Minha alma gêmea Música – Orquestra de André Rieu Elaborado em Agosto/2006 Revisado e formatado em Dezembro/2007 LhT Meu bem! Onde estás? Meu grande amor! Onde vives? Minha vida! Vives na terra ou já partiste deste mundo? Se estás na terra que lugar vives? Em que pais, estado ou cidade? Toda a vida estou a sua procura Nos campos, florestas e cidades Ao redor do mundo viajei À todos os recantos fui Que jamais imaginarias Vivo como uma ave errante Voando de galho em galho a procura do seu par Para juntar as nossas metades E fundirmos os nossos seres Na esperança de te encontrar Muitas tentativas fiz De fracasso em fracasso De encontro e desencontro De amor e desamor Continuo a procurar Muita gente conheci Muitos lábios beijei Corpos possui mesmo assim O vazio persiste em mim Sinto solidão sem estar sozinho Quando avisto um bela mulher Linda de morrer Cheia de curvas Curvas perigosas Desejo que sejas tu Minha querida, minha alma gêmea No início tudo vai bem Parecemos ser feito Um para o outro Quando caímos na real A verdade aparece Somos diferentes Não combinamos Era só atração física Já andei tanto, tanto... Muitas primaveras vivi Com tristeza e desanimo Sinto que a procura não é a mesma Estou perdendo a esperança Meu amor! Sinto tanto a sua falta... Sinto a tua falta sem te conhecer Sinto a tua falta sem saber quem és Te desejo não sabendo quem és Anseio tanto por sua presença Para trazer a alegria de viver Acabando esta ansiedade sem fim Sinto tanto tanto... sua falta Ouça por favor o meu clamor Venha depressa meu amor Venha correndo para ocupar O lugar que te pertence Que ninguém mais pode ocupar Meu amor! Você existe? Meu amor! Te verei nesta vida? Meu amor! Quantas vidas terei que viver? Minha vida! Onde e quando te verei? Para acabar esta busca interminável? No desânimo e na angústia Com amargor me queixo D´Ele Por que nos separaste? Éramos um ser perfeito no Eden Eu e ela fundidos num só ser Constituindo um ser completo Por que me separaste Da minha alma gêmea? Por que nos separaste Se vivíamos em comunhão Harmonia e felicidade? Por que nos separaste para sofrer este castigo? A tempestade termina Volta a calmaria A dor, o sofrimento passa Renasce esperança Recupero a consciência Tudo acontece por alguma razão Ele sabe o que faz A Sua sabedoria é infinita Aprendi de tanto tentar É inútil correr atrás Quando a hora chegar Quando preparado estiver Com certeza virás Para unir nossas almas E retornar a nossa origem Enquanto você não vem Quero que o meu amor cresça Cresça sem parar Para dar a você o meu imenso amor E também todos àqueles que vivem Carentes de amor Alma Gêmea Comentários e algumas informações A compulsão pela busca da alma gêmea é de certa forma explicada por duas correntes: Pela psicologia e pelo misticismo misturadas com romantismo, imaginação e fantasias. Psicologia A psicologia tem uma explicação para a alma gêmea. De acordo com ela, tanto no homem como na mulher, a alma é de sexo diferente do corpo que habita, e essa alma contém todos os ideais do sexo oposto que interiorizamos, bem como algumas qualidades menos desejáveis. Quando encontramos alguém que personifica essas qualidades, reconhecemos com sendo a nossa cara metade. Concluindo, a alma gêmea é uma projeção dos nossos mais íntimos desejos, fantasias e expectativas. Entretanto, enquanto a projeção se mantiver e a outra pessoa corresponder as nossas expectativas, estaremos satisfeitos. Porem, tão logo a expectativa desvanece e deixa de ser a pessoa dos nossos sonhos, vem à desilusão. Misticismo Em quase todas as grandes tradições religiosas, bem como nos mitos de muitos povos primitivos, as almas gêmeas foram temas de discussão. Segundo a doutrina das almas gêmeas elas são duas almas: uma representando o lado masculino (atributos masculinos), e a outra, o lado feminino (atributos femininos), que estiveram unidas desde os tempos remotos. As doutrinas também afirmam que para cada homem existe uma determinada mulher (sua companheira original, única e genuína) e vice-versa, para cada mulher há um determinado homem. Diz ainda que originalmente para cada homem e para cada mulher existia um par, que pertenciam um ao outro. O ser inicialmente criado por Deus que é a sua imagem e semelhança, era um ser dual e andrógino, ou seja, era constituído por parte masculina e feminina. Estas duas partes estavam em perfeita integração, um completando o outro em total harmonia, e estavam em estado de totalidade e plenitude. As duas metades estavam unidas, formando um ser completo. O ser andrógino começou a sentir-se solitário apesar de conter a parte masculina e feminina. Eles não tinham conhecimento da existência um do outro. Para solucionar o problema Deus resolveu dar uma companheira separando o lado masculino do feminino. A parte feminina saiu do ser andrógino, é como a Bíblia diz: Eva foi criada á partir da costela do Adão. Nessa separação foi criada nas duas partes uma conexão invisível e uma força de atração, como a magnética, em que os pólos positivos e negativos mutuamente se atraem. É o desejo das partes manterem-se unidos permanentente. Deus não criou somente a conexão indissolúvel entre esses seres. Ele criou também a interconexão entre todos os seres e com Ele próprio. Desse modo nós nunca estaremos sozinhos. Podemos estar fisicamente sozinhos, entretanto estaremos sempre conectados uns com outros e com o nosso Criador, e as conexões com os nossos entes queridos serão mais fortes. É devido a esses fios invisíveis que nos ligam é que ocorrem as comunicações extrasensoriais. A sincronicidade é um exemplo. Já não aconteceu com você de ter pensado em alguém e essa pessoa te procurar, ou te telefonar em seguida? Já não ocorreu com você ou com alguém conhecido, que sentiram um impulso de falar com uma pessoa querida e quando telefona, descobre que essa pessoa estava em dificuldades e precisa de seu auxílio? Esses dois seres o masculino e o feminino cindidos, viviam felizes e em perfeita harmonia num mundo etéreo. Nesse mundo não havia envelhecimento, nascimento, morte, dor, sofrimento, não precisavam se preocupar com a busca de alimentos, pois havia fartura, enfim viviam no paraíso, viviam no Éden. Em determinado momento em idos tempos estes dois seres, o homem e a mulher, começaram a se afastar do Criador. Começaram a criar a sua individualidade. Começaram a ser independentes. Contrariaram o mandamento de Deus cometeram pecado comendo o fruto proibido. Como castigo, Deus os expulsou do paraíso, e os obrigou a viverem no universo material. Deus criou o universo para que as almas desgarradas vivendo nele tenham oportunidade de se redimirem de seus erros para retornar à sua origem. O mundo material foi criado composto de polaridades, energia (matéria), espaço e o tempo. Polaridade significa que para cada pólo existe o pólo oposto como o dia e a noite; bem e o mal; branco e o preto; felicidade e o sofrimento; luz e a escuridão; frio e o calor; alegria e a tristeza; medo e coragem; vida e a morte; futuro e o passado. Devido à existência desses quatro elementos faz com que alternemos por momento de dor e de prazer, do sofrimento e da felicidade, da alegria e da tristeza. É a existência desses elementos que nos possibilita discernir ou sentir o que é certo ou errado, o que é bom ou ruim, o que é belo ou feio, o que é alegria ou tristeza, o que é dor ou prazer o que velho ou novo. É a existência dessa polaridade que nos permite avaliar as nossas ações, corrigi-las ou melhorá-las. É através da dor do sofrimento que nos leva a refletir, e através dessa reflexão revemos as nossas crenças, convicções, conceitos, regras, decisões, comportamentos e ações. É através da dor do sofrimento que nos leva buscar o motivo do afastamento do nosso Pai, para redimirmos dos erros cometidos. A dor do sofrimento nos faz refletir para crescer. O viver em nosso mundo material não quer dizer necessariamente que as duas almas gêmeas possam se encontrar para reconstituir novamente o par. Deus criou dificuldades para as almas gêmeas se encontrarem. Esta dificuldade faz parte do aprendizado. E quando coincide o encontro as duas partes imediatamente se sentem atraídos, e se juntando, têm sentimentos de completude e felicidade, e não quererão mais se separar mesmo que seja por breve momento. Esse desejo é tão grande que quando um deles morre o outro morre também para acompanhá-lo. É a historia do romance Romeu e Julieta e tantos outros. O amendoim completo é formado por duas metades, assim como foi a nossa alma originalmente criada. Imagine um saco cheio de amendoins inteiros. Imagine ainda que vamos retirar todos os amendoins do saco e vamos separar todas as metades e colocá-los novamente no saco e misturá-los. Se tentarmos agora reconstituir o amendoim juntando as suas metades, descobriremos que é uma tarefa extremamente difícil, pois na maioria das tentativas verificamos que as duas metades não se encaixam. Com as pessoas acontece à mesma coisa. Devido à quantidade de pessoas que habitam o nosso planeta, é muito difícil encontrar a nossa alma gêmea. Através de tentativa e erros, vamos procurando a nossa companheira (o) de nossos sonhos, e através da experiência tomamos consciência que são poucas as pessoas que se harmoniza verdadeiramente com a gente. Podemos encontrar várias (os) que parecem adequadas (os), mas logo verificamos que não é o que esperávamos. É muito raro alguém que tenha encontrado a sua outra metade. As principais religiões consideram que essa dificuldade é o castigo de Deus, é a forma que Ele encontrou para que através do sofrimento, possamos evoluir, crescer para finalmente, reparar os nossos erros cometidos outrora. Se não conseguirmos encontrar a nossa outra metade da laranja devemos nos contentar com a companheira que tenha atributos que, de certa forma, preencha as nossas expectativas, porque o homem e a mulher são seres incompletos e imperfeitos, que precisam do sexo oposto para crescer, evoluir e atingir a plenitude. Quando vivemos com alguém que incorpora a nossa outra metade, então essas duas energias podem se unir e transformar-se num todo harmônico e equilibrado como foi na origem. A fusão das duas partes cria sinergia de tal forma, que o resultado é muito maior do que a soma das partes. Entretanto se não encontrarmos a nossa companheira para compartilhar do mútuo crescimento, não se preocupe. Quando as pessoas estão casadas formal ou informalmente, terão menos tempo para se dedicarem para o crescimento espiritual, devido aos afazeres do dia a dia. Eles têm que cuidar da educação dos filhos, se preocupar com companheira e outras coisas mais. Enquanto que, se estiver sozinho terá mais liberdade, menos responsabilidades, e disporá de mais tempo e dedicação para o seu auto desenvolvimento. Esta é uma das razões porque algumas religiões recomendam o celibato. Conto de almas gêmeas - Peter Ibbetson Autor - George Du Maurier A historia começa em Passy, subúrbio de Paris, durante o século XIX. Uma garotinha chamada Mimsey Seraskier e um menino de nome Pierre Pasquier de la Marière, apelidado Gogo, moram no mesmo bairro. Como as famílias vivem próximas, é natural que as crianças passem muito tempo brincando juntas, e ambos têm uma infância muito feliz. Após a morte prematura dos pais de Pierre, um certo coronel Ibbetson, parente da mãe do garoto leva-o para Londres e a partir daí os caminhos de Minsey e Pierre se separam. O menino adota o sobrenome da família do tio e passa a chamar-se Peter Ibbetson. Anos depois, Peter encontra uma jovem numa festa e, partir daquele momento, sua vida se transforma. Peter percebe que a estranha indaga sobre ele aos donos da casa e, igualmente, pergunta a um tímido jovem que, como ele estava só, quem era a misteriosa mulher. O rapazinho solitário informa que ela é a Duquesa das Torres. Peter imagina que jamais verá tão bela duquesa novamente e que não haverá oportunidade para conhecê-la, mas a flecha do cupido o atingiu profundamente e ele sabe que ela seria a mulher ideal para a sua vida solitária. Durante semanas seguintes, lembranças da Duquesa das Torres dominam a sua vida. Dia após dia, a visão do rosto da Duquesa se mantém presente em seus pensamentos. Algum tempo depois, Peter viaja a Paris para uma rápida visita e revê com nostalgia lugares familiares de sua infância. Pela janela vê de relance a Duquesa das Torres e o olhar dela o ilumina como um raio de sol. Naquela noite, Peter adormece com a lembrança de cada detalhe da face resplandecente da duquesa e tem um sonho, que marca o início da primeira fase de sua verdadeira vida interior. Nesse sonho, ele encontra misteriosa duquesa, que se dirige a ele de maneira afetuosa: Dê-me sua mão, diz ela, e junte-se a mim. Peter imediatamente percebe que este não é um sonho comum, mas algo miraculoso até desconhecido, que transcende qualquer outra experiência que ele jamais havia tido em sua vida terrena. Quando Peter desperta, sente-se como se ainda estivesse sonhando. Na verdade, parece não estar acordado. Lembra-se de cada detalhe do sonho. Sabe que um sonho comum é cheio de interrupções e que em geral se desvanece em pouco tempo, deixando apenas uma vaga memória do que foi sonhado. Relembra o sonho que acabara de ter e percebe que nele não há imperfeições; pelo contrário, é como se durante o breve intervalo em que a duquesa segura sua mão, ele tivesse absorvido toda a sua vida para dentro dele. Peter retorna a Londres, mas sente que a sua vida se transformou completamente. O dia de trabalho comum parece irrelevante como um mero sonho. Todo o seu ser está tomado pela memória da Duquesa das Torres que acendera em seu interior uma chama e harmonizara a sua alma com ele próprio e com toda a humanidade. Peter sente que sua verdadeira vida só começa quando se deita à noite e se prepara para os seus sonhos. Logo percebe que nenhum afeto em sua vida de vigília é tão intenso quanto essa ligação e que nenhuma das impressões do dia pode ser tão forte e plena quanto aquelas que ele experimentava em seus sonhos tão vividos. Os encontros noturnos com a Duquesa das Torres transformaram-se numa existência dentro da vida de Peter. Pouco tempo depois, ele é novamente convidado à casa de Lady Cray e, lá chegando, vê de relance a Duquesa das Torres pela terceira vez. Pergunta ao seu vizinho de mesa qual era o nome de solteira dela. Ela se chamava Senhorita Seraskier. Moram em algum lugar nas proximidades de Paris. Foi lá que a Senhora Seraskier, sua mãe, morreu de cólera. Peter Ibbetson quase desfaleceu. Pergunta-se como pudera não ter percebido que aquela encantadora jovem era ninguém menos que sua amiguinha de infância Mimsey. Durante o resto do jantar evita olhar para ela mesmo que rapidamente. Na manhã seguinte, quando Peter revê a Duquesa, ela lhe diz que embora soubesse que seu nome era Sr. Ibbetson, ainda assim ele lhe recordava um garotinho francês que ela conhecera em sua infância. Peter revela que de fato, há muitos anos, ele havia sido aquele garotinho. Ela pergunta a ele qual era o seu nome naquela época e, quando ele o revela, a duquesa empalidece e todo o seu corpo começa a tremer. Peter então conta a ela sobre seu primeiro sonho e eles percebem que ambos haviam sonhado a mesma coisa. A Duquesa começa a sentir-se insegura e ansiosa: é melhor nos separarmos agora, diz, não sei se devemos nos encontrar novamente. Vou despedir-me e deixá-lo. Acho que preferível assim. Talvez seja melhor que nos afastemos definitivamente. Tenho pensado muito no senhor e sempre pensei... ... Lembraremos sempre um do outro, isso é inevitável, mas nunca, nunca sonhe... caro Senhor Ibbetson, desejo-lhe todo o bem que alguém pode desejar a outrem. Agora adeus, e que Deus o abençoe! A luz se apaga na vida de Peter e ele fica sozinho novamente – mais miserável e digno de pena do que nunca houvesse se encontrado. Embora separados desde a infância, nenhum dos dois se esqueceu do outro e nesse momento perceberam que um vínculo extraordinário os unia. Essa experiência é tão inusitada que eles não podem deixar de pensar um no outro enquanto suas vidas, sentidos e memórias existirem. Estão cada vez mais conscientes um do outro, mais do que qualquer ser humano desde o principio dos tempos. Mesmo assim, tudo passa como previra. Depois desse encontro final eles nunca mais se vêem, nem na vida de vigília nem nos sonhos, embora anseiem um pelo outro. Passa-se um ano e uma terrível catástrofe abate-se sobre a vida de Peter. Discutindo com o tio, Peter o mata acidentalmente. É condenado por assassinato e sentenciado à prisão perpetua. Sentindo que deve explicar à Duquesa das Torres o que havia sucedido, ele começa a lhe escrever uma carta, mas adormece. E assim começa uma outra fase de sua vida interior. Mais uma vez ela aparece em seu sonho. Enquanto segura as mãos dele entre as suas, o olhar da Duquesa contempla o âmago do coração de Peter e, finalmente ela diz: Não compreendo como o senhor está presente em meu sonho, pois costumo sonhar quase sempre com o que acontece na realidade... mas ainda é mistério a razão pela qual duas pessoas devam se encontrar como fizemos afora, partilhando o mesmo sonho. Como é intensa a nossa ligação Senhor Ibbetson! E, para provar que sonham o mesmo sonho ela promete enviar-lhe uma carta para a prisão. No dia seguinte, ele realmente recebe a correspondência prometida e a partir de então, durante muitos anos, continuaram a se encontrar em sonhos quase todas as noites. O que Peter e a Duquesa partilhavam eram mais do que simples sonhos. Seus encontros, embora incorpóreos, eram a quinta-essência de suas vidas. A ligação entre eles era completa e abrangente. Como nozes dentro de uma mesma casca, eles estavam mais intimamente ligados que qualquer casal, pois as vidas individuais são sempre isoladas em suas próprias conchas. Embora Peter e a Duquesa tenham envelhecido, em seus sonhos permaneceram eternamente jovens, como se tivessem sempre 28 anos. O tempo passou para eles na vida de vigília como para todas as outras pessoas, mas, como sua atenção estava tão focalizada em seus sonhos, eles pouco se deram conta dessa passagem inexorável. Finalmente acontece o inevitável, A duquesa morre. Peter decide deixar-se morrer de inanição e recusa todo o alimento, pois a morte da Duquesa tirara dele todo o desejo de viver. E ele também não quer jamais sonhar. Entretanto, apesar dessa resolução, uma noite ele sucumbe a um sonho nostálgico. Anseia por visitar em sonho, uma vez mais, os lugares de sua infância. Adormece e sonha novamente, mas agora não é mais jovem com nos sonhos anteriores, tem a mesma idade que em sua vida de vigília. Esse passeio onírico pelos locais de sua infância é triste e sem fantasias, e seu coração pesa de modo insuportável. Está inconsolável e sente-se tão fraco que mal pode caminhar. Jamais se sentiu tão fatigado num sonho. Arrastas-se para a praia onde vê algumas poucas pessoas, entre elas uma idosa senhora, imóvel num banco. Oh, meu Deus, ele exclama, é a Duquesa. Ela diz a Peter: Gogo, tu não imagina como foi difícil para eu retornar, mesmo que por poucas horas, pois não posso me sustentar por muito tempo. É como estar pendendo da janela, presa apenas pelo pulso... ninguém jamais voltou antes... fiz uma longa viagem... tão longa... para me encontrar contigo. Tinha tantas coisas para lhe dizer, mas agora que estamos aqui, de mãos dadas como costumávamos, já nem consigo me lembrar do que se tratava... e mesmo de pudesse, não conseguiria fazer-te entendê-las. Mas tu compreenderas um dia, não há pressa alguma. Já conheço cada um dos pensamentos que cruzaram tua mente desde que morri. Ao menos a tua parte da jornada está intacta... Tu e eu somos os únicos mortais que conheço que conseguiram encontrar o caminho para o mundo interior um do outro pelo toque das mãos... Nossos corpos estavam muito afastados, não que isso fizesse diferença, porque jamais o teríamos conseguido acordados... nunca, mesmo que nos abraçássemos até a morte! Gogo, não encontro palavras para explicar como, pois não as há em qualquer língua que conheça, suficiente para te contar. Aqui onde me encontro os olhos, os ouvidos e todo o resto se unem e... oh... há ainda mais!... É muito simples, embora talvez agora não soe assim para ti. E os sons! Ah, que sons! A Atmosfera pesada da Terra não pode conduzi-los e nem o ouvido humano captá-lo... o som é tudo... e se funde à luz... Aqui onde estou, Gogo, posso ouvir o sol brilhar e fazer as flores desabrocharem e os pássaros cantarem e os sinos soarem nos casamentos e enterros – mortes tão, tão, tão felizes... ah se ao menos tu pudesses entender... E também não há mais eles... não há eles! Mas isso é apenas um detalhe. É preciso que tu esforces e entendas que é como se todo o espaço entre nós e os astros estivesse cheio de pequeninos pontos espiralados de substancia essencial, minúsculos demais para serem vistos por qualquer microscópio... ainda assim, uma simples gota d´água os conteria todos sem que por isso se tornasse menos transparentes. Todos recordam de terem vivido na terra ou algum outro lugar, sob alguma forma...Quanto mais longa, completa e diligentemente se vive na Terra, tanto melhor para todos. É a base de tudo... Nada se perde, nada! Gogo, sou a única gota d´água que ainda não pode diluir-se, misturar-se ao oceano universal... é como se uma longa e invisível corrente me mantivesse ainda presa à terra e eu estivesse ligado à outra ponta dela por um cadeado transparente, uma espécie de gaiola, que me deixa ver e ouvir tudo ao redor, mas me impede de fundir-se totalmente. Cedo percebi que esse cadeado é constituído pela parte de ti que ainda trago dentro de mim e, por isso, não posso dissolver, porque parte de mim não morreu. A corrente me liga àquela parte de mim que deixei em ti e, assim, metade de mim na verdade não estava lá para ser diluída. Oh meu grande amor, quanto eu abracei minha corrente, contigo atado à outra ponta dela! Com tanta dor e tanto esforço que não podes imaginar, arrastei-me ao longo dela de volta para ti, para dizer-te que seremos inseparáveis para sempre tu e eu, um único ponto da substancia essencial feito de nós dois...um minúsculo grão de sal, uma gota. Não haverá despedidas para nós – isso eu posso ver. Esta sorte extraordinária parece estar reservada apenas para ti e para mim até agora... mas, só quando tu te reunires a mim seremos, tu e eu, completos e livres para nos fundirmos ao oceano universal e participarmos com um de tudo que vier a Ser.