32. – Os últimos tempos: a escatologia «Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.» O que estava sentado no trono afirmou: «Eu renovo todas as coisas.» E acrescentou: «Escreve, porque estas palavras são dignas de fé e verdadeiras.» E disse-me ainda: «É verdade! Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim. Ao que tiver sede, Eu lhe darei a beber gratuitamente, da nascente da água da vida.» Apoc 21, 3-6 Encontros de Formação Cristã Paróquia de Santa Maria de Carreço 32ª sessão – Os últimos tempos: a escatologia Sumário: 1. A escatologia 2. Anjos e demónios 3. A Morte de um cristão 3.1 - A Morte 3.2 - O Juízo particular 3.3 - O Purgatório 3.4 - Uma palavra sobre o Limbo 3.5 - O Inferno 3.6 - O Paraíso (Céu) 4. A consumação de tudo 4.1 - A Parusia 4.2 - A Ressurreição dos mortos (ou da carne) 4.3 - O Juízo universal 4.4 - A Vida Eterna: o Paraíso (Céu) 5. Bibliografia recomendada (EFC 32) 1. A escatologia 1 - A escatologia ESCATOLOGIA. «Do grego «éschaton», «último» + logos, «ciência». Éschaton é a realidade última, o novissimum, na vida do homem e do mundo. É a doutrina teológica que estuda as «coisas últimas» (isto é, que se ocupa do destino final do homem e do universo) entendida não numa dimensão cronológica, mas por serem definidas pelo evento Jesus Cristo e, por isso, definitiva na perspectiva da história da salvação» (PIERO PETROSILLO – O Cristianismo de A a Z). Cristo constitui o evento decisivo da história; de facto, a Sua ressurreição é o acontecimento escatológico por excelência, porque tornou possível e iniciou o cumprimento de todas as coisas. No fim dos tempos, dar-se-á o retorno glorioso de Cristo (Ap 21, 23) com a vitória definitiva sobre Satanás e sobre o mal. O Reino de Deus tem estrutura escatológica: é uma realidade dinâmica, situada entre o Presente e o Futuro, o já e o ainda não, tendo o seu início já começado e a sua consumação e plenitude ainda não realizadas. Isto do «ainda não», é o que tradicionalmente se chama de «Novíssimos» do Homem, os seus fins últimos: morte, juízo, inferno e paraíso (ou céu). Para onde ou para Quem caminhamos? O que acontece depois da morte? Mas aquele que tem esperança, além de «esperar» na Vida Eterna, tem também força para suportar a dor, a luta e construir o presente. Uma chamada de atenção: tudo o que se refere às realidades espirituais que trataremos em seguida é necessariamente um conhecimento e uma expressão insuficiente e imperfeita; enquanto estivermos nesta vida, estamos sujeitos à linguagem humana, que é incapaz de exprimir convenientemente a realidade para além deste vida. 2. Anjos e Demónios 2 – Anjos e Demónios • Cabe aqui um pequeno apontamento sobre os anjos e os demónios… ANJOS • Do grego ángelos (que traduz o hebraico mal’eak), «mensageiro», depois, em latim, angelus. É uma criatura espiritual, de natureza intermédia entre o homem e Deus, é o mensageiro de Deus. • Na Bíblia aparecem muitas aparições de anjos, geralmente em forma humana: • A Agar (cf. Gn 16, 7); • A Abraão (cf. Gn 18, 1-2); • A Lot (cf Gn 19, 1), • A Jacob (cf. Gn 28, 12). Luta de Jacob com o anjo • No AT não se fala explicitamente da criação dos anjos, mas está implícito no facto de que o único Deus é descrito como o criador de todos os seres (cf. Ex 20, 11). 2 – Anjos e Demónios ANJOS (cont.) • Os anjos cuidam dos homens: salvam Lot, Tobias e Sara, os três jovens na fornalha; • Por vezes, por ordem divina, castigam os homens (cf. Gn 19, 11). • No AT aparece uma figura especialíssima de anjo: trata-se de Jhwh, que se apresenta como mensageiro divino e simultaneamente fala e age como Deus (cf. Gn 16, 10-13; 31, 11-13, etc); muitos Padres e Doutores da Igreja consideram esta figura como uma teofania. • No NT os anjos são apresentados como espíritos (cf. Heb 1, 14), invisíveis (cf. Col 1, 16), que não têm relações carnais (cf. Mt 22, 30) e fala-se explicitamente da sua queda (cf. Jd 6; 2Pd 2, 4). O Apocalipse fala muito dos anjos, até pelo seu género literário. • O Pseudo-Dionísio divide os anjos em nove “coros”, ou categorias, agrupadas em três hierarquias: serafins, querubins e tronos; dominações, virtudes e potestades; principados, arcanjos e anjos. 2 – Anjos e Demónios ANJOS (cont.) RESUMO DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA 350. Os anjos são criaturas espirituais que glorificam a Deus sem cessar e servem os seus planos salvíficos em relação às outras criaturas: «Ad omnia bona nostra cooperantur angeli – Os anjos prestam a sua cooperação a tudo quanto diz respeito ao nosso bem». 351. Os anjos assistem a Cristo, seu Senhor. Servem-n'O de modo particular no cumprimento da sua missão salvífica em relação aos homens. 352. A Igreja venera os anjos, que a ajudam na sua peregrinação terrestre e protegem todo o género humano. 2 – Anjos e Demónios DEMÓNIOS • DEMÓNIOS. Do grego daimónion, depois, em latim, daemonium. Designa um espírito angélico caído e punido por causa da sua revolta contra Deus. Em sentido absoluto, refere-se habitualmente ao príncipe dos demónios, Satanás. • Parece que os anjos foram sujeitos a uma espécie de prova, por parte de Deus; os que se mantiveram fiéis a Deus, continuaram anjos e na glória de Deus; os que se revoltaram, e quiseram tornar-se independentes de Deus, tornaram-se os demónios. •O concílio de Latrão IV (1215) afirmou solenemente que o «diabo e os outros demónios foram criados por Deus como seres bons, segundo a natureza, mas que por si mesmos se tornaram maus». No NT há frequentes referências directas aos demónios: Jesus combate-os como responsáveis de tentações (por exemplo, em Mt 4, 5s), de obsessão (Mc 5, 1-13), doenças (cf. Mt 4, 24), poder maléfico (cf. Lc 11, 14s); e vence-os (Mt 8, 16s), pretendendo tomar o lugar de Deus (Mt 12, 28). O mesmo poder foi conferido aos Apóstolos (cf. Mc 6, 7-13). 2 – Anjos e Demónios DEMÓNIOS (cont.) QUANDO SE PENSA QUE O DIABO NÃO EXISTE: «É urgente a necessidade de desmascarar a presença demoníaca na história, devido aos gravíssimos damos causados pelo facto de não se acreditar no diabo. Se se pensa que o diabo não existe, o mal cai inteiramente no âmbito do humano (…) Se se pensa que o diabo não existe, já não há lugar para a misericórdia e fica apenas espaço para o ódio; porque então o único acusado que fica é o homem. (…) Quem carrega sobre o homem a inteira responsabilidade do mal do mundo, é levado a considerar o inimigo como uma criatura sem perspectivas de recuperação, que simplesmente deve ser eliminado. Quem, pelo contrário, compreende que o homem é, simultaneamente, perseguidor vítima, enganador e engano, responsável e seduzido, doseia a firme denúncia do pecado com as disponibilidade para a comiseração e o perdão». Jorge Gozzelino, Il mistero dell’uomo in Cristo. 2 – Anjos e Demónios DEMÓNIOS (cont.) O DIABO É UMA PESSOA? «Quando se pergunta é uma pessoa, dever-se-ia justamente responder que ele é a não-pessoa, pelo que constitui a sua peculiaridade o facto de se apresentar sem rosto, o facto de que a incognoscibilidade seja a sua própria e verdadeira força» (Ratzinger). Ele é a pessoa abortada, pois criado pessoa por Deus, permanece tal porque o amor de Deus não conhece arrependimentos. Mas ele rejeitou o apelo de Deus e deste modo impregnou para sempre o dado de origem da sua personalidade com o veneno destrutivo da não e personalidade. Satanás é verdadeiramente a «pessoa abortada». Um apontamento sobre a acção do demónio: • Acção ordinária: é a de tentar-nos; todo o campo das Jesus também foi tentado no deserto por Satanás tentações pertence à acção ordinária diabólica à qual todos somos sujeitos e o seremos até a morte. •A acção extraordinária, por sua vez, é uma acção rara. É aquela na qual o demónio causa distúrbios particulares (obsessões, infestações, possessões). Portanto, não se trata de simples tentação. Podem chegar à possessão diabólica. Nestes casos, pode chegar-se a proceder a exorcismos. O exorcismo é constituído de várias orações oficiais feitas em nome da Igreja, e Deus ouve essas orações, reservado apenas a exorcistas nomeados pela Igreja. Outra forma, aberta a todos, são as orações de libertação. 2 – Anjos e Demónios DEMÓNIOS (cont.) O príncipe dos demónios, é chamado de: • DEMÓNIO, conforme já visto. • SATANÁS: do hebraico satan, depois em grego satan e em latim satan, «inimigo», «acusador». É o tentador por excelência, identificado com o diabo inimigo do homem desde as origens (Gn 3, 1-6); também se chama o maligno (cf. Mt 5, 37), o inimigo (Mt 13, 39), o enganadormentiroso (Jo 8, 44), o sedutor (Ap 12, 9), sempre em luta com Cristo (Lc 10, 18) e com os crentes em Cristo (2Cor11, 14s). • DIABO: do grego diábolos, «aquele que se atravessa»; traduz o hebraico satan, «adversário», «satanás». O diabo é um poder pessoal invisível que dirige as forças do mal de forma contrária aos desígnios de deus e em prejuízo do Homem. O NT usa 39 vezes este termo. • LÚCIFER: significa, na sua origem, «estrela da manhã»; aplicaram-no durante muito tempo à queda do demónio mais importante, «Lúcifer»; é de tradição bíblica, mas não está na Bíblia. • Outros nomes: Belzebu (há quem diga que se trata de outro demónio diferente de Satanás); Mefistófeles; Populares: Mafarrico, chifrudo, Senhor dos Infernos, Gata de S. Miguel… «A queda de Lúcifer», ilustração de Gustave Doré no livro O Paraíso Perdido, de John Milton 2 – Anjos e Demónios DEMÓNIOS (cont.) RESUMO DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA 413. «Não foi Deus quem fez a morte, nem Ele se alegra por os vivos se perderem [...]. A morte entrou no mundo pela inveja do Diabo» (Sb 1, 13; 2, 24). 414. Satanás ou Diabo e os outros demónios são anjos decaídos por terem livremente recusado servir a Deus e ao seu desígnio. A sua opção contra Deus é definitiva. E eles tentam associar o homem à sua revolta contra Deus. 415. «Estabelecido por Deus num estado de santidade, o homem, seduzido pelo Maligno desde o princípio da história, abusou da sua liberdade, levantando-se contra Deus e pretendendo atingir o seu fim fora de Deus». 421. «Segundo a fé dos cristãos, este mundo foi criado e continua a ser conservado pelo amor do Criador; é verdade que caiu sob a escravidão do pecado, mas Cristo, pela Cruz e Ressurreição, venceu o poder do Maligno e libertou-o...». 3. A morte de um cristão 3 – A Morte de um cristão 3.1 – A morte A MORTE «Está determinado que os homens morram uma só vez, após o que vem o juízo» (Heb 9, 27). Para o cristão, a morte tem muitos significados: • A morte é natural: num certo sentido, a morte é um fenómeno inteiramente natural. «Há um tempo para nascer e um tempo para morrer» (Ecle 3, 2). Essa lembrança de sermos mortais também serve para nos recordar que apenas temos um tempo limitado para levar uma vida que seja boa e plena de sentido. • A morte é consequência do pecado: mas, à luz da fé, é também vista como um castigo, uma consequência do pecado. «Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim também a morte penetrou em todos os homens, pois todos pecaram (Rom 5, 12). A morte surge-nos como algo de temeroso, o «último inimigo» que será destruído pela Redenção universal de Cristo (cf. 1 Cor 15, 26). Morrer, é perder a plenitude do nosso ser, que amamos; é ser dissolvido (cf. 2 Cor 5, 1-4). • A morte é transformada por Cristo: é também considerada como uma participação no Mistério pascal, uma participação pessoal na morte de Cristo, a fim de poder participar também da Sua ressurreição. Mas o cristão tem a certeza de que a morte nem é total nem definitiva. O próprio Cristo Se angustiou perante a morte. Mas também disse: «Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma» (Mt 10, 28). A alma é o princípio vivo do homem, que continua a existir após a morte. Contudo, estar «separado deste corpo» é não ser uma pessoa completa (cf. S. Tomás de Aquino). Os que partiram em Cristo esperam a ressurreição da carne. 3 – A Morte de um cristão 3.1 – A morte A MORTE (cont.) No decurso da História da Salvação, a Revelação concernente ao significado da morte foi-se progressivamente completando. • No Antigo Testamento. Há a consciência da relação entre pecado e morte; e há a certeza que a vida e a morte estão nas mãos de Deus. Nos tempos mais antigos, não se sabia claramente se uma vida pessoal e consciente continuaria para além da morte; os mortos ocupavam o Sheol, lugar de escuridão, onde Deus reinava, mas com o qual parecia não Se preocupar muito (cf. Sl 6, 5). Parece que o homem não tinha conforto algum na morte, pelo que se considerava longa vida sinal da bênção de Deus. A literatura apocalíptica (por ex. Dan 12, 1-4) deu uma nova compreensão: Deus salvaria, pelo menos, alguns homens da morte, os Seus eleitos e apareceria uma existência totalmente nova: «Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, uns para a vida eterna, outros para a ignomínia, para a reprovação eterna» (Dan 12, 2). Os livros sapienciais (por exemplo, o da Sabedoria) deram uma imagem mais clara: «Mas as almas dos justos estão nas mãos de Deus, e nenhum tormento as tocará» (Sab 3, 1-4). • No Novo Testamento. Cristo vence a morte. A comunidade primitiva centrava-se mais na vinda triunfal de Cristo, que julgavam iminente; por isso, nos primeiros tempos não havia grande preocupação pela morte individual. Mais tarde, começa-se a perceber: «O Senhor não retardou a Sua promessa, como alguns pensam, mas usa de paciência para convosco. Não quer que ninguém pereça, mas que todos se arrependam» (2 Ped 3, 9). Sob o Espírito Santo, a Igreja começa a aplicar à morte de cada um, a expressão bíblica que Cristo viria inesperadamente, como um ladrão. Pouco a pouco, vai-se definindo solenemente a doutrina da Igreja acerca da condição das pessoas depois da morte e antes da ressurreição final, no fim dos tempos. 3 – A Morte de um cristão 3.1 – A morte ALMA VERSUS CORPO? • A filosofia grega, como Platão, Aristóteles, etc. falava da imortalidade da alma, num dualismo alma / corpo; tratava-se da crença da imortalidade para lá da morte de uma parte do homem (alma) e não propriamente da sobrevivência do próprio Homem, como totalidade. Esta forma de pensar alma X corpo, afectou inclusive as nossas estruturas do pensamento. • Contudo, para o pensamento judeo-cristão, o homem é sempre a unidade e totalidade corpo-alma, o homem todo. O israelita não espera na imortalidade de uma parte do homem (alma), mas na ressurreição por Deus do homem todo: a ressurreição da carne. • Fica em aberto um problema: para a fé cristã apenas estão no céu, ressuscitados (em corpo e alma), Jesus, pela Sua Ascensão e Maria, pela Sua Assunção. E os outros que morreram, tiveram o juízo particular e purificados, entraram no céu e os corpos não estão ainda ressuscitados? • A consumação de tudo se irá dar apenas na Parusia, com a «ressurreição da carne» e com o juízo universal, pois a história do Homem não chegou ainda ao fim. Contudo, para os que estão na glória, não há espaço, nem tempo e esse «espaço de tempo» não é sentido: pode-se dizer que para eles, morte, juízo, purgatório, glória e ressurreição da carne, tudo é realizado em simultâneo! • Sempre que neste EFC falarmos em alma ou em corpo, será de modo a facilitar a linguagem, pois teremos de ter presente isto que foi agora dito. 3 – A Morte de um cristão 3.2 – O Juízo Particular O JUÍZO PARTICULAR A morte do indivíduo marca o fim deste período de prova; o homem deixa de ser peregrino, e não mais pecará nem ganhará méritos. O juízo de Deus recai sobre ele. Deus fez o homem livre e responsável, «e entregou-o ao seu próprio juízo» (Ecl 15, 14). Após a morte, o homem comparece perante Deus para ser julgado: os que morrem em graça e não precisam de purificação ulterior, entram no céu imediatamente após a morte; os que morrem em estado de graça, mas necessitam de alguma purificação, entram no céu depois de completarem essa purificação; e os que morrem em pecado mortal, entram no castigo eterno imediatamente após a morte. Há assim três caminhos: O purgatório; O Inferno; O céu. O juízo de Deus não é um simples processo judicial, mas é uma actividade pela qual Ele realiza os Seus desígnios a respeito deste mundo. O juízo de Deus mostra claramente a cada um o que ele fez de si mesmo, e dá-lhe o lugar que ele mereceu. À luz do juízo divino, o indivíduo reconhece e afirma o que mereceu e aquilo em que se tornou. Os que tiverem sido justificados em Cristo e tiverem morrido no Senhor, sentem o juízo de Deus após a morte como um acabamento, uma consumação de todos os esforços humanos realizados durante a vida. 3 – A Morte de um cristão 3.3 – O Purgatório O PURGATÓRIO Alguns morrem em graça e na amizade de Deus, mas cheios de pecados veniais e imperfeições, ou antes de terem feito penitência suficiente pelos seus pecados. É no Purgatório que as almas irão ser limpas destes impedimentos. Contudo, pertence à comunhão dos santos: os vivos podem interceder pelos que estão na Igreja purgante com Missas, orações, esmolas e outras obras piedosas, que os fiéis costumam fazer uns pelos outros, segundo as instituições da Igreja. A palavra «purgatório» não é bíblica e a crença também não é ali explicitamente ensinada. Mas parece estar implícita, por exemplo, no Segundo Livro dos Macabeus. Por volta do ano 165 a.C. os judeus venceram uma batalha pela sua libertação. Quando vieram sepultar os mortos, depois da batalha, encontraram, sobre os seus corpos, feitiços ou amuletos cujo uso a lei proibia aos judeus. Judas Macabeu, comandante das tropas, ordenou aos soldados que orassem pelos mortos para que fossem libertos dos pecados. «Ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente. Era este um pensamento santo e piedoso. Por isso, pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres das suas faltas» (2 Mac 12, 45-46). Os protestantes não aceitam o purgatório, uma vez que também não possuem nas suas bíblias, os livros deuterocanónicos, entre eles o Segundo Livro dos Macabeus. 3 – A Morte de um cristão 3.3 – O Purgatório O PURGATÓRIO (cont.) Contudo, o ensinamento do purgatório está bem desenvolvido e explícito na Tradição da Igreja, nomeadamente nos Padres da Igreja e nas práticas da própria Igreja. Por exemplo, S. Clemente de Alexandria ensinou que os que se arrependem, no leito da morte e assim não têm tempo suficiente para realizar durante a vida actos de penitência, serão purificados a seguir pelo fogo purificador. Santo Agostinho, no seu comentário sobre os Salmos, pede a Deus que o purifique nesta vida, a fim de lhe não ser necessário passar, depois da morte, pelo fogo purificador. Além das referências à existência do Purgatório, os escritos dos Padres têm também muitas referências ao facto de os fiéis que partiram, poderem ser ajudados pelas orações dos vivos, especialmente pelo Sacrifício da Missa. Algumas inscrições antigas, mostram que a Missa era oferecida pelos defuntos, nos primeiros séculos da Igreja. Por isso, a Igreja nunca deixa de recordar os mortos e rezar por eles (cf. LG 50). Em que consistem as penas do Purgatório? Nós não conhecemos a natureza das penas do Purgatório. Santo Agostinho diz que o fogo do Purgatório será «mais severo do que tudo quanto uma pessoa possa sofrer nesta vida». A pena maior é a separação de Deus. No purgatório, a alma compreende, melhor do que nunca, a infinita bondade de Deus, e sofre por saber que está temporariamente impedida da visão beatífica, por obstáculos que ela mesmo construiu. E há um certo castigo positivo, para além da pena de privação, mas não há doutrina definida sobre a natureza exacta desse castigo. 3 – A Morte de um cristão 3.3 – O Purgatório O PURGATÓRIO (cont.) Embora sofra, ela está em paz, porque tem a certeza absoluta da salvação e sabe que Deus quer esta «purificação», pelo grande amor que lhe tem. Santa Catarina de Génova (mística do séc. XIX), escreveu que «o fogo do Purgatório é o amor de Deus a queimar a alma, até conseguir inflamá-la». Stª Catarina de Génova Uma revelação particular (e como tal deve ser considerada): Maria Simma é uma mística austríaca, que diz ter recebido a visita das almas do purgatório, por mais de 50 anos. Maria Agata Simma – n. 1915 O que é o Purgatório? «É uma invenção genial de Deus. Tomemos uma imagem. Um dia, uma porta abrese e lhe aparece um ser extraordinariamente belo, mas tão belo como nunca tinha visto sobre a terra. Você fica fascinado, deslumbrado com este SER de luz e beleza, tanto mais que este SER lhe revela que é louco de amor por si. Você não poderia imaginar ser assim tão amado. Percebe também que Ele tem um grande desejo de o atrair a Si, de o abraçar, e o fogo de amor que já inflama seu coração, incita a lançar-se nos Seus braços. Mas, neste exacto momento, percebe que não se lavou há meses, que cheira horrivelmente mal, que os cabelos estão sujos e colados, que tem grandes manchas nas suas vestes … Então compreende que não pode apresentar-se neste estado, que antes de tudo é necessário lavar-se, tomar banho e, a seguir, voltar depressa para tornar a vê-Lo. Mas o amor que nasceu em seu coração é tão intenso que este atraso, por tomar banho, é insuportável. A dor da ausência, mesmo só por alguns minutos, é como uma queimadura atroz no seu coração, pois é proporcional à intensidade da revelação do Amor. O Purgatório é isto! É uma queimadura de amor. É um atraso imposto pelas nossas impurezas, um atraso antes do abraço de Deus, uma queimadura de que faz sofrer terrivelmente, uma nostalgia de amor. É precisamente esta nostalgia que nos lava do que é ainda impuro em nós. O Purgatório é um lugar de desejo, do desejo louco de Deus, do Deus que já conhecemos, porque já O vimos, mas ao Qual não estamos ainda unidos». 3 – A Morte de um cristão 3.4 – Uma palavra sobre o Limbo LIMBO: Do latim limbus, que significa «aba», «orla», «fronteira». A tese da vontade salvífica sincera e universal de Deus e da absoluta necessidade do baptismo originou, a partir dos séculos XII-XIII, a tese do limbo, imaginado como um lugar ou um estádio intermédio em que se encontrariam eternamente os que não chegaram a receber a graça redentora e que, ao mesmo tempo, não cometeram nenhuma culpa pessoal (por exemplo, as crianças mortas sem baptismo). Aí usufruiriam de uma felicidade natural. Trata-se de uma mera hipótese teológica sobre a qual a Igreja nunca se pronunciou oficialmente, e não é dogma, que parece bastante precária, uma vez que não tem nenhum fundamento bíblico e porque deixa diversos problemas por resolver. Muitos teólogos contemporâneos, têm sugerido que a vontade de Deus providencia pela salvação eterna destas pessoas, proporcionando-lhes, de alguma forma, a recepção da graça por um Baptismo de desejo antes da morte. Contudo, nada se sabe a respeito. De qualquer forma, a Igreja insiste com os fiéis para que se baptize prontamente os filhos (cf. CDC nº 770). Recentemente, vieram a lume várias notícias que mostram uma grande ignorância sobre a posição da Igreja em relação ao limbo:, do género: «Papa acabou com o limbo». O limbo nunca foi doutrina oficial da Igreja, mas uma posição teológica; além disso, a noção do limbo não está ainda completamente fechada. Em um documento de 41 páginas, que tem como título «A esperança de salvação para as crianças que morrem sem o baptismo», preparado pela Comissão Teológica Internacional e aprovado por Bento XVI em 19 de Abril de 2007, confirma-se que as crianças sem uso de razão que morrem sem ser baptizadas têm as portas do Paraíso abertas. Contudo, o meio ordinário de salvação é o baptismo e os pais têm o dever grave de baptizar os filhos. 3 – A Morte de um cristão 3.5 – O Inferno O INFERNO A Escritura fala-nos neste castigo eterno. Há uma relação entre o Inferno e o mistério do mal, e, em última análise, entre o Inferno e a liberdade do homem. Recusar acreditar nele, é recusar tomar Deus a sério, e é também recusar tomar a sério o homem e a sua liberdade e as sua responsabilidade de fazer o bem. Se Deus destinasse alguém de antemão ao Céu, seria não respeitar a liberdade do Homem e logo não o amar. Antigo Testamento. Nas primeiras fases da história da salvação, não havia ainda uma verdadeira percepção do inferno; o Sheol era um lugar onde, tanto bons como maus, residiam depois da morte e onde tinham uma existência vaga e não satisfatória. Mais tarde, começa a compreender-se a teologia da retribuição divina. Com o tempo foi crescendo o discernimento do género de castigo adequado ao pecado. Estavam ligadas à noção de Inferno imagens de fogo físico, referidas à «Geena» e ao «Vale de Bem-Hinnom», onde, em sacrifícios humanos proibidos, tinham sido consumidas crianças pelo fogo (cf. 2Rs 23, 10). Mais tarde, os lixos da cidade eram queimados aí, e os fogos ardiam dia e noite. Isaías refere-se a este vale, como sendo o lugar onde jazem os corpos dos que se revoltam contra Deus (cf. Is 66, 24). «Geena» tornou-se o lugar do fogo, onde os maus são castigados depois da morte. O Vale de Bem-Hinnom na actualidade 3 – A Morte de um cristão 3.5 – O Inferno O INFERNO (cont.) Novo Testamento. Cristo falou muitas vezes do Inferno. Como «fogo inextinguível» (cf. Mc 9, 43; Mt 25, 31; Lc 16, 22). Ele falava por compaixão, a fim de prevenir os homens contra esta última tragédia, sendo a «segunda morte» (Ap 21, 8), com a sua permanente separação da vida eterna em Deus, para o qual o homem foi criado (cf. Mt 25, 31). Cristo utilizou as imagens da época, da «Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga» (Mc 9, 47-48). Cristo não fazia uma descrição literal, mas queria apelar à conversão e advertir os que, deliberadamente persistem no mal, que chegarão à ruína total. «E estes irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna» (cf. Mt 25, 46; Mc 9, 43-48; 2 Tes 1, 19; Ap 14, 9-11). Desde o princípio, faz parte do magistério da Igreja. Orígenes ensinou, no século III, que todos os pecadores, incluindo o próprio Satanás, obterão um dia a salvação. Isto foi condenado pela Igreja: por exemplo, no Sínodo em Constantinopla, 543; Concílio de Constantinopla II, 553; em 1215, no IV Concílio de Latrão, foi ensinada solenemente a doutrina da eternidade do Inferno. Em que consiste o castigo do Inferno? Há dois elementos fundamentais: a separação eterna de Deus, uma vez que só n’Ele o homem pode ter a vida que aspira; «Afastai-vos de Mim, malditos» (Mt 25, 41); Penas dos sentidos, causadas pelo «fogo eterno» (Mt 25, 41) de que fala a Escritura. Dor infinita do remorso, um ódio de si mesmo não expiatório, pois o «verme não morre» (Mc 9, 48; cf. Is 66, 24). Orígenes 3 – A Morte de um cristão 3.5 – O Inferno O INFERNO (cont.) Como pode um Deus misericordioso condenar a alguém ao Inferno? Deus é justo e misericordioso, ninguém vai para o Inferno predestinado por Deus, mas apenas porque praticou deliberada e conscientemente um pecado grave e permaneceu nele até ao fim. Os actos realizados sem verdadeira liberdade, ou sem conhecimento suficiente da sua malícia, não merecem a condenação eterna, que é dada aos que morrem em pecado mortal. Se alguém morre no estado de rejeição de Deus, fixa a sua vontade numa permanente hostilidade a Deus. A pessoa é que se condena a ela própria: orientou-se de tal forma que não deseja possuir a vida divina. O castigo, o afastamento de Deus, é a expressão da própria vontade do condenado. É a maldade humana e não a severidade divina, que tornam necessário o Inferno. Mas o mistério do Inferno continua a ser perturbador. Santa Maria Faustina (1905-1938) Numa revelação privada, Santa Maria Faustina descreve assim o Inferno: «Hoje, conduzida por um Anjo, fui levada às profundezas do Inferno um lugar de grande castigo, e como é grande a sua extensão. Tipos de tormentos que vi: Primeiro tormento que constitui o Inferno é a perda de Deus; o segundo, o contínuo remorso de consciência; o terceiro, o de que esse destino já não mudará nunca; o quarto tormento, é o fogo que atravessa a alma, mas não a destrói; é um tormento terrível, é um fogo puramente espiritual, aceso pela ira de Deus; o quinto é a contínua escuridão terrível cheiro sufocante e, embora haja escuridão, os demónios e as almas condenadas vêem-se mutuamente e vêem todo o mal dos outros e o seu; O sexto é a continua companhia do demónio; o sétimo tormento, o terrível desespero, ódio a Deus, maldições, blasfémias. São tormentos que todos os condenados sofrem juntos. mas não é ó fim dos tormentos. Existem tormentos especiais para as almas, os tormentos dos sentidos. Cada alma é atormentada com o que pecou, de maneira horrível e indescritível. Existem terríveis prisões subterrâneas, abismos de castigo, onde um tormento se distingue do outro. (…) Que o pecador saiba que será atormentado com o sentido com que pecou, por toda a eternidade. (…) Eu, Irmã Faustina, por ordem de Deus, estive nos abismos para falar às almas e testemunhar que o Inferno existe. (…) Percebi, no entanto, uma coisa: o maior número das almas que lá estão é justamente daqueles que não acreditavam que o Inferno existisse. Quando voltei a mim, não podia me refazer do terror de ver como as almas, sofrem terrivelmente ali e, por isso, rezo com mais fervor ainda pela conversão dos pecadores; incessantemente, peço a misericórdia de Deus para eles. "O meu Jesus, prefiro agonizar até o fim do mundo nos maiores suplícios a ter que vos ofender com o menor pecado que seja». 3 – A Morte de um cristão 3.6 – O Paraíso (o Céu) O PARAÍSO (O CÉU) • O cristão, que une a sua morte à de Jesus, vê a morte como uma ida junto d’Ele, como a entrada na vida eterna. Os que morrem em estado de graça entram na presença de Jesus e na visão beatífica da Trindade. Se morrerem em pecado venial, ou tiverem qualquer pena a cumprir pelos pecados perdoados, poderá haver um período de purificação (Purgatório). Mas, os que morrerem na fé e no amor, podem morrer com uma grande paz, pois vão entrar na Vida (cf. LG 48). Na morte de cada um, começa já a «plenitude relativa» da vida eterna: eles entram logo na companhia de Cristo, de Sua Mãe e dos Santos, e contemplam na glória o próprio Deus como Ele é (cf. LG 49). A Comunhão dos Santos: a morte do cristão tem um significado eclesial. A Igreja não é só a família dos que vivem na fé, aqui no mundo (Igreja peregrina), mas é uma comunhão de santos. Engloba também todos os que estão a ser purificados para entrar na visão beatífica (Igreja purgante) e todos os que gozam da contemplação da glória de Deus (Igreja triunfante) (cf. LG 49). Os bemaventurados, além de gozarem da visão beatífica de Deus, oram por todos os irmãos na Igreja peregrina e na Igreja purgante. Nós também podemos pedir ajuda aos irmãos da Igreja triunfante e pedir pelos irmãos da Igreja purgante. • A Igreja faz clara distinção entre os acontecimentos que ocorrem quando cristão morre e, os que terão lugar quando Cristo vier, no último dia, como Senhor e Juiz de todos. Os bem-aventurados esperam com um desejo alegre, a ressurreição e o juízo final, em que todas as coisas se tornarão perfeitas em Deus. 4. A consumação de tudo 4 – A consumação de tudo 4.1 – A Parusia A PARUSIA A fé católica sempre olhou com esperança confiante para a vinda final de Cristo em glória. Os primeiros cristãos exprimiam com «Maranatha» (expressão aramaica que significa «vem, Senhor nosso»), o desejo ardente de ver o triunfo final da obra salvadora de Cristo. O próprio Jesus prometeu que viria em glória, como Senhor e Juiz (cf. Mt 16, 27; 26, 64). Na Ascensão, ao cessar a Sua presença visível junto dos discípulos, a promessa foi renovada: «Esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu, virá da mesma maneira, como agora O vistes partir para o Céu» (Act 1, 11). A expectativa da Sua Vinda manifesta-se ao longo de todo o Novo Testamento; e no Credo exprime-se a fé: «De novo há-de vir em Sua glória, para julgar os vivos e os mortos». A esperada vinda de Cristo em glória, chama-se «Parusia». A palavra significa «presença» ou «chegada»; também se chamava parusia à entrada solene de um rei triunfante, numa cidade. A Segunda Vinda de Jesus (ou Última Vinda), Senhor e Salvador de todos, será a mais triunfante de todas. Na Sua Parusia Ele será reconhecido universalmente como Senhor de tudo. Nesse dia, Ele dará razão aos que acreditaram n’Ele e O serviram; a Sua glorificação será o começo da «vida eterna». 4 – A consumação de tudo 4.1 – A Parusia A PARUSIA (cont.) Não sabemos quando Jesus virá em glória. Algumas passagens bíblicas que nos dizem que a mesma está iminente, parecem referir-se mais concretamente à queda de Jerusalém no ano 70. Há uma incerteza incompleta acerca do momento da Segunda Vinda de Cristo: «O Filho do Homem virá na hora em que menos pensardes» (Mt 24, 44; cf. Mc 13, 30-32). O momento da parusia só Deus o conhece, mas ele chegará sem ser esperado, «como o ladrão» (2 Ped 3, 10). As imagens apocalípticas que vemos na Escritura exprimem a fé cristã de que a história, tal como é agora, com a mistura de fé e descrença, de bem e de mal, acabará um dia; que a Deus será reconhecida a justiça e o mal definitivamente vencido, e que, por este acto salvador de Deus, Cristo será manifestamente revelado a todos como o Redentor e Senhor de tudo. A fé católica não interpreta literalmente essas expressões simbólicas para descrever o fim da história. A Parusia completará o que está começado, pois já somos filhos de Deus (cf. 1 Jo 3, 2). O acontecimento central da história não é o último dia, mas a ressurreição de Jesus. Quando Ele ressuscitou dos mortos, começou o «fim dos tempos» (1 Cor 10, 11). Na Parusia toda a glória da ressurreição de Cristo brilhará. O Seu poder estender-se-á aos Seus discípulos, fazendo-os ressurgir dos mortos. O seu esplendor renovará o universo inteiro, «renovando todas as coisas» (Ap 21, 5). 4 – A consumação de tudo 4.2 – A Ressurreição dos mortos (ou da carne) A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS (OU DA CARNE). Associada à Parusia de Cristo, está a ressurreição dos corpos: «Quando for dado o sinal, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do Céu, e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro» (1 Tes 4, 16). Todos os homens, tanto os que se salvam, assim como os que rejeitam a salvação, ressurgirão com os seus próprios corpos (cf. Jo 5, 29). A Igreja crê firmemente e ensina constantemente que «no dia do juízo todos aparecerão diante do tribunal de Cristo com o seu próprio corpo, para prestar contas dos seus actos» (cf. II Concílio de Lião, 1274). A fé na nossa ressurreição é inseparável da ressurreição de Jesus; Ele é o Novo Adão, ressuscitou, não por causa de Si mesmo, mas como nossa Cabeça, como modelo da nossa ressurreição e como a força vivificante da nossa vida nova. «Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a nossa fé» (1 Cor 15, 12-14). Toda a vida cristã, agora mesmo no mundo, é uma participação na ressurreição; mas a nossa ressurreição com Ele será consumada, na ressurreição no último dia. 4 – A consumação de tudo 4.2 – A Ressurreição dos mortos (ou da carne) A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS (OU DA CARNE) (cont.) Então será cumprida a promessa de Cristo: «Eu sou a Ressurreição e a Vida; quem crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá» (Jo 11, 25). Será uma ressurreição universal: todos os mortos, justos e condenados, ressuscitarão com os mesmo corpos que tinham antes da morte. O homem não é só espírito: é a pessoa toda, inteira, carne animada pelo espírito, que realiza as tarefas a que fomos chamados por Deus; é a pessoa toda inteira que é chamada a viver eternamente com Deus. «Mas dirá alguém: como ressuscitam os mortos? Com que espécie de corpo voltam eles? Insensato!» (1 Cor 15, 35). De uma coisa temos a certeza: «É necessário que este corpo corruptível se revista de incorruptibilidade, e que este corpo mortal se revista de imortalidade» (1 Cor 15, 53). Então alegrar-nos-emos pelo cumprimento das promessas, e o derradeiro inimigo, a morte, será definitivamente vencido, «tragado pela vitória» (1 Cor 15, 54). Os dons acidentais que o corpo dos Bem-aventurados recebe quando da Ressurreição. OS DOTES DO CORPO GLORIOSO: os dois primeiros aperfeiçoam os sentidos (A e B). A) o dote da CLARIDADE para aperfeiçoar a recepção das espécies sensitivas. B) o dote da IMPASSIBILIDADE que torna o corpo invulnerável ao que lhe é nocivo ou corruptível. Outros (C e D) são necessários para o movimento: C) Dote da SUBTILEZA que liberta o corpo glorioso da densidade de sua matéria quantitativa e do impedimento que isso lhe traz de penetrar-se com outros semelhantes e ocupar o mesmo lugar. D) Dote da AGILIDADE comunica ao corpo glorioso o poder para mover-se de um lugar para outro sem impedimento da gravidade terrestre. 4 – A consumação de tudo 4.2 – A Ressurreição dos mortos (ou da carne) A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS (OU DA CARNE) (cont.) Sendo a ressurreição de Jesus, modelo da nossa ressurreição, podemos concluir dois elementos: O corpo ressuscitado de Jesus é o mesmo corpo no qual Ele sofreu e morreu na cruz: «Vede as Minhas mãos e os Meus pés; sou Eu mesmo» (Lc 24, 39); O corpo ressuscitado transformou-se. Todos os homens que ressuscitarem não para a mesma vida, mas para uma nova vida em Cristo, serão também transformados da mesma maneira: cada um ressurgirá sendo a mesma pessoa que era, na mesma carne vivificada pelo espírito; mas a sua vida será abundantemente engrandecida e aprofundada. Todos quantos somos a morada do Espírito Santo, somos «já transformados de glória em glória, nessa mesma imagem» (2 Cor 3, 18); estamos desde já preparados para a nossa ressurreição corporal. Os justos «ressuscitarão para a vida» (Jo 5, 29). A vida, para a qual eles entram, é uma vida pessoal abundante, em união com Cristo ressuscitado e com todos os que foram salvos. Jesus está no céu (cf. 1 Tes 1, 10) e o céu é a nossa pátria: «Nós, porém, somos cidadãos do céu» (Fil 3, 20). A nossa presença junto do Senhor ressuscitado será permanente (cf. 1 Tes 4, 17). Haverá uma reunião de todos os que acreditam e amam a a Cristo (cf. 1 Tes 4, 17). A ressurreição do corpo, que implica a transformação do homem todo, será o começo e, num sentido verdadeiro, a fonte da felicidade definitiva da comunidade dos que crêem em Cristo. 4 – A consumação de tudo 4.3 – O Juízo Universal O JUÍZO UNIVERSAL (OU FINAL). «Quando o Filho do Homem vier na Sua glória (…) reunir-se-ão todas as nações, e Ele apartará as pessoas uma das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos (…) O Rei dirá, então, aos da Sua direita: Vinde, benditos de Meu Pai, recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo» (Mt 25, 31-34). Este Juízo Universal será muito mais do que sancionar uma sentença judicial sobre os bons e os maus. Neste juízo, Deus estabelecerá a comunidade celeste, a última fase do Seu Reino, completando todas as coisas. Os homens serão julgados pelos seus actos de amor, pelo amor que manifestou por Cristo que está no meio de nós. É Deus quem julga; mas é Cristo, Verbo Encarnado, que pelo Seu papel, como homem, é apresentado como o juiz supremo dos homens: «Ele é que foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos» (Act 10, 42). Por esse acto, Jesus consumará a Sua Redenção, porque através desse acto Ele realizará a vontade de Seu Pai de que todos sejam um, para que todos se possam reunir no Reino final. A justa sentença de Cristo reconhecerá e confirmará a própria rejeição de Deus, por parte dos que rejeitaram Deus. Os condenados terão uma consciência amarga de que foram eles mesmos que rejeitaram livremente a misericórdia salvadora do seu Senhor. A soberania de Cristo brilharão na hora do juízo. Nessa hora, todos os que morreram em Cristo compreenderão plenamente o que agora não podem compreender: «Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem, o que Deus preparou para aqueles que O amam» (1 Cor 2, 9). 4 – A consumação de tudo 4.4 – A Vida Eterna: o Paraíso (o Céu) A VIDA ETERNA. Entrar no céu não é apenas ir para um lugar; mais do que um lugar, o céu é uma maneira de estar, uma participação na vida e na alegria divinas. A expectativa escriturística de «novos céus e de uma nova terra» (2 Ped 3, 13) parece sugerir que, na era futura, todo o universo renovado será o céu para os que amaram a Deus e moram na Sua luz. Mas a Igreja “não faz qualquer esforço para localizar o céu”. Entrar no céu é atingir a plenitude da vida. Aqui, neste mundo, partilhamos da vida divina pela fé, pela esperança e pela caridade. Quando a fé deixar de existir, porque veremos a Deus como Ele é, quando deixarmos de ter esperança, porque as promessas divinas serão completamente cumpridas e quando amarmos com uma alegria que ninguém nos pode arrebatar (cf. Jo 16, 22), então viveremos com a plenitude da vida eterna para que fomos criados. Será uma vida cheia de amor entre as pessoas. Continuaremos a ser nós mesmos e a partilhar pessoalmente do amor do Deus pessoal. Por isso, a Escritura fala-nos da imagem do banquete (cf. Mt 22, 1-4) onde Cristo está presente como o Esposo. As pessoas e o amor pessoal perduram eternamente (cf. 1 Cor 13, 8). Ainda que nos tornemos semelhantes a Deus no esplendor dos Seus dons, vendo-O e amando-O, Deus permanece Deus eternamente, e nós seremos sempre criaturas Suas. «O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os Seus servos servi-Lo-ão; verão a Sua face, e o Seu nome estará nas suas frontes. Não haverá mais noite, e não precisarão de lâmpadas nem da luz do Sol, porque o Senhor Deus os iluminará, e eles reinarão pelos séculos dos séculos» (Ap 22, 3-5). 4 – A consumação de tudo 4.4 – A Vida Eterna: o Paraíso (o Céu) A VIDA ETERNA (cont.). A Vida Eterna consiste em possuir Deus eternamente, em vê-l’O «face a face» (1 Cor 13, 12), é a nossa bem-aventurança. Ao vermos a Trindade o modelo de todo o amor, compreenderemos porque fomos chamados por Deus ao amor. Compreenderemos o que é ser pessoa, que é ser chamado à comunidade e ao dom de si mesmo. Experimentaremos a alegria da Trindade, dando-nos completamente ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo, e uns aos outros, quando Deus tiver fortificado e transformado o nosso amor. Então deixaremos de ser peregrinos e atingiremos a nossa casa. Recordaremos e compreenderemos todas as coisas desta vida, sem ressentimento, infinitamente gratos a Deus que nos permitiu servi-l’O livremente e coroou os Seus primeiros dons com a segunda vida que excede todas as nossas aspirações. De todas as coisas preciosas que existiram, nada se perderá; a carne daqueles que amámos será restaurada; os novos céus e a nova terra guardarão tudo o que foi santo e precioso no tempo. Conhecer e amar a Trindade e todos os nossos irmãos e irmãs em Cristo, será a felicidade perfeita. Contudo, a alegria dos bem-aventurados será diferente, consoante a medida do amor de cada um; mas todos serão felizes na medida do que são capazes. Aquele que ouve, diga: «Vem!». Aquele que tem sede, venha. Aquele que o deseja, receba gratuitamente a água da vida» (Ap 22, 17). 5. Bibliografia recomendada (E.F.C. 32)