AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS EM PSICOTERAPIA A avaliação dos resultados em Psicoterapia era realizada,na maioria das vezes,pela aplicação de testes psicológicos antes e depois da psicoterapia,questionários que podiam ser respondidos pelos pacientes ou pelos terapeutas ou supervisores e um grupo de CONTROLE SEM PSICOTERAPIA... Jorge W.F.Amaro Avaliação dos resultados em Psicoterapia • Muitas variáveis não podiam ser controladas comprometendo a confiabilidade nos resultados da pesquisa. • Devido a estas dificuldades houve um desestímulo que vários autores expressam quanto à possibilidade de pesquisa em psicoterapia. Jorge W.F.Amaro Avaliação dos resultados em Psicoterapia • Alguns autores como J.D.Frank(1961) observaram que estudos estatísticos da psicoterapia relatam que cerca de 2/3 dos pacientes neuróticos melhoram imediatamente após o tratamento independentemente do tipo de psicoterapia que receberam,e a mesma melhora tem sido verificada em pacientes que não receberam nenhum tratamento que fosse deliberadamente terapêutico.(apud R.B.Stuart). Jorge W.F.Amaro Avaliação dos resultados em Psicoterapia • Muitos pesquisadores questionavam a confiabilidade de teorias básicas de correntes psicoterápicas, como por exemplo, a psicanálise atribuindo os resultados dela a processos de influência sugestiva e não por verdadeiras mudanças. Jorge W. F. Amaro • A fidedignidade dos julgamentos baseados em dados de testes projetivos foi considerada baixa.Mesmo com o Rorschach que é um teste importante havia diferenças nas interpretações dos resultados vistas por diferentes examinadores experientes. • Na década de setenta ainda era possível apresentar artigos sobre psicoterapia sem o rigor que hoje se impõe.Assim em 1972 foi defendida a tese de “doutoramento”Contribuição para o estudo dos abandonos na Psicoterapia de Grupo. • Nesta tese a variável dependente era o abandono e as variáveis independentes e controláveis foram o uso ou não de psicoterapia individual concomitante ou prévia à psicoterapia grupal. • Muitas foram as variáveis intervenientes que não puderam ser controladas as quais enfraqueciam o valor do resultado. • Com o desenvolvimento ,no campo da pesquisa,da detecção de fatores preditivos de prognóstico em psicoterapia e da utilização de escalas padronizadas de avaliação de sintomas e sinais surgiu um novo estímulo para as pesquisas em psicoterapia. • Com o aparecimento e desenvolvimento da terapia tipo cognitivo comportamental e da psicoterapia breve um maior estímulo as pesquisas surgiu pois havia a possibilidade de circunscrever e focar um objetivo limitado na terapia e a aplicação de escalas universalmente aceitas. • O uso das escalas ,embora hoje aceitas como um instrumento indispensável para a metodização da pesquisa , é objeto de controvérsias no que se refere aos componentes técnicos e culturais que tornam seu uso complexo no que se refere a novas variáveis não controláveis. • Hoje temos escalas para avaliação da depressão,da ansiedade,de dependentes de drogas,de transtornos alimentares etc.... • Tanto os sintomas como os sinais oriundos dos aspectos psicopatológicos de uma entidade nosológica foram dissecados, enquadrados e incluídos em diferentes escalas. • Temos que questionar a teoria que foi utilizada para definir o constructo bem como a operacionalização de seu instrumento de medida. • O Psicometrista e pesquisador irá utilizarse nos instrumentos de medida os quais surgiram das teorias psicológicas aceitas para a definição do construto. • Existe uma legião de psicólogos teóricos que estabelecem padrões e conceitos divergentes de outros pesquisadores,como por ex. os behavioristas e os psicanalistas etc.. • É preciso definir-se o constructo o qual pode apresentar-se com uma definição constitutiva e com uma definição operacional. • Até o presente não é comum o uso de marcadores biológicos para aferição de mudanças em psicoterapia.(como as vezes é feito na pesquisa do alcoolismo). • • Recentemente por meio do P.E.T. Scan(Wchwartz 1996), • os pesquisadores puderam constatar que tanto o comportamento como o pensamento enfluenciam os processos bioquímicos cerebrais e também que o processo psicoterápico eficaz provoca alterações nos mecanismos neuroquímicos dos indivíduos. • Por enquanto temos que utilizar os instrumentos mais facilmente disponíveis que são a utilização dos conceitos de classificação diagnóstica da DSM-IV , as entrevistas padronizadas e a aplicação de escalas internacionalmente aceitas. • Francis Galton dizia que:”until the phenomena of any branch of knowledge have been submitted to measurement and number, it cannot assume the status an dignity of a science”(apud Pichot,1997). • Esta máxima positivista é a intenção da pesquisa em nossos dias porém está muito longe deste objetivo. • Se por um lado a padronização da DSMIV e das escalas de avaliação constituiu uma linguagem comum entre os pesquisadores, variáveis culturais fornecem dificuldades para este positivismo em andamento. • Estudos realizados nos últimos anos tem demonstrado a influência da raça e da cultura até na farmacocinética,farmacogenética e farmacodinâmica da maioria dos psicotrópicos(LIN et al 1993 ;Rudorfer,1993). • Diferenças no dialeto entre pessoas de diferentes regiões geográficas ,etnias ou classes sociais são muito freqüentes , • principalmente quando envolvem experiências subjetivas afetando o resultado da aplicação de questionários e das escalas. • Crenças religiosas socialmente institucionalizadas e a distinção com delírios;experiências sobrenaturais socialmente sancionada e a distinção com alucinações. • Apesar de todas estas dificuldades o relato verbal ainda é o elemento utilizado para averiguação de mudanças de estados subjetivos. • As escalas de avaliação são geralmente de dois tipos: • aquelas preenchidas pelo observador e aquelas preenchidas pelo próprio indivíduo. • As escalas de avaliação preenchidas pelo observador inclui a variável experiência do mesmo enquanto as preenchidas pelo próprio indivíduo apresentam limitações como as variáveis:dificuldade de compreensão,falsificação da resposta e necessidade de agradar o terapeuta • As escalas de auto-avaliação podem ser de natureza discreta ou analógica. • As de natureza discreta indagam categorias como:pouco,muito,mais ou menos,intensamente. • As de natureza analógica indagam estados subjetivos e são usadas para avaliar estados de humor,ansiedade etc.. • No caso por ex da depressão várias são as escalas que podem ser utilizadas: Entre as escalas de auto-avaliação o inventário de depressão de Beck é muito utilizado.Entre as escalas aplicadas por um observador temos :Escala de Hamilton(1960) ,Escala de MontgomeryAsberg(1979) etc. • O GRUDA(Grupo de doenças afetivas)tem muita experiência na aplicação destas escalas. • No Instituto de Psiquiatria diferentes grupos de pesquisadores se especializaram em aprofundar os conhecimentos dos diferentes quadros nosográficos encontrados na psicopatologia dos transtornos mentais. • Assim por exemplo o AMBAN(ambulatório de ansiedade); • Laboratório de investigação médica(LIM 23);GRUDA(Grupo de estudo de doenças afetivas);e muitos outros.Todos familiarizados com as escalas de avaliação para os seus tipos de pesquisa. • Quando a psicoterapia breve entrou em seu pleno desenvolvimento abriu-se a possibilidade de fazer pesquisa em psicoterapia onde o tempo é limitado,há um foco de tratamento e de pesquisa e um maior controle de variáveis. • Enquanto os trabalhos sobre psicoterapia clássica,prolongada e sem um foco determinado dificultavam a pesquisa ,os autores de pesquisa em psicoterapia breve começavam a introduzir modelos de trabalho de pesquisa. • Assim foi como a psicoterapia dinâmica breve(PDB). • Malan propõe um modelo de pesquisa,no que tange a avaliação dos resultados em psicoterapia,que levasse em conta não apenas os aspectos explícitos do paciente como os sintomas clínicos e as dificuldades de relacionamento mas mudanças na estrutura do funcionamento mental do paciente. • Ele procura distinguir a melhora sintomática da reorganização da estrutura de funcionamento mental. • Criou a escala de avaliação dos pacientes(Malan1963). • 3-evidência de resolução do problema principal • 2-evidência de resolução limitada do problema principal,particularmente resolução em problemas de relacionamento com pessoas do mesmo sexo sem mudança nas relações com pessoas do sexo oposto. • 1-melhora sintomática substancial sem melhora palpável nos relacionamentos humanos ou falsa melhora a ser valorizada. • 0-qualquer outro tipo de mudança ou nenhuma mudança. • Esta escala é aplicada após o término da psicoterapia por avaliadores independentes. • Sifneos(1989) procura mudanças específicas que ocorreram em funçaõ da psicoterapia.Como Malan,Sifneos procura não só melhora dos sintomas mas também o maior ou menor resultado no desenvolvimento do insight do paciente. • O serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria possui um grupo de pesquisadores que utilizam a Psicoterapia breve e são bem familiarizados com estas escalas. • PSICANÁLISE E PESQUISA • As dificuldades metodológicas com as quais nos deparamos para pesquisar dados eminentemente subjetivos devem ser enfrentadas objetivamente, podendo, inclusive, ser benéfico para a própria teoria psicanalítica e levar a reformular a própria noção de pesquisa no campo psicanalítico. • Ao invés de recusar dificuldades metodológicas e conceituais que a pesquisa nos impõe, talvez essa questão pudesse ser melhor colocada se nós perguntássemos simplesmente o que pode ser pesquisado em psicanálise. Podemos tentar definir os critérios de observação e os processos de inferência que se seguem. • A Psicanálise baseia-se enquanto constructo teórico-prático, na idéia de que existem estruturas subjacentes (concebidas como geradoras de significado) à consciência dinamicamente “escondidas • A colocação da existência de um mundo interno de relações, influenciadas por objetos internos que influenciam nosso comportamento. Não podemos observar diretamente esses objetos internos, porém investigá-los por meio dos seus efeitos e, a partir desses efeitos as estruturas ocultas podem ser inferidas. • Na essência a Psicanálise é ao mesmo tempo tratamento e pesquisa. A pesquisa psicanalítica se utiliza da investigação dos mecanismos de estruturação dos processos emocionais. Neste caso ela está acoplada à estrutura básica teórica da própria psicanálise. Este é a pesquisa pelo método psicanalítico em si. Assim a pesquisa dos mecanismos de defesa e sua estruturação e pelo próprio método psicanalítico a mudança da estruturação dos mecanismos de defesa. • Embora a experiência clínica acumulada em mais de 100 anos de efetivo trabalho com a psicanálise, tal método não tem permitido um diálogo mais amplo com a Psiquiatria baseada em evidências • Dentre as controvérsias atuais na comunidade psicanalítica há os que defendem que a Psicanálise deva adequar-se a pesquisa como nas ciências humanas, porém outros propõem que deva adequar-se a buscar o diálogo com as ciências naturais e sua metodologia • A investigação científica em Psicoterapia é um campo relativamente recente, iniciado no princípio do século XX. Continua a ser espaço de controvérsias envolvendo argumentos científicos, sociais, políticos e econômicos • Quando em 1952 o psicólogo inglês Hans Eysenck publicou um artigo onde concluiu que não havia dados que sustentassem a eficácia da Psicoterapia, levantou-se a questão fundamental: a Psicoterapia é eficaz? • Segundo alguns autores que pesquisaram centenas de estudos por meio da metaanálise concluíram que a Psicoterapia é benéfica e eficaz. • Comparações feitas entre a Psicoterapia em relação às listas de espera, as situações de não tratamento e mesmo grupos de controle placebo, demonstraram a eficácia da Psicoterapia • Simone Isabel Jung e colaboradores publicaram recentemente, em Dezembro de 2006, na revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul uma excelente revisão das pesquisas e dos resultados em Psicoterapia Psicanalítica de longa duração • A metodologia usada por esses autores foi identificar os estudos mais significativos sobre o tema e para isso pesquisaram na extensa literatura através da consulta em base de dados com as palavras-chave: “Psicoterapia Psicanalítica”, “Psicoterapia Dinâmica” e “Psicoterapia Psicodinâmica • Dos artigos encontrados selecionaram os estudos que avaliaram os resultados da Psicoterapia de orientação analítica individual de longa duração em pacientes adultos publicados no período de 1990 a 2006. • De um modo geral aparece como informação constante que o tratamento psicanalítico de longa duração foi o que apresentou o melhor resultado em comparação a todos os outros, incluindo os não tratados • Simone Isabel Jung e colaboradores encontraram nesta pesquisa uma constante de resultados nos diversos artigos publicados: que aliança terapêutica é um relevante previsor do desfecho dos tratamentos, independentemente do tipo de psicoterapia • Esses autores informam que nesta revisão encontraram métodos diferente de avaliação. Dois métodos mais freqüentes surgiram como referencial de avaliação de resultados em Psicoterapia: o Método da Eficácia, que faz uso de estudo clínico controlado ( randomized clinical trial-RCT) e o Método da Efetividade que se caracteriza pelos estudos chamados naturalísticos, cujas condições em investigação são aquelas da prática clínica • Ressaltam que as chamadas Psicoterapias Psicanalíticas têm ganhado espaço na atualidade, principalmente nos cursos de pós-graduação. Alertam, no entretanto, o número reduzido de pesquisas de resultados em Psicoterapia Psicanalítica de longa duração na América Latina. • Segundo esses autores, existe na atualidade uma tendência para o cuidado detalhado e rigoroso da investigação com estudos prospectivos, uso de avaliadores independentes e terapeutas comprovadamente com a experiência clínica. É também preocupação atual em colocar a investigação psicanalítico consoante com os princípios científicos, sem desconsiderar a subjetividade característica dessa abordagem • Ressalta também que diversidades de métodos de avaliação leva a uma série de dificuldade quando se tenta realizar comparações ou meta-análises nos resultados • As principais críticas às pesquisas de resultado da Psicoterapia Psicanalítica foram: ausência de diagnósticos padronizados, a inadequada informação sobre os procedimentos de tratamento, a falta de grupo de controle e de randomização, as perdas durante o tratamento e no seguimento, a heterogeneidade dos grupos de pacientes considerados, a falta do poder estatístico e uso de estatística inadequada, a ausência de avaliação independente do resultado, a inexistência de padronização e a validade questionável de algumas medidas e resultados. • Ao ser comparada com outras modalidades de tratamento, como a Terapia Comportamental e o Tratamento Farmacológico, a Psicoterapia Psicanalítica apresenta resultados positivos, porém, pelo número reduzido destes estudos e suas limitações metodológicas, ainda não há evidências significativas de que a Psicoterapia Psicanalítica apresente resultados superiores às outras formas de tratamento. • Como considerações finais esses autores apontam a importância de investigação e pesquisa para avaliar os resultados da prática da Psicoterapia Psicanalítica no sentido de confirmar os pré-supostos do corpo teórico e a eficácia/efetividade desta atividade, possibilitando então a manutenção, a modificação ou refutação da teoria, otimizando a técnica e o método de Psicoterapia. • Esses autores alertam que não se trata de negar que as características do processo psicanalítico e sua intersubjetividade dificultam a objetivação da pesquisa científica, porém apontar este aspecto como uma impossibilidade seria como fechar os olhos para os avanços científicos.