UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL CURSO DE DIREITO FILOSOFIA GERAL 1º. semestre DOS MITOS À FILOSOFIA Professora Selma Ap. Cesarin 2011 FILOSOFIA GERAL Filosofia: a palavra filosofia é a junção de dois vocábulos gregos: philo e sophia. Philo deriva-se de philia amizade / amor fraterno / amor entre iguais). Sophia quer dizer sabedoria. Portanto, filosofia significa amizade pela sabedoria - pelo conhecimento / amor e respeito pelo saber. Assim, Filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama a sabedoria, isto é, deseja o conhecimento, estima-o, procura-o e o respeita. Destaque-se que existem diversas definições de Filosofia. FILOSOFIA GERAL Filosofia é, ainda, atividade humana, um agir e um fazer, que não se ocupa em produzir algo, mas em investigar o valor do que fazemos com aquilo que construímos. Mas para chegar a essa definição é preciso pensar um pouco. Muitas vezes, a Filosofia é vista como perda de tempo ou como atividade inútil, mas essa é uma forma de descrevê-la de acordo com as noções do senso comum. E o que é o senso comum? FILOSOFIA GERAL O senso comum É o conjunto de conhecimento disseminado pela sociedade e compartilhado por seus membros, conhecimento esse recebido de nossos antepassados e que vai se formando com a experiência e é passado adiante, para as novas gerações. O senso comum aparece com força, por exemplo, nos ditados/provérbios/adágios populares, que são depósitos da sabedoria popular. (figuras) FILOSOFIA GERAL As figuras equivalem a vários ditados. E há uma infinidade de outros: Gato escaldado tem medo de água fria... / Ninguém nasce sabendo... / Devagar se vai ao longe... / É melhor prevenir do que remediar... / De boas intenções o inferno está cheio... / Enquanto há vida, há esperança... Nos ditados, o senso comum aparece como exemplos de bom senso, pois os ditados populares tentam mostrar as maneiras mais adequadas de viver e de agir. É um conhecimento ingênuo, quase sempre conservador, mas socialmente eficaz. FILOSOFIA GERAL Mas muitas vezes o senso comum é muito perigoso! Por exemplo, o senso comum acerta ao dizer que é melhor entrar em casa pela porta do que pela janela, que é mais fácil tomar sopa com a colher do que com o garfo, ou então, que não é inteligente torcer por um time no meio da torcida adversária ou andar sem sapatos sobre o asfalto quente. Mas erra ao fazer certas afirmações às quais as pessoas aderem quase que automaticamente e que muitas vezes retratam preconceito. Por exemplo: “Mulher sempre dirige mal.” / “Homens são todos iguais.” e afirmações deste tipo. FILOSOFIA GERAL “Quando todos pensam igual, é porque ninguém está pensando.” Walter Lippman FILOSOFIA GERAL Relação entre Filosofia e senso comum Para o senso comum, a Filosofia é distração, um pensar vago sobre questões abstratas, uma perda de tempo, algo inútil, principalmente ao se considerar a dinâmica da vida moderna, em que o tempo é quase completamente ocupado com afazeres e atividades. FILOSOFIA GERAL O senso comum, o pensamento estabelecido, diz que a Filosofia, ao exigir a análise mais cuidadosa de nossas ações cotidianas, atrapalha o fluxo, “o andar da carruagem” do dia a dia, é uma perda de tempo. Mas na realidade, o tempo gasto é tempo ganho, no processo de compreensão e de análise de nós mesmos e do mundo que nos cerca. E sua inutilidade, na verdade, parece ser o que há de mais útil: afirmar a validade de nossas ações e julgamentos a partir de uma reflexão própria, e não emprestada. Isso, para não gastarmos toda nossa vida ocupados apenas em nascer e morrer... FILOSOFIA GERAL Entretanto, até chegar às explicações filosóficas, a humanidade passou por outros processos. Mito como expressão do pensamento A Filosofia nasceu na Grécia, por volta do fim do século VII e início do século VI a.C. Até essa época, as explicações que os homens davam para o que acontecia com eles ou com o mundo eram marcadas pela presença constante dos mitos. Assim, as culturas mais primitivas e as antigas filosofias orientais expunham suas respostas aos principais questionamentos do homem em narrativas primitivas, geralmente orais, que expressavam os mistérios sobre a origem das coisas, o destino do homem, o porquê do bem e do mal etc. FILOSOFIA GERAL Mito (em grego, mythos): palavra, narrativa, história. De fato, o mito é sempre uma narrativa, uma história que serve para explicar algo, justificar certas práticas sociais ou fenômenos naturais. Dessa maneira, o mito será, para o homem, um instrumento para a compreensão do mundo que o cerca. FILOSOFIA GERAL Mas o mito não é exclusividade de povos primitivos, nem de civilizações nascentes. Existe em todos os tempos e culturas como componente inseparável da maneira humana de compreender a realidade. Associa-se, erroneamente, o conceito de mito à mentira, ilusão, ídolo, lenda ou ficção. O mito não é uma mentira, pois é verdadeiro para quem o vive. A narração de determinada história mítica é uma primeira atribuição de sentido ao mundo, sobre o qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel. FILOSOFIA GERAL Os mitos referem-se sempre a realidades arquetípicas, isto é, a situações com as quais todo ser humano se depara ao longo da vida, decorrentes de sua condição humana, em situações padrão tais como: nascimento, casamento, envelhecimento, morte... os mitos explicam, auxiliam, e promovem as transformações psíquicas que se passam, tanto no nível individual, como no coletivo de uma determinada cultura. FILOSOFIA GERAL Exemplos de Mito O mito de Édipo: ensina a proibição do parricídio (o assassinato do pai) e do incesto (relacionamento sexual entre parentes próximos: mãe e filho, pai e filha, irmão e irmã...) proibidos em praticamente todas as culturas. O mito de Édipo é tão rico em interpretações que é utilizado até hoje pela Psicanálise para explicar de que maneira nossa mente se relaciona com os impulsos e emoções do começo de nossas vidas. Você nunca ouviu falar no “Complexo de Édipo”? E no “Complexo de Electra”? FILOSOFIA GERAL Exemplos de Mito A origem do amor e da paixão (e a alma gêmea) Antigamente, as pessoas eram bem diferentes do que são hoje. Os seres humanos tinham forma esférica, além de quatro braços, quatro pernas e dois rostos. Podiam andar de pé, mas também podiam, quando quisessem, girar feito bolas, pulando por todo lado. Sendo muito fortes e cheios de arrogância e presunção, resolveram destronar os deuses do Olimpo e tomar seus lugares. Zeus, para castigar tal comportamento, tomou a decisão de dividi-los em dois e espalhá-los pelo mundo. Desde então, os seres humanos, reduzidos à metade do que eram, procuram constantemente encontrar a parte que lhes falta, e ficam absolutamente encantados e felizes quando isso acontece. A esse sentimento, de achar a “alma gêmea”, a “outra metade da laranja” ou a “tampa da panela”, damos o nome de paixão e de procura de nossa alma gêmea. FILOSOFIA GERAL Exemplos de Mito O mito da Caverna Um retrato ou um reflexo não é o próprio objeto, embora possamos acreditar que seja. FILOSOFIA GERAL No mito da Caverna, os seres humanos estão aprisionados uma caverna subterrânea desde a infância, geração após geração. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabaça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior penetre, de modo que eles podem, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. Essa luz vem de uma imensa a alta fogueira que fica fora da caverna. No exterior, há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte da frente de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas. Por causa da luz da fogueira e de sua posição, os prisioneiros enxergam na parede no fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. FILOSOFIA GERAL Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna. FILOSOFIA GERAL Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando-se com o caminho ascendente, seguiria por ele. Num primeiro momento ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda a sua vida, não vira senão sombra de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade FILOSOFIA GERAL Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade. (mostrar quadrinhos) FILOSOFIA GERAL Assim, percebe-se que o Mito é autoridade e convicção compartilhada. Mas em determinado momento da História, os homens deixaram de acreditar literalmente no que diziam os mitos (ainda que concordassem com a mensagem que transmitiam) e passaram a procurar a verdade que eles, de certa maneira, escondiam – a verdade que eles eram incapazes de contar – e por isso “inventaram” a Filosofia. A Filosofia é, de certo modo, um NÃO que se diz às ideias prontas e acabadas. FILOSOFIA GERAL A Filosofia, antes de tudo, é a atividade de investigação, de análise, que busca se pronunciar sobre a verdade. Será sempre uma tentativa de dizer o que as coisas são, uma tentativa de desvelamento, de arrancar o véu que cobre a realidade. FILOSOFIA GERAL Referências BITTAR, E. C. B.; ALMEIDA, G. A. Curso de Filosofia do Direito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13.ed. São Paulo: Ática, 2005. COIMBRA, J. A. Fronteiras da Ética. 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