Apoio Matricial Carlos Garcia Jr. Carlos Garcia Jr. O que é Apoio Matricial? • É um modo de produzir saúde de forma compartilhada. • É um arranjo na organização dos serviços que complementa as equipes de referência. Carlos Garcia Jr. Bases conceituais do Apoio Matricial • Historicamente, na área da saúde, houve uma crescente divisão de trabalho entre as profissões e suas especialidades. • Isso repercutiu na definição de objetos de intervenção, sem compromisso com a integralidade do cuidado às pessoas, famílias e comunidades. • O modelo tradicional de assistência fragmentou os processos de trabalho e estabeleceu o saber médico como privilegiado em relação aos demais saberes, ficando a distribuição do poder atrelada ao saber disciplinar e às chefias divididas por corporações. • Outro aspecto a ser salientado neste modelo de atenção à saúde é o atendimento pontual dos casos de doença, sem um processo de acompanhamento longitudinal, o que desfavorece o desenvolvimento de vínculo entre profissionais e usuários (CAMPOS, 1999). Carlos Garcia Jr. O termo “matricial” • É composto por dois conceitos operadores. • O segundo deles – matricial – indica uma mudança radical de posição do especialista em relação ao profissional que demanda seu apoio. • Na teoria de sistemas de saúde, há o princípio da hierarquização (NOVAES, 1990), em que se prevê uma diferença de autoridade entre quem encaminha um caso e quem o recebe; o nível primário dirige-se ao secundário e assim sucessivamente, havendo ainda uma transferência de responsabilidade quando do encaminhamento. Aqui, estamos falando das relações do tipo vertical, em que a comunicação entre os níveis ocorre por meio de informes escritos apenas para transferir uma responsabilidade e receber algum informe ao final do procedimento. Carlos Garcia Jr. O termo “apoio” • O primeiro termo – apoio – sugere uma maneira para operar-se essa relação horizontal mediante a construção de várias linhas de transversalidade. Ou seja, sugere uma metodologia para ordenar essa relação entre referência e especialista, não mais com base na autoridade, mas com base em procedimentos dialógicos. O termo foi retirado do método Paidéia (CAMPOS, 2000), que cria a figura do apoiador institucional e sugere que, tanto na gestão do trabalho em equipe quanto na clínica, na saúde pública ou nos processos pedagógicos, a relação entre sujeitos com saberes, valores e papéis distintos pode ocorrer de maneira dialógica. Carlos Garcia Jr. Síntese • Apoio Matricial parte do pressuposto de que as funções de gestão são exercidas entre sujeitos, ainda que com distintos graus de saber e de poder (CAMPOS, 2000). • O apoio matricial em saúde objetiva assegurar retaguarda especializada a equipes e profissionais encarregados da atenção a problemas de saúde (CAMPOS, 2007). Carlos Garcia Jr. • Trata-se de uma metodologia de trabalho complementar àquela prevista em sistemas hierarquizados, a saber: mecanismos de referência e contra-referência, protocolos e centros de regulação. • Pretende oferecer tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnicopedagógico às equipes de referência (CAMPOS, 2007). Carlos Garcia Jr. O que é equipe de referência? • É composta por um conjunto de profissionais considerados essenciais para a condução de problemas de saúde dentro de certo campo de conhecimento. Dentro dessa lógica, a equipe de referência é composta por distintos especialistas e profissionais encarregados de intervir sobre um mesmo objeto – problema de saúde –, buscando atingir objetivos comuns e sendo responsáveis pela realização de um conjunto de tarefas, ainda que operando com diversos modos de intervenção (CAMPOS, 2007, p. 400) Carlos Garcia Jr. • É muito comum, quando não se tem a equipe de referência, que o usuário seja responsabilidade de todos os profissionais e, ao mesmo tempo, de nenhum. Cada um se preocupa com a “sua” parte (que é cada vez menor com a especialização e burocratização) e ninguém se preocupa com a “costura” das diversas intervenções num projeto terapêutico coerente e negociado com o usuário e na equipe. Ou seja, supõe-se que o sujeito pode ser fatiado em pedaços e reduzido a diagnósticos, por abordagens profissionais diferentes, e que no fim da “linha de produção”, depois que cada profissional apertou um parafuso, chegar-se-á num usuário integralmente atendido e com seus problemas Carlos Garcia Jr. resolvidos (BRASIL, 2004, p.7). • Um ditado popular ilustra bem esta situação: “cão com muitos donos passa fome” Carlos Garcia Jr. • As equipes de referência propõem um novo sistema de referência entre profissionais e usuários, cujo funcionamento pode ser descrito da seguinte forma: cada unidade de saúde se organiza por meio da composição de equipes, formadas segundo características e objetivos da própria unidade, e de acordo com a realidade local e disponibilidade de recursos. • Essas equipes obedecem a uma composição multiprofissional de caráter transdisciplinar, isto é, reúnem profissionais de diferentes áreas, variando em função da finalidade do serviço/unidade (por exemplo: equipe de saúde da família quando for uma Carlos Garcia Jr. (BRASIL, 2004, p.8). Unidade de Saúde da Família) Como se operacionaliza? • O apoiador procura construir projetos de intervenção de maneira compartilhada com os demais interlocutores, valendo-se tanto de ofertas originárias de seu núcleo de conhecimento, de sua experiência e visão do mundo, quanto incorporando demandas trazidas pelo outro em função de seu conhecimento, desejo, interesse e visão de Como núcleo de conhecimento entende-se o conjunto de mundo. conhecimentos, atribuições específicas e características de cada profissão ou especialidade que constrói a identidade da profissão. Carlos Garcia Jr. A proposta do Apoio Matricial • O apoio matricial foi proposto inicialmente como um novo arranjo organizacional da assistência à saúde, capaz de potencializar saberes e práticas. É um importante modificador das práticas centradas nas doenças e procedimentos, levando à abordagem de forma mais integral do ser humano, desfragmentando o processo de trabalho (CAMPOS, 1999). Carlos Garcia Jr. • O apoio matricial e equipe de referência foram propostos por dentro da linha de pesquisa voltada para a reforma das organizações e do trabalho em saúde (CAMPOS, 1999). Posteriormente, essa metodologia de gestão do cuidado foi adotada em serviços de saúde mental, de atenção básica e da área hospitalar do Sistema Único de Saúde de Campinas. Atualmente, políticas do Ministério da Saúde incorporaram essa perspectiva, tais como: HumanizaSUS, Saúde Mental e Atenção Básica/Saúde da Família. Carlos Garcia Jr. Metodologia de trabalho • Apoio Matricial como metodologia de trabalho • Implementação do Apoio Matricial Carlos Garcia Jr. Duas formas básicas de realização de contato com a equipe de apoio matricial Regular Emergencial Encontros periódicos e regulares com agenda semanal, quinzenal ou mensal entre equipes de apoiados e apoiadores para discussão de casos ou problemas de saúde selecionados pelos profissionais da equipe apoiada, procurando elaborar projetos terapêuticos e acordar intervenções entre os envolvidos. Os temas clínicos devem ser lembrados nas discussões, como também os problemas de gestão do sistema. Contatos em situações emergenciais onde os profissionais apoiados acionam por meios de comunicação (contato telefônico ou por meios eletrônicos) solicitando intervenção do apoiador. Na prática! Carlos Garcia Jr. Diferentes maneiras, na prática, que o apoio matricial que pode desenvolver: Intervenções e atendimentos conjuntos entre os profissionais da equipe apoiada e o especialista da equipe matricial Em situações especiais que exijam a atenção específica ao núcleo do saber do especialista da equipe matricial, este pode programar em conjunto com a equipe apoiada uma série de atendimentos ou intervenções especializadas, sem que haja o descomprometimento da equipe apoiada e tendo esta o cuidado de manter o seguimento do cuidado. Carlos Garcia Jr. Trocas de conhecimentos e orientações entre a equipe apoiada e o apoiador, avaliações de casos, de projetos terapêuticos em andamento, discussão de temas prevalentes, análise de estratégias para lidar com demandas, planejamento, análise de encaminhamentos e reorientação de condutas. Sempre tendo o cuidado de manter o vínculo entre os profissionais da equipe apoiada e a população a ela adscrita. Apoio a grupos, ações junto aos equipamentos públicos como escolas, creches, igrejas, pastorais etc. Carlos Garcia Jr. Interconsulta instrumento de educação permanente em saúde. Abordagem desenvolvida nos serviços hospitalares com o objetivo de fazer diagnósticos mais amplos e, através do intercâmbio entre especialistas, definir condutas terapêuticas mais adequadas. Carlos Garcia Jr. Sendo uma prática interdisciplinar, a interconsulta busca a integralidade da atenção à saúde, ao ser realizada nos serviços, por meio da discussão de casos por alguns membros da equipe ou por todos. Na efetivação da interconsulta, os profissionais envolvidos realizam trocas sobre suas concepções a respeito do caso e suas respectivas análises, permitindo diferentes perspectivas sobre a situação, devendo ainda ser incluída a visão dos usuários envolvidos. O que permite a discussão das potencialidades e das dificuldades em questão. Carlos Garcia Jr. Atenção Básica • A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (BRASIL, 2011). Carlos Garcia Jr. Princípios da APS • Acessibilidade (atenção ao primeiro contato) • Longitudinalidade • Integralidade (variedade complexa de necessidades) • Coordenação (estado de harmonia numa ação comum ou esforço em comum) Carlos Garcia Jr. Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASF • São constituídos por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, que devem atuar de maneira integrada e apoiando os profissionais das Equipes Saúde da Família, das Equipes de atenção Básica para populações específicas (consultórios na rua, equipes ribeirinhas e fluviais, etc.) e academia da saúde, compartilhando as práticas e saberes em saúde nos territórios sob responsabilidade destas equipes, atuando diretamente no apoio matricial às equipes da(s) unidade(s) na(s) qual(is) o NASF está vinculado e no Carlos Garcia Jr. território destas equipes. (BRASIL, 2011). NASF • Os NASF fazem parte da atenção básica, mas não se constituem como serviços com unidades físicas independentes ou especiais, e não são de livre acesso para atendimento individual ou coletivo (estes, quando necessários, devem ser regulados pelas equipes de atenção básica). Devem, a partir das demandas identificadas no trabalho conjunto com as equipes e/ou Academia da saúde, atuar de forma integrada à Rede de Atenção à Saúde e seus serviços (ex.: CAPS, CEREST, Ambulatórios Especializados etc.) além de outras redes como SUAS, redes sociais e comunitárias (BRASIL, 2011). Carlos Garcia Jr. • para que o trabalho do NASF possa ser implementado, um dos pontos iniciais para o apoio matricial é a adscrição de clientela. Ou seja, a equipe de referência da ESF deve trabalhar com a definição do território de abrangência, permitindo o conhecimento amplo dos usuários, a dinâmica sociocultural e econômica da comunidade, assim como os problemas mais prevalentes e seus determinantes. Carlos Garcia Jr. Consulta Conjunta • É uma técnica de aprendizagem em serviço voltada a dar respostas resolutivas a demandas da assistência à saúde que reúne, na mesma cena, profissionais de saúde de diferentes categorias, o paciente e, se necessário, a família deste. A ação se faz a partir da solicitação de um dos profissionais para complementar e/ou elucidar aspectos da situação de cuidado em andamento que fujam ao entendimento do solicitante para traçar um plano terapêutico Como forma de viabilizar a interconsulta, a consulta conjunta é uma intervenção utilizada para implementação do apoio matricial, uma prática se dá por meio da troca de questionamentos, dúvidas e informações entre os profissionais envolvidos frente às necessidades do Garcia usuário Carlos Jr. (UFSC, 2012). Que personagens podem integrar o grupo de participantes de uma consulta conjunta? Da atenção primária à saúde: • médico de família e comunidade (ou outro profissional médico exercendo esse papel) • Enfermeiro • Dentista • agente comunitário de saúde Da equipe de saúde mental: • Psiquiatra • Psicólogo • enfermeiro, terapeuta ocupacional, assistente social ou outro profissional de saúde de nível superior com experiência em saúde mental De usuários do serviço de saúde: • pacientes • familiares • acompanhantes Outros profissionais? • estudantes (CHIAVERINI, 2011) • estagiários • outras pessoas interessadas das equipes Carlos Garcia Jr. Atividades de Grupos e Educação em Saúde também são ações de matriciamento • Os grupos da atenção primária à saúde devem ser educativos, mas exigem um atributo de suporte e de reflexão (BRASIL, 2011). Lembramos que estes grupos são de responsabilidade da ESF, no entanto, os profissionais do NASF podem ser acionados para contribuir com seu conhecimento promovendo maior empoderamento tanto dos usuários quanto dos profissionais que deles participam. Carlos Garcia Jr. Característica típica dos grupos • característica típica dos grupos são os papéis que as pessoas tendem a assumir no processo de cada sessão grupal. Identificar esses diversos papéis vai facilitar o manejo do grupo. Essa identificação pode ocorrer pela observação das dificuldades que as pessoas vêm encontrando para o desempenho de suas tarefas, quaisquer que elas sejam, como, por exemplo, a tarefa de cuidar corretamente de si e de sua saúde Carlos Garcia Jr. Papéis mais comuns assumidos pelas pessoas nos grupos Líder • Positivo ou negativo, dependendo se a liderança é exercida para o benefício do grupo ou para benefício pessoal. Quanto mais frágil for a estrutura grupal, mais espaço tem o líder negativo. • Tende a trazer tudo para si e não abre espaço para os outros. Monopolizador • Pode até se beneficiar do grupo, mas não compartilha seus ganhos, e pode estar em um conluio patológico com o monopolizador. Silencioso Queixoso • Rejeita a ajuda, podendo levar o grupo e os coordenadores à sensação de impotência. Nessa categoria encontra-se o paciente que apresenta sintomas médicos inexplicáveis. Carlos Garcia Jr. (CHIAVERINI, 2011) Referências • • • • • • • • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: equipe de referência e apoio matricial / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. ______. Ministério da Saúde. Portaria 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a política nacional de atenção básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da atenção básica, para a estratégia saúde da família e o programa de agentes comunitários de saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 21. out. 2011. CAMPOS G.W.S. Equipes de referência e apoio especializado matricial: uma proposta de reorganização do trabalho em saúde. Ciência e Saúde Coletiva, v. 4, n. 2, p. 393-404, 1999. _______. Um método para análise e co-gestão de coletivos. São Paulo: Hucitec, 2000. CAMPOS, G.W.S.; DOMITI, A.C. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 399-407, fev. 2007. CHIAVERINI, D. H. et al.(org.). Guia prático de matriciamento em saúde mental. Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva. Brasília, DF, 2011. NOVAES, H. M. Ações Integradas nos sistemas locais de saúde – SILOS. São Paulo: Biblioteca Pioneira de Administração e Negócios, 1990. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Curso de Especialização Multiprofissional em Saúde da Família. Apoio matricial [Recurso eletrônico] / Universidade Federal de Santa Catarina; Carmem Regina Delziovo; Rodrigo Otávio Moretti-Pires; Elza Berger Salema Coelho. Florianópolis : Universidade Federal de Santa Catarina, 2012. Carlos Garcia Jr. Carlos Garcia Jr. Consultor PNH/SC [email protected] Carlos Garcia Jr.