Enquanto as pessoas aqui denominam " virtual " qualquer sentimento, eu sempre acreditei que todos os sentimentos são reais. Nunca consegui apenas sentir alguma coisa quando estando on line, e depois sair da relação como se sai em " Log Off ". Eu acreditei em tudo que senti e ouvi. Eu acreditei em tudo que me foi prometido. Eu acreditei do mesmo jeito que as pessoas acreditam nas outras quando estão frente a frente. Eu acreditei que meus desejos comuns e naturais iam se realizar. Eu acreditei nas horas de carinho, dedicação e candura. Eu acreditei nas imagens que via, nos olhos que me olhavam através de uma câmera. Eu acreditei na boca que falava e nos dedos que digitavam. Eu acreditei em todos os momentos que havia uma sintonia especial. Acreditei e relutei até o momento em que percebi que somente "eu" havia feito como minha realidade a " virtualidade" que aqui impera. Eu acreditei até nas " mentiras sinceras " , porque assim as coisas poderiam ficar mais humanizáveis, menos constrangedoras. Eu acreditei que pessoas mudam, que caráter se modifica, que não precisamos de muito para saber viver dentro da verdade e com honestidade. Basta falar com o coração e deixar os dedos digitarem sinceramente. Eu acreditei. Eu acreditei , até me ver sem chão. Eu acreditei até que percebi que algumas pessoas desligam a máquina e se desligam com ela, mudam de programa assim como mudam o canal da televisão. Tão simples como acionar o controle remoto ... simples demais para quem não "saca" que atrás da máquina tem gente, sentimento, esperança, desejos, saudade. Parece complicado para essas mesmas pessoas entenderem que quando se desliga o monitor, o som e todos os recursos existentes para se estar on line, não há como desligar a outra pessoa do outro lado. Não se desligam sentimentos. Não se colocam em " stand by " carinhos, afagos e sorrisos. Não se eliminam prazeres, alegrias e trocas como se vírus fossem. Não se apagam da memória detalhes de um amor puro. Memória não se formata. Eu acreditei e hoje levo meus sentimentos na memória, na alma e dentro do meu coração, feito de músculos, veias e sangue que circula bombando vida e ainda uma pontinha de esperança que do outro lado exista alguém semelhante e não apenas fios ligados na voltagem 110/220 watts levando qualquer coisa para qualquer lugar. Eu acreditei ... sinceramente, eu acreditei. Créditos: Autoria : Mirella Luchinytzs Música : Secret fellings ( Ernesto Cortázar ) Formatação : Angela Fazio