Formas farmacêuticas constituídas em sistemas dispersos heterogêneos SUSPENSÕES Profa. Dra. Patrícia da Fonseca Sistemas dispersos (fármaco é a fase dispersa e o veículo, a fase dispersante). 2 ou mais fases Particulado SUSPENSÃO (fase dispersa: sólida) Emulsão (fase dispersa: líquida) SUSPENSÕES “Formas farmacêuticas líquidas que contém substâncias ativas sólidas finamente divididas e não dissolvidas (fase dispersa), dispersas num veículo (fase dispersante).” As partículas da fase dispersa variam muito de tamanho: podem ser grandes e visíveis a olho nu, ou partículas de dimensão coloidal, entre 1,0 nm e 0,5 µm. As dispersões que contém partículas grandes, geralmente de 10 a 50 µm, são conhecidas como dispersões grosseiras; compreendem as suspensões e as emulsões. As dispersões que contem partículas menores são conhecidas como dispersões finas (0,5-10 µm); se as partículas tiverem dimensões coloidais, chamam-se dispersões coloidais. Os géis representam essas dispersões finas. Classificação dos sistemas dispersos de acordo com o tamanho de partículas: > 10µm – dispersões grosseiras - suspensões/emulsões 0,5 - 10µm – dispersões finas – géis Abaixo 0,5 µm – dispersões coloidais Em grande parte devido à maior dimensão, as partículas em dispersões grosseiras tendem mais a separar-se do meio dispersante do que as partículas em dispersões finas. A maioria dos sólidos em dispersão tende a depositar-se no fundo do recipiente por serem mais densos que o meio dispersante. A redistribuição completa e uniforme da fase dispersa é essencial para a administração precisa de doses uniformes. Para que a dispersão seja adequada, deve ser feita a agitação moderada do recipiente. Tipos de suspensões Fase dispersa Líquido Sólido Meio de dispersão Gás Líquido Exemplos Aerossóis Hidróxido de alumínio APLICAÇÕES FARMACÊUTICAS • Administração oral: Algumas substâncias precisam estar finamente divididas no trato gastrintestinal, desse modo, sua formulação na forma de suspensão possibilita que tenham a área superficial elevada requerida. Ex: antiácidos, antibacterianos, pós (antibióticos), antihelmínticos, anticonvulsivantes. • Administração tópica: - Podem ser preparações fluidas como loções (ex: loção de calamina), formuladas de modo a deixar uma fina camada de substância ativa sobre a pele, após rápida evaporação do meio de dispersão. - Podem apresentar consistência semi-sólida, como as pastas que contem elevadas concentrações de pós dispersos, geralmente, em uma base de parafina ou em uma base hidrofílica. Ex: antihistamínicos, antissépticos. • Administração parenteral: - Podem ser formuladas visando o controle da velocidade de absorção do fármaco. - As vacinas para induzir imunidade frequentemente são formuladas como dispersões de microrganismos mortos. VANTAGENS DA FORMA FARMACÊUTICA: - Fármaco é insolúvel ou pouco solúvel no solvente selecionado. - Fármaco degrada na presença de água (é possível sintetizar um derivado insolúvel que possa ser formulado em suspensão). - Prolongamento da liberação. - Veiculação de vacinas. - Aumentar estabilidade do fármaco. - Facilidade de deglutição. - Mascara sabor desagradável. Propriedades físicas de uma boa formulação Sistema heterogêneo Potencial de energia livre(25mv), sistema está termodinamicamente instável, tendência natural potencial de energia livre. Potencial de energia livre, mas o sistema está termodinamicamente instável, tendência natural pot. energia livre próximo de zero para estabilizar fisicamente. Sistema está termodinamicamente estável, tendência natural pot. energia livre próximo de zero, farmacotecnicamente inviável. (termodinamicamente instável e farmacotecnicamente viável) (agrupamento pela afinidade das partículas - Afinidade é > que a força de repulsão) sedimentação (sólido e líquido) A escolha dos adjuvantes será para manter o sistema estável FARMACOTECNICAMENTE = uniformidade de dose!!! Todas as ações farmacotécnicas são a favor de não permitir a diminuição do potencial de energia, porque quanto maior o ξ livre, mais estável é o sistema farmacotecnicamente. Estabilidade Química e Física da Suspensão - Sedimentação lenta. - Facilidade de redispersão. - Ausência de aglomerados e de cristais. - Facilidade de escoamento e bom espalhamento. COMPOSIÇÃO BÁSICA DE UMA SUSPENSÃO - Fármaco Agente suspensor Agente floculante Agentes umectantes ( molhantes) Outros adjuvantes: edulcorantes, flavorizantes, corantes, corretores de pH, tampões, conservantes. 1. Fármaco sólido a ser disperso. Devem ser micronizados visando a obtenção de partículas de tamanho reduzido. 2. Agente suspensor (Modificador da viscosidade) É usado para aumentar a viscosidade e retardar a sedimentação. 3. Agentes floculantes São utilizados com o objetivo de evitar a formação de agregados. Esses agentes são divididos em surfactantes, polímeros hidrofílicos, argilas e eletrólitos. Alguns agentes floculantes: - lauril sulfato de sódio (0,5 – 1,0%) - docusato sódico (0,01-1,0%) - polisorbato 80 (tween®80) – (0,1-3,0%) - monooleato de sorbitano (span 80) (0,1 – 3,0%) - polietilenoglicol 400 (até 10%) - colóides hidrofóbicos (ex: goma xantana, Veegun®, CMC, etc) - argilas (ex: bentonita) - cloreto de sódio (até 1%) - fosfato diácido de potássio A floculação é um processo no qual as partículas se agrupam formando aglomerados frouxos. A defloculação é o oposto, ou seja, a quebra dos aglomerados em partículas individuais. Sistema floculado O potencial de energia livre está próximo de 25mV pq há equilíbrio entre as forças de atração e repulsão. O sistema é facilmente redispersível Forma flocos (agregado frouxo de partículas) Sistema floculado (ξ ≈ 25mV) Sistema defloculado Predomínio das forças de repulsão e o potencial de energia livre é > 25mV. O sistema é redispersível, mas é necessário uma força (agitação) maior para ressuspender. Partículas se aproximam pela gravidade. O sedimento é baixo e o sobrenadante é alto. AGITAÇÃO Sistema floculado (ξ ≈ 25mV) Sistema agregado O potencial de energia livre é < 25mV e há predomínio das forças de atração. Sistema irredispersível Física das Dispersões repouso Agitação Moderada VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO: A velocidade de sedimentação diretamente ao tamanho da partícula: está relacionada 1. Quanto mais próximo de 0 for a velocidade de sedimentação, mais estável será a formulação; 2. Quanto maior o diâmetro da partícula, maior a velocidade de sedimentação; 3. Quanto maior a viscosidade do meio, menor a velocidade de sedimentação; VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO (LEI DE STOKE´S) V = velocidade de sedimentação r2 = diâmetro da partícula d1= densidade da fase dispersa d2 = densidade da fase dispersante η = viscosidade 2 (d r g = gravidade 1 V= – d2) g 18η O diâmetro da partícula e a viscosidade é que mais estabelece a velocidade de sedimentação. Se a densidade da fase dispersa for igual a densidade da fase dispersante, a velocidade será igual a 0. MEDIÇÃO DA SEDIMENTAÇÃO - Usa-se uma proveta. Vi = 100mL Após 1h Vs = Vf Vi Para suspensões farmacêuticas, o valor fica normalmente entre 0 e 1. Fornece uma avaliação qualitativa da estabilidade física. 100mL Vf = 20mL Ou a medida pode se dar por eletroforose (campo magnético). 18 4. Agentes molhantes (ou umectantes) - São acrescidos nas formulações de suspensões, com o objetivo de auxiliar a dispersão do fármaco. Exemplos: -Tensoativos não iônicos (EHL - 7 e 9 ): Span 20 (éster do sorbitano) = EHL 8,6. Outros: lecitina, pluronic, tween - Solventes: Glicerina, propilenoglicol, sorbitol, álcool. - Surfactantes (uso externo). - PEG 400. 5. Outros adjuvantes farmacotécnicos : -Edulcorantes. -Flavorizantes. -Corantes. -Corretores de pH. -Tampões. -Conservantes. SISTEMA IDEAL PARA GARANTIR ESTABILIDADE FÍSICA DA SUSPENSÃO Sistema com tendência controlada da floculação: -Controle do tamanho da partícula ( quanto < diâmetro da partícula, < velocidade de sedimentação). - Uso de agentes floculantes (ponto ideal de floculação). - Uso de agentes viscosificantes (quanto viscosidade, < velocidade de sedimentação). - Molhagem do fármaco com o agente molhante. >