CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E ESTRUTURAL DA SUÍTE INTRUSIVA SANTA RITA – EVENTO MAGMÁTICO RELACIONADO À OROGENIA RIO ALEGRE – SW DO CRATON AMAZÔNICO Newton Diego Couto do Nascimento1,6, Luiz Ricardo da Silveira1,6, Amarildo Salina Ruiz2,6, João Batista de Matos3,6, Maria Zélia Aguiar de Sousa3,6 e Gabrielle A. de Lima4,6 Maria Elisa Fróes Batata5,6 1Curso de Graduação em Geologia/UFMT; 2Departamento de Geologia Geral, ICET/UFMT; 3Departamento de Recursos Minerais, ICET/UFMT; 4Programa de Pós-Graduação em Geociências/UFMT; 5Programa de Pós-Graduação em Geologia/UnB; 6Grupo de Pesquisa em Evolução Crustal e Tectônica – Guaporé. E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO O Terreno Rio Alegre, na concepção de Ruiz (2009) e Bettencourt et al. (2010), corresponde a um fragmento de litosfera oceânica situada entre dois fragmentos continentais paleo-mesoproterozóicos denominados terrenos Jauru e Paraguá. Apesar do interesse econômico e da importância tectônica na compreensão da evolução do Craton Amazônico, raros trabalhos que abordem a história deformacional e magmática do mesmo tem sido feitos. Com o propósito de ampliar o acervo de dados e contribuir com o conhecimento desse segmento da Plataforma Sul-Americana, serão apresentadas e discutidas novas informações petrográficas e estruturais da Suíte Intrusiva Santa Rita, importante evento ígneo de composição intermediária a ácida, restrita aos domínios deste terreno. GEOLOGIA REGIONAL A Província Rondoniana-San Ignacio (1,56-1,30 Ga) segundo Bettencourt et al. (2010) é constituída por diversos terrenos alóctones que foram sendo continuamente amalgamados desde 1.56 Ga até 1.3 Ga, durante a Orogenia San Ignácio. Tais autores sugerem que o SW do Craton Amazônico, a sul do Cinturão Móvel Nova Brasilândia, pode ser compartimentado em quatro terrenos: Jauru, Paraguá, Rio Alegre e Alto Guaporé. O Terreno Rio Alegre é composto pelas seguintes unidades litoestratrigráficas: Complexo Metavulcanossedimentar Rio Alegre, Suíte Intrusiva Máfica-ultramáfica e Suíte Intrusiva Santa Rita (Matos et al. 2004). A Suíte Santa Rita, conforme sugerido por Ruiz (2005) agrupa as intrusões de corpos plutônicos, intermediários a ácidos, com uma foliação penetrativa tipo xistosidade. Idades U-Pb em zircão obtidas nestas rochas (1.44 ± 15 a 1.38 ± 40 Ga) indicam o período de cristalização da suíte, com TDM evidenciando um fracionamento de manto em torno de 1.5 Ga, sendo que os valores positivos de εNd(t) +3,6 apresentam uma assinatura isotópica de materiais derivados do manto (Ruiz 2005). ASPECTOS DE CAMPO E PETROGRÁFICOS DA SUÍTE INTRUSIVA SANTA RITA As rochas predominantes dessa suíte, são leucocráticas a mesocráticas, cinza a rosaacinzentadas, equigranulares a porfiríticas, foliadas e por vezes bandadas, apresentando zonas de cisalhamento subverticais. As intrusões têm forma alongada segunda a direção NW, concordante com a foliação impressa em suas rochas (Fig. 1). A análise petrográfica de amostras desta suíte indicou os seguintes tipos litológicos: quartzo monzodioritos, tonalitos, granodioritos, quartzo monzonitos e sienogranitos. Os representantes de composição intermediária apresentam granulação fina a média e texturas variadas formadas pela orientação, por vezes simultânea, de plagioclásio, feldspato alcalino, quartzo, biotita e anfibólio, tendo como minerais acessórios apatita, titanita, zircão, epidoto, granada e opacos. Essas rochas exibem evidências de alteração hidrotermal, sendo observada saussuritização, argilização, sericitização e cloritização. No geral, apresentam plasticidade intracristalina e recristalização dinâmica dos minerais, deixando-os estirados e com formação de subgrãos, indicando metamorfismo de baixo grau, da fácies xisto-verde, que varia da zona da clorita até a da granada. A porção mais ácida, representada pelo sienogranito, evidencia granulação fina a média, textura granolepidoblástica constituída por quartzo, feldspato alcalino, plagioclásio e biotita, orientados, sendo possível identificar alteração subordinada, tais como, sericitização, argilização e cloritização. Por vezes, observam-se maclas deformadas dos feldspatos indicando um mecanismo de plasticidade intracristalina, enquanto o quartzo apresenta-se recristalizado por mecanismo dinâmico sugerindo metamorfismo de baixo grau com paragênese típica da fácies xisto-verde na zona da clorita. CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL PRELIMINAR Os granitóides da Suíte Santa Rita exibem uma foliação penetrativa (S1), caracterizada como uma xistosidade, bem definida pela orientação preferencial dos minerais máficos (hornblenda e biotita) e félsicos (plagioclásio, feldspato alcalino e quartzo). Apesar de poucas medidas da foliação S1, verifica-se o predomínio de mergulhos altos, entre 60º e 70º, principalmente no sentido dos azimutes 230º e 260º, o que enfatiza sua correlação com a foliação S2 identificada em suas encaixantes, o Complexo Metavulcanossedimentar Rio Alegre. A Suíte Intrusiva Santa Rita apresenta registro de uma única fase de deformação (F1) ocorrida em condições metamórficas de baixo grau, fácies xisto-verde, na zona da clorita até a zona da granada. Figura 1. Mapa geológico da Suíte Intrusiva Santa Rita, região do Rio Alegre na Fazenda Reunidas Boi Gordo. CONCLUSÕES Os resultados obtidos neste trabalho possibilitaram a identificação da grande variedade composicional das rochas que constituem a Suíte Intrusiva Santa Rita, sugerindo uma suíte ígnea expandida formada por quartzo monzodioritos, tonalitos, granodioritos, quartzo monzonitos e sienogranitos. Do ponto de vista termo-tectônico, constatou-se que esforços compressivos, em condições metamórficas de baixo grau, fácies xisto-verde, provocaram intenso achatamento dos corpos intrusivos, bem como, foliação com direção NW. A geração destes granitóides, considerando os dados petrográficos e isotópicos, provavelmente ocorreu em um ambiente de arco magmático, resultante da convergência entre os Terrenos Jauru e Paraguá, em um campo de esforços compressivos de direção NE-SW, durante a Orogenia Rio Alegre. Figura 2. Fotografias de amostras e seções delgadas da Suíte Intrusiva Santa Rita ilustrando: A) detalhe da foliação penetrativa no Quartzo Monzonito. B) textura orientada formada por quartzo, feldspatos, biotita, anfibólio e granada do Quartzo Monzonito; C) plagioclásio com lamelas de geminação deformadas do Quartzo Monzodiorito; D) detalhe de recristalização dinâmica em quartzo com formação de subgrãos do Quartzo Monzodiorito. Polarizadores paralelos em B e cruzados em C e D. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à CPRM/PRONAGEO e ao Instituto de Ciência e Tecnologia Geociências da Amazônia (GEOCIAM) pelo suporte financeiro ao desenvolvimento da pesquisa. O primeiro e segundo autores agradecem a concessão de bolsa BIC/FAPEMAT UNIVERSAL N° 448287/2009 e PRONAGEO, respectivamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BETTENCOURT J. S,; LEITE JR. W. B., RUIZ A. S., MATOS R., PAYOLLA B. L., TOSDAL R. M. 2010. The Rondonian-San Ignacio Province in the SW Amazonian Craton: An Overview. Journal of South American Earth Sciences, 29:28-46. MATOS J.B., SCHORSCHER J.H.D., GERALDES M.C., SOUSA M.Z.A., RUIZ A.S. 2004. Petrografia, geoquímica e geocronologia das rochas do Orógeno Rio Alegre, Mato Grosso: um registro de crosta oceânica Mesoproterozóica no SW do Cráton Amazônico. Geologia USP – Série Científica, 4: 75 – 90. RUIZ A. S. 2005. Evolução Geológica do Sudoeste do Craton Amazônico Região Limítrofe Brasil-Bolívia-Mato Grosso. UNESP. Rio Claro, SP. Tese de Doutoramento, 260 p. RUIZ A. S. 2009. Compartimentação Tectônica (Pré-Sunsás) do Sudoeste do Cráton Amazônico: ênfase em Mato Grosso - Brasil. In: XVIII Congreso Geológico Boliviano, Potosi. Memorias del XVIII Congreso Geológico Boliviano. Potosi : Comision Cientifica Nacional - Ing. Daniel Howard, 2009. v. único. p. 159-163.