Universidade Regional Integrada URI – Campus Santiago Avaliação no Ensino Fundamental de nove anos Professoras : Elaine Dias de Oliveira e Ana Maria Balbé Martins Para refletir... Reflexos da educação básica no Brasil A repetência alcança 36% dos alunos da primeira série do Ensino Fundamental. Mais de 19% já passaram dos sete anos e a distorção idade série já progride até atingir 40,6 % até a oitava série. Na 4ª série mais de 50% dos alunos testados pelo SAEB estão em estágio crítico de aprendizagem Segundo o INEP uma das causas para o fraco desempenho é não ter freqüentado a Educação Infantil. E no seu município? Na sua Escola? Qual o índice de reprovação na 1ª série? Avaliação no Ensino Fundamental de nove anos uma criança de 6 anos, ao chegar na escola, está em um momento de desenvolvimento e amadurecimento ideal para absorver novos conhecimentos de uma forma lúdica. "Para isso, é necessário que os gestores do ensino brasileiros sejam inteligentes. Deve-se dar às crianças o tempo necessário para elas constituírem de fato os conhecimentos necessários. Não se deve acelerar o que não deve ser acelerado", “Se buscamos uma escola que não seja uma preparação para a vida, mas que seja ela mesma uma rica experiência de vida, se buscamos uma escola que não seja reprodutora dos modelos sociais discriminatórios, mas promotora do desenvolvimento integral de todos os alunos, temos de repensar a avaliação”.(VASCONCELOS, 2000) O modelo classificatório de avaliação, onde os alunos são considerados aprovados ou não aprovados, oficializa a concepção de sociedade excludente adotada pela escola. O resultado da avaliação é considerado portanto, como uma sentença, um veredicto oficial da capacidade daquele aluno que fica registrado e é perpetuado para o resto de sua vida. O mais triste porém é que a publicação dos resultados não revela o que o aluno conseguiu aprender, é um resultado fictício, definindo um perfil, pela cristalização desse falso resultado. Rever a concepção de avaliação é rever sobretudo as concepções de conhecimento, de ensino, de educação e de escola. Impõe pensar em um novo projeto pedagógico apoiado em princípios e valores comprometidos com a criação do cidadão. Somente após essa consciente revolução é que a avaliação será vista como função diagnóstica e transformadora da realidade. Quanto assumimos uma AVALIAÇÃO CLASSIFICATÓRIA ou QUANDO A ESCOLA É DE VIDRO Eu ia a escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro. É, no vidro! Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não! O vidro dependia da classe em que a gente estudava. Se você estava no primeiro ano, ganhava um vidro de um tamanho. Se você fosse do segundo ano, seu vidro era um pouquinho maior. E assim, os vidros iam crescendo à medida que você ia passando de ano. Se não passasse de ano era um horror. Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado. Coubesse ou não coubesse. Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. E para falar a verdade, ninguém cabia direito. Uns eram gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável. A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava, e a gente nem podia respirar direito... A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de educação física. Mas aí a gente já estava desesperado de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu artigo 9º, Inciso VI, diz que a União se incumbirá de assegurar o processo nacional de avaliação do rendimento escolar do Ensino Fundamental, Médio e Superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de propriedades e a melhoria da qualidade do ensino. Já, no artigo 24, inciso V, alínea a, ressalta que a avaliação deve ser contínua e cumulativa em relação ao desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais. "Essa nova forma de avaliar põe em questão não apenas um projeto educacional, mas uma mudança social", . "A mudança não é apenas técnica, mas também política." Tudo porque a avaliação formativa serve a um projeto de sociedade pautado pela cooperação e pela inclusão, em lugar da competição e da exclusão. Uma sociedade em que todos tenham o direito de aprender. Com a inclusão de mais um ano, a idéia do MEC é aumentar o tempo de alfabetização, dando à criança mais tempo e respeitando o seu desenvolvimento. Uma das propostas para atingir este objetivo é romper com a prática tradicional de avaliação por notas ou conceitos. Outro ponto destacado pelo MEC é romper com o caráter meramente classificatório de verificação dos saberes. "Os professores devem trabalhar com conjuntos de conceitos, as chamadas zonas de desenvolvimento proximal. A criança aprende por 'vizinhança' de conhecimentos: a matemática alimenta o português, que alimenta as ciências, e assim por diante", A avaliação seria feita, segundo o MEC, a partir de um "processo de observação, de registro e de reflexão constante do processo de ensino-aprendizagem". A avaliação deve ser na linha de diagnóstico. "Se uma criança aprende rápido, ela deve ter mais atividades. Se, pelo contrário, a criança mostrar mais dificuldades, o professor vai ter de dar um tratamento mais individualizado". A avaliação da aprendizagem deve levar em conta os objetivos propostos no planejamento do professor Para realizá-la, utiliza-se de vários recursos: trabalhos individuais e em grupos, provas subjetivas ou objetivas , fichas de acompanhamento, portifólio ou outros procedimentos pedagógicos, Deve ser feita com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, sempre. A aprendizagem do aluno que apresentar necessidades educacionais especiais deverá ser adequada ao seu nível de desenvolvimento, observando suas habilidades e competências, contando com a participação dos profissionais envolvidos em seu processo educacional e assim aprimorar seu conhecimento. A avaliação na 1ª série será diagnóstica bem como nos anos seguintes. A 1ª série terá caráter reprovativo? . Recomenda-se que não, já que a criança de 6 anos, embora no ensino fundamental, continua a merecer o tratamento pedagógico diferenciado, devendo ser avaliada mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem objetivo de promoção. Quanto à avaliação da aprendizagem no 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos, faz-se necessário: assumir como princípio que a escola deve assegurar aprendizagem de qualidade a todos; assumir a avaliação como princípio processual, diagnóstico, participativo, formativo, com o objetivo de: redimensionar a ação pedagógica; elaborar instrumentos e procedimentos de observação,de registro e de reflexão constante do processo de ensino-aprendizagem romper com a prática tradicional de avaliação limitada a resultados finais traduzidos em notas; e romper, também, com o caráter meramente classificatório. No que se refere ao aluno, a avaliação deve ser um instrumento de tomada de consciência de suas conquistas e dificuldades, e ao professor deve favorecer reflexão contínua de sua prática pedagógica, contribuindo com a construção de um planejamento que atenda as reais necessidades dos alunos. Desse modo, pode-se dizer que levar em conta os diferentes aspectos do desenvolvimento dos alunos não significa atribuir notas e conceitos a tudo que se realize nas atividades escolares. Atitudes e valores devem ser acompanhados, pois eles fazem parte do processo educativo, não podendo ser objeto de avaliação quantitativa, incapaz de mensurar o progresso nos aspectos procedimentais e atitudinais dos educandos, não querendo com isso dizer que se devem aprovar os alunos de forma aleatória, mas se ter o cuidado de lhes garantir aprendizagem que possibilite seu sucesso no processo escolar. é importante que as redes de ensino definam quais são as capacidades mínimas a serem atingidas pelos alunos em diferentes momentos das etapas de escolarização. Para isso, é fundamental que as escolas possuam instrumentos compartilhados para diagnosticar e avaliar os alunos e o trabalho que realizam. Além disso, também é importante que, coletivamente, as escolas desenvolvam mecanismos para reagrupar, mesmo que, provisoriamente, os alunos que não alcançaram os conhecimentos e habilidades em cada etapa do processo, utilizando novos procedimentos metodológicos e diferentes materiais didáticos. Isso quer dizer que não há um método único que contemple todas as necessidades de aprendizagem do aluno. Por isso, é importante conhecer as facetas lingüísticas, psicológicas, sociolingüísticas, entre outras, do processo de alfabetização. a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos traz uma nova realidade para as práticas de ensino nas séries iniciais. Contudo, essas mudanças só ocorrerão de fato se os professores alfabetizadores se conscientizarem de que as crianças das escolas públicas, em sua maior parte expostas a processos de exclusão social, são capazes de aprender, não possuem deficiências cognitivas, não possuem deficiências lingüísticas, culturais e comportamentais, como muitas vezes pensamos. Portanto, é nossa responsabilidade, como educadores, assegurar a essas crianças que chegam à escola mais cedo oportunidades de acesso e domínio da leitura e da escrita. Conceituando avaliação Cipriano Luckesi Jussara Hoffmann Ana Maria Saul Philippe Perrenoud Celso Vasconcelos