UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DISCIPLINA : TEORIA SOCIOLÓGICA I PROF. ARY CESAR MINELLA GRADUANDOS: Filipe Minelli José Antonio Martins Prestes Pedro Kirchhof Marchioro Ula Ka Comuna de Paris ( 28 de março de 1871) (28 de maio de 1871) A 26 de março foi eleita e a 28 proclamada a Comuna De Paris. O comitê Central da Guarda Nacional , que até então havia exercido o poder renunciou em favor da Comuna. “A primeira revolução socialista da história; Primeiro governo socialista da história”. K. Marx. “A comuna foi uma revolução, foi o ressurgimento da vida social do povo, realizada pelo povo, foi uma revolta contra o poder executivo e as formas parlamentares” K. Marx. “A comuna foi uma negação bem audaciosa, bem clara, do estado e a exaltação da ação espontânea e comum das massas, dos grupos de associações populares, porque as massas têm evidentemente o extinto socialista” Bakounin As circunstâncias A França que antecede a Comuna de Paris é a França do II Império de Napoleão III, um regime gestado após a derrota operária de 1848, um país que durante duas décadas, viveu submisso ao bonapartismo (1852-1870), e sua política externa imperialista; Após a derrota que sofre no México, Luis Bonaparte é derrotado pela Prússia de Bismark, que intencionava expandir seu domínio continental; A 4 de setembro de 1870 a França proclama a república, formando um governo provisório, chefiado pelo General Monarquista Trochu, que pretendia garantir a soberania do país; O governo entrega armas ao povo – que se junta á Guarda Nacional - para que este possa ajudar a expulsar os prussianos de seu território; O ingresso voluntário de operários na Guarda Nacional é um fator determinante para a Comuna de Paris; A 27 de outubro as forças estatais é derrotada e Trochu inicia negociações secretas para entregar Paris aos invasores; Em 31 de outubro, após descobrirem os planos de Trochu, alguns operários e um batalhão da Guarda Nacional, tentam destituí-lo e são severamente combatidos e aprisionados, esse fato gera uma onda de repressão e violência contra a população; Após ser dominada, a França foi obrigada a pagar indenização de guerra á Prússia, e ainda ceder os territórios da Alsácia e da Lorena aos invasores, além de ser obrigada a convocar uma nova eleição e eleger um novo governo; O novo governo foi eleito entre a classe conservadora rural francesa e teria como prioridade desarmar as massas revoltosas e pacificar Paris; Ao tomar conhecimento das intenções do novo governo, liderado por Thiers, populares, operários e a guarda nacional, juntam-se com soldados desobedientes ao regime e aos gritos de “Viva a república” decretam em Paris um governo do povo e para o povo. O contexto A Paris de 1871 beirava o caos, tinha cerca de 2 milhões de habitantes, em sua grande maioria vivendo sem as condições mínimas de saúde e habitação, numa cidade onde o fluxo de migração e de crescimento desordenado provocava surtos de desempregos, miséria e fome. Jornadas de trabalhos de 15 a 16 horas por dia; Trabalho feminino e infantil indiscriminadamente; Iniciava-se a formação de uma classe operária concentrada nas grandes fábricas e em algumas regiões francesas, porém, a pequena indústria e o artesanato eram numericamente predominantes e a França ainda era um país rural; A indústria era dominada por grandes impérios nos setores metalúrgico, siderúrgico, têxtil e químico, com a conseqüente concentração operária; A concentração da propriedade rural, as reformas urbanas e o processo de industrialização crescente, produziam um rápido e brutal movimento migratório; O número de operários crescia numa relação inversa ao número de patrões, de 1 para 5 em 1847 para 1 para 14 em 1872. Os agentes Operários (as); Profissionais liberais; Pequenos proprietários. Lojistas; Artesãos A guarda Nacional Os Communards Os embriões e as influências A revolução de 1830, uma revolução burguesa liberal, que contou com o povo de Paris e com sociedades secretas republicanas, destituiu Carlos X (absolutista), e colocou no poder, Luis Felipe de Orleans , o "Rei Burguês“ - monarca constitucionalista e liberal. Ao verificar-se a crise entre o governo e a oposição, os operários deram início á luta nas ruas. As revoltas populares sucediam-se a tal ponto que a própria Guarda Nacional acabou por apoiá-las, juntando-se aos operários e aos pequenos burgueses revolucionários. Luis Felipe desapareceu, instalou-se então a chamada “República Social”. Os operários acabaram com isso conquistando, além de armas, muita autonomia política. Logo que assumiram o poder, os burgueses republicanos tentaram desarmar os operários provocando um banho de sangue. Sem condições de continuar no poder, a burguesia sede lugar a Carlos Luís Napoleão Bonaparte Napoleão III - inicia-se então o II império. Ao tentar anexar uma parte do território da Prússia, Napoleão é derrotado por Bismark. A França é ocupada, perde os territórios da Lorena e da Alsácia e é condenada a pagar indenizações de guerra. Na tentativa de expulsar os invasores, o novo Governo de Defesa Nacional, liderado por Trochu, convoca e arma os cidadãos parisienses - em sua maioria operários - a comporem e lutarem com a Gurada Nacional. Mesmo depois da rendição de todas as forças estatais Francesas e de Paris estar sitiada, os operários parisienses exigiam a continuidade da luta, porém, o novo governo Francês, Liderado por Thiers e instalado em Versalhes, exigia a rendição completa. A 26 de março foi eleita e a 28 foi proclamada a Comuna de Paris. O Comitê Central de Guarda Nacional, que até então tinha exercido o poder, renuncia em favor da Comuna. As influências A primeira internacional Proudhonismo: Crítica á organização econômica, governamental e educacional, sua proposta básica era a criação de cooperativas de produção. Blanquismo: Pensamento predominante na guarda nacional, concebia que a revolução socialista deveria ser realizada por um grupo relativamente pequeno de conspiradores altamente organizados . Após tomar o poder, os revolucionários deveriam usar Estado para introduzir o socialismoi ou o comunismo. República da França Liberdade - Igualdade – Fraternidade Comuna de Paris A Comuna de Paris DECRETA: O alistamento obrigatório é abolido; a guarda nacional é a única força militar permitida em Paris; todos os cidadãos válidos fazem parte da guarda nacional. 29 de março de 1871 A estrutura de poder e os métodos decisórios A comuna era constituída pelos conselheiros municipais eleitos através do sufrágio universal, eleitos nos diversos distritos de Paris. Eram responsabilizáveis e substituíveis a qualquer tempo, a maioria deles era composta por trabalhadores ou por reconhecidos representantes da classe operária. O programa de governo Sufrágio universal para a ocupação de todos os cargos públicos; Combate á burocracia – supressão do funcionamento estatal; Abolição do exército e sua substituição pelas milícias populares; Destituição das atribuições políticas exercidas pela polícia; Interdição do acúmulo de cargos; Organização dos conselhos operários nas fábricas abandonadas pelos patrões; Redução das jornadas de trabalho para 10 horas; Eleição da direção das fábricas pelos trabalhadores; Separação entre a igreja e o estado e a expropriação dos bens da igreja; Reforma do ensino; Revolução cultural do cotidiano; Reforma no judiciário. As conquistas conseguiu-se construir e viver numa sociedade sem classes, realmente socialista; Supressão do aparato militar estatal e do serviço militar obrigatório; O povo passa a ser governado pelo povo em assembléias abertas; Igualdade de direitos e deveres; Gratuidade de todos os artigos necessários e dos serviços públicos; Sufrágio universal para todos os cargos públicos revogáveis a qualquer ponto e com salários equivalentes ao dos operários; Todos os solos e residências passaram a ser propriedades coletivas; São expropriadas as segundas residências; Gratuidade dos transportes e disponibilização de 1 milhão de bicicletas para uso geral; Os serviços médicos são geridos pela comunidade e tornam-se gratuitos; É abolida a escola velha e a educação desatrelada, tanto da igreja, quanto do estado; Para os adultos foram criadas as escolas técnicas e profissionais; A área urbana é visto como área da coletividade e por ela deve ser embelezada; Acesso doméstico gratuito aos recursos hídricos, elétricos e de telecomunicações; Voto igualitário entre homens e mulheres. “A grande medida da Comuna foi sua própria existência operante”. K. Marx. O papel da mulher Desde o dia 18 de março, as mulheres tiveram um papel ativo e relevante na comuna, quando saíram ás ruas, de mãos nas cinturas, enfrentando os soldados armados de Versalhes, impedindo com seus corpos que eles pudessem avançar. No dia 8 de abril fundaram a União das Mulheres para a Defesa de Paris e de apoio aos feridos, influenciadas pela Internacional * . As mulheres ganharam o status de combatentes, podendo inclusive portar armas, conquistaram o direito de igualdade aos homens no trabalho, nos salários, na educação e no campo do conhecimento (respeitando-se a realidade de gênero). Artigo XII decreta o seguinte: “A submissão das mulheres e das crianças á autoridade do pai, que prepara a submissão de cada um á autoridade do chefe morreu: 1) O casal constitui-se livremente com o único fim de buscar o prazer; 2) Portanto, a propriedade privada é abolida; 3) A comuna proclama a liberdade de nascimento, o direito á informação sexual desde a infância, o direito ao aborto, o direito á anticoncepção. (NASCIMENTO, 2001, p. 10) Durante a comuna, pela primeira vez, uma mulher assume a direção das escolas públicas, seu nome era Marcelle Tinayrei. (MARTINS, 1999). Dos 30 mil trabalhadores mortos, haviam milhares de mulheres. (*) As organizações de mulheres não era uma novidade; porém, esta associação nasce marcada por um caráter que evidencia o reflexo do pensamento da internacional e mais precisamente as idéias marxistas. Entre as fundadoras estão algumas filiadas á Internacional: Nathalie Lemel, Aline Jacquier, Marcelle Tinayre e Otavine Tardif. (MARTINS, 1999). A repressão No domingo, 28 de maio de 1871, caiu a última barricada da Comuna. A batalha de Paris produziu 20.000 mortos e 26.000 capturados. Os presos, fugitivos e mortos somaram 100.000 Parisienses. Entre os 38.578 revolucionários julgados em 1875 haviam: 36.909 homens, 1054 mulheres e 615 crianças com menos de 16 anos. Desse total 1090 foram libertados após a fase dos interrogatórios. “O ‘muro dos federados’ do cemitério de Père-Lachaise, onde se consumou o último assassinato em massa , ainda está de pé, testemunho mudo, porém eloqüente, da fúria que é capaz de chegar a classe dominante quanto o proletariado se atreva a reclamar seus direitos” K. Marx As conseqüências Para o socialismo da época. Para o socialismo no século XX Para os dias atuais O significado “O verdadeiro segredo da comuna residiu em ser essencialmente um governo da classe operária, o produto da luta de classes dos produtores contra a classe dos expropriadores, a forma política por fim descoberta, pela qual se podia realizar a emancipação econômica do trabalho”. K. Marx. “A comuna ensinou o proletariado europeu a por concretamente os problemas da revolução socialista... A causa comunista é a revolução social, a emancipação política e econômica total dos trabalhadores, a do proprietário universal. E, neste sentido, ela é universal.” Lennin. “Comuna, exclamam,quer acabar com a propriedade, fundamento de toda a civilização! Sim, meus Senhores, a Comuna queria acabar com aquela propriedade classista que transforma o trabalho de muitos na riqueza de poucos. Ela pretendia a expropriação dos expropriadores”. K. Marx. “Ultimamente as palavras ‘ditadura do proletariado’ voltaram a despertar sagrado terror aos filisteu social-democrata. Pois bem, senhores, quereis saber que face tem essa ditadura? Olhai para a Comuna de Paris: eis aí a ditadura do proletariado!” F. Engels. Algumas questões. A comuna de Paris foi efetivamente um movimento revolucionário idealizado e realizado, de/para/por proletários, pequenos comerciantes e artesãos? Caso não houvesse a repressão e a aniquilação da Comuna, o caráter revolucionário, democrático e socialista, observados nos seus poucos dias de existência teriam prevalecido? Até quando? Um suposto sucesso da Comuna em 1871, teria estabelecido um outro paradigma político ideológico a ponto de estarmos hoje, vivendo numa sociedade socialista ou até mesmo comunista, nos moldes pensados por Karl Marx? Bibliografia NASCIMENTO, Claudio. O programa da comuna de Paris. MARX, Karl e HENGEL, Friedrich. Guerra civil em França in: Obras escolhidas. São Paulo: Editora alfa-omega. 1977. Vol I, p. 157-167. GUESSER, Adalto Herculano. Atualidade da Comuna de Paris: participação feminina e emancipação socialista MARX, Karl. A guerra civil em França. Item III. In: Florestan Fernandes (org.). Op Cit. P 239-307 ( K . Marx Marx : o que é a comuna). http://www.cefetsp.br/edu/eso/cleber/comuna3.html