Terapia Daseinsanalítica de uma senhora com afasia de expressão

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Terapia Daseinsanalítica de uma senhora com afasia de expressão devido a AVCs – o
resgate de uma história pelo compartilhar comunicativo
Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista, Universidade Paulista/ Universidade de São Paulo
Resumo: Supervisiono os atendimentos em psicoterapia de alunos da graduação em psicologia
na Universidade Paulista (UNIP). Nesse estágio os alunos oferecem atendimentos
psicoterápicos a pacientes que procuram a clínica-escola. Os atendimentos são semanais, duram
50 minutos. São posteriormente transcritos pelos estagiários para análise em supervisão. A
psicoterapia e a supervisão estão fundamentadas na Daseinsanalyse de Medard Boss. A presente
comunicação discute um caso clínico atendido neste estágio. Trata-se de uma senhora
encaminhada à clínica-escola após sofrer dois AVCs, que deixaram como sequela dificuldades
na fala. Chega com queixa de sintomas depressivos. O atendimento e as discussões foram
conduzidos atentando para 3 aspectos fundamentais da Daseinsanalyse: 1) a importância da fala
como morada do ser, reveladora de mundo (Heidegger, 1927/2012); 2) a interpretação deste
modo de ser-doente como restrição mais acentuada na esfera corpórea do existir (Boss &
Condrau, 1976) ; 3) o modo de ser-com-os-outros manifesto na relação psicoterapêutica
(“transferência”) (Boss, 1994). O processo psicoterapêutico se estende por um ano. Em síntese,
a psicoterapia escapa da armadilha de interpretar o sofrimento psicológico da paciente como
consequência de uma doença orgânica e, com isso, evita de assumir o lugar de treinamento de
comportamentos verbais (tratamento de reabilitação). A restrição na fala é compreendida como
modo de ser-no-mundo e, portanto, de ser-com. A paciente, já antevendo sua dificuldade de
expressão verbal, antecipa-se ao outro e desiste de se comunicar. Ao mesmo tempo, sua
dificuldade para falar provoca no interlocutor o anseio de ajudá-la a completar suas frases,
substituindo-a na tarefa de expressar-se: “preocupação substitutiva” (Heidegger, 1927/2012).
Possibilitando que se expresse de seu jeito e a seu ritmo, o psicoterapeuta propicia a ela uma
relação em que pode ser tal como lhe é atualmente possível (“solicitude libertadora”, Heidegger,
1927/2012). Aos poucos, a comunicação possibilitada se torna o compartilhar de uma rica
história de vida, que estava aprisionada no esquecimento pelo silêncio preparado pelos AVCs e
empunhado pela paciente.
Palavras-Chave: Daseinsanalyse; Psicoterapia; Tratamento de Reabilitação
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