Economia e Política das Finanças Públicas no Brasil Eduardo Enrique Marco Antônio Raquel Reinaldo Alessandra Leonardo Lorena Tatiana Cristina Rafael Vanete Estado e produção de bens públicos no pensamento econômico Introdução Análise da evolução do papel do Estado ao longo das fases marcantes do capitalismo; Mudanças que ocorreram em suas formas de atuação; A visão marxista sobre o papel do Estado; Balanço das posições teóricas sobre o Estado; Evolução do Estado na economia brasileira. O Estado no Mercantilismo Acumulação primitiva de capital; Predomínio do capital mercantil sobre o industrial; Riqueza: interesse dos mercadores e do Estado (receitas para formar exércitos); Condições para produção da riqueza: Desenvolvimento das atividades exportadoras; Aumento do mercado de trabalho; Implementação de políticas voltadas para o desenvolvimento do comércio e da manufatura; Integração do mercado nacional. Estado forte, necessário a construção das bases do capitalismo. O Estado no capitalismo concorrencial Oposição ao absolutismo; Desenvolvimento do capitalismo; Explicação mecânica do mundo; Teoria clássica (Smith, Ricardo, Mill); Equilíbrio natural; Mão invisível; Lei de Say; Teoria neoclássica (Walras, Jevons, Menger, Marshall, Fisher); Princípio marginal; Ótimo de Pareto; Exceção a atuação do Estado: bens públicos. O Estado no Capitalismo Monopolista Contextualização A monopolização crescente do capital, tendo em vista o surgimento de grandes empresas oligopólicas em condições de impor seus preços e de assegurar suas fatias de mercado; Os mecanismos de mercado que asseguravam, no capitalismo concorrencial, a solução dos conflitos através da igualação da taxa de lucros, não eram eficazes no capitalismo monopolista que se instaura; Crise econômica de 1929 – queda nos níveis de renda emprego; Incapacidade do mercado de retirar o capitalismo da crise em que mergulhou na década de 1930; Necessidade de construção/consolidação do Estado do bem-estar no mundo capitalista – welfare state -, tendo em vista o temor, encerrada a Segunda Guerra Mundial, de que o comunismo soviético poderia se alastrar pela Europa; Pressupostos de atuação Implementação de políticas econômicas que garantissem a reprodução do modelo econômico capitalista, investindo-se de competências para atuar em áreas que não interessavam ao setor privado, mas que garantiriam a continuidade do processo de acumulação (bens meritórios – externalidades); Acomodar as tensões sociais que poderiam colocar em risco a reprodução do sistema capitalista, através da proposição de políticas econômicas que estabelecessem um equilíbrio de compromissos entre as classes sociais (welfare state). Teoria Keynesiana Desmontou os principais pilares em que se assentava a teoria neoclássica, como a Lei dos Mercados de Say, a concepção walrasiana sobre o mercado de trabalho e o mito do orçamento equilibrado; Defende a realização de investimentos públicos para atenuar as flutuações cíclicas do capitalismo e para viabilizar uma política de pleno emprego. Ampliação dos papéis do Estado: as funções distributiva e estabilizadora A função distributiva decorre do reconhecimento de ser o mercado incapaz de conduzir a sociedade a uma estrutura de distribuição de renda que seja considerada justa ou eqüitativa capaz de manter a reprodução do sistema econômico. Foi para corrigir essas falhas do mercado que se passou a atribuir ao Estado, ainda que isso significasse reduzir a eficiência do sistema, o papel de intervir para melhorar a estrutura da distribuição da renda e da riqueza, especialmente através do manejo dos instrumentos de política fiscal. Bens meritórios - Diferentemente dos bem públicos puros, apresentam características semelhantes aos bens privados, como as de serem divisíveis para o consumo individual, obedecerem ao princípio da exclusão e tratarem-se de consumo rival. É o caso, por exemplo, dos serviços de saúde, educação, saneamento. Ampliação dos papéis do Estado: as funções distributiva e estabilizadora A função estabilizadora serve de instrumento para atenuar flutuações dos níveis de emprego e preços, possibilitando à economia caminhar em uma trajetória onde se combinam os objetivos de pleno emprego dos fatores produtivos e de estabilidade monetária (políticas fiscais, monetárias, etc..). A reação ao Estado keynesiano – teoria monetarista Para teoria monetarista o mundo econômico funciona de forma harmoniosa, com os mecanismos de mercado garantindo a plena utilização dos fatores produtivos e a inexistência de desemprego de caráter involuntário. A acomodação do sistema aos movimentos cíclicos da economia é garantida por uma “taxa natural de desemprego. Admite-se, apenas, a existência do desemprego voluntário e friccional. (modelo da curva de Phillips). A reação ao Estado keynesiano – teoria monetarista Pressupostos: Políticas econômicas expansionistas alteram e afetam, no curto prazo, a economia real e mudam o curso da “taxa natural de desemprego”, induzindo os agentes econômicos a cometerem erros de avaliação, diante da elevação dos salários; No longo prazo, quando esses erros são corrigidos, por um processo de ajustamento das expectativas, retorna-se às condições de equilíbrio da economia (e do mercado trabalho), abortando-se a expansão econômica produzida por este movimento; Apesar de inócuo, no longo prazo, para a ampliação da renda e do emprego, este movimento deixa seqüelas para o quadro macroeconômico, já que a inflação se acelera nos períodos seguintes, pois seu aumento no ano, e também a fração do erro das expectativas incorporam-se ao cálculo das previsões feitas pelos agentes econômicos sobre a inflação futura; A reação ao Estado keynesiano – teoria monetarista Pressupostos: Neste caso, recomenda-se ao governo evitar a aventura de incorrer em déficit público para implementar políticas expansionistas e manter um rígido controle sobre a oferta de moeda, pois, ao fim e ao cabo, é esta que explica e sanciona, no longo prazo, o fenômeno inflacionário. O Estado no Capitalismo Mundializado Crise da teoria Keynesiana da década de 1970. Retorno das idéias liberais Estado volta a ser taxado de ineficiente Globalização Exigência de abertura econômica Eficiência produtiva Surgimento de teorias antiestado Teoria da Regulação Não favorece o interesse público Protege interesses da indústria e regulados Reguladores querem apoio político Regulados: protegerem-se de concorrência; vantagens econômicas; estabelecimento mais favorável de preços. Teoria das Expectativas Racionais Acrescentam a teoria monetarista, corrigindo erros sistemáticos da previsão de inflação Inflação é processo monetário; Respostas rápidas pautada em dados atuais Não necessidade de base teórica Teoria da Escolha Pública Estado é SEMPRE sinônimo de ineficiência, mesmo para corrigir falhas do mercado Escolhas democráticas se assemelham às trocas econômicas, contudo, meio político é falho, mercado não. Elevados déficits = ineficiência Estado pode incorrer em mais falhas Nada garante que o Estado obterá êxito em sua intervenção Estado mínimo Políticos querem votos e burocratas prestígio e salários, assim ineficiência na alocação de recursos = perdas para o sistema Objetivo da escolha pública: estabelecer limites para o Estado O Estado é mais ineficiente que o mercado. O Estado não precisa nem agir, basta dizer que vai agir: rent seeking Objetivo da Teoria rente seeking: Desvendar como grupos investem para obter aumento em riqueza/renda; Maximizar os benefícios de novas mudanças políticas Agentes buscam riqueza – Ação/ intervenção – espaço orçamentário A sociedade como um todo perde: Envolve custos; Gera renda monopólicas; Desperdício de recursos (lobbies, campanhas, etc..) Teoria de Resgate do Estado Comportado Crises: enfraquecimento do Estado Melhorias: fortalecimento do Estado Conclusão: ajustar o Estado para ser mais eficiente Propostas de Segunda Geração: Neo-institucionalismo: reconstruir e fortalecer para tornar mais ágil, eficiente e capaz de contribuir para o funcionamento dos “mercados livres” e concorrência Nova Economia Política: admite resultados diferentes do ótimo de Pareio; trade-off entre eficiência, equidade e democracia; novo sistema regulatório pra garantir competitividade e inovação. Para continuar convivendo com o mercado: Responsabilidade fiscal (evitar déficits públicos) Manter o equilíbrio patrimonial a qualquer custo Crise atual põem em xeque a teoria A visão marxista do Estado A visão marxista do Estado Os marxistas consideram a resistência do pensamento dominante em incluir as relações de classe e as necessidades históricas para a reprodução do sistema, na análise do papel do Estado no desenvolvimento do capitalismo, como causa da falta de consenso sobre este papel A visão marxista do Estado Segundo Paschukanis "... numa formação social capitalista é preciso que a exploração e a reprodução das classes não se efetuem diretamente pela utilização física da violência, mas através da própria reprodução das relações de produção, regida pela lei do valor." Essa tende a ser transferida para uma força externa ao processo – o Estado A visão marxista do Estado Segundo Carnoy o Estado é “um campo de batalha”, um local de lutas de classes mais do que um local de organização do poder da classe dominante Para Hirsch, a tendência decrescente da taxa de lucro representa uma condensação das contradições inerentes à acumulação capitalista e a necessidade do Estado surge exatamente para desenvolver contra tendências A visão marxista do Estado Para O’Connor "... o Estado capitalista tem de tentar desempenhar duas funções básicas: as de acumulação e legitimação, que são, muitas vezes, contraditórias.” A visão marxista do Estado A função acumulação papel de assegurar a valorização do capital, garantindo-lhe lucratividade destinação de parte de seus investimentos em capital social – infra-estrutura, transporte, desemprego, P&D, etc.. - que aumenta indiretamente o lucro do capital A visão marxista do Estado A função legitimação deriva da necessidade de se obter consenso e o apoio das classes sociais às ações do Estado O Estado deve destinar recursos de seu orçamento para assegurar a reprodução material da classe dominada O’Connor classifica os recursos destinados à essa finalidade como Despesas Sociais – gastos previdenciários e programas contra a pobreza A visão marxista do Estado Justificativa da intervenção do Estado na economia vertente ortodoxa - a partir das falhas do mercado vertente marxista – papel determinado pela necessidade posta pela acumulação de capital e do estágio das relações de classe Um balanço das posições teóricas sobre o Estado Base teórica Estado no Mercantilismo Estado no Capitalismo Concorrencial Estado no Capitalismo Monopolista Estado no Capitalismo Mundializado Visão marxista do Estado Séc. XV ao XVIII Sec. XVIII ao XIX Séc. XIX ao XX Séc. XX - ABSOLUTISMO MERCANTILISTA LIBERALISMO CLÁSSICO (LAISSEZFAIRE) NEOCLASSICISMO (até década de 30) NEOLIBERALISMO MARXISMOLENINISMO MAXIMIZAR A EFICIÊNCIA DA ECONOMIA GLOBAL ACUMULAÇÃO ESTADO MÍNIMO/ GERENCIAL DISPUTA DO CAPITAL PELA HEGEMONIA DO ESTADO KEYNESIANISMO (1930-80) Objetivos CRIAR AS BASES DO CAPITALISMO GARANTIR A AUTOREGULAÇÃO DO MERCADO EXPANSÃO IMPERIALISTA (até a I Guerra Mundial) LEGITIMAÇÃO IMPEDIR O COLAPSO DO SISTEMA CAPITALISTA Meios LIQUIDAÇÃO DO FEUDALISMO EXPANSÃO COMERCIAL CONSOLIDAÇÃO DA SOBERANIA ACUMULAÇÃO PRIMITIVA DE CAPITAL PROVIMENTO DE CONDIÇÕES EXTERNAS DE REPRODUÇÃO DO SISTEMA (SEGURANÇA, DEFESA, JUSTIÇA) CORREÇÃO DAS FALHAS DE MERCADO (ALOCAÇÃO DE BENS COLETIVOS) REGULAÇÃO DOS AGENTES ECONÔMICOS ESTABILIZAÇÃO REDISTRIBUIÇÃO (WELFARE STATE) DESREGULAMENTAÇÃO, PRIVATIZAÇÃO, ABERTURA DA ECONOMIA, REFORMAS, AJUSTES. PARADIGMA LOGÍSTICO REPRODUÇÃO DO CAPITAL CONTROLE POLÍTICO DA DOMINAÇÃO Um balanço das posições teóricas sobre o Estado • Os movimentos pendulares de introdução e saída do Estado da economia se dão em função da necessidade de garantir a sobrevivência do sistema capitalista quando seus agentes extravasam os limites de equilíbrio do sistema, como em 1929 e 2008. Ao assumir a tarefa de salvar o sistema, o Estado se sobrecarrega financeiramente, trazendo para si funções amplas e dispendiosas. • Ao estabilizar as condições de reprodução autônoma do capital e normalizar o desequilíbrio, entretanto, o capital investe novamente suas baterias contra o Estado. Cria-se falsa oposição entre Estado e capital que nega a importância das funções de alocação, distribuição e estabilização do poder público na sociedade. O divórcio explicaria a sucessão de períodos de prosperidade e crise na história do capitalismo. • Estado e mercado devem caminhar juntos. Sempre que este dispensa aquele surgem inevitáveis problemas de governabilidade, crises sistêmicas e aprofundamento das desigualdades. Estado sem mercado também é uma combinação ruinosa. A sociedade tem um papel crucial na construção de um capitalismo democrático e sustentável. Só o futuro dirá quais os novos arranjos que surgirão após a conjuntura que atualmente se atravessa. O Estado na economia brasileira IMPÉRIO (1822-1889) Estado monárquico e centralizado. Constituição de 1824 (outorgada) - Poder Moderador Objetivos: garantir a legitimidade e a unidade política do novo país, manutenção da ordem escravista e da economia agrário-exportadora (café, borracha, cana-de-açúcar, fumo etc.). Meios: institucionalização político-administrativa, política externa, política comercial, imigração, modernização dos transportes. O Estado na economia brasileira República Velha (1889-1930) Estado liberal e descentralizado Constituição de 1891 (promulgada) - federalismo Objetivos: combater o centralismo político, garantir a autonomia dos Estados na condução das atividades produtivas e defender os interesses dos setores hegemônicos. Meios: manejo da atividade econômica (política cambial), política comercial ativa, obras públicas (reforma urbana e portuária do Rio de Janeiro, ferrovias etc.), política externa de Rio Branco. Mecanismos de financiamento: tributação e dívida pública O Estado na economia brasileira Era Desenvolvimentista – Fase I Governo Vargas (1930-1945) Estado autoritário e intervencionista na ordem econômico-social Constituições de 1934 (promulgada) e 1937 (outorgada) Objetivos: industrialização, segurança nacional, combate às oligarquias dos estados, contenção da infiltração ideológica, incorporação das massas pela tutela estatal Meios: avanço e consolidação das instituições estatais, indústria de base e políticas públicas (trabalhista, educacional, etc.) Mecanismos de financiamento: base tributária ainda estreita, centralização da política econômica no governo central, criação de empresas públicas etc.. O Estado na economia brasileira Era Desenvolvimentista – Fase II República Liberal (1945-1964) Estado democrático, populista e intervencionista Constituição de 1946 (promulgada) Objetivos: manutenção e aprofundamento das conquistas varguistas com livre mercado e ordem política democrática e descentralizada; Meios: avanço da substituição de importações, ampliação dos investimentos, planejamento estatal, expansão da rede urbana; Mecanismos de financiamento: aumento do déficit e dívida, investimentos externos, inflação. O Estado na economia brasileira Era Desenvolvimentista – Fase III Regime Militar e redemocratização (1964-1989) Estado de segurança nacional autoritário, centralizador e altamente intervencionista Constituição de 1967/1969 e atos institucionais Objetivos: contenção do comunismo, reorganização políticoeconômico-social, crescimento econômico, Brasil-potência Meios: reformas estruturais e institucionais (tributária, administrativa, financeira, previdenciária, aumento da eficiência e capacidade de investimento, ampliação de investimentos estatais Mecanismos de financiamento: elevação da carga tributária e dos gastos públicos, maior endividamento externo. O Estado na economia brasileira Globalização, Neoliberalismo e Crise Fiscal (1990-2009) Estado democrático e federal Constituição de 1988 e emendas constitucionais após 1995 Objetivos: superar o paradigma desenvolvimentista, fortalecimento do mercado, retirada do Estado das atividades econômicas, inserção na economia globalizada, consolidar uma democracia de massas. Meios: privatizações, desregulamentações, desmantelamento de políticas, enxugamento da máquina pública, ajuste fiscal, quebra de monopólios de empresas públicas, renegociação da dívida. Mecanismos de financiamento: elevação da carga tributária, contenção de gastos, aumento do serviço da dívida..