Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes Lab. 2 Electrónica I, ano lectivo 2002/2003 Engenharia de Sistemas e Computação Engenharia Física Tecnológica Circuitos rectificadores e filtros RC Material Diodo de silício 1N914 ou equivalente Resistências: 100 , 1K, 10 K. Condensadores de 10 nF, e de 100F Introdução Este trabalho faz uma introdução à operação de circuitos rectificadores e reguladores de tensão. Iniciando com uma tensão ac, obtem-se uma tensão dc estacionária por meio da rectificação deste sinal de entrada. Depois é realizada a filtragem para um nível dc, e, finalmente, o sinal é regulado para se obter na saída o nível desejado de tensão dc. Em geral, a regulação é feita por um circuito integrado regulador de tensão, que recebe uma tensão dc e fornece um nível ligeiramente menor, o qual permanece constante, mesmo que a tensão de entrada varie, ou a carga ligada à saída do circuito varie de valor. A Figura 1 representa um digrama de blocos mostrando os vários estágios de uma fonte de tensão típica, e a forma de onda nos vários pontos do circuito. A tensão ac, normalmente 220 V, alimenta um transformador, cuja a função é reduzi-la para o nível de tensão desejado. Díodos rectificadores fornecem, então, uma tensão rectificada de onda completa, que é inicialmente filtrada por um condensador simples para produzir uma tensão dc. Esta tensão dc resultante ainda possui algum “ripple” ou variação ac. O circuito regulador pode aproveitar esta entrada dc para produzir uma tensão dc que não só possui menos “ripple” como ainda mantém constante o nível de saída, mesmo para variações na entrada ou na carga que está ligada. Esta regulação é via de regra, obtida, utilizando-se um circuito integrado. Este circuitos integrados não serão abordados nesta disciplina. Pode encontrar mais informações sobre estes circuitos na referência [1]. Rectificador com díodos Filtro Regulador Carga Figura 1. Diagrama de blocos apresentando os estágios de uma fonte de tensão. Considerações gerais sobre filtros. O circuito rectificador converte um sinal com um valor médio nulo em um sinal com um valor médio diferente de zero. A saída resultante de um rectificador é uma tensão dc pulsada, que ainda não seria adequada para alimentar uma carga. Esta tensão poderia ser Electrónica I, guias de laboratório, circuitos rectificadores e filtros RC. 1 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes utilizada, por exemplo, em um carregador de baterias, onde a tensão dc média é suficientemente grande para proporcionar uma corrente de carga para a bateria. Entretanto, como tensão dc para ser utilizada em rádios, aparelhos de som, e computadores, não seria de maneira alguma a indicada. É necessário um filtro para que a tensão dc de saída da fonte seja mais estável. Antes de entrarmos em detalhes sobre o circuito de filtragem, seria mais apropriado considerar os métodos usuais de análise de filtros, de forma que possamos comparar a eficiência de um circuito actuando como filtro. A Figura 2 mostra uma tensão de saída típica de um filtro, servirá como exemplo para definirmos alguns dos factores considerados no sinal. A saída filtrada da Figura 2 apresenta um nível dc e alguma variação ac “ripple”. Quanto menor for a variação ac comparada ao nível dc, melhor é a operação de filtragem. Ripple Tem o mesmo declive Figura 2. Forma de onda de saída de um filtro rectificador, mostrando o nível dc e a tensão de ripple. (a) rectificador de meia onda, (b) rectificador de onda completa. (c) Tensão de ripple Vr. Existem vários parâmetros para classificar a qualidade de um filtro, um deles é o factor de ripple. Define-se factor de ripple (FR) como: FR V Tensão de ripple r 100% Tensão média na carga Vdc Existen outros parâmetros, como seja a regulação de tensão. Este tema é importante para o desenho de fontes de alimentação e não será estudado nesta disciplina. O curiosos podem consultar a referência [1]. Electrónica I, guias de laboratório, circuitos rectificadores e filtros RC. 2 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes Filtro com condensador O circuito de filtro mais popular é o que utiliza um simples condensador, como o representado na Figura 3. Um condensador é ligado à saída do rectificador, e uma tensão dc é obtida nos terminais do condensador. Circuito rectificador C Carga Figura 3. Filtro com um único condensador. A Figura 4, mostra a forma de onda existente nos terminais de um rectificador com condensador. O tempo T1 é o tempo durante o qual os díodos rectificadores de onda completa conduzem, carregando o condensador até a tensão de pico do rectificador, Vm. O tempo T2 é o intervalo de tempo durante o qual a tensão de pico do rectificador desce abaixo da tensão de pico, e o condensador descarrega através da carga. Como o ciclo de carga-descarga ocorre para cada meio ciclo, isto para um rectificador de onda completa, o período da forma de onda rectificada é T/2, metade do período do sinal de entrada. A tensão filtrada, como mostra a Figura 4, representa uma forma de onda na saída com um nível dc, Vdc e uma tensão de “ripple” Vr (rms), resultado da carga e descarga do condensador. Figura 4. Forma da tensão e saída de um rectificador de onda completa com condensador. Período de condução do díodo e corrente de pico do díodo. Da discussão anterior, deve ficar claro que quanto maior o valor do condensador, menor é o “ripple”, e maior é a tensão média na saída, resultando em melhor filtragem. Daí se poderia concluir que para melhorar a performance de um filtro, é necessário somente aumentar o tamanho do condensador. O condensador entretanto, também afecta a corrente de pico que passa através dos díodos, e como quanto maior o valor do condensador, maior é a corrente através dos díodos. Electrónica I, guias de laboratório, circuitos rectificadores e filtros RC. 3 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes Lembre-se que os díodos conduzem durante o período T1 (ver Figura 4), quando o díodo deve fornecer a corrente média necessária para carregar o condensador. Quanto menor este intervalo de tempo, maior tem de ser a corrente de carga. A Figura 4 mostra esta relação para um sinal rectificado de meia onda. Observe que para valores menores do condensador, com T1 maior, a corrente de pico do díodo é menor do que para valores mais elevados dos condensadores. Figura 5. Tensão de saída e forma de onda da corrente no díodo (a) pequeno C; (b) grande C. Este pulso intenso de corrente pode colocar alguns problemas no desenho de circuitos rectificadores. Por exemplo, considere o circuito representado na Figura 6, que vai usar no decorrer deste trabalho. Aumentar a resistência Rf provoca uma atenuação na tensão de saída Vo. É importante também notar que se Rf é muito pequena a corrente através do díodo aumenta, e o díodo pode queimar. Portanto tem de se arranjar uma solução de compromisso, fazer Rf pequena de forma a não atenuar muito o sinal de saída, mas não tão pequena de forma que continue a proteger o díodo dos picos de corrente. Experimental Nas experiências que se seguem é importante ter presente algumas das expressões que deduziu nas aulas teóricas, em concreto como varia a tensão de ripple em função da frequência e dos componentes do circuito. Para um rectificador de meia onda temos que: 1 VO rect. Vdc 1 2 fRC 1 VO rect. Vr p p fRC E1 - Monte o circuito representado na Figura 6. Use um díodo de silíco (1N914 ou equivalente). Escolha valores que lhe pareçam razoáveis para Rf e RL e C. (comete as Electrónica I, guias de laboratório, circuitos rectificadores e filtros RC. 4 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes suas escolhas no seu caderno de engenheiro). Varie a frequência do sinal na entrada e observe a forma de onda na saída. Rf Vo 1 KHz RL C Figura 6. Circuito rectificador de meia onda. E2 – Dimensione C de modo a obter uma ondulação máxima de tensão de 0.5 V, quando a tensão de saída média é igual a 2.2 V, e o valor máximo da corrente média na resistência de carga RL não deverá exceder 1 mA. A frequência do sinal sinusoidal de entrada Vi deverá ser igual a 1 KHz. Para além de funcionar com rectificador, o circuito que acabou de estudar tem aplicações interessantes na área das telecomunicações, leia com atenção o exemplo no fim deste guia. E3- Monte o circuito representado na Figura 7. a) Observe e explique o sinal aos terminais da resistência b) Ligue um condensador C (10 nF) em paralelo com R (10 K). Variando a frequência do sinal de entrada, observe e explique a forma de onda da saída. c) Projecte um filtro que minimize o “ripple”. Meça o valor experimental do “ripple” e compare com os valores estimados teóricamente. Figura 7. Rectificador de onda completa. Nota importante: Para observar a rectificação de onda completa realizada pelo circuito representado na Figura 7, deve desligar o osciloscópio da terra. Peça ao Professor para fazer esta operação, e verificar se não existe risco para os alunos. Electrónica I, guias de laboratório, circuitos rectificadores e filtros RC. 5 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes Exemplo de uma aplicação de díodos e filtros em telecomunicações (detector da envolvente). Nesta experiência vamos trabalhar com o conceito de modulação, um processo usado em telecomunicações para transmitir sinais através de ondas de radio. Depois de obter uma onda modulada, vamos utilizar os conhecimentos sobre díodos e circuitos RC para fazer a desmodulação e recuperar a forma de onda original. Sinais de baixa frequência como os da voz humana ou musica (sinais áudio), não podem ser transmitidos de forma eficiente pela atmosfera. Em contraste, ondas de alta frequência (Isto é acima dos 100 kHz) são transmitidos de forma eficiente a longas distâncias. Ondas com estas frequências são usadas pelas estações de rádio, e são chamadas ondas de Rádio-Fequência (RF). Um modo de transmitir a informação de um sinal de áudio numa onda de RF é através da modulação da amplitude dessa onda. Vamos trabalhar com um tipo particular de modulação a que chamamos modulação em amplitude ou AM. De forma entender este processo, considere os sinais representados na Figura 8. O sinal (a) é um sinal áudio. O sinal (b) é o sinal de RF e é chamada a portadora. O sinal em (c) é o sinal de RF modulado em amplitude pelo sinal áudio. Este é o sinal gerado por um transmissor de rádio. (a) Sinal áudio (b) Portadora (c) Sinal modulado Figura 9. Modulação em amplitude. Quando estas ondas atingem a antena do receptor, geram uma tensão na entrada do receptor. Para recuperar o sinal áudio original do sinal (c) precisamos encontrar um meio de não seguir os picos individuais da portadora, mas apenas os picos da envolvente que correspondem ao sinal áudio original. Para ver como isto pode ser feito considere o circuito na Figura 10 que já estudou na experiência E1. Observamos que quando o circuito é alimentado por um sinal ac, obtem-se na saída um sinal quase contínuo. Por outro lado se o valor da amplitude do sinal varia lentamente, a saída também varia lentamente. Assim se o circuito receber à entrada um sinal modulado em amplitude vamos ter na saída o sinal representado na Figura 10b . Nesta experiência deve ser usado um díodo de germânio que tem uma tensão de arranque de 0.2 V. Electrónica I, guias de laboratório, circuitos rectificadores e filtros RC. 6 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes A saída do circuito representado na Figura 10b tem o sinal áudio desejado, deslocado de uma determinada componente dc. O que precisamos fazer agora é remover esta componentes dc e amplificar o sinal. Estas duas operações podem ser feitas pelo circuito amplificador que terá a oportunidade de estudar mais tarde. Figura 10. Exemplo de como o sinal áudio pode ser recuperado. Na prática um receptor rádio AM pode ser feito usando os blocos representados na Figura 11. O primeiro bloco é um circuito LC que faz a sintonia do sinal RF modulado e emitido pela estação emissora. O segundo bloco é o chamado detector da envolvente, e os andares seguintes são de amplificação. Pré-amplificador Amplificador de potência Figura 11. Diagrama de blocos de um circuito receptor AM. Referências [1] Capítulo 19 do livro “Dispositivos electrónicos e teoria de circuitos”, Robert Boylestad e Louis Nashelsky, Prentice Hall, (Existe uma cópia na biblioteca.) Electrónica I, guias de laboratório, circuitos rectificadores e filtros RC. 7