• 7. I Guerra Mundial (1914-18), Revolução Russa (1917) e crise sistêmica Gilberto Maringoni – UFABC - 2014 Programação 25 de abril: Devolução das provas – I Guerra Mundial e Revolução Russa POLANYI, Karl, A grande transformação, Editora Campus, Rio de Janeiro, 2000, pags. 36 a 47 (Capítulo 2 – A década de 1920 conservadora; A década de 1930 revolucionária) HOBSBAWM, Eric J., A era dos extremos, Companhia das Letras, São Paulo, 1996, pags. 29 a 89 (Capítulos 1 e 2 – ‘A era da guerra total’ e ‘A revolução mundial’) 28 de abril – Crise sistêmica PARKER, Selwyn, O crash de 1929, Editora Globo, São Paulo, 2009, pags. 400 a 418 (Pósfácio) Hobsbawm • Os quinze anos entre 1899 e 1914 foram prósperos e a vida era incrivelmente atraente para os que tinham dinheiro. As sociedades da Europa Ocidental pareciam, de maneira geral, administráveis. • Entretanto, no mundo havia áreas consideráveis onde claramente este não era o caso. Nessas regiões, aos anos de 1880 a 1914 foram um período de revoluções continuamente possíveis e reais. • A Era dos Impérios • Eric Hobsbawm • Para a maioria dos Estados Ocidentais, e na maior parte do tempo entre 1871 e 1914, uma guerra européia era uma lembrança histórica ou um exercício teórico para um futuro indefinido. A principal função dos exércitos em suas sociedades durante esse período era civil. • O século burguês desestabilizou sua periferia de dois modos principais: • 1. Solapando as antigas estruturas de suas economias e sociedades; • 2. Tornando inviáveis seus regimes e instituições políticas estabelecidos. • Dois grandes e instáveis impérios multinacionais europeus estavam a beira do colapso, a Rússia e o Habsburgo. Eles não eram muito comparáveis entre si, salvo na medida em que ambos representavam um tipo de estrutura. Eram países governados como propriedades familiares, que cada vez mais pareciam sobreviventes pré-históricos no século XIX. • Em contraste com os impérios antigos, ficavam na Europa, na fronteira entre zonas de economia desenvolvida e atrasada e, portanto, desde o início parcialmente integrados ao mundo economicamente “avançado”. • Causas da Guerra • As causas da guerra são complexas e intrincadas. Elas repousam na natureza de uma situação internacional em deterioração progressiva, que escapava cada vez mais ao controle dos governos. • Não havia interesse do mundo dos negócios na Guerra. No entanto, o desenvolvimento do capitalismo exacerbou rivalidades entre as potências e a expansão imperialista. A economia internacional não girava em torno de um único centro (GB). Seu declínio relativo era visível. • Mas havia grandes tensões não resolvidas: • A disputa pelo comando da economia mundial, num quadro de clara decadência da Grã-Bretanha. Um subproduto fora o rearmamento dos países mais ricos; • A industrialização chegara às forças armadas, através de novas e mortíferas armas com inédito poder de fogo. • O mundo da virada do século estava pautado por: • Instabilidades internacionais nos países secundários (Rússia, 1905) • Revolução turca (1908), que desestabilizou acordos no oriente médio. • A Áustria anexou a Bósnia Herzegovina, precipitando uma crise com a Russia. • A crise com o Marrocos (1911), quando a Alemanha envia uma canhoneira disposta a recuperar o porto de Agadir. • Itália ocupa Líbia em 1911 • As Guerras Balcânicas • 1912 - Tensões nacionalistas contra Império Otomano (Bulgária, Sérvia e Grécia), alimentadas pela Rússia e Áustria-Hungria – obtém territórios turcos na Europa. • 1913 – Búlgara contra Sérvia e Grécia pela disputa da Macedônia – produto da guerra anterior • Desde 1815 não houvera nenhuma guerra envolvendo as potências européias. Desde 1871, nenhuma nação européia ordenara a seus homens em armas que atirassem nos de qualquer outra nação similar. • Tecnologia: • Tanques – Em pequena escala • Aviões –de observação a bombardeios • Submarino – Entrada efetiva cerco GB • Gás - Alemães usaram gás químico em Verdun. Repulsa internacional. Convenção de Genebra. Não foi usado na II Guerra. • Antiga - táticas de infantaria – Séc XIX – Diferença: transportados de trem ou veículos motoizados. • Com a sofisticação bélica, de uma forma ou de outra, os Estados eram obrigados a garantir a existência de poderosas indústrias nacionais de armamentos, a arcar com boa parte do custo de seu desenvolvimento técnico e a fazer com que permanecessem rentáveis. Em outras palavras, tinham que proteger essas indústrias contra os vendavais que ameaçavam os navios da empresa capitalista, que singravam os mares imprevisíveis do mercado livre e da livre concorrência. • “Nos anos 1880, os produtores privados de armamento assinaram mais de um terço de seus contratos de fornecimento com as forças armadas; nos anos de 1890, 46%; nos anos 1900, 60%: o governo, incidentalmente, estava disposto a garantir-lhes dois terços. • Uma intrincada rede de alianças construídas em décadas anteriores provocava reações em cadeia diante de quaisquer tensões localizadas. Assim, a Sérvia, apoiada pela Rússia, era aliada da França e da GrãBretanha contra a ÁustriaHungria, que por sua vez contava com apoio alemão. • " Não admire que as empresas de armamento estivessem entre os gigantes da indústria, ou passassem a estar: a guerra e a concentração capitalista caminhavam juntas. • Krupp, na Alemanha, o rei dos canhões, empregava 16 mil pessoas em 1873, 24 mil em torno de 1890, 45 mil em torno de 1900 e quase 70 mil em 1912, quando 50 mil das famosas armas Krupp saíram da linha de produção.. • As principais nações da Europa tinham o interesse de desmembrar o decadente Império Turco-Otomano, cujos recursos petrolíferos e seu domínio sobre áreas estratégicas do Oriente Médio atraíam a cobiça das grandes potências. • Com exceção dos germânicos e húngaros, todas as outras minorias governadas por Viena eram eslavas e, portanto, muito suscetíveis à propaganda pan-eslavista. • A Rússia fomentava um nacionalismo eslavófilo buscando "implodir" o Império Austro- Húngaro e assim tornar possível a presença dos súditos de Moscou na Europa Oriental. • Havia ainda o "revanchismo" francês. Paris desejava recuperar as províncias carboníferas da Alsácia e Lorena. • A guerra ocorreu entre a Tríplice Entente (aliança formada no início do século entre Grã-Bretanha, França e Rússia) e a Tríplice Aliança (pacto firmado em 1882 pela Alemanha, Império AustroHúngaro e Itália). • O traço diplomático mais permanente do período 18711914 foi a Tríplice Aliança, na verdade era uma aliança austro-alemã, já que o terceiro participante, a Itália, logo se afastaria para finalmente se unir ao campo antialemão em 1915. As alianças na I Guerra • A guerra causou o colapso de quatro impérios – Alemão, Áusto-Húngaro, Russo r Turco-Otomano - e mudou de forma radical o mapa geopolítico da Europa e do Médio Oriente. • Dinastias imperiais européias como as das famílas Habsburgos, Romanov e Hohenzollern, que vinham dominando politicamente a Europa e cujo poder tinha raízes nas Cruzadas, também caíram durante os quatro anos de guerra. • “Descobrir as origens da Primeira Guerra Mundial não equivale a descobrir "o agressor". • Elas repousam na natureza de uma situação internacional em processo de deterioração progressiva, que escapava cada vez mais ao controle dos governos. Gradualmente a Europa foi se dividindo em dois blocos opostos de grandes nações. • • A rivalidade entre as potências, confinada antes em grande medida à Europa e áreas adjacentes (com exceção dos britânicos), era agora global e imperial fora a maior parte das Américas, destinada com exclusividade à expansão imperial dos EUA pela Doutrina Monroe de Washington. • Agora era igualmente provável que as disputas internacionais que tinham que ser resolvidas, para não degenerarem em guerras, ocorressem em qualquer parte do mundo. • Em duas ocasiões (1905 e 1911), a Europa quase foi à guerra, em meio a um braço de ferro entre franceses e alemães pela posse do Marrocos. • O decadente Império Otomano era terreno fértil para disputas entre potências européias por mais mercado, fontes de matéria prima e mão de obra barata. • No início dos anos 1910, a tentativa de uma ex-província turca de população eslava, a Sérvia – com apoio da Rússia – de unificar todos os povos eslavos sob seu comando deu origem a duas Guerras Balcânicas (1912-13). • A partir de 1905, a desestabilização da situação internacional, como conseqüência da nova vaga de revoluções na periferia das sociedades plenamente "burguesas", acrescentou material inflamável novo a um mundo que já estava prestes a pegar fogo. • Houve a revolução russa de 1905, que deixou o Império Czarista temporariamente incapacitado, encorajando a Alemanha a insistir em suas reivindicações no Marrocos, intimidando a França. • Dois anos depois, a Revolução Turca destruiu os acordos, cuidadosamente construídos, que visavam ao equilíbrio internacional no sempre explosivo Oriente Próximo. • A Áustria aproveitou a oportunidade para anexar formalmente a Bósnia-Herzegovina (que anteriormente apenas administrava), precipitando assim uma crise com a Rússia, resolvida apenas com a ameaça de um apoio militar alemão à Áustria. • A terceira grande crise internacional, em torno do Marrocos em 1911, tinha reconhecidamente pouco a ver com a revolução e tudo a ver com o imperialismo e com as duvidosas operações de homens de negócios piratas, que perceberam suas múltiplas possibilidades. • A Alemanha enviou uma canhoneira disposta a se apoderar do porto de Agadir, ao sul do Marrocos, no intuito de obter alguma "compensação" dos franceses por seu "protetorado" iminente sobre o Marrocos, mas foi forçada a recuar pelo que pareceu ser uma ameaça britânica, a de ir à guerra do lado dos franceses; irrelevante se isso foi mesmo proposital ou não. • Apesar das tensões, havia por parte dos líderes das grandes potências o interesse de se evitar uma guerra total. • Razões profundas • Colapso padrão-ouro • O colapso do padrão-ouro internacional na virada do século foi o elo entre a desintegração da economia mundial e a transformação que adviria após 1930. O padrão ouro não era ma instituição meramente econômica, ele organizava as finanças, a economia, a politica e a sociedade. • A dissolução do sistema econômico mundial que se processava desde 1900 foi responsável pela tensão política que explodiu em 1914. • • O que empurrou o mundo para uma rivalidade insolúvel – desenvolvimento do capitalismo. • Vale aqui a reflexão de Arrighi. O que impulsiona os Estados para a conquista territorial – e para a Guerra – não é a lógica territorialista. • É a lógica capitalista. Mais do que nunca a reprodução do capital – o lucro – é o fim. A base territorial é o meio. • A guerra em si era aceitável somente na medida em que não interferisse nos "negócios como de costume”. • De fato, por que os capitalistas mesmo os industriais, com a possível exceção dos fabricantes de armas desejariam perturbar a paz internacional, quadro essencial de sua prosperidade e expansão, se o tecido da liberdade internacional para negociar e o das transações financeiras dependiam dela? • No entanto, o desenvolvimento do capitalismo empurrou o mundo, inevitavelmente, em direção a uma rivalidade entre os Estados, à expansão imperialista, ao conflito e à guerra. • Após 1870, como os historiadores mostraram, "a passagem do monopólio à concorrência talvez tenha sido o fator isolado mais importante na preparação da mentalidade propícia ao empreendimento industrial e comercial europeu. • Crescimento econômico também era luta econômica, luta que servia para separar os fortes dos fracos, para desencorajar alguns e endurecer outros, para favorecer as nações novas e famintas às custas das antigas. • A economia mundial deixara totalmente de ser, como fora em meados do século XIX, um sistema solar girando em torno de uma estrela única, a Grã-Bretanha. • Embora as transações financeiras e comerciais do planeta ainda, na verdade cada vez mais, passassem por Londres, a Grã-Bretanha já não era, evidentemente, a "oficina do mundo", nem seu principal mercado importador. Ao contrário, seu declínio relativo era patente. • Um certo número de economias industriais nacionais agora se enfrentavam mutuamente. Sob tais circunstâncias, a concorrência econômica passou a estar intimamente entrelaçada com as ações políticas, ou mesmo militares, do Estado. • O ressurgimento do protecionismo no período 1853-96 foi a primeira conseqüência dessa fusão. • O traço característico da acumulação capitalista era justamente não ter limite. • As "fronteiras naturais" da Standard Oil, do Deutsche Bank, da De Beers Diamond Corporation estavam situadas nos confins do universo, ou antes, nos limites de sua capacidade de expansão. • Foi este aspecto dos novos padrões da política mundial que desestabilizou as estruturas da política mundial tradicional. • Enquanto o equilíbrio e a estabilidade permaneciam como a condição fundamental das nações européias em suas relações recíprocas, em outros lugares nem as mais pacíficas hesitavam em recorrer à guerra contra os fracos. • Lenin 1916 – Imperialismo, fase suprema do capitalismo. • Para Vladimir Lênin (1870-1924) não se poderia acalentar a esperança de que a paz entre os povos viesse a imperar na ordem imperialista. "No terreno do capitalismo, perguntava ele - que outro meio poderia haver, a não ser a guerra, para eliminar a desproporção existente entre o desenvolvimento das forças produtivas e a acumulação de capital, por um lado, e, por outro lado, a partilha das colônias e das 'esferas de influência' do capital financeiro?" Vladimir Lenin (1870-1924) • “Nesta brochura, prova-se que a guerra de 1914-1918 foi, de ambos os lados, uma guerra imperialista (isto é, uma guerra de conquista, de pilhagem e de rapina), uma guerra pela partilha do mundo, pela divisão e redistribuição das colónias, das «esferas de influência», do capital financeiro, etc”. • “É que a prova do verdadeiro caracter social ou, melhor dizendo, do verdadeiro caracter de classe de uma guerra não se encontrará, naturalmente, na sua história diplomática, mas na análise da situação objetiva das classes dirigentes em todas potências beligerantes. • Para refletir essa situação objetiva há que colher não exemplos e dados isolados (dada a infinita complexidade dos fenómenos da vida social, podem-se encontrar sempre os exemplos ou dados isolados que se queira susceptíveis de confirmar qualquer tese), mas sim, obrigatoriamente, todo o conjunto dos dados sobre os fundamentos da vida económica de todas as potências beligerantes e do mundo inteiro”. “A particularidade fundamental do capitalismo moderno consiste na dominação exercida pelas associações monopolistas dos grandes patrões. Estes monopólios adquirem a máxima solidez quando reúnem nas suas mãos todas as fontes de matériasprimas, e já vimos com que ardor as associações internacionais de capitalistas se esforçam por retirar ao adversário toda a possibilidade de concorrência, por adquirir, por exemplo, as terras que contêm minério de ferro, os jazigos de petróleo, etc. A posse de colônias é a única coisa que garante de maneira completa o êxito do monopólio contra todas as contingências da luta com o adversário, mesmo quando este procura defender-se mediante uma lei que implante o monopólio do Estado. Quanto mais desenvolvido está o capitalismo, quanto mais sensível se toma a insuficiência de matérias-primas, quanto mais dura é a concorrência e a procura de fontes de matériasprimas em todo o mundo, tanto mais encarniçada é a luta pela aquisição de colônias”. “Os monopólios, a oligarquia, a tendência para a dominação em vez da tendência para a liberdade, a exploração de um número cada vez maior de nações pequenas ou fracas por um punhado de nações riquíssimas ou muito fortes: tudo isto originou os traços distintivos do imperialismo, que obrigam a qualificá-lo de capitalismo parasitário, ou em estado de decomposição. Cada vez se manifesta com maior relevo, como urna das tendências do imperialismo, a formação de "Estados" rentistas, de Estados usurários, cuja burguesia vive cada vez mais à custa da exportação de capitais e do "corte de cupões". Seria um erro pensar que esta tendência para a decomposição exclui o rápido crescimento do capitalismo. Não; certos ramos industriais, certos setores da burguesia, certos países, manifestam, na época do imperialismo, com maior ou menor intensidade, quer uma quer outra dessas tendências. No seu conjunto, o capitalismo cresce corri uma rapidez incomparavelmente maior do que antes, mas este crescimento não só é cada vez mais desigual como a desigualdade se manifesta também, de modo particular, na decomposição dos países mais ricos em capital (Inglaterra)”. A estopim Em 28 de Junho de 1914 o Arquiduque Francisco Ferdinando, sobrinho do Imperador Francisco José e herdeiro do trono Austro-Húngaro e sua esposa Sofia, duquesa de Hohenburg, foram assassinados em Sarajevo, então parte do Império Austro-Húngaro. A conspiração envolveu Gavrilo Princip, um estudante sérvio que fazia parte de um grupo de quinze assaltantes que formavam o grupo Bósnia Jovem, que atuava em conjunto com o grupo ultranacionalista Mão Negra. Gradativamente a Europa foi se dividindo em dois blocos e derivavam da entrada em cena do Império Alemão unificado entre 1864-71. • O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando aparentemente detonou um confronto inimaginável. • A Sérvia sempre pode contar com o respaldo da Rússia e esta, da França, Grã-Bretanha e simpatia dos EUA. A Austro-Hungria era aliada dos alemães. • Um primeiro movimento – patrocinado pela GrãBretanha – para resolver pacificamente o problema do assassinato malogrou. • A Alemanha invade a Bélgica, a caminho da França, em agosto de 1914. Duas frentes Ocidente – França (prioridade alemã), Balcãs (por conta das pendencias da Austria-Hungria). Tornou-se o palco dos maiores massacres vistos até então. Objetivo alemão – Liquidar rapidamente a França (o que quase conseguiu, como em 1940) e partir para a Russia. Quase deu certo. O avanço foi detido no rio Marne, seis semanas após a declaração de guerra, próximo a Paris, em 9 de setembro de 1914: Envolveu 2 milhões de homens (franceses e britânicos contr alemães) ao longo de 300 quilômetros. Sem um vencedor claro, mas com o avanço alemão impedido, os franceses, ingleses e belgas improvisaram uma extensa linha de trincheiras, que mantiveram a posição até quase o final da guerra. Milhões de homens conviveram ali, entre lama, privações, neve e ratos. Oriente – Rússia • Verdun (cidade) antiga cadeia montanhosa e rota defensiva – Alemães tentaram romper a barreira em 1916 (fevereiro a agosto). • 15 mil habitantes da cidade saem. Marco divisor. Alemanha perde a esperança na vitória total e Franco-britânicos perdem a esperança e vencer por suas próprias forças (sem EUA). Foi o ultimo ano da Russia na guerra. Pior campanha da guerra ( 2 milhões de homens envolvidos, 800 mil perdas totais) • Frente oriental • Alemanha e Potências Centrais faziam a Rússia recuar na Polônia. • Balcãs, potências centrais tinha domínio. Maiores perdas militares relativas – Sérvia e Romênia. • • Problema: impasse na frente ocidental – Ali se decidiria a guerra. Guerra naval empatada. • Guerra envolve população Principais frentes na I Guerra • EUA • Desempate – Entrada dos EUA, em 1917, com recursos ilimitados. • Saída da Rússia em 1917 liberou tropas alemãs no Oriente. 500 mil soldados. Nova ofensiva sobre Paris, após Brest Litowski (maço 1918.). • Fim da Guerra • A partir de 1917 a situação começou a alterarse, quer com a entrada em cena de novos meios, como o carro de combate e a aviação militar, quer com a chegada ao teatro de operações europeu das forças norte-americanas ou a substituição de comandantes por outros com nova visão da guerra e das táticas e estratégias mais adequadas; lançam-se, de um lado e de outro, grandes ofensivas, que causam profundas alterações no desenho da frente, acabando por colocar as tropas alemãs na defensiva e levando por fim à sua derrota. • É verdade que a Alemanha adquire ainda algum fôlego quando a revolução estala no Império Russo e o governo bolchevista, chefiado por Lenin, prontamente assina a paz sem condições. • Anula assim a frente leste, mas essa circunstância não será suficiente para evitar a derrocada. O armistício que põe fim à guerra é assinado a 11 de Novembro de 1918. • A Cláusula de Culpa • Após o fim das batalhas, os países vencedores elaboraram o Tratado de Versalhes e Tratado de Saint.Germain, que acusava tanto a Alemanha quanto o Império Austro-Húngaro pela responsabilidade da guerra. • A Alemanha foi considerada culpada e teve que pagar as reparações pela guerra e todos os custos futuros, além de pensões para todos os veteranos da Tríplice Entente, num valor total estimado em trinta bilhões de dólares. • O valor foi sendo renegociado por toda a década de 20, até ser extinto em 1931. Balanço material • Neste conflito estiveram envolvidos cerca de 65 milhões de soldados. • A guerra química e o bombardeamento aéreo foram utilizados pela primeira vez em massa na Primeira Guerra Mundial. Ambos tinham sido tornados ilegais após a Convenção Haia de 1907. • Sociedade das Nações • Um dos pontos do amplo tratado referiu-se à criação de uma associação internacional, cujo papel seria o de assegurar a paz. • Em 28 de julho de 1919, foi assinado o tratado de Versalhes, cuja sede passou a ser na cidade de Genebra, na Suíça. • Uma de suas deliberações foi a constituição da Sociedade das Nações, também conhecida por Liga das Nações. • Passou a existir oficialmente em 10 de janeiro de 1920, quando a Alemanha, um dos países conflitantes da Primeira Guerra, passou a constar na sede. • Sua criação foi baseada na proposta de paz conhecida como Quatorze Pontos, feita pelo presidente norte-americano Woodrow Wilson, em mensagem enviada ao Congresso dos Estados Unidos em 8 de janeiro de 1918. • Os Quatorze Pontos propunham as bases para a paz e a reorganização das relações internacionais ao fim da Primeira Guerra Mundial, e o pacto para a criação da Sociedade das Nações constituíram os 30 primeiros artigos do Tratado de Versalhes. • Os países integrantes originais eram 32 membros do anexo ao Pacto e 113 dos estados convidados para participar, ficando aberto o futuro ingresso aos outros países do mundo. • As exceções foram Alemanha, Turquia e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). • Estava permitindo, desse modo, o Reino Unido, bem como o seu ingresso e o de seus domínios e colônias, como o exemplo dos Domínios Britânicos (Índia, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia). • Uma das conseqüências mais visíveis do fim da guerra foi o aparecimento de uma série de estados-nações – Polônia, Tchecoslováquia, Áustria, Hungria, Iugoslávia, Finlândia, Estonia, Letônia e Lituânia. • A I Guerra Mundial envolveu TODAS as grandes potencias, todos os estados europeus, com exceçço de Espanha, Países baixos, Escandinávia e Suíça. Soldados atravessaram o Atlântico para lutar. • A Guerra deixou definitivamente para trás o mundo do Congresso de Viena (1815) e o equilíbrio de poderes daí resultantes. A Inglaterra deixava de ser a potência hegemônica. O forte candidato ao posto eram os Estados Unidos. • Consequencias e mudanças da I Guerra • Não existiam mais as grandes potências européias. • Acabara o século europeu e o eurocentrismo. • EUA já eram a maior economia mundial. Só seriam a dominante após 1945. • No Médio Oriente o Império Turco-Otomano foi substituído pela República da Turquia e muitos territórios por toda a região acabaram em mãos inglesas e francesas. • Na Europa Central os novos estados Tchecoslováquia, Finlândia, Lituânia, Estônia e Iugoslávia "nasceram" depois da guerra e os estados da Austria, Hungria e Polônia foram redefinidos. • Crise, ressentimentos e empobrecimento da população gerariam graves conseqüências políticas, especialmente na Alemanha e na Itália. • Revolução Russa • Eric Hobsbawm • “A Revolução de Outubro produziu de longe o mais formidável movimento revolucionário organizado na história moderna. Sua expansão global não tem paralelo (...). Apenas trinta ou quarenta anos após a chegada de Lênin à Estação Finlândia em Petrogrado, um terço da humanidade se achava vivendo sob regimes diretamente derivados dos “Dez dias que abalaram o mundo” (Reed, 1919) e do modelo organizacional de Lênin, o Partido Comunista. ”. Greve na fábrica de tratores Putilov – Petrogrado, 1917 • Realizada num país atrasado, em meio a um conflito de largas proporções - a I Guerra Mundial - e num momento em que o capitalismo monopolista assumia um vigor inusitado, a Revolução de 1917 produziu reflexos em inúmeras áreas do conhecimento humano. • Não há praticamente domínio da cultura que tenha ficado imune a seus impulsos. Arquitetura, música, artes plásticas, artes cênicas, fotografia, cinema, publicidade, dentre outros, foram tocados de forma indelével pelo formidável movimento de massas desencadeado naquele país. • A Rússia das últimas décadas do século XIX era um imenso país agrícola – 85% de sua população vivia no campo, em situação de extrema pobreza. • O regime político era o czarismo, dinastia que se pretendia eterna. A partir da década de 1890, a indústria conheceu um sólido progresso, principalmente nas áreas de metalurgia, petróleo, tecelagem e carvão, graças a vultosos investimentos estrangeiros. • A atração de camponeses empobrecidos para as cidades deu origem a uma massa crescente de operários que adquiriam ao mesmo tempo qualificação técnica e consciência de classe. • Mesmo sendo um país atrasado, a Rússia possuía vida cultural e intelectual bastante dinâmica, em larga medida anti-czarista. Esses setores formaram a base, desde meados do século XIX, para o florescimento de diversos movimentos revolucionários. • O mais expressivo deles era o dos populistas (narodniks), surgido por volta de 1860. • Um dos grupos populistas, chamado Vontade do povo, realizou diversos atentados, entre eles o que culminou com o assassinato do czar Alexandre II, em 1881. • Uma das vertentes do movimento revolucionário russo era a social-democracia. • Em março de 1898, foi fundado o Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR). • A agremiação fazia severas restrições às ações voluntaristas dos populistas. • Em março de 1902, Vladimir Lênin, um dos dirigentes do POSDR, publica o livro Que fazer? O título era uma referência ao romance homônimo do populista Nikolai Chernychevsky (1828-1889). • Desenvolvendo as idéias de Marx e Engels, Lênin defende a necessidade imperiosa da construção de uma teoria revolucionária e de um “partido de novo tipo” que organize os trabalhadores. • Em seu congresso de 1903, o POSDR dividiu-se em duas facções: a maioria (bolchinstvo) e a minoria (menchinstvo).Daí vêm os nomes bolchevique e menchevique. • As duas alas se constituíram, mais tarde, em partidos distintos. • Em 1904, a disputa pela hegemonia do extremo oriente levou a uma guerra imperialista entre a Rússia e o Japão. O conflito se desenrolou nos territórios de dois países neutros, Coréia e China. A Rússia acabou derrotada. Para fazer frente ao esforço de guerra, o czar aumentou impostos e jornadas de trabalho. Os protestos e greves não tardaram a ocorrer. • O domingo sangrento • Em 22 de janeiro de 1905, cerca de 200 mil trabalhadores e seus familiares aglomeraram-se em frente ao Palácio de Inverno, numa manifestação absolutamente pacífica, reivindicando melhores salários e condições de trabalho. • O czar não estava. Não conseguindo dispersar a multidão, a guarda do Palácio atirou para matar. O saldo: centenas de mortos e mais de 3 mil feridos. As ilusões populares com a monarquia terminavam ali. Reconstituição do Domingo Sangrento • A partir de outubro de 1905, a onda de greves transformou-se numa maré incontrolável, com 400 mil trabalhadores paralisados no País. • Em novembro, eles eram 2,5 milhões em todo o império. Eclodia, pela primeira vez, um movimento revolucionário popular, liderado pelos trabalhadores da indústria. • Os marinheiros do encouraçado Potemkin, o mais poderoso da frota do Mar Negro, rebelaram-se, matando oficiais e hasteando a bandeira vermelha. O encouraçado Potemkim • Os rebeldes criaram um novo instrumento de decisões populares, os sovietes (conselhos), que reuniam delegados eleitos por grupos de 500 trabalhadores. • O soviete mais importante era o da capital, São Petersburgo, presidido por Leon Trotsky. O soviete durou 50 dias. Seus membros foram presos em seguida. • Uma greve geral, decretada três dias após sua queda foi derrotada por uma terrível repressão. • Como forma de recuar e manter o poder, o czar Nicolau II anunciou a criação da Duma – parlamento – em outubro de 1905. • Todos os homens com mais de 25 anos teriam direito a concorrer. Mas o voto seria censitário, isto é, diferente de acordo com a classe social. Os proprietários de terra votavam diretamente e os camponeses só poderiam votar indiretamente. • Aberta em maio de 1906, a Duma foi fechada em julho, sob a alegação de contestar o poder do czar. • As tensões se agravariam e o czarismo entraria em lenta crise por uma década. • Em 1915, os problemas do governo do czar pareciam mais uma vez insuperáveis. Nada pareceu menos surpreendente e inesperado que a revolução de março de 1917, que derrubou a monarquia russa.(...) • A revolução da Rússia não podia e não seria socialista. As condições para uma tal transformação simplesmente não estavam presentes em um país camponês que era sinônimo de pobreza, ignorância e atraso, e onde o proletariado industrial, o predestinado coveiro do capitalismo de Marx, era apenas uma minúscula minoria, embora estrategicamente localizada. • A I Guerra Mundial • “A participação da Rússia na guerra encerrava contradições quer nos motivos, quer nos fins. Em verdade, a luta sangrenta tinha como objetivo o domínio mundial. Neste sentido, ultrapassava as possibilidades da Rússia. (...) • Ao mesmo tempo, a Rússia, na qualidade de grande potência, não poderia abster-se de • participar da guerra dos países capitalistas mais adiantados, da mesma forma como não lhe fora possível, durante a época precedente, dispensar a instalação em suas terras de usinas, fábricas, ferrovias, assim como adquirir fuzis de tiro rápido e aviões”. • Trotsky, A história da Revolução RA história da Revolução Russa • O exército russo perdeu 500 mil homens no conflito. A maior parte da indústria fechou as portas. Com a agricultura fortemente afetada, o espectro da fome assolava o País. • Aquela situação acabou gerando um descontentamento geral com a política czarista. Com as massivas greves nos centros industriais mais importantes, o movimento revolucionário recomeçava a ganhar forças. • Em fins de 1916, o Partido Bolchevique, então na clandestinidade, com notável influência no movimento operário, foi o único a defender o fim da guerra e do czarismo e apontar a revolução como única saída. • O fracasso da Rússia na guerra acabou contribuindo para a queda do sistema czarista, servindo de catalisador para a Revolução. • A Revolução foi fruto da insatisfação contra as guerras e a luta pela conquista da paz. • Cansados de pagar a conta, milhares de cidadãos comuns assumiram a luta contra a situação imposta. • O caos era generalizado. Em 1917, toda a Europa se tornara um monte de explosivos sociais prontos para ignição. • A Rússia, madura para a revolução social, cansada de guerra e à beira da derrota, foi o primeiro dos regimes da Europa Central e Oriental a ruir sob as pressões e tensões da Primeira Guerra Mundial Lenin discursa na praça Vermelha (1919) Tomada do Palácio de Inverno • A Revolução de Fevereiro e a queda do Czar • “Petrogrado foi a capital do Império russo e o centro financeiro e industrial mais importante em uma sociedade primordialmente agrícola. Em 1917 tinha uma população de 2,4 milhões de habitantes. Poucas semanas antes da revolução de fevereiro, Lênin ainda se perguntava em seu exílio suíço se viveria para vê-la. Na verdade, o governo do czar desmoronou quando uma manifestação de operárias (no habitual “Dia da Mulher” do movimento socialista – 8 de março) se combinou com um locaute industrial na notoriamente militante metalúrgica Putilov e produziu uma greve geral e a invasão do centro da capital (...) basicamente para exigir pão. • A Revolução de Fevereiro de 1917 chegou inesperadamente. Começou em 23 de fevereiro (8 de março), Dia Internacional da Mulher, quando milhares de donas de casa e operárias, ignorando os chamados dos dirigentes sindicais para manter a calma, ganharam as ruas. No dia seguinte, 200 mil operários estavam em greve em Petrogrado. • Steve Smith, Petrogrado, 1917, o panorama visto de baixo • Em 25 de fevereiro, exércitos de manifestantes chocavam-se contra as tropas: começara a Revolução. Dois dias depois, chegou-se ao ponto culminante, quando regimentos inteiros da guarnição desertaram e passaram para o lado dos insurgentes. Em seguida, os membros da Duma - um arremedo de parlamento, criado em 1905 - recusaram-se a obedecer a ordem do czar de se dispersarem e declararam-se ‘Comitê Provisório’. Em 3 de março, Nicolau II abdicou do trono”. • Steve Smith, Petrogrado, 1917, o panorama visto de baixo Alexandr Kerenski (à esquerda) • Constituiu-se um governo provisório, chefiado por Aleksandr Kerenski, membro socialrevolucionário da Duma. Todos os partidos políticos estavam nele representados, à exceção dos monarquistas e dos bolcheviques. • Quatro dias espontâneos e sem liderança na rua puseram fim a um Império Mais que isso: tão pronta estava a Rússia para a revolução social que as massas de Petrogrado imediatamente trataram a queda do czar como uma proclamação de liberdade, igualdade e democracia direta e universais. • O feito extraordinário de Lênin foi transformar essa incontrolável onda anárquica popular em poder bolchevique. • Institui-se o governo provisório e os inúmeros conselhos de base (sovietes). • Desde o início, os trabalhadores desconfiavam do governo provisório, o qual viam atados com mil laços a interesses capitalistas e dos donos de terras. • O Governo Provisório tentou governar com leis e decretos. O povo queria pão, paz e terra. • Quando os bolcheviques – até então um partido de operários – se viram em maioria nas principais cidades russas, e sobretudo na capital (...) depressa ganharam terreno no exército, a existência do Governo Provisório tornou-se cada vez mais irreal. (...) Na verdade quando chegou a hora, mais que tomado o poder foi colhido. • O argumento de Lênin não podia deixar de convencer seu partido. Se um partido revolucionário não tomasse o poder quando as massas o pediam, em que ele diferia de um partido não revolucionário? • “Para que a revolução ecloda, não é suficiente que os de baixo não queiram mais viver como antes, mas é importante também que os de cima não consigam mais viver como antes.” • Lênin • Todo poder aos sovietes • “No dia 23 de outubro, numa reunião do Comitê Central do Partido Bolchevique, tomou-se a decisão de se preparar uma insurreição armada. (...) Na noite do dia 6 para o dia 7 de novembro, o Comitê Militar Revolucionário, sediado no Instituto Smólni, deu a senha para o início da ação”. • Trotsky, História da Revolução da Revolução Russa • A tomada do Palácio de Inverno • “Por volta das 22 horas do dia 7, as tropas revolucionárias que cercavam o Palácio de Inverno atacaram, após um tiro de canhão disparado pelo cruzador Aurora. Logo, o Palácio caiu nas mãos dos bolcheviques. (...) Os ministros do governo provisório foram mandados para a fortaleza de Pedro e Paulo”. • L. Bryant, Seis meses vermelhos na Rússia • Tomada do Palácio de Inverno – reconstituição • Planejada para ser a deflagradora da revolução mundial, a Revolução Russa estava isolada internacionalmente. Assim, exércitos ingleses, franceses, alemães, japoneses, norte-americanos e tchecos uniram-se aos exércitos do czar, que ainda combatiam o governo, na tentativa de derrubar o poder soviético. • 17 de novembro – a Rússia sai da Guerra • A Rússia que saiu da I Guerra Mundial tinha sua economia destroçada, o sistema de transportes arruinado e o abastecimento das cidades em colapso. • Vastos setores do território não estavam sob controle por parte do Estado. • Aparentemente, o poder soviético tinha poucas chances de sobreviver. • Trotsky sobre a Guerra • “A participação da Rússia na Guerra encerrava contradições quer nos motivos, quer nos fins. • Em verdade, a luta sangrenta tinha como objetivo o domínio mundial. Neste sentido, ultrapassava as possibilidades da Rússia. (...) Ao mesmo tempo, a Rússia, na qualidade de grande potência, não poderia abster-se de participar da guerra dos países capitalistas mais adiantados, da mesma forma como não lhe fora possível, durante a época precedente, dispensar a instalação em suas terras de usinas, fábricas, ferrovias, assim como adquirir fuzis de tiro rápido e aviões”. • Trotsky, A história da Revolução Russa • Os três anos seguintes à Revolução de Outubro se constituem numa das maiores guerras civis da história. Para fazer frente a esta ameaça, o Partido Bolchevique definiu as bases do chamado “comunismo de guerra”: os transportes e a indústria tiveram de se submeter às necessidades do combate. Proibiu-se a existência de qualquer empreendimento privado. • • A partir de 1921, os bolcheviques se legitimaram em todo o país. Mas o espectro da crise econômica rondava a Rússia. A fome entre os anos de 1921 e 1922 matou cerca de 5 milhões de pessoas. Outras vinte milhões haviam perecido desde 1914. O “comunismo de guerra” não estava mais tendo sucesso. • “A revolução mundial, que justificou a decisão de Lênin de entregar a Rússia ao socialismo, não ocorreu, e com isso, a Rússia soviética foi comprometida, por uma geração, com um isolamento empobrecido e atrasado” • Eric Hobsbawm, A Era dos Extremos Fome • A crise persistia • A resposta de Lênin foi a implantação da NEP (Nova Política • Econômica), em março de 1921. Através dela, ao invés de terem o excedente do que produziam requisitado compulsoriamente pelo Estado, os camponeses poderiam vender seus produtos. Reiniciou-se o comércio privado. A conseqüência imediata foi o aumento da produção agrícola, que possibilitaria as bases do crescimento industrial. • A diretriz gerou uma contradição: os médios e grandes proprietários, que começaram a ter lucros com a medida, reforçaram suas posições contrárias à socialização da economia. • • Até 1925, as enormes perdas causadas pela guerra civil e pela fome foram superadas quase completamente. No entanto, havia a necessidade premente de se investir no crescimento da industrialização. • Em termos econômicos, a Rússia levou dez anos para recuperar-se da Revolução de 1917 e da guerra civil. Só em 1927, a produção agrícola e industrial atingiu o nível anterior a 1914. • Todavia, o cidadão soviético comum estava satisfeito, pois embora o padrão de vida ainda fosse baixo, melhorava sensivelmente a cada ano. Repercussões • • • • • • • • • Sovietes foram formados por operários em Cuba. 1917- 9 biênio bolchevique na Espanha. 1919 - Movimentos estudantis em Pequim. 1919 em Córdoba na Argentina. 1917 no México. Movimento de liberação na Indonésia. Movimento dos tosquiadores na Austrália. Nos EUA os mineiros de Minnesota. A Revolução de Outubro foi universalmente reconhecida como um acontecimento que abalou o mundo. • A história do Breve Século XX não pode ser entendida sem a Revolução Russa e seus efeitos diretos e indiretos. Não menos porque se revelou a salvadora do capitalismo liberal, tanto possibilitando ao Ocidente ganhar a Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha de Hitler quanto fornecendo o incentivo para o capitalismo se reformar • Consequências e mudanças da I Guerra • Não existiam mais as grandes potências européias • Acabara o século europeu e o eurocentrismo. • EUA já eram a maior ecnomia mundial. Só seriam a dominante após 1945. • No Médio Oriente o Império Turco-Otomano foi substituído pela República da Turquia e muitos territórios por toda a região acabaram em mãos inglesas e francesas. • Na Europa Central os novos estados Tchecoslováquia, Finlândia, Látvia, Lituânia, Estônia e Iugoslávia "nasceram" depois da guerra e os estados da Austria, Hungria e Polônia foram redefinidos. • Crise, ressentimentos e empobrecimento da população gerariam graves conseqüências políticas, especialmente na Alemanha e na Itália. Ascensão da direita na Europa • A ascensão da direita radical após a Primeira Guerra Mundial foi sem dúvida uma resposta ao perigo, na verdade à realidade da revolução social (Revolução de Outubro). • A militância de classe média e de classe média baixa deu uma virada para a direita radical, sobretudo em países onde as ideologias de democracia e de liberalismo não eram dominantes. • Na verdade, nos principais países centrais do liberalismo ocidental – Grã-Bretanha, França e EUA – a hegemonia da tradição revolucionária impediu o surgimento de quaisquer movimentos fascistas de massa importantes. Itália e Alemanha • A passagem pelos momentos de crises interna e externa da Itália e da Alemanha tornam-se essenciais para o entendimento do contexto em que os indivíduos carentes de representatividade estavam inseridos, para legitimar uma ideologia totalitária e empregadora do terrorismo político, como alternativa aos problemas e às crises que assolavam seus respectivos países. • Os modelos eram o fascismo italiano e o nacional-socialismo, sendo estes desenvolvidos em países que reuniram condições internas e externas para o surgimento da ideologia sob forma de movimento em condições de disputa pelo poder. • Haviam na Itália aspectos do desenvolvimento do capitalismo de tipo tardio, que irão influenciar no surgimento de idéias como o nacionalismo, o expansionismo e o imperialismo colonialista, utilizadas na composição fascista. • O desequilíbrio na concentração de pólos econômico, contribuindo para constantes choques entre regiões mais pobres e mais ricas são presentes na península itálica, promovendo dificuldades para a estabilidade do país. • • A Marcha sobre Roma foi uma vasta manifestação fascista, com característica de golpe de estado, de direita, ocorrida em 28 de outubro de 1922 Milhares de militantes fascistas que reivindicavam o trono da Itália. Este evento representou a ascensão ao poder do Partido Nacional Fascista (PNF) e o fim da democracia liberal, pela nomeação de Benito Mussolini como chefe de governo pelo Rei Vítor Emanuel III • Mesmo após a unificação territorial, a Itália permanecia com fissuras sérias, tanto culturais quanto econômicas, traduzidas por concepções separatistas, fomentadas pelas regiões de índice de industrialização mais elevado, atacando as regiões predominantemente agrárias. • Os fatores de disparidade interna que minavam o sistema liberal adotado como forma de governo, eram ampliados pelos acontecimentos externos. • Junto ao “perigo vermelho” os movimentos nacionalistas originados antes da Grande Guerra permaneciam ativos e ideologicamente organizados. • Diante da expansão das ideologias de esquerda, cujo símbolo mais forte na Itália era o Partido Socialista Italiano (PSI), os nacionalistas adotaram a postura de oposição radical à esquerda. Entre as motivações aos ataques estão: • O internacionalismo adotado pelos socialistas - interpretado como traição à pátria, diante das ambições nacionais, • O princípio mobilizador mantido pelo PSI, regido pela revolução social, adquirindo assim antipatia dos setores médios da sociedade no pós-Guerra, em função do medo da proletarização. • Alguns destes movimentos de nacionalismo exaltado, antiliberais e anti-socialistas se viram, no pós-Guerra Mundial, aglutinados sob liderança de Benito Mussolini, ex-integrante do Partido Socialista Italiano, e ex-diretor do Avanti! (jornal oficial do partido). • Após ser expulso do PSI, por fazer apologia à entrada da Itália na Primeira Guerra Mundial – constrangendo o internacionalismo do partido -, Mussolini torna pública sua interpretação da luta de classes marxista, levando-a a escala mundial. Condições • As condições ideais para o triunfo da ultradireita alucinada eram um Estado velho, com seus mecanismos dirigentes não mais funcionando, uma massa de cidadãos desencantados, desorientados e descontentes, não mais sabendo querer ser leais, forte movimento socialista ameaçando ou parecendo ameaçar com a revolução social, mas não de fato em posição de realizá-la; e uma inclinação do ressentimento nacionalista contra o tratado de paz de 1918-1920. • A Alemanha sentiu de maneira mais violenta as punições impostas pelo Tratado de Versalhes. • A intervenção das nações vitoriosas, sob o respaldo do tratado firmado após a Primeira Guerra Mundial, em assuntos políticos e econômicos internos da Alemanha, suscitaram sensação de debilidade interna e de indignação coletiva. • O Artigo 231 do Tratado de Versalhes enfatizava a responsabilidade moral exclusiva do Reich alemão, sendo constantemente lembrado, como forma de justificar as ações que pesavam contra a Alemanha derrotada. O direito de autodeterminação dos povos, defendido pelo presidente estadunidense Wilson, era suspendido quando rogado pelos alemães em defesa da soberania nacional. • As medidas previstas pelo tratado de paz da Conferência de Versalhes implicavam em privações ao desenvolvimento industrial alemão, ora pela perda de territórios estratégicos - ricos em minério de ferro e carvão (matérias-primas para o desenvolvimento da indústria de base) -, ora pela imposição de racionamentos à produção fabril. • O putsch de Munique Inspirado no movimento fascista de Mussolini na Itália, Hitler, em novembro de 1923, organizou um golpe a partir da cidade de Munique, tendo como pano de fundo a grave crise econômica no país. • .Apesar do fracasso do movimento, projetou o partido e suas idéias em nível nacional. Hitler preso após a tentativa de golpe O mundo do pós Guerra Hobsbawm • A Primeira Guerra Mundial foi seguida por um tipo de colapso verdadeiramente mundial, sentido pelo menos em todos os lugares em que homens e mulheres se envolviam ou faziam uso de transações impessoais de mercado. • Na verdade, mesmo os orgulhosos EUA, longe de serem um porto seguro das convulsões de continentes menos afortunados, se tornaram o epicentro deste que foi o maior terremoto global medido na escala Richter dos historiadores econômicos - a Grande Depressão do entreguerras.Em suma: entre as guerras, a economia mundial capitalista pareceu desmoronar. Ninguém sabia exatamente como se poderia recuperá-la. • A globalização da economia dava sinais de que parara de avançar nos anos entreguerras. • Por qualquer critério de medição, a integração da economia mundial estagnou ou regrediu. Por que essa estagnação? • Sugeriram-se vários motivos, como por exemplo que a maior das economias do mundo, a dos EUA, passara a ser praticamente autosuficiente,exceto pelo suprimento de umas poucas matérias-primas; jamais dependera particularmente do comércio externo. Crise e mudança • O mundo do início dos anos 1930 enfrentava os sobressaltos da Grande Depressão, cujo marco definidor foi a quebra da bolsa de Nova York, em 29 de outubro de 1929. Nenhum país capitalista passou incólume pela crise. • Vivendo uma expansão constante desde a segunda metade do século anterior, sem enfrentar nenhum conflito significativo em seu território desde a Guerra de Secessão (18611865), os Estados Unidos despontaram, após a Guerra de 1914-1918, como a maior potência mundial e a força dominante entre os mercados latino-americanos. • Apesar de uma enorme desigualdade social 90% da riqueza estava na mão de 13% dos estadunidenses - nunca uma sociedade exibira tamanha opulência e tamanha pujança econômica. • Mas a roda girou em falso através de uma brutal crise de superprodução. Ela refletia a saturação dos mercados, que não absorviam mais o volume de mercadorias produzidas. Sem mecanismos de regulação, o livre-mercado mostrou seus limites. • A quebra fez com que bilhões de dólares evaporassem da noite para o dia, centenas de empresas fossem à bancarrota e as demissões de trabalhadores atingissem números nunca imaginados. Somente em Nova York, em fins de 1929, havia um milhão de desempregados vagando pelas ruas. • Nos EUA, a queda dos preços dos produtos primários (que deixaram de cair ainda mais pelo acúmulo feito de estoques cada vez maiores) simplesmente demonstrou que a demanda deles não conseguia acompanhar a capacidade de produção. • Uma dramática recessão da economia industrial norteamericana logo contaminou outro núcleo industrial, Alemanha. • A produção industrial americana caiu cerca de um terço entre 1929 e 1931, e a alemã mais ou menos o mesmo. • A Westinghouse, grande empresa de eletricidade,perdeu dois terços de suas vendas entre 1929 e 1933, enquanto sua renda líquida caiu75%em dois anos. A crise se difundiu internacionalmente. • Isso deixou prostrados Argentina, Austrália, países balcânicos, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Egito, Equador, Finlândia, Hungria, Índia, Malásia britânica, México, Índias holandesas (atual Indonésia), Nova Zelândia, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela • As economias da Áustria, Tchecoslováquia, Grécia, Japão, Polônia e Grã-Bretanha, bastante sensíveis a abalos sísmicos vindos do Ocidente (ou Oriente), foram igualmente abaladas. Em suma, a Depressão tornou-se global no sentido literal. • Quase simbolicamente, a Grã-Bretanha em 1931 abandonou o Livre Comércio, que fora tão fundamental para a identidade econômica britânica desde a década de 1840. • O trauma da Grande Depressão foi realçado pelo fato de que um país que rompera clamorosamente com o capitalismo pareceu imune a ela: a União Soviética. URSS • Enquanto o resto do mundo, ou pelo menos o capitalismo liberal ocidental, estagnava, a URSS entrava numa industrialização ultra-rápida e maciça sob seus novos Planos Qüinqüenais. • De 1929 a 1940, a produção industrial soviética triplicou, no mínimo dos mínimos. Subiu de 5% dos produtos manual faturados do mundo em 1929 para 18% em 1938, enquanto no mesmo período a fatia conjunta dos EUA, Grã-Bretanha e França caía de 59% para 52%do total do mundo. • E mais, não havia desemprego. • Essas conquistas impressionaram mais os observadores estrangeiros de todas as ideologias, incluindo um pequeno mas influente fluxo de turistas sócioeconômicos em Moscou em 1930. • O que eles tentavam compreender não era o fenômeno da URSS em si, mas o colapso de seu próprio sistema econômico, a profundidade do fracasso do capitalismo ocidental • Qual era o segredo do sistema soviético? Podia-se aprender alguma coisa com ele? Ecoando os Planos Qüinqüenais da URSS, "Plano" e "Planejamento" tomaram-se palavras da moda na política. • Os partidos social-democratasa adotaram "planos", como na Bélgica e Noruega. • Jovens políticos conservadores como o futuro primeiro-ministro Harold Macmillan (1894-1986) tornaram-se porta-vozes do "planejamento". • Até os nazistas plagiaram a idéia, quando Hitler introduziu um "Plano Quadrienal" em1933. Por que a economia capitalista não funcionou entre as guerras? • A situação nos EUA é parte essencial de qualquer resposta a essa pergunta. Pois, se era possível responsabilizar, ao menos parcialmente, as perturbações da Europa na guerra e no pós-guerra, ou pelo menos nos países beligerantes da Europa, pelos problemas econômicos ali ocorridos, os EUA tinham estado muito distantes do conflito, embora por um curto e decisivo período tivessem se envolvido nele. • Assim, longe de perturbar sua economia, a Primeira Guerra Mundial, como a Segunda, beneficiou-os espetacularmente. • Em 1913, os EUA já se haviam tornado a maior economia do mundo, arcando com mais de um terço da produção industrial mundial. Além disso, a guerra não apenas reforçou sua posição como maior produtor do mundo, como os transformou no maior credor do mundo. • Em suma, não há explicação para a crise econômica mundial sem os EUA. Isso não pretende subestimar as raízes exclusivamente européias do problema, em grande parte, de origem política • Em 1929. respondiam por mais de 42% da produção mundial total, comparados com apenas pouco menos de 28% das três potências industriais européias. • É uma cifra espantosa. Concretamente, enquanto a produção de aço americana subiu cerca de um quarto entre 1913 e 1920, a produção de aço do resto do mundo caiu cerca de um terço. • Em suma, após o fim da Primeira Guerra Mundial, os EUA eram em muitos aspectos uma economia tão internacionalmente dominante quanto voltou a tornar-se após a Segunda Guerra Mundial. • Foi a Grande Depressão que interrompeu temporariamente essa ascensão. A crise deixou a Europa Central pronta para o fascismo. • Na Alemanha em 1923 a unidade monetária foi reduzida a um milionésimo de milhão de seu valor de 1913, ou seja, na prática o valor da moeda foi reduzido a zero. • Mesmo nos casos menos extremos, as conseqüências foram drásticas. • O desemprego na maior parte da Europa Ocidental permaneceu assombroso e, pelos padrões pré-l914, patologicamente alto.