral, piora rápida do quadro e muitas vezes convulsão. Pode evoluir a descerebração. Os mais comuns são os sub-frontais e temporais, embora possam ocorrer em qualquer parte. EXAMES PARA-CLÍNICOS Radiografia simples de crânio Angiografia cerebral Tomografia Computadorizada Ressonância Magnética Radiografia Simples De Crânio Mostra: - Fraturas simples - Fraturas complexas com e sem afundamento - Céfalo-hematomas - Edema de partes moles Angiografia Cerebral Mostra: - Contusões - Hematomas Extra-durais - Hematomas Subdurais - Hematomas Intra-parenquimatosos Tomografia Computadorizada Mostra: - O mesmo que a angiografia - Edema Cerebral - Pequenas hemorragias - Pequenas zonas de contusões - Zonas de isquemias - Sangramento sub-aracnoideo - Sangramento ventricular Ressonância Magnética As mesmas indicações da Tomografia Computadorizada. TRATAMENTO Compreende diversas fases: 1) Os primeiros socorros 2) A emergência 3) Evitar e tratar o edema cerebral imediato 4) Tratar o edema cerebral posterior 5) Tratar as manifestações secundárias 6) Considerar o coma 7) Cirurgias 1) Cuidados De Primeiros Socorros Considerar como politraumatizado: - Estabilizar a coluna cervical com colar. - Transportar em decúbito lateral ou látero-ventral. - Fazer o mínimo de movimento com a coluna vertebral 2) Cuidados de Emergência São as atitudes que se deve ter no local ou no Pronto Socorro. Dizem respeito: - As vias aéreas - Ao choque - Ao nível de consciência - A história do trauma - Ao Exame Neurológico - As lesões de outros aparelhos Cuidados Com as Vias Aéreas Há queda da capacidade ventilatória Usar: - Cânula orofaríngea - Entubação - Traqueotomia O Tratamento Do Choque Será sempre neurogênico e vasogênico Deve-se fazer: - Sedar o paciente - Transfundir soro fisiológico e sangue Registrar O Nível De Consciência * Devemos lembrar que o nível de consciência nos diz da gravidade ou da eminência de gravidade. * Os pacientes acordados estão em melhores condições e colaboram com informações sobre seu estado geral que são preciosas ao examinador. A História Do Trauma Nos diz da gravidade do trauma. Se atingido ou se atingiu. Se foi em casa Se foi de carro Se foi de bicicleta Se foi de trem (geralmente grave) Se foi de avião (geralmente muito grave) O Exame Neurológico Exame normal: Bom prognóstico Hemiplegia: Contusões, hematomas, hérnias Paraplegia: Lesão medular. Midríase: Hérnia de uncus, hematomas. Ausência de reflexo foto-motor: Lesão do mesencéfalo. Etc... Lesões De Outros Aparelhos Costelas perfuram pleura e pulmão. Ruptura de fígado e baço levam ao choque. Ruptura de vísceras ocas contaminam a cavidade peritonial.. Fraturas de ossos longos levam a embolias gordurosas e ruptura de vasos e nervos. Tromboses de Carótidas acontecem muito. 3) Evitar E Tratar O Edema Cerebral Imediato É resultado da hipóxia. Deve-se usar os seguintes procedimentos: - Aspiração das secreções - Entubação endotraqueal nasal ou oral - Traqueotomia - Ventilação controlada - Hipotermia Aspiração De imediato começa a inundação brônquica. Usar: - Aspiração pela boca. - Aspiração pelo nariz. Entubação Endotraqueal Visa: - Desobstruir as vias aéreas superiores. - Interromper a queda da língua e palato mole. - Afastar a epiglote. - Aspiração brônquica através do tubo. Traqueotomia Pode ser: - De urgência: Quando o paciente não consegue respirar. - No hospital: Por dificuldade de aspiração, exagerada produção de secreções, para retirar a entubação endotraqueal. Ventilação Controlada Usada nos: - Comas profundos. - Comas irreversíveis. Hipotermia Para interromper o processo contusional. Baixa-se a temperatura para cerca de 25 graus centígrados por cerca de 6 dias. Usa-se: - drogas 4) Tratar o Edema Cerebral Posterior Aumento de líquidos. Usam-se as drogas: - Manitol a 20%, em infusão EV, a 80 gotas por minutos, na dose de 10 a 15 mg/Kg/dia, em intervalos de 4 a 6 horas. - Glicerol a 10%, por SNG na dose de 1g/Kg ou EV, na dose de 1 a 2 mg/Kg. Controle da Pressão Intracraniana A pressão intracraniana deve ser monitorizada através de aparelhos que a registram de forma contínua. Usa-se o: - Transdutor sub-dural. - Cateter intra-ventricular. 5) Tratar as Manifestações Secundárias Três as manifestações mais comuns: a) A agitação b) As convulsões c) A hipertermia Controle Da Agitação Freqüentes nas contusões e comas vigil e verdadeiro. Usam-se, EV ou IM: - Benzodiazepinicos (Diazepam). - Fenotiazínicos (Amplictil). - Outros. Controle Das Convulsões O tratamento das crises repetitivas: - Diazepam (Diazepam) EV. - Clonazepam (Rivotril) EV. A prevenção de novas crises: - Fenitoina (Hidantal) EV. - Fenobarbital (Gardenal) IM. Controle Da Temperatura Usam-se os anti-térmicos em geral: - Dipirona (Novalgina) EV. - Outros. Bolsas de gelo: nas axilas e nas regiões inguinais. Banho de álcool: com panos umedecidos. 6) O Estado De Coma O coma não é uma doença e sim um estado. Deve-se manter os aparelhos funcionando, até a volta da consciência. Estudo específico na aula de COMAS. 7) Cirurgias O tratamento cirúrgico no TCE visa: - Reconstituir a anatomia, - Tratar o inchaço do cérebro. - Tratar as coleções de sangue. - Tratar as fístulas de líquor. Reconstituição Da Anatomia Nos traumatismos abertos: - Fazer a suturas dos diversos planos, rotação de retalhos, transplante de pele Nas fraturas com fragmentos múltiplos: - Retirar e fazer cranioplastia posterior Na dura-mater lacerada: - Suturar ou colocar dura artificial.. Tratar O Inchaço Do Cérebro Fazer uma craniectomia ampla bilateral. Na prática os resultados não foram dos melhores. Tratar Os Hematomas Faz-se craniotomias locais para esvaziar os hematomas, sejam extradurais, sub-durais ou intraparenquimatosos. Faz-se a hemostasia por coagulação, clipagem e colocação de redes proteicas hemostáticas (Surgicel). Tratar As Fístulas De Líquor As fístulas ocorrem pelos seios nasais e pelo ouvido médio. Causam meningites. Faz-se o entupimento do pertúito com músculo. COMPLICAÇÕES Podem ser: - Fístulas de líquor. - Hematoma sub-dural crônico. - Infecções. - Epilepsia. - Seqüelas de lesão tecidual. Fístulas De Líquor Pelos seios para-nasais e ouvido médio. Dão infecções imediatas e tardias. Os germes mais freqüentes são o estafilococo e o estreptococo. Hematoma Sub-dural Crônico Já descrito. Forma-se progressivamente. A sintomatologia surge após um certo volume. Infecções Decorrem dos: - Traumatismos abertos que laceram a dura-mater. Pelas fístulas de líquor. Nos trajetos dos projeteis de arma de fogo. Pela entrada de material estranho, como pele, cabelos, etc. Epilepsia Traumática Ocorre em cerca de 18% dos casos com lesão da dura-mater. Ocorre em cerca de 50% dos casos com lesão encefálica. Ocorre nas contusões. Seqüelas De Lesões Cerebrais Têm-se: - Psicoses. - Plegias. - Defeitos intelectuais. - Disfasias. - Perdas sensitivas (olfato, visão, etc.) PROGNÓSTICO Morrem cerca de 30%, daqueles com distúrbios neurológicos leves. Morrem cerca de 75%, daqueles com distúrbios neurológicos moderados. Morrem 100%, daqueles que apresentam distúrbios neurológicos graves.