Desenvolvimento endógeno, mobilização social, participação comunitária e empreendedorismo no processo de ordenação do turismo (BENI, Mário Carlos. Política e Planejamento de Turismo no Brasil. SP: Aleph, 2006 - Cap. 3 - ) Surgimento do que Mário Beni define como “desenvolvimento endógeno” (DE) é da década de 1980 e se relaciona a uma noção de desenvolvimento que leve em consideração os efeitos da ação pública no progresso de localidades e regiões atrasadas. Uma nova proposição de desenvolvimento como reação ao tipo de desenvolvimento proposto nos anos 1960-70. • O DE visa atender as necessidades e demandas da população local por meio da participação efetiva da comunidade envolvida. Visa a busca de bem-estar econômico, social e cultural • O território passa a ser um agente de transformação, não só um suporte. Parte-se do princípio de que há um conjunto de recursos econômicos, humanos, institucionais e culturais que formam um potencial de desenvolvimento • Para Mário Beni, dada a flexibilidade das médias e pequenas empresas, são as verdadeiras protagonistas do DE. • dimensões do DE: • Econômica ( relacionada aos níveis de produtividade e competitividade) • Sociocultural (incorporação dos atores sociais ao processo de desenvolvimento) • Política (iniciativas locais visando o desenvolvimento sustentável) • Beni coloca como possível atingirmos um ponto de equilíbrio com a justaposição entre turismo sustentável e de massa e todos os tipos de turismo deveriam esforçar-se na busca da autosustentação. No entanto, teríamos de vencer a ordenação do território condicionada à racionalidade econômica em lugar da ambiental ou sociocultural. RESPONSABILIDADE SOCIAL • responsabilidade = compromisso / comprometimento comum • Responsabilidade Social Corporativa (RSC) - século XX : ‘comprometimento contínuo das empresas de agir eticamente e contribuir para o desenvolvimento econômico enquanto melhoram a qualidade de vida de seus colaboradores e familiares, assim como da comunidade local e da sociedade como um todo’ (conselho mundial para o des. sust.) • RSC = defendido do ponto de vista ético e instrumental. Ou seja, pesam as normas sociais, bem como o uso do comportamento socialmente responsável para melhorar o desempenho econômico. Envolve diferentes stakeholders, mas até o momento sua incorporação está mais no nível do discurso e menos em ações concretas SUSTENTABLIADADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA - RSC • Cidadania como conceito que abrange direitos civis, políticos e sociais. No entanto, ainda existe a idéia de exclusão e inclusão social, justificando programas sociais empresariais. • RSC: ‘forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os quais ela se relaciona, e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais’. (instituto Ethos) • Beni transfere as variáveis da sustentabilidade e da RSC para o turismo e, relacionando os “estágios de desilusão” ao “ciclo de vida do produto”, demonstra que os resultados alertam para: • a ligação entre a atitude em relação ao turismo e o estado da economia local • a distribuição dos benefícios econômicos aos reais membros da comunidade • a proporção de turistas com relação aos residentes / o tempo de residência na comunidade • as diferenças étnicas, culturais e socioeconômicas entre turistas e comunidade local • nível de contato / habilidade em influenciar o planejamento do turismo • comunidade menores são mais propensas a uma reação mais forte ao turismo MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA • Mobilização Social: “processo de convocação de vontades para uma mudança de realidade por meio de propósitos comuns estabelecidos em consenso a fim de compreender a demanda de comunicação e o engajamento da comunidade na estruturação de um projeto social mobilizador em que as pessoas se sintam participantes e protagonistas do projeto proposto, identificando-se verdadeiramente com a sua causa” • A participação é condição essencial para a mobilização, por isso é importante manter o vínculo entre projetos sociais e seus públicos para que ocorra um plano de mobilização • A vinculação ideal dos públicos deve ser a de co-responsabilidade • Estratégias de mobilização buscam transcender ações pontuais, buscando perenidade e coesão no projeto, muitas vezes impossibilitado pela descontinuidade administrativa • mobilizar: convocar as vontades das pessoas que compõem o meio social para que o processo de execução de um projeto de desenvolvimento local conte com o engajamento necessário do maior número possível de membros da comunidade, a fim de compartilhá-lo e distribuí-lo de modo que as pessoas sintam-se co-responsáveis por ele e passem a agir em conjunto com os demais atores na tentativa de realizá-lo. • a participação não isenta o Estado de suas obrigações • os efeitos positivos do DE dependem da incorporação do território socialmente organizado e da capacidade de ação das populações locais, que podem pressionar instituições públicas e privadas • comunidade: agrupamento de pessoas que, vivendo numa região, têm por característica essencial uma forte coesão, baseada no consenso espontâneo de seus integrantes e traduzida por atitudes de cooperação em face de interesses e aspirações comuns. • maior problema para o desenvolvimento do turismo sustentável: incapacidade de mobilização da comunidade Outras concepções de comunidade: Uma “comunidade local” se caracteriza por: • Grupo mutável de pessoas que compartilha um território conhecido – um vilarejo, um prédio de apartamentos, uma rua etc. • Padrão de uso do solo, determinados marcos, símbolos, nomes e percepções • Conjunto de opiniões compartilhadas (em geral, parcialmente) sobre: •Como a área e sua população devem ser administradas •Como poderá vir a ser no futuro, para além do tempo de vida da população atual •Convicção de que a maioria dos esforços físicos e financeiros ali gerados, deveriam ser aí também reinvestidos em infra-estrutura e serviços públicos •Relutância na aceitação de pessoas estranhas e nas mudanças significativas no estilo de vida local • Em algumas áreas, as comunidades podem ter características negativas aos olhos alheios. Podem ter valores não escritos, mais do que em valores claramente articulados, além de transparecer relações desiguais e aparentemente retrógradas. Ainda que tenham acesso a meios de comunicação, turistas etc, resistem seus valores tradicionais. BRANDON, Katrina Etapas básicas para incentivar a participação local em projetos de turismo de natureza in: KREG Lindberg, DONALD E. Hawkins (editores). Ecoturismo: um guia para planejamento e gestão. 3ª ed. SP: Senac, 2001. GESTÃO PARTICIPATIVA • modelo de gestão participativa contribui para a democratização de informações e contraria as formas assistencialistas e paternalistas de agir quando utiliza o planejamento participativo • a questão é pensar como a comunidade pode se mobilizar e encontrar apoio técnico para iniciar suas atividades • dentre as metodologias propostas para a construção de um modelo de gestão participativa, Beni sugere: • que se faça uma coleta de dados de caráter quantitativo e qualitativo e se forme um banco de dados técnicos, científicos e humanos (CTM)* • que se considere a complexidade dos problemas e a diversidade de atores envolvidos do processo decisório. Múltiplos pontos de vista redundam em decisões com múltiplos critérios (MCDA)* • que se espacialize tanto os recursos do território, quanto os objetivos da comunidade (mapas temáticos)* • que se forme o que chama de “espaço comunidade” = grupos que contemplem todos os atores locais e facilitadores e que sejam espaços de formação e troca de conhecimento * Existem softwares capazes de organizar e trabalhar tais dados, facilitando a tomada de decisões de forma participativa. Para entender melhor as especificidades das metodologias, consultar o trabalho de José Fernando Arns no link http://anppas.org.br/encontro_anual/encontro1/gt/sustentabilidade_cidades/Jos%E9%20Fernando%20Arns.pdf PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA E EMPODERAMENTO • O conceito de empoderamento vai além da participação pois reconhece maior poder na tomada de decisões e controle por parte daqueles que antes não tinham. Ele pressupõe uma participação crítica e ativa que não pode, de forma alguma, ser confundida com a simples presença ao longo do processo de decisão. • um empoderamento eficaz requer contemplar os níveis: • cognitivo (tomada de consciência da realidade e as formas de dominação) • psicológico (desenvolvimento de auto-estima e auto-confiança) • econômico (execução de atividades que garantam independência econômica) • político (habilidade necessária para a mobilização para a mudança) • O empoderamento de pessoas ou grupos não implica necessariamente na perda de poder de outros, mas pode trazer mudanças que podem levar a isso. A idéia é privilegiar a capacidade de expressão e ação do ser humano. • Análises têm demonstrado que o empoderamento de grupos tem sido bastante eficaz na mudança da correlação de forças, entretanto, também é importante buscar níveis de mudanças individuais para que se crie maior autonomia e autoridade sobre decisões que influenciam as vidas individualmente. • recolocar as pessoas e os grupos que vivem na linha da pobreza no centro do processo de desenvolvimento significa colocar as instituições econômicas e políticas a serviço desses grupos. • tanto os agentes externos (ONGs, OSCIPs, instituições de governo) quanto internos (movimentos sociais com agentes líderes de dentro da comunidade) podem empoderar. • Daí temos o empoderamento por: • ongs (inovadoras, mais flexíveis, permanecem pequenas e, em geral, próximas das comunidades) • por movimentos sociais (relação com agentes externos é uma de suas metas para alterar a situação de exclusão. Tendem a se ampliar) • por ongs e governo (ações combinadas positivas em termos de escala, impacto e reprodução) • por agência multilaterais (abre para o desenho de políticas mais eficazes no combate à pobreza) • no campo das políticas a democracia favorece a mudança na medida em que aprova leis e iniciativas dos segmentos excluídos / pobres. O poder público deve assegurar canais de participação (conselhos, orçamento participativos) e programas de combate à exclusão e a descentralização pode ser importante para a busca da participação • o acesso à informação às pessoas e baixa renda e a transparência são condições para o empoderamento uma vez que, informados, os grupos podem visualizar melhor suas condições • apoio à construção de representações políticas de grupos menos favorecidos é fundamental para a combinação empoderamento – participação sustentabilidade EMPREENDEDORISMO •“aquele que assume riscos e inicia algo novo” e aplica-se, hoje, tanto à esfera empresarial, quanto as ciências humanas e sociais •No Brasil seu surgimento data dos anos 1990 em função dos programas e ações para a formação de empreendedores, no entanto, os baixos níveis de desenvolvimento social, somados à carga de tributos e burocracia, o panorama ainda não é dos melhores •O processo empreendedor envolve todas as etapas de criação de uma nova empresa, desde criar algo que seja valorizado pelo mercado •O ato de empreender é extremamente importante para a participação efetiva de pequenos e médios empresários de localidades turísticas, uma forma da localidade tomar suas próprias iniciativas, a partir de seus conhecimentos. ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS – APLS •Surgiram à margem do Estado e consolidaram-se a partir de 1960 e 1980 depois da crise do modelo fordista. Por sua iniciativa, com recursos próprios e sem orientação, pessoas começaram a organizar pequenas unidades produtivas, em geral familiar, a partir de uma pequena concentração setorial, aproveitando alguma oportunidade existente no entorno. •Envolve a ligação dos vários elos de uma cadeia, desde os insumos de produção até a comercialização final em mercados globais. •Constitui também um recorte para análise política, pois envolve processos produtivos, inovação e cooperação, além de implicar relações com diferentes níveis administrativos.