Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade Física Adaptada e Saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira Deficiência Visual: definição, classificação, características. O que é deficiência visual? Deficiência visual é uma redução na capacidade visual do indivíduo. Esta redução de capacidade pode ser parcial ou total. Outra definição de deficiência visual, agora com enfoque educacional, é "Deficiência visual, incluindo a cegueira, significa uma deficiência na visão que, mesmo com correção, afeta prejudicialmente a performance educacional da criança. O termo inclui tanto a visão parcial como a cegueira". A capacidade visual é composta por cinco fatores: Acuidade visual: refere-se a uma medida da capacidade de distinguir claramente os mínimos detalhes; Campo visual: área do espaço físico visível quando o corpo, a cabeça e os olhos estão em uma posição estacionária frente aos estímulo observado; Visão binocular: o uso de ambos os olhos simultaneamente para focar o mesmo objeto e fundir as imagens para a uma interpretação correta; Visão de cores; Adaptação às diferentes luminosidades. Classificação das deficiências visuais A visão normal é classificada como 20/20, isto significa que um indivíduo consegue ler um certo tamanho de símbolos a uma distância de 20 pés (estes símbolos e tamanhos são pré determinados). Quanto menor o grau de capacidade visual, maior será o denominador, por exemplo: uma pessoa com visão parcial vai ter um escore, na melhor das hipóteses, de 20/70, ou seja, a 20 pés esta pessoa consegue ler os símbolos que uma pessoa normal leria a 70 pés. Um indivíduo legalmente cego, na melhor das hipóteses, tem um escore de 20/200, isto significa que ele consegue ler a 20 pés o que um indivíduo normal leria a 200 pés de distância. 1 Há pelo menos três maneiras para se classificar o grau de deficiência visual: 1. Classificação baseada na competência de ler impressos: É a incapacidade de ler impressos grandes mesmo após a magnificação. O Braille é geralmente usado para a total comunicação escrita. Visão parcial É a capacidade de ler impressos através do uso de livros com impressos grandes e/ou com magnificação. Refere-se ao alcance da visão que está entre a cegueira Prejuízo total e a visão parcial. visual Cegueira 2. Classificação baseada na perda visual após a correção: Cegueira legal (20/00) “Travel vision” (5/200 a 10/200) Percepção de movimento (3/200 a 5/200) Percepção de luz (<3/200) Cegueira total É a acuidade visual de 20/200 ou menos no melhor olho mesmo após a correção, ou um campo de visão tão estreitado que o maior diâmetro do campo visual estende-se numa distância angular não maior que 20º. É a capacidade de ver a 5 a 10 pés o que um olho normal pode ver a 200 pés. É a capacidade de ver a 3 a 5 pés o que um olho normal pode ver a 200 pés. Esta capacidade é limitada quase inteiramente pela percepção de movimento. É a capacidade de distinguir uma luz forte a uma distância de 3 pés do olho, mas não detectar uma mão se movendo a 3 pés do olho. É a incapacidade de reconhecer uma luz forte dirigida diretamente ao olho. 3. Classificação para competições esportivas: B1 B2 B3 * De nenhuma percepção de luz em nenhum dos olhos até percepção de luz e incapacidade de reconhecer objetos ou contornos em qualquer direção e a qualquer distância. De capacidade de reconhecer objetos ou contornos até uma acuidade visual de 2/60 e/ou campo visual limitado de 5º. Visão de 2/60 a 6/60 (20/200) e/ou campo visual entre 5º e 60º. Classificação usada pela Associação Norte-Americana para Atletas Cegos (1986). (adaptado de WINNICK, 1990). Tabela de conversão de pés para metros: 2 METROS* PÉS 1 2 3 5 6 10 20 60 200 * 32,48 0,65 0,97 1,60 2,0 3,25 6,50 20 65 Valores aproximados. Patologias: NOME O QUE É Glaucoma Aumento anormal da pressão intra-ocular. Catarata Opacidade cristalino. Coriorrenti nite macular do Inflamação da coróide e retina, atingindo a mácula, geralmente causada por toxoplasmose. Deterioração de parte FUNCIONAMENTO VISUAL Dor intensa no globo ocular; Olho buftalmo e azulado; Campo visual: perda acentuada da visão periférica (mais comum no glaucoma congênito), visão central com nitidez comprometida; Dificuldade para a visão de cores e tonalidades; Adaptação lenta à luz e ao escuro; Baixa visão noturna; Dificuldade para locomoção; Dificuldade para leitura. Redução da nitidez de imagens (visão embaçada, borrada); Redução na clareza de detalhes e visão para cores; Fotofobia; Deslumbramento; Campo visual sem comprometimento. Baixa acuidade visual para longe; Campo visual: visão central compro-metida; Dificuldade para detalhes; Dificuldade para fixação e interpre-tação de imagens; Possibilidade de alteração na visão de cores. Dificuldade em atenção e concentração; Baixa acuidade visual para longe: 3 Atrofia óptica ou de todas as fibras nervosas do nervo óptico que conduzem mensagens da retina para o cérebro. Neurovascularização dos vasos retinianos por Retinopatia excesso de oxigenação em prema-turos. da de uma prematurida Formação membrana pós cristalina de e geralmente provoca deslo-camento da retina. Retinose pigmentar Degeneração hereditária e atrofia da retina iniciando na região periférica conduzindo ao afunilamento gra-dativo da visão dis-criminação de objetos, para leitura (lou-sa); Campo visual: visão central compro-metida; Possibilidade de diminuição ou ausência de cores; Dificuldade para a integração da imagem visual e para a formação de imagens mentais. Variável e dependente da visão residual existente; Tendência à miopia e ao estrabismo; Possibilidade de evolução para cegueira. Cegueira noturna; Possibilidade de evolução para cegueira; Campo visual: perda de visão periférica; Lenta adaptação ao claro e ao escuro; Dificuldade para a visão de detalhes; Dificuldade para a leitura; Dificuldade para locomoção. Doença hereditária manifestada por Retinoblasto presença de tumor Variável dependente da visão maligno na retina de um residual existente; ma ou dois olhos. Aparece, geral-mente, antes dos 5 anos. Imagens visuais distorcidas Deslocamento parcial (hiperme-tropia); do cristalino afetando Necessidade de tempo para focar prin-cipais objetos; Subluxação os do cristalino mecanismos de refra- Posições incomuns da cabeça ção e acomodação para manter a focalização; podendo causar Dificuldade de ordenação hipermetropia. temporal; Dificuldade de memória visual. Ausência ou má Olhos vermelhos por causa da 4 formação congênita da íris; íris. Fotofobia; Possibilidade de nistagmo. Patologia de natureza Baixa acuidade visual; genética caracterizada Fotofobia; Albinismo pela ausência de Nistagmo; pigmentos nos olhos, na Comprometimentos nos pele e/ou cabelo. mecanismos de refração. Diminuição da visão em todas as Grande disfunção das condições (claro e escuro); Amaurose congênita de células fotorreceptoras Acuidade visual: raramente é (cones e bastonetes) melhor do que a capacidade de Leber apreciar o movimento das mãos. Nistagmo; Fotofobia; Disfunção das células Vê melhor no escuro do que no Achro claro; Matopsia do tipo cone Acuidade visual de 20/200 a 20/400. Não enxerga bem no escuro; Doença hereditária Possível nistagmo; Cegueira ligada ao cromossomo Acuidade visual: sob condições noturna bem iluminadas é relativamente estacionária recessivo X. preservada; congênita A maioria tem miopia. O nervo óptico é Diminuição da acuidade visual; Hipoplasia do nervo menos calibroso do que Possível nistagmo. o normal. óptico Pode ser causada por infecções congênitas, glaucoma, Visão nebulosa; Anomalias rubéola, exposta, Diminuição da acuidade visual; congênitas ceratite doenças Possível nistagmo. da córnea cistinose, metabólicas da córnea, entre outras, causando uma opacidade na córnea. Anirídia Componentes anatômicos: Córnea: proteção e adequação do olho (refração). Humor aquoso: líquido transparente que nasce no corpo ciliar. Pupila: faz o controle de entrada da luz. 5 Cristalino: órgão transparente como uma lente. Atua como lente convexa e enfoca os raios de luz na retina. Íris: controla a entrada de luz junto com a pupila. Canal de Schlemm: permite que o humor aquoso seja eliminado após ter circulado entre o cristalino e a íris e entre a íris e a córnea. Zônula de Zimm: fazem com o cristalino o movimento do olho para cima e para baixo. Corpo ciliar: participa dos movimentos do cristalino. Humor vítreo: rechear o olho. É avascular, dá formato ao olho. Deve ser totalmente límpido. Retina: membrana transparente contendo tecido nervoso sensível à luz. Mácula: área central da retina, incluindo a fóvea, compreendendo o ponto de visão mais nítido. Nervo óptico: conduz os impulsos da retina ao córtex visual para formação de imagens. Coróide: camada vascular que nutre o globo ocular. Esclera: membrana rija que, junto com a córnea, dá a proteção ao olho. Sua coloração indica se a proteção está adequada. Conjuntiva: membrana mucosa que recobre internamente as pálpebras e a metade anterior do globo ocular. (CAVALCANTE, 1995). Conceitos básicos na área de deficiência visual: Acomodação: é o ajuste do olho para ver as diferentes distâncias, efetuado pela mudança de forma do cristalino através da ação do músculo ciliar, focalizando uma imagem clara na retina. Acuidade visual: refere-se a uma medida da capacidade de distinguir claramente os mínimos detalhes. Ambliopia: condição que ocorre quando um olho tem desenvolvimento muito melhor que o outro, ou se os dois olhos não estão alinhados, o que resulta numa perda de visão não atribuída a qualquer doença. Atenção visual: olhar prolongadamente objetos ou figuras. Brilho (ofuscação): qualidade de brilho relativo da luz que cause desconforto no olho ou que interfere com a visibilidade e desempenho visual. 6 Campo visual: área do espaço físico visível quando o corpo, a cabeça e os olhos estão em uma posição estacionária frente ao estímulo observado. Contraste: a diferença relativa entre o claro e o escuro nas coisas (objetos) observados. Diferenciação de figura-fundo: capacidade para discriminar objetos visíveis separando-os do fundo. Eficiência visual: controle do mecanismo ótico. Envolve: velocidade e capacidade de filtração e depende do uso máximo de visão residual. Estimulação visual: apresentação de objetos e materiais visíveis numa seqüência coerente e ordenada, para permitir e obter desenvolvimento perceptivo visual. Experiência visual: abrange: acuidade visual, reconhecimento e retenção da imagem, associação com experiências passadas e símbolos, formação de conceitos. Exploração visual: cuidado inspeção de objetos visíveis ou de ambiente circundante. Figuras: refere-se aos contornos de objetos e formas geométricas e lineares com ou sem detalhes. Fixação: refere-se ao ato de focar os olhos sobre um objeto ou estímulo visual sobre o papel. Fotofobia: anormalidade sensitiva, desconforto pela luz. Funcionamento visual: significa interpretar e compreender significativamente o que o indivíduo vê. Informação visual: conhecimento do ambiente e das coisas adquiridas através do sentido visual. Magnificação: um aumento no tamanho de um objeto ou símbolo percebido. Nistagmo: movimento involuntário do globo ocular sintomático de disfunção neurológica. Pode ser lateral, vertical, rotatório ou misto. Oclusão visual: capacidade de perceber uma figura completa quando somente uma porção é visível. Percepção de luz: capacidade de indicar diferença entre claro e escuro. Percepção de profundidade: a capacidade para perceber a distância relativa de objetos e sua relação espacial com outros. Percepção visual: capacidade de interpretar o que é visto. Processo pelo qual as impressões recebidas pelo olho são transmitidas ao cérebro onde ocorre relacionamento com as experiências passadas. Requer maturação (fatores neuromotores e psicológicos). 7 Pista visual: qualquer tipo de informação visual que possa ser usada por uma pessoa para orientar-se no espaço, mover-se de um lugar para o outro, desempenhar qualquer tarefa ou função ou localizar um lugar ou objeto desejado. Projeção de luz: capacidade de indicar a origem do foco de luz. Seguimento visual: seguir os objetos em movimento de um lado para o outro ou de cima para baixo. Símbolo: termo usado para se referir às letras e palavras que apareçam isoladamente ou com outras e que podem ou não estar associadas com objetos concretos ou gravuras. Sistema visual: todas as partes componentes do olho, nervo ótico, cérebro e associação de estágios que influenciam olhar e ver. Visão binocular: o uso de ambos os olhos simultaneamente para focar o mesmo objeto e fundir as duas imagens para uma interpretação correta. Visão periférica: percepção de objetos, movimento ou cor, fora da linha central de visão. Visão residual: qualquer visão remanescente útil presente ou que possa ser desenvolvida apesar de imperfeição severa em qualquer das estruturas ou tecidos dos olhos, ou em alguma parte do sistema visual. (CAVALCANTE, 1995). Características Gerais: limitações apresentadas pelos portadores de deficiência visual Antes de falar sobre as limitações do deficiente visual é bom lembrar uma frase de Melo (1988): "(...) Não pense que os cegos têm um sexto sentido ou que a natureza os compensou pela falta da visão. O que há de tão "surpriendente" nos cegos é o simples desenvolvimento de recursos latentes em todos nós. Você, como o mesmo treinamento, será tão "extraordinário" quanto eles!". As pessoas cegas ou com visão subnormal, adquirida antes do dois anos de idade, são iguais a qualquer outra, com a diferença que esta tem um atraso em seu desenvolvimento e, além disto, inicialmente é muito dependente (situação esta que desaparece gradativamente com o crescimento devido a atividade de vida diária - AVD - que proporciona à criança condições de formar hábitos de auto-suficiência que permite que esta pessoa participe 8 ativamente do ambiente em que vive, dentro de suas potencialidades). Isto ocorre, pois a visão é o sentido integrativo de todos os outros sentidos, é a janela para o mundo. As dificuldades e limitações de um deficiente visual são muitas, o que faz com que os pais fiquem superprotegendo o deficiente, impedindo com que ele consiga levar uma vida normal e conquiste sua auto-suficiência. Isto pode ter conseqüências drásticas no desenvolvimento da criança, sendo que esta pode ter um atraso de até dois anos em relação a pessoa normal. As limitações dos deficientes visuais variam muito do grau de deficiência, assim como eles encaram sua limitação: Limitações Psicomotoras: - imagem corporal; - esquema corporal; - esquema cinestésico; - equilíbrio dinâmico; - postura estática e dinâmica; - mobilidade; - marcha; - locomoção; - expressão corporal; - expressão facial; - coordenação motora (mais acentuada na coordenação motora grossa); - lateralidade; - direcionamento; - inibição voluntária; - maneirismos; - resistência física; - dificuldade de relaxamento; - tônus muscular; - maior intervalo de tempo entre a prontidão postural e o movimento correspondente; - flexibilidade articulatória. 9 Limitações Cognitivas: A pessoa cega ou com visão reduzida tem muitas dificuldades de formar conceitos uma vez que a captação de estímulos, assim como a falta de relação entre objeto visualmente percebido e o que se apresenta através da palavra, a falta de experiências práticas, causam esta limitação cognitiva mas isto não ocorre porque o deficiente visual é incapaz de raciocinar, e sim pela dificuldade que ele tem em transformar aquilo que ele pode tocar em uma imagem do que ele nunca viu. Limitações Sócio-afetivas: - autoconfiança; - auto-estima; - sentimento de maior valor; - insegurança em relação às suas possibilidades; - apatia; - dependência; - medo de situações e ambientes não conhecidos; - dificuldade de estabelecimento de relações básicas do seu "eu" com as pessoas e com o ambiente; - isolamento e desinteresse pela interação social; - construção de barreiras no relacionamento; - ansiedade. 10