12 – A Revelação do Mistério da Trindade nas Escrituras

12. – A Revelação do Mistério da
Trindade nas Escrituras
Encontros de
Formação
Cristã
Paróquia de Santa
Maria de Carreço
«Uma vez baptizado,
Jesus saiu da água e eis
que se rasgaram os
céus, e viu o Espírito de
Deus descer como uma
pomba e vir sobre Ele.
17*E uma voz vinda do
Céu dizia: «Este é o meu
Filho muito amado, no
qual pus todo o meu
agrado.»
Mt 3, 16-17
12ª sessão – A Revelação do Mistério da Trindade
nas Escrituras
Sumário:
1.
Considerações gerais
2.
O Deus Único
3.
Preparação da revelação
da Trindade no Antigo
Testamento
4. Deus é Trino: Revelação da
Trindade
no
Novo
Testamento
4.1 – O Filho é Deus
4.2 – O Espírito Santo é
Deus
4.3 – Deus é Trino
5. Bibliografia recomendada
(E.F.C. 12)
1. Considerações gerais
1 – Considerações gerais
Os cristãos são baptizados «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo»; ao fazermos o
sinal da Cruz, ao benzer-nos, dizemos: «Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo»…
DEUS «É» TRINDADE, «É» AMOR - Na base da essência trinitária de Deus
está o evento da Páscoa, o Mistério pascal, como momento culminante da
vivência histórica de Jesus Cristo, obediente ao Pai, ao Seu projecto de
salvação; nele se revela um Deus amor, que Se dá pelos homens; nele se revela
que Deus «é um, mas não solitário». «Na verdade, verás a Trindade, se vires o
amor» (Santo Agostinho).
CIC 234: “O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e
da vida cristã. É o mistério do ser e da vida do próprio Deus. É, pois, a
fonte de todos os outros mistérios da fé; é a luz que os ilumina. É o
ensinamento mais fundamental e essencial na hierarquia das verdades de
fé. Toda a história da salvação não é outra coisa que a história do caminho
e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e único, Pai, Filho e Espírito
Santo, se revela, reconcilia consigo os homens, afastados pelo pecado, e se
une com eles”.
1)
De referir que a palavra «Trindade» não aparece na Bíblia; a Bíblia não é um dicionário de Teologia!
2) Ao conhecimento da Trindade não podemos chegar directamente, já que «A Deus jamais alguém o viu. O
Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer». (Jo 1, 18). Foi o
próprio Filho que nos introduziu no mistério divino. A revelação da Trindade é algo específico do NT; no
AT só há apenas indícios que, à luz da revelação do NT e segundo as interpretações dos Padres da
Igreja de algumas passagens, podem tomar-se como gérmen de explicitação sobre a misteriosa vida
divina.
2. O Deus Único
2 – O Deus Único
Por meio dos profetas, Deus faz apelo a Israel e a todas
as nações para que se voltem para Ele, o Único: «Voltaivos para Mim, e sereis salvos, todos os confins da terra,
porque Eu sou Deus e não há outro [...] Diante de Mim se
hão-de dobrar todos os joelhos, em Meu nome hão-de
jurar todas as línguas. E dirão: "Só no Senhor existem a
justiça e o poder"» (Is 45, 22-24)
A Israel, Seu
povo eleito, Deus
revelou-Se como
sendo
único:
«Escuta, Israel!
O Senhor, nosso
Deus, é o único
Senhor. Amarás
o Senhor, teu
Deus, com todo o
teu coração, com
toda a tua alma
e com todas as
tuas forças» (Dt
6, 4-5).
O próprio Jesus confirma que Deus é «o
único Senhor», e que é necessário amáLo «com todo o coração, com toda a
alma, com todo o entendimento e com
todas as forças». Ao mesmo tempo, dá
a entender que Ele próprio é «o
Senhor». Confessar que «Jesus é o
Senhor» é próprio da fé cristã. Isso não
vai contra a fé num Deus Único. Do
mesmo modo, crer no Espírito Santo,
«que é Senhor e dá a Vida», não
introduz qualquer espécie de divisão no
Deus único, como veremos noutros
encontros.
2 – O Deus Único
DEUS REVELA O SEU NOME. Deus revelou-Se ao seu povo Israel,
dando-lhe a conhecer o seu nome. O nome exprime a essência, a identidade
da pessoa e o sentido da sua vida. Deus tem um nome. Não é uma força
anónima. Dizer o seu nome é dar-Se a conhecer aos outros; é, de certo
modo, entregar-Se a Si próprio, tornando-Se acessível, capaz de ser
conhecido mais intimamente e de ser invocado pessoalmente.
Deus revelou-Se progressivamente e sob diversos nomes ao seu povo; mas foi a revelação do nome divino
feita a Moisés na teofania da sarça ardente, no limiar do êxodo e da Aliança do Sinai, que se impôs como
sendo a revelação fundamental, tanto para a Antiga como para a Nova Aliança.
Na Bíblia o nome designa a pessoa;
dado que a personalidade de Deus é
infinitamente rica, os nomes para
designar Deus são múltiplos:
-EL: exprime a ideia de poder;
-ELOHIM:
plural
de
excelência,
majestático;
-ADONAI: exprime a ideia de Senhor;
-ELOÁ: exprime a ideia de Ente divino;
-QANNÁ: significa ciumento;
-JAVÉ: indica a ideia de presença
actuante;
-SHADDAY:
exprime
a
ideia
de
omnipotência;
-ELYÓN: ideia de Altíssimo;
-Combinações
de
nome
são
frequentes, como El-Shadday (Deus
Omnipotente)…
«ENTÃO, E JEOVÁ? UM AMIGO
MEU DISSE-ME QUE ERA O
NOME DE DEUS!»
1)
2)
3)
4)
Não é o único nome de Deus, como vimos…
«…santificado seja o Vosso nome…»: o nome, na Bíblia,
designa a pessoa…
A pronúncia correcta de «Jeová» é «Javé»; O hebraico
era escrito apenas com consoantes; todos os estudiosos
hoje concordam que a pronúncia correcta é Jahweh e
não Jehowah;
O erro deve-se ao facto de, os judeus, especialmente
após o Exílio, não pronunciarem o nome «Javé» por
respeito
e
substituiam-no
por
outros
nomes,
especialmente, Adonai; mais tarde, quando os
massoretas (gramáticos do séc. VII) inventaram um
sistema de pontos para as vogais, aplicam a JHWH, as
vogais correspondentes a Adonai e não as correctas,
correspondentes a Javé.
2 – O Deus Único
O DEUS VIVO.
Do meio duma sarça que arde sem se
consumir, Deus chama por Moisés. E diz-lhe: «Eu sou o Deus
de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de
Jacob» (Ex 3, 6). Deus é o Deus dos antepassados, Aquele
que tinha chamado e guiado os patriarcas nas suas
peregrinações. É o Deus fiel e compassivo, que se lembra
deles e das promessas que lhes fez. Ele vem para libertar da
escravidão os seus descendentes. É o Deus que, para além
do espaço e do tempo, pode e quer fazê-lo, e empenhará a
Sua omnipotência na concretização deste desígnio.
Ao revelar o seu nome misterioso de YHWH, «Eu sou Aquele
que Sou», Deus diz Quem é e com que nome deve ser
chamado. Este nome divino é misterioso, tal como Deus é
mistério. É, ao mesmo tempo, um nome revelado e como que
a recusa dum nome. É assim que Deus exprime melhor o que
Ele é, infinitamente acima de tudo o que podemos
compreender ou dizer: Ele é o «Deus escondido» (Is 45, 15),
o seu nome é inefável, e é o Deus que Se faz próximo dos
homens.
‫אהיה אׂשר‬
Eu sou
aquele
‫אהיה‬
que sou
Moisés disse a Deus: «Vou então procurar os filhos
de Israel e dizer-lhes: " O Deus de vossos pais
enviou-me a vós". Mas se me perguntarem qual é o
seu nome, que hei-de responder-lhes? Deus disse a
Moisés: «Eu sou Aquele que sou». E prosseguiu:
«Assim falarás aos filhos de Israel: Aquele que
tem por nome "Eu sou" é que me enviou a vós [...]
... Será este o meu nome para sempre, nome que
ficará de memória para todas as gerações» (Ex 3,
13-15).
Ao revelar o seu nome, Deus revela ao mesmo
tempo a sua fidelidade, que é de sempre e para
sempre, válida tanto para o passado («Eu sou o
Deus de teu pai» – Ex 3, 6), como para o futuro
(«Eu estarei contigo» – Ex 3, 12). Deus, que revela
o seu nome como sendo «Eu sou», revela-Se como o
Deus que está sempre presente junto do seu povo
para o salvar.
Perante a presença atraente e misteriosa de Deus, o homem
descobre a sua pequenez. Diante da sarça ardente, Moisés descalça
as sandálias e cobre o rosto face à santidade divina; Deus é o três
vezes Santo! Por respeito pela santidade de Deus, o povo de Israel
não pronuncia o seu nome. Na leitura da Sagrada Escritura, o nome
revelado é substituído pelo título divino de «Senhor» («Adonai», em
grego «Kyrios»). É sob este título que será aclamada a
divindade de Jesus: «Jesus é o Senhor».
2 – O Deus Único
«DEUS DE TERNURA E DE PIEDADE». Depois do pecado de Israel, que se afastou
de Deus para adorar o bezerro de ouro, Deus atende a intercessão de Moisés e aceita
caminhar no meio dum povo infiel, manifestando deste modo o seu amor. «O Senhor, o
Senhor é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para se indignar e cheio de
misericórdia e fidelidade» (Ex 34, 6). Moisés confessa que Ele é um Deus de perdão».
Deus revela que é «rico de misericórdia» (Ef 2, 4), ao ponto de entregar o seu próprio Filho. Dando a vida para nos
libertar do pecado, Jesus revelará que Ele mesmo é portador do nome divino: «Quando elevardes o Filho do Homem,
então sabereis que Eu sou» (Jo 8, 28).
SÓ
DEUS
É.
No
decorrer dos séculos, a
fé
de
Israel
pôde
desenvolver
e
aprofundar as riquezas
contidas na revelação do
nome divino. Deus é
único, fora d'Ele não há
deuses. Ele transcende
o mundo e a história.
Foi Ele que fez o céu e
a terra; «Ele é «Aquele
que é», desde sempre e
para sempre; e assim,
permanece sempre fiel a
Si mesmo e às suas
promessas.
Só
Deus
«É»: só Ele é o seu
próprio Ser, e Ele é por
Si mesmo tudo o que Ele
é.
DEUS É A VERDADE. «Decerto, Senhor Deus, Vós é que sois Deus e dizeis palavras
de verdade» (2 Sm 7, 28); é por isso que as promessas de Deus se cumprem sempre.
Deus é a própria verdade; as suas palavras não podem enganar. A verdade de Deus é a
sua sabedoria, que comanda toda a ordem da criação e do mundo. Só Deus que, sozinho,
criou o céu e a terra pode dar o conhecimento verdadeiro de todas as coisas criadas na
sua relação com Ele. Deus é igualmente verdadeiro quando Se revela: todo o ensinamento
que vem de Deus é «doutrina de verdade» (Ml 2, 6). Quando Ele enviar o seu Filho ao
mundo, será «para dar testemunho da verdade» (Jo 18, 37): «Sabemos [...] que veio o
Filho de Deus e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro» (1 Jo 5, 20).
DEUS É AMOR. No decorrer da sua história, Israel pôde descobrir
que Deus só tinha uma razão para Se lhe ter revelado e o ter escolhido,
para ser o seu povo: o seu amor gratuito. Deus amou de tal maneira o
mundo, que lhe entregou o seu Filho Único» (Jo 3, 16). O amor de Deus
é «eterno» (Is 54, 8): «Ainda que as montanhas se desloquem e vacilem
as colinas, o meu amor não te abandonará» (Is 54, 10). «Deus é Amor»
(1 Jo 4, 8, 16): a própria essência de Deus é Amor. Ao enviar, na
plenitude dos tempos, o seu Filho único e o Espírito de Amor, Deus
revela o seu segredo mais íntimo ": Ele próprio é eternamente permuta
de amor: Pai, Filho e Espírito Santo; e destinou-nos a tomar parte
nessa comunhão.
3. Preparação da revelação da
Trindade no Antigo Testamento
3 - Preparação da revelação
da Trindade no AT
DEUS FALA EM PLURAL OU É UM PLURAL MAJESTÁTICO?
Diversos Padres da Igreja viram nos textos em que se emprega o plural com relação a Deus e em algumas
teofanias um pré-anúncio da Trindade… As opiniões dividem-se: uns dizem que se trata de uma referência
mais ou menos implícita à Trindade; outros que se trata mais de um plural majestático (como o «nós»,o
«vós» usado quando fala um rei ou pessoa importante). De qualquer forma, são interpretações feitas à luz
do Novo Testamento. Por exemplo: Gn 1, 26: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”; 3, 22:
“Eis que Adão é como um de nós”; 11, 7: “Vinde, desçamos e confundamos as suas línguas”); três homens
aparecem a Abraão (18, 1-15).
Maior importância têm os textos do AT sobre: A paternidade divina; palavra e sabedoria de Deus; espírito.
A PATERNIDADE DIVINA. Javé é o rei, mas também pai de Seu povo porque o gerou (Dt 32, 18), criou,
educou e nutriu (Is 1, 2; Dt 8, 5); mas esta ideia implica a protecção (Dt 31, 32; 32, 10-14), mais do que
o amor de Deus. Mas os profetas insistiram no amor implicado na paternidade divina; nas preces recorre-se
à misericórdia do Pai celeste (Is 63, 15s). A compreensão da paternidade de Deus, específica do Antigo
Testamento, fundamenta-se na livre eleição do povo por Javé e na conclusão da Aliança e está sempre
próximo do Seu povo pela Sua misericórdia. Aos poucos esta consciência da paternidade divina é aprofundada
em Israel; essa paternidade manifestada na história não é mais do que o reflexo de uma paternidade mais
profunda pertencente à própria vida de Deus.
A PALAVRA: pode ter três sentidos: como palavra de instrução ao povo (por exemplo, as 10 palavras), com validade
para todas as gerações (a maior ou menor fidelidade a essa palavra depende a vida ou a morte do povo); como palavra
profética, para aquele preciso momento histórico; e como palavra do Criador, palavra criadora (cfr. Gen 1,19.24), a
Sua chamada, o Seu falar, é ao mesmo tempo a força que determina o ser e o mantém; «Assim como a chuva e a neve
descem do céu, e não voltam mais para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar,para que
dê semente ao semeador e pão para comer, o mesmo sucede à palavra que sai da minha boca: não voltará para mim
vazia, sem ter realizado a minha vontade sem cumprir a sua missão». (Is 55, 10-12); esta palavra de Deus está
intimamente relacionada com a vontade do Deus que fala, pelo que a palavra de Deus destaca tanto a transcendência
como a imanência de Deus; a palavra vai ganhando um carácter de hipóstase, ou seja de pessoa.
3 - Preparação da revelação
da Trindade no AT
A SABEDORIA. Nos livros sapienciais a palavra é identificada com a sabedoria
de Deus Pai, que está com Ele antes do princípio de todas as coisas criadas.
Essa palavra ou sabedoria aparece descrita como gerada antes da criação (Prov
8, 22), como falante e pré-existente ao mundo (Ecli 24, 14), como dotada de
vida e amor e cheia de dons (Sab 7, 22ss). Contudo, os textos não chegam
nunca a afirmar uma realidade pessoal diferente do Pai, mas a personificação
de algum atributo de Deus; mas, a sabedoria vai ganhando um carácter de
hipóstase, de pessoa Será Cristo que, ao dar-nos a conhecer a Sua divindade,
nos fará reler estes textos projectando sobre eles uma nova luz;
ESPÍRITO. Do espírto (ruah) fala-se desde o versículo segundo do Génesis como força criadora e
suscitadora de vida. Deus opera por Seu espírito, pela sua virtude e opera tanto na vida física (Gen 1,2),
como na vida religiosa. A ele se atribui sempre o que fazem os chefes do povo ou o seu entusiasmo em
levar em frente os projectos traçados (cfr. Jdt 3, 10, etc.). Alguns recebem o dom de Deus como uma
espécie de espírito permanente e que lhes dá força e os mantem sempre fiéis e firmes na sua missão,
como o caso de José, Moisés, Josué, David, Eliseu, etc. Também a vida moral recebe a sua força através
desse espírito; dele se diz que será derramado para restaurar a ordem moral com esse coração novo que,
na era messiânica, será dado ao povo (cfr. Is 32,15; Jer 31,31-34; Ez 25,27). O Messias estará cheio
desse espírito e o espírito será derramado no tempo messiânico. Em todos estes textos encontra-se a
virtude misteriosa e oculta e potente de Deus, mas sem revelar-nos, ainda, a Terceira Pessoa da
Trindade.
Anjo de Javé: por vezes o enviado não se distingue claramente do Senhor, por exemplo em Gn 31, 11.13:
E «um enviado do SENHOR disse-me em sonho: ‘Jacob!‘ ao que respondi: ‘Eis-me aqui.‘ Ele continuou:
‘Levanta os olhos e vê; todos os animais que fecundam o gado são listrados, malhados e com manchas,
porque Eu vi o que Labão te fez. Eu sou o Deus de Betel, onde ergueste e consagraste um monumento,
onde pronunciaste um voto em minha honra. Agora levanta-te, sai deste país e regressa à terra em que
nasceste.‘»
4. Deus é Trino: Revelação da
Trindade no Novo Testamento
4.1 - O Filho é Deus
Este tema já foi tratado no EFC anterior (Jesus Cristo, verdadeiro Deus e
verdadeiro Homem). Apresentaremos, por isso, apenas alguns aspectos…
JESUS, O FILHO, REVELA O PAI
Jesus chama a Deus Pai: “Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus”
(Mt 5,45);
“Sede vós perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito” (Mt 5,48); “Ora a teu Pai,
que está no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa” (Mt 6,6);…
Jesus revela que Deus é seu Pai: “Tudo me entregou o meu Pai, e ninguém conhece o
Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o
quiser revelar” (Mt 11, 27).
Jesus identifica-se com o Pai: “Pois como o Pai tem a vida em si
mesmo, assim deu ao Filho ter vida em si mesmo” (Jo 5, 26); “Eu e o
Pai somos um” (Jo 10, 30); etc.
Jesus chama a Deus “Abba”, “meu Pai”: no Getsemani (Mc 14,
36); “Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho para que o teu Filho
te glorifique” (Jo 17, 1); “Vinde, benditos de meu Pai” (Mt 25, 34);
“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”
(Lc 23, 46);
etc. Jesus distingue: “Subo ao meu Pai e vosso Pai, meu Deus e
vosso Deus” (Jo 20, 17) (Deus não é “nosso Pai” da mesma forma que
o é de Jesus).
4.1 - O Filho é Deus
Os textos já vistos, ao revelar a paternidade de Deus também estão a revelar
a filiação divina de Jesus. Vejamos outras expressões de Jesus e palavras dos
seus discípulos que confessam a divindade de Jesus.
O FILHO É DEUS
No Templo, aos 12 anos, Jesus manifesta a sua divindade:
“Porque me buscáveis? Não sabíeis que é necessário que eu
esteja nas coisas de meu Pai?” (Lc 2, 49).
Jesus chama-se a si próprio “Filho do Homem”, título do Messias apresentado com atributos
divinos em Dan 7, 13-14 (“A ele se deu domínio, honra e reino. E todos os povos, nações e
línguas o servirão. O seu domínio é um domínio eterno que não passará; e o seu reino não
será destruído”). Exemplos: com Nicodemos (Jo 3, 1-21), com Zaqueu (Lc 19, 1-10), quando
anuncia a sua paixão, morte e Ressurreição (Mc 8, 31-33), quando cura um paralítico em
Cafarnaúm (Mc 2,1-12), perante o tribunal de Caifás (Mc 14, 53-64).
Jesus manifesta a sua preexistência divina ou eternidade utilizando o nome “Eu sou”
revelado a Moisés no monte Horeb. Por exemplo: “‘Eu sou’ a luz do mundo” (Jo 8, 12);
“Se não credes que ‘Eu sou’, morrereis nos vossos pecados” (Jo 8, 24); “Quando
tenhais levantado o Filho do Homem, então conhecereis que ‘Eu sou’” (Jo 8, 28); “antes
de que Abraão nascesse, ‘Eu sou’” (Jo 8, 58); “Desde agora vo-lo digo, antes que
suceda, para que, quando suceder, acrediteis que ‘Eu sou’” (Jo 13, 19).
4.1 - O Filho é Deus
Os seus ouvintes entenderam que afirmava de si mesmo que era Deus (ex.: Jo
5, 18).
O Pai confirma a divindade de Jesus no seu Baptismo e
na sua Transfiguração.
Os discípulos proclamam a divindade de Jesus. Por
exemplo quando caminha sobre as águas dizem:
“Realmente és o Filho de Deus” (Mt 14, 33); ou a
confissão de São Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho de
Deus vivo” (Mt 16, 16); ou a de S. Tomé: “Meu
Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28).
A filiação divina de Jesus está no começo e no centro
da pregação apostólica após e Páscoa: proclamam a
Jesus como Filho de Deus. Exemplos: “O Verbo era
Deus” (Jo 1, 1); S. João precisa que escreveu o seu
Evangelho “para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o
Filho de Deus” (Jo 20, 31); Cristo é “Deus bendito
pelos séculos” (Rom 3, 5); “N’Ele habita toda a
plenitude da divindade corporalmente” (Col 2, 9).
4.2 - O Espírito Santo é Deus
1) O ESPÍRITO SANTO É UM SER PESSOAL: uma força
impessoal como a electricidade, água, energia nuclear, etc., não pode
desenvolver actividades próprias de seres dotados de personalidade. É o
que vamos ver…
O Espírito Santo ensina e recorda: «mas o Paráclito, o Espírito
Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e
há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» (Jo 14, 26)
O Espírito Santo dá testemunho. «Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que
procede do Pai, e que Eu vos hei-de enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu
favor» (Jo 15, 26)
O Espírito Santo glorifica. «Ele há-de manifestar a
O Espírito Santo guia à
Verdade. «Quando Ele
vier, o Espírito da Verdade,
há-de guiar-vos para a
Verdade completa. Ele não
falará por si próprio, mas
há-de dar-vos a conhecer
quanto ouvir e anunciar-vos
o que há-de vir». (Jo 16,
13)
minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a
conhecer» (Jo 16, 14)
O Espírito Santo dirige a Evangelização. Paulo e Silas
atravessaram a Frígia e o território da Galácia, pois o
Espírito Santo impediu-os de anunciar a Palavra na Ásia.
(Act 16, 6)
O Espírito Santo conduz. De facto, todos os que se
deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus.
(Rom 8, 14)
4.2 - O Espírito Santo é Deus
O Espírito Santo intercede. assim que também o Espírito vem
em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de
pedir, para rezarmos como deve ser; mas o próprio Espírito
intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que examina os
corações conhece as intenções do Espírito, porque é de acordo com
Deus que o Espírito intercede pelos santos. (Rom 8, 26-27).
O Espírito Santo envia. Enviados, pois, pelo Espírito Santo,
Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e ali meteram-se num barco,
rumo à ilha de Chipre. (Act 13, 4)
O Espírito Santo toma decisões no seio da Igreja. O
Todos
ficaram
cheios do Espírito
Santo e começaram
a
falar
novas
línguas. (Act 2, 4)
Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras
obrigações além destas, que são indispensáveis: (Act 15, 28)
O Espírito Santo provoca a profecia. Nesses dias, uns
profetas desceram de Jerusalém a Antioquia. Um deles, chamado
Agabo, ergueu-se e, sob a inspiração do Espírito, predisse que
haveria uma grande fome por toda a terra. Foi a que sobreveio no
reinado de Cláudio. (Act 11, 27-28)
O Espírito Santo ordena. Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a
jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os
chamei.»(Act 13, 2)
4.2 - O Espírito Santo é Deus
Pode-se resistir ao Espírito Santo. Homens de cerviz dura, incircuncisos de coração e
de ouvidos, sempre vos opondes ao Espírito Santo; como foram os vossos pais, assim sois
vós também. (Act 7, 51)
O Espírito Santo dá dons. cada um é dada a manifestação do
O Espírito Santo
revela.
Tinha-lhe
sido
revelado
pelo
Espírito Santo que não
morreria antes de ter
visto o Messias do
Senhor. (Lc 2, 26)
Espírito, para proveito comum. A um é dada, pela acção do
Espírito, uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de
ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro, a fé, no mesmo
Espírito; a outro, o dom das curas, no único Espírito; a outro, o
poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o
discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a
outro, por fim, a interpretação das línguas. Tudo isto, porém, o
realiza o único e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um,
conforme lhe apraz. (1 Cor 12, 7-11)
O Espírito Santo pronuncia frases com sentido. O Espírito
disse
a
(Act 8, 29)
Filipe:
«Vai
e
Destes exemplos, conclui-se
que o Espírito Santo é um ser
pessoal…
acompanha
aquele
MAS SERÁ
QUE ESSA
PESSOA É
DEUS?
carro.»
4.2 - O Espírito Santo é Deus
2) O
ESPÍRITO
SANTO É
DEUS:
Mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus.
Então Pedro perguntou-lhe:
«Ananias, porque é que Satanás invadiu o teu coração, a ponto de te levar a mentir ao
Espírito Santo e subtraíres uma parte do preço do terreno? 4Não podias tu conservá-lo
sem o vender? E, depois de o teres vendido, não podias dispor livremente do valor em
teu poder? Como pudeste conceber semelhante plano no teu coração? Não foi aos
homens que tu mentiste, mas a Deus.» (Act 5, 3-4)
Só o Espírito conhece as coisas de Deus.
Quem, de entre os homens, conhece o que há no
homem, senão o espírito do homem que nele habita? Assim também, as coisas que são de Deus, ninguém as
conhece, a não ser o Espírito de Deus.(1 Cor 2, 11)
Porque o Espírito Santo é Deus pode-se blasfemar contra Ele.
mas, quem blasfemar
contra o Espírito Santo, nunca mais terá perdão: é réu de pecado eterno.» (Mc 3, 29).
O Espírito Santo é Javé.
liberdade». (2 Cor 3, 17)
«Ora, o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor, aí está a
O Espírito Santo é o mesmo Javé que falou no Antigo Testamento.
Estando em
desacordo uns com os outros, começaram a separar-se. Paulo apenas disse estas palavras: «Com razão falou o
Espírito
Santo
a
vossos
pais,
pela
boca
do
profeta
Isaías,
dizendo:
26Vai ter com esse povo e diz-lhe: Ouvireis com os vossos ouvidos, mas não compreendereis; vereis com os vossos
olhos, mas não percebereis. (Act 28, 25-26). Cita Isaías 6, 8-9, em quem fala é Javé. Por isso, como diz o Espírito
Santo: Hoje, se escutardes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como no tempo da revolta, no dia da
tentação no deserto, quando os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, depois de verem as minhas obras,
durante quarenta anos. Por isso me indignei contra esta geração e disse: 'Erram sempre no seu coração; não
conheceram os meus caminhos.‘ Assim, jurei na minha ira: 'Não entrarão no meu repouso.'(Hb 3, 7-11); reproduz o
Salmo 95, 7-11, em que fala Javé.
4.2 - O Espírito Santo é Deus
Há numerosos textos indicando que o Espírito Santo é Pessoa divina,
especialmente durante a última Ceia. Exemplos: “Eu rogarei ao Pai que vos
dará outro Paráclito... o Espírito da Verdade” (Jo 14, 16); “O Paráclito, o
Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará tudo” (Jo 14,
26); “Quando venha o Paráclito que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito
da Verdade que procede do Pai, Ele dará testemunho de mim” (Jo 15, 26).
Numerosos textos se referem à acção do Espírito Santo a respeito de Cristo. Exemplos: Lc 1, 35
(Anunciação); Mt 1, 18 (Maria “tinha concebido no seu seio por obra do Espírito Santo”); Lc 3, 21-22
(Baptismo de Jesus); Lc 4, 14 (Jesus move-se “por impulso do Espírito Santo”); Lc 4, 1 (estava “cheio do
Espírito Santo”); Lc 4, 18-30 (em Nazaré aplica-se o texto de Is 61, 1-2: “O Espírito do Senhor está
sobre mim”); etc.
3) O ESPÍRITO PROMETIDO:
O Espírito Aparece já no AT em Gn 1, 2
aparece a palavra “espírito” (“o Espírito de Deus andava sobre a superfície das águas”).
Mais tarde, com os profetas aparece como um anúncio, de que virá quando o Messias se
manifestar; em S. João vemos Jesus a prometer o Espírito: I PROMESSA: Jo 14, 1617: Anúncio da vinda do Consolador; II PROMESSA: Jo 14, 25-26: Espírito que recorda
e ensina..; III PROMESSA: Jo 15, 26-27: …dá testemunho e certifica a fé…; IV
PROMESSA: Jo 16, 7-87: …garante a inocência de Jesus…; V PROMESSA: Jo 16, 1215: …garante a eficácia da palavra de Jesus.
4) O ESPÍRITO PROCEDE DO PAI E DO FILHO:
No NT aparecem vários nomes concretos.
Exemplos: “o Espírito do Pai” (Mt 10, 20; 1 Cor 2, 11; Jo 15, 26); “o Espírito do Filho” (Gal 4, 6); “o
Espírito de Jesus” (Act 16, 7). Indicam que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. O Paráclito
prometido é enviado no Pentecostes.
4.3 - Deus é Trino
Pelas Escrituras vimos que Deus é Único, somos monoteístas; mas depois de
vermos que Jesus Cristo revela o Pai, que é o Deus revelado no Antigo
Testamento; que Jesus Cristo, é o Filho e também é Deus; e que o Espírito
Santo também é Deus; temos a concluir que Deus é só um, mas é três pessoas:
Pai, Filho, Espírito Santo; cada uma das pessoas é Deus; contudo, não são três
deuses, mas um só Deus. DEUS É UNO E TRINO.
Resta-nos ver no NT, de uma forma muito breve, algumas passagens onde se nota
mais claramente a acção conjunta das Três Pessoas.
Fórmulas trinitárias do NT: Lc 1, 30-35: Anunciação; Mt 3, 13; Mc 1, 10; Lc
3, 22: Baptismo de Nosso Senhor. Mt 17, 1-13; Mc 9, 1-12; Lc 9, 28-39:
Transfiguração. Jo 14, 16.26: Promessa do Paráclito (“Eu pedirei ao Pai e Ele
vos enviará outro Paráclito (...). O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará
em meu nome, vos ensinará tudo”). Mt 28, 19: Fórmula baptismal (“Ide e
ensinai a todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo”).
Revelação da Santíssima Trindade nos escritos apostólicos. 2 Cor 13, 13: “A
graça de Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus e a comunicação do Espírito
Santo estejam com todos vós”. Ef 1, 3-13: “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso
Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou em Cristo com toda a bênção espiritual
dos céus (...). Por Ele também vós (...) fostes marcados pelo Espírito Santo
prometido”. Gal 4, 6: “E dado que sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o
Espírito de seu Filho que clama: ‘Abbá, Pai!”. 1 P 1, 2: “Eleitos segundo a
presciência de Deus Pai, e santificados pelo Espírito, para prestarem obediência
a Jesus Cristo”.
5. Bibliografia recomendada
(EFC 12)