Avaliação das principais interações medicamentosas potenciais ocorridas na Unidade de Terapia Intensiva neonatal do Hospital Universitário do Oeste do Paraná Camila Avanzi dos Santos (PIBIC/Fundação Araucária/Unioeste), Andréia Cristina Conegero Sanches (orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Ciências Médicas e Farmacêuticas/Cascavel, PR Grande área e área: Ciências da Saúde - Farmácia Palavras-chave: UTI neonatal, interações medicamentosas, farmacologia Resumo Uma interação medicamentosa ocorre quando os efeitos e/ou a toxicidade de um fármaco são alterados pela presença de outro, podendo acarretar resultados positivos ou negativos. Esse estudo tem como objetivo principal descrever e classificar as principais interações medicamentosas potenciais (IMP) de medicamentos utilizados na UTI neonatal de um hospital universitário do Paraná, no período de maio a julho de 2014. Os medicamentos analisados foram coletados de prescrições médicas e registros informatizados dos pacientes para análise da ocorrência de IMP, que foram classificadas de acordo com os bancos de dados Micromedex® e Drugs.com. Foram analisadas 56 prescrições médicas, das quais 51 apresentaram risco de IMP. Os resultados encontrados atentam para a necessidade do farmacêutico em ambiente hospitalar, sendo ele o profissional capaz de alertar os demais profissionais da saúde para o risco de ocorrência e consequências de interações medicamentosas. Introdução Uma interação medicamentosa ocorre quando os efeitos e/ou a toxicidade de um fármaco são alterados pela presença de outro. Embora seus resultados possam ser tanto positivos (aumento da eficácia) como negativos (diminuição da eficácia, toxicidade ou idiossincrasia), eles são geralmente imprevistos e indesejáveis na farmacoterapia (Hammes et al., 2008). As interações indesejáveis são subdivididas em: interações graves, que podem produzir um risco para a vida ou danos permanentes à saúde; interações moderadas, que requerem tratamento adicional; e interações leves, que não afetam significativamente o efeito da terapia (Martinbiancho et al., 2007). O risco da ocorrência de interações negativas e sua gravidade dependem de alguns fatores, entre os quais número de medicações prescritas, duração do tratamento e idade do paciente (Hammes et al., 2008). Pacientes pediátricos requerem atenção especial dos profissionais de saúde em termos de interações medicamentosas, já que reagem a drogas de forma diferente dos adultos. Até 1 ano de idade, as partes do corpo responsáveis pelos processos de excreção e eliminação não estão totalmente desenvolvidos, resultando em meia-vida prolongada de drogas metabolizadas e excreção reduzida (Martinbiancho et al., 2007). Ainda, a utilização dos medicamentos por esses pacientes é geralmente baseada em modificações das formulações para adultos, ignorando-se as diferenças fisiológicas existentes entre as faixas etárias (Duarte & Fonseca, 2008). O presente trabalho ilustra a ocorrência de interações medicamentosas potenciais (IMP) na Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTI neonatal) do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), em que foram coletados dados referentes ao período de maio a julho de 2014. Materiais e Métodos Estudo observacional, descritivo e transversal realizado na Unidade de Terapia Intensiva neonatal do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP). Os dados dos pacientes (número de registro, gênero, idade, peso ao internar, morbidades motivo e tempo de internamento, nome e número de medicamentos utilizados) foram obtidos a partir de registros informatizados, bem como dos prontuários médicos arquivados na Subdivisão de Arquivo Médico e Estatística (SAME) do HUOP. O critério de inclusão estabelecido foi o paciente estar internado na UTI neonatal do HUOP no período de maio a julho de 2014. Os critérios de exclusão abrangeram os pacientes que estiveram fora do critério de inclusão e/ou que fizeram uso de um ou nenhum medicamento. Não foram incluídos medicamentos utilizados durante processos cirúrgicos, itens das prescrições médicas relacionados a soluções para reposição volêmica, preparações de uso tópico, inalatório e ocular, medicamentos com infusão contínua e medicamentos para controle da hiperglicemia. Após a coleta de dados, os mesmos foram mensurados e as possíveis interações medicamentosas encontradas nos bancos de dados Micromedex® e Drugs.com foram classificadas como graves, moderadas ou leves. Esse estudo foi realizado mediante aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), conforme o protocolo 41736114.4.0000.0107, e teve apoio financeiro da Fundação Araucária. Resultados e Discussão O total de pacientes internados na UTI neonatal do HUOP de maio a julho de 2014 foi de 73. Atenderam aos critérios de inclusão um total de 56 pacientes, sendo 51,8% do gênero masculino e 48,2% do gênero feminino. A idade variou de 0 a 22 dias, e a média de peso ao internar foi de 1,88±0,807Kg. O tempo de internamento na unidade variou entre 4 e 98 dias, sendo que 87,5% dos pacientes não precisaram de procedimentos cirúrgicos. Após a coleta dos medicamentos utilizados por cada paciente, foram avaliadas as possíveis interações entre os mesmos no período determinado pelo estudo. As potenciais interações totalizaram 197, sendo destas 27 graves, 139 moderadas e 31 leves. Dos 56 pacientes avaliados, 5 não apresentaram risco de quaisquer interações dentre os medicamentos que fizeram uso. As Tabelas 1 e 2 destacam, respectivamente, as possíveis interações graves e moderadas que apareceram com maior frequência. Tabela 1 - Possíveis interações medicamentosas graves com freqüência acima de 15% entre pacientes que atenderam os critérios de inclusão do estudo, internados na UTI neonatal do HUOP no período de maio a julho de 2014. INTERAÇÃO GRAVE FREQUÊNCIA (%) Gentamicina x Furosemida 37,5 Fentanil x Midazolam 35,7 Amicacina x Furosemida 26,7 Amicacina x Gentamicina 25,0 Gentamicina x Vancomicina 23,2 Amicacina x Vancomicina 17,8 Tabela 2 - Possíveis interações medicamentosas moderadas com freqüência acima de 15% entre pacientes internados na UTI neonatal do HUOP no período de maio a julho de 2014. INTERAÇÃO MODERADA FREQUÊNCIA (%) Aminofilina x Cafeína 41,0 Fentanil x Furosemida 35,7 Furosemida x Midazolam 21,4 Dexametasona x Fentanil 17,8 Fentanil x Hidroclorotiazida 17,8 Furosemida x Vancomicina 17,8 Aminofilina x Midazolam 16,0 Dexametasona x Furosemida 16,0 Espironolactona x Fentanil 16,0 A utilização de medicamentos em pacientes hospitalizados é sabidamente maior do que em pacientes tratados fora do ambiente hospitalar, e com isso, se torna maior também o risco de ocorrência de interações medicamentosas potenciais. Em relação às IMP graves encontradas, um aspecto a ser destacado é que Gentamicina e Amicacina fazem parte de 50% das interações graves mais freqüentes. Outros dois medicamentos envolvidos nas interações potenciais graves são Fentanil e Midazolam, que apareceram com segunda maior prevalência no presente estudo, similarmente ao de Gimenes et al. (2014), em que tal interação obteve o primeiro lugar. Quanto às IMP moderadas, os medicamentos que mais se envolveram foram Fentanil e Furosemida, que apareceram, cada, em 4 das 9 principais interações encontradas. Entretanto, a IMP moderada com maior prevalência foi entre Aminofilina e Cafeína, com possível aumento da concentração plasmática da primeira como resultado da interação. Como maneiras de diminuir a ocorrência de interações com consequentes reações adversas, o profissional de saúde pode observar sinais e sintomas, monitorar a resposta terapêutica, substituir a via de administração do medicamento quando possível, evitar combinações terapêuticas complexas e adequar os horários de administração dos medicamentos. Conclusões Este trabalho ilustra o número de IMP em prescrições da UTI neonatal de um hospital universitário público (HUOP), sendo 84,2% das interações medicamentosas potenciais classificadas como graves ou moderadas. Evidencia a importância e necessidade do farmacêutico em ambiente hospitalar, visto que é o profissional habilitado a acompanhar a farmacoterapia e identificar riscos de interações medicamentosas, podendo alertar os demais profissionais de saúde a fim de evitar possíveis conseqüências ao paciente, bem como diminuir o custo e tempo de internamento. Agradecimentos Agradeço a Fundação Araucária pela bolsa de IC. Referências Duarte, D. & Fonseca, H. (2008). Melhores medicamentos em pediatria. Ata Pediátrica Portuguesa 39,17-22. Gimenes, A.H.S., Baroni, M.M.F. & Rodrigues, P.J.N. (2014). Interações medicamentosas potenciais em unidade de terapia intensiva adulto de um hospital público estadual. Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde 5, 19-24. Hammes, J. A., Pfuetzenreiter, F., Silveira, F., Koenig, A. & Westphal, G. (2008). A. Prevalência de potenciais interações medicamentosas droga-droga em unidades de terapia intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva 20, 349-354. Martinbiancho, J., Zuckermann, J., Dos-Santos, L. & Siva, M. M. (2007). Profile of drug interactions in hospitalized children. Pharmacy Practice 5, 157-161.