9. O pensamento moderno

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CENTRO EDUCACIONAL MARIA AUXILIADORA
REDE SALESIANA DE ESCOLAS
2015 - Ano da Paz.
Nome:
Profº. (a): Marcos
Disciplina: Filosofia
Série:
EM
Data:
/
Turma:
/
Nota:
Ciente do Responsável:
TEXTO PARA APROFUNDAMENTO
O Pensamento Moderno
Transcendência Cristã e Imanência Moderna
Achamos a característica específica do pensamento clássico na solução dualista do problema
metafísico. Existem o mundo e Deus, mas são separados entre si: Deus não conhece, não cria, não
governa o mundo. Tal dualismo não será negado, mas desenvolvido no pensamento
cristão mediante o conceito de criação, em virtude da qual é ainda afirmada a realidade e a distinção
entre o mundo e Deus, mas Deus é feito criador e regedor do mundo: o mundo não pode ter
explicação a não ser em um Deus que transcende o mundo. O pensamento moderno, ao contrário,
finaliza em uma concepção monista-imanentista do mundo e da vida: não somente Deus e o mundo
são a mesma coisa, mas Deus é resolvido num mundo natural e humano. Consequentemente, não
se pode mais falar em transcendência de valores teoréticos e morais, religiosos e políticos, pois "ser"
e "dever ser" são a mesma coisa, o "dever ser" coincide com o "ser".
É evidente que a passagem da concepção dualista (clássica) à concepção teísta (cristã) é um
desenvolvimento lógico, que se manifesta especulativamente no desenvolvimento tomista
de Aristóteles. Pelo contrário, a passagem da concepção tradicional, teísta, à concepção moderna,
imanentista, representa teoricamente uma ruptura. O pensamento moderno, todavia, especialmente
o pensamento da Renascença, tem seu precedente lógico no panteísmo neoplatônico, que - após
ter-se afirmado como extrema expressão do pensamento clássico - permanece através de todo o
pensamento cristão em tentativas mais ou menos ortodoxas de síntese entre cristianismo e
neoplatonismo (Pseudo Dionísio, Scoto Erígena, Mestre Eckart, etc.). E, por outra parte, o
pensamento tradicional, helênico-escolástico, aristotélico-tomista, encontrará nos grandes valores da
civilização moderna (a ciência natural, a técnica, a história, a política) sua integração lógica.
Não se julgue demolir a filosofia medieval, a metafísica tomista, opondo à sua elementar e fantástica
ciência da natureza a ciência moderna com suas grandes aplicações técnicas, pois não é a ciência
natural - capaz apenas de resolver os problemas da vida material, mas incapaz de resolver os
problemas máximos da vida, espirituais, morais, religiosos - que pode decidir do valor de uma
civilização. E a ciência natural da Idade Média não está absolutamente em conexão com o
pensamento filosófico medieval; o próprio Tomás de Aquino julgava logicamente que a filosofia podia
ser uma só, em adequação à realidade, ao passo que admitia a possibilidade de uma ciência natural
diversa daquela do seu tempo. Além disso, se, de fato, a escolástica pós-tomista, decadente,
alimentou suspeitas e combateu longamente contra a nascente ciência moderna, a favor da velha
ciência natural aristotélica, a nova escolástica, isto é, o novo tomismo, não teve dificuldade alguma
em aceitar toda a ciência natural moderna, e, como tal, porquanto esta representa uma valor infrafilosófico, e, como tal, indiferente à filosofia, à metafísica.
O valor da ciência moderna não é teorético, especulativo, metafísico, mas empírico e técnico. Tal era
também o pensamento do grande fundador da ciência moderna, Galileu Galilei, que afirmava ser o
objeto da ciência não as essências metafísicas das coisas, e sim os fenômenos naturais,
experimentalmente provados e matematicamente conexos. E destes conhecimentos experimentais e
matemáticos de fenômenos naturais derivava ele as primeiras grandes aplicações técnicas da
ciência moderna. Aplicações técnicas que possuem também um valor espiritual, o do domínio
natural do homem sobre a natureza: contanto que o homem reconheça, naturalmente, acima de si e
de tudo, Deus.
O que dissemos da ciência, podemos dizê-lo analogamente da história. A historiografia medieval é,
sem dúvida, insuficiente, ingênua, descuidada, pois, era escasso na mentalidade medieval o senso
Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8)
da concretidade e da individualidade, sem o qual não é possível a história verdadeira e própria. Mas
a concepção medieval da história, que é a cristã e já teve a sua expressão clássica na Cidade de
Deus de Agostinho é perfeitamente conciliável com a indagação histórica moderna, devendo esta
última fornecer à primeira a sua rica contribuição de fatos, o seu profundo senso histórico, o seu
interesse pela concretidade.
Costuma-se inculpar a civilização medieval por ter aniquilado o estado nacional concreto, orgânico,
para construir uma unidade política grandiosa, mas abstrata, uma utopia universalista, como o Sacro
Império Romano. No entanto, isto não foi senão uma expressão exterior daquela estrutura profunda
que se chama a cristandade: equivalente civil da igreja católica, capaz de abraçar os mais diversos
organismos políticos. Nem se deve esquecer que precisamente na comuna medieval se encontra a
primeira origem do estado moderno, interiormente organizado e politicamente soberano. E é na
Idade Média que se formam as grandes nações modernas. Noutras palavras, é na Idade Média que
se formou o Estado distinto da Igreja, mas não leigo, imanentista, ateu, bem como o laicado distinto
do clero e organizado civilmente em graus de corporações, mas cristão, católico, romano.
Poder-se-ia fazer notar que tal efetiva distinção e relativa autonomia do Estado (e do laicado) com
respeito à Igreja (e ao clero) foram alcançadas através de uma longa luta contra o predomínio e a
invasão destes últimos. Mas cumpre ter presente que, na alta Idade Média, no período bárbaro, nos
séculos de ferro, a igreja romana e o clero católico desempenharam funções também leigas e
profanas, como, por exemplo, a instrução cultural, a assistência hospitalar, e até a agricultura, a
indústria, o comércio, as comunicações, etc., pelo fato de que ninguém estava em condições de
fazê-lo. E é devido a isso que a civilização não pereceu, e foi conservada para a idade moderna.
Aliás, a Igreja católica estava apta e disposta - a prescindir-se das intenções dos homens e de suas
fraquezas fatais - a livrar-se desses cuidados estranhos gravosos e perigosos para o seu ministério
transcendente e sobrenatural, quando os homens e os tempos estivessem maduros. Basta lembrar,
a este respeito, a atitude da Igreja, praticamente liberal, compreensiva e ativa com respeito ao
Estado, desde os comunas medievais até às grandes monarquias européias do século XVII e ainda
além.
Os Precedentes do Pensamento Moderno
Dada a ruptura lógica entre o pensamento tradicional, teísta, e o pensamento moderno, imanentista,
não se podem achar causas racionais dessa mudança, mas apenas práticas e morais. Em seguida
virá a justificação teórica da nova atitude espiritual, que será constituída por todo o pensamento
moderno em seu desenvolvimento lógico.
O grandioso edifício ideal da Idade Média, em que a religião e civilização, teologia e filosofia, Igreja e
Estado, clero e laicado, estavam harmonizados na transcendente unidade cristã, foi, de fato,
destruído pelo humanismo imanentista, que constitui o espírito característico do pensamento
moderno. Este pensamento começa com a prevalência dada aos interesses e aos ideais materiais e
terrenos, com o conseqüente esquecimento dos interesses e ideais espirituais e religiosos; e tornase completo com a justificação dos primeiros e a exclusão dos segundos. É precisamente o que
acontece com os homens inteiramente entregues aos cuidados mundanos: primeiro se esquecem
das coisas transcendentes, e, em seguida, querendo ser coerentes, negam-nas.
Entretanto, se não há causas lógicas do pensamento moderno, há, porém, precedentes
especulativos, que, valorizados pela nova atitude espiritual, se tornarão fontes especulativas do
próprio pensamento moderno. Tais precedentes especulativos podem ser resumidos desta forma: o
panteísmo neoplatônico, o aristotelismo averroísta e o nominalismo ocamista, os quais foram-se
afirmando contemporaneamente a uma gradual decadência do genuíno pensamento escolástico
(racional, teísta, cristão), especialmente tomista, com que se acham em oposição. E tal decadência
cultural é acompanhada, por sua vez, pela decadência da Igreja e do Papado - o exílio avinhonês e
o cisma do ocidente.
O panteísmo neoplatônico teve a sua primeira grande manifestação, no âmbito do cristianismo,
com Scoto Erígena. Tentará afirmar-se de novo na própria época de Tomás de Aquino com Mestre
Eckart, o iniciador da mística alemã. E receberá uma nova original elaboração do Humanismo
com Nicolau de Cusa, que não pouco deve aos precedentes; e, sobretudo, com Giordano Bruno, o
maior pensador da Renascença, o qual depende, por sua vez, de Nicolau de Cusa. O averroísmo
latino afirmara na Idade Média a sua famosa doutrina das duas verdades: o que não é verdadeiro
em filosofia pode ser verdadeiro em religião e vice-versa. Em uma idade cristã, como a Idade Média,
a afirmação religiosa podia Ter a prevalência sobre a negação filosófica; obscurecendo-se a fé,
Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8)
como na Renascença, devia prevalecer uma concepção anti-cristã, aristotélica ou não.
O occamismo marca a conclusão lógica da decadente escolástica pós-tomista, apesar de seus
partidários se comprazerem em denominá-la via modernorum. E, ao mesmo tempo, apresenta um
elemento fundamental da filosofia moderna com o seu empirismo e nominalismo. Nicolau de Cusa,
Telésio, Bruno, Campanella serão também herdeiros do nominalismo empirista de Occam, que se
combina,
nos
sistemas
deles,
com
uma
metafísica
aventurosa
de
cunho
particularmente neoplatônico.
Como é sabido, segundo Occam, o conhecimento humano é reduzido ao conhecimento sensível do
singular e, portanto, ao nominalismo. Conseqüência lógica e consciente é a destruição da
metafísica, que transcende o mundo empírico, sensível, bem como da ciência, que é entretecida de
conceitos, impossíveis de nominalismo, de sorte que se esvai da teodicéia, porquanto não se pode
provar racionalmente a existência de Deus, nem conhecer a sua natureza; e a psicologia racional,
pelo mesmo motivo. E, consequentemente, torna-se impossível a ética racional, porque - sendo
desconhecida a essência de Deus e destruída a do homem - a moral fica reduzida a um conjunto de
preceitos arbitrários de Deus, que o homem tem que observar por fé. Occam procurará salvar-se do
ceticismo - conclusão do seu sistema, com todas as conseqüências práticas - mediante a fé.
Entretanto é uma posição insustentável, porquanto a fé - não podendo mais ser um racional
obséquio - torna-se uma adesão cega. Em época de religiosidade ainda viva, esse fideísmo
ocamista pôde praticamente ficar de pé. Mas ruirá quando a fé vier a faltar, deixando o terreno livre
ao empirismo, ao naturalismo, ao nominalismo, ao ceticismo, imanentes ao ocamismo, e que
constituirão tão grande parte do pensamento da Renascença, da Reforma e também do pensamento
posterior.
Os Períodos do Pensamento Moderno
Este grande movimento especulativo, que é o pensamento moderno, naturalmente não se manifesta
na sua significação imanentista senão na plenitude do seu desenvolvimento. Portanto, manifesta-se
através de uma série de períodos, que se podem historicamente (e dialeticamente) indicar assim:
1. - Antes de tudo a Renascença , em que a concepção imanentista, humanista ou naturalista, é
potentemente afirmada e vivida. Trata-se, porém, de uma afirmação ainda não plenamente
consciente e sistemática, em que o novo é misturado com o velho. Este, muitas vezes, prevalece, ao
menos na exterioridade da forma lógica e literária. A Renascença é preparada pelo Humanismo, e
tem como seu equivalente religioso a reforma protestante.
2. - A este primeiro período do pensamento moderno, que, substancialmente, abrange os séculos
XV e XVI, se seguem o racionalismo e o empirismo, que abrangem os séculos XVII e XVIII. Após a
revolução renascentista e protestante, sente-se a necessidade de uma séria indagação crítica, não
para demolir aquelas intuições revolucionárias, mas, ao contrário, para dar-lhes uma sistematização
lógica. É o que fará especialmente o racionalismo em relação ao conhecimento racional.
3. - E outro tanto fará e empirismo em relação ao conhecimento sensível. Empirismo e racionalismo
são tendências especulativas, gnosiológicas, opostas entre si, como a gnosiologia sensista está
certamente em oposição à gnosiologia intelectualista. Entretanto, concordam em um comum
fenomenismo, pois, em ambos, o sujeito é isolado do ser e fechado no mundo das suas
representações. Não se conhecem as coisas e sim o nosso conhecimento das coisas.
4. - Empirismo e racionalismo, após uma lenta, gradual e silenciosa maturação, encontrarão uma
saída prática, social, política, moral, religiosa no iluminismo e, portanto, na revolução francesa
(Segunda metade do século XVIII); esta representa a concreta realização do pensamento moderno
na civilização moderna. Esse movimento começa na Inglaterra, triunfa na França e se espalha, em
seguida, na Alemanha e na Itália.
Fontes:
ARANHA Maria L. e MARTINS, Maria H., Filosofando, Editora Moderna, São Paulo, 2014.
CHAUI, Marilena, Introdução à História da Filosofia – dos Pré-Socráticos a Aristóteles, Companhia
da Letras, 2ª edição, São Paulo, 2002.
Coleção Os Pensadores, Os Pré-socráticos, Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição, vol.I, agosto 1973.
Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8)
DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Ideias dos Grandes Filósofos, São Paulo, Editora
Nacional, 1.ª edição, 1926.
FERRY, Luc, Aprender a Viver – Filosofia para os novos tempos, Editora Objetiva, 2007.
FRANCA S. J., Padre Leonel, Noções de História da Filosofia.
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MONDIN, Batista, Curso de Filosofia, Volume 1, 2 e 3. Editora Paulus, 3ª edição, 1977.
PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia, Edições Melhoramentos, São
Paulo, 10.ª edição, 1974.
REALE, Giovanni e ANTISERE, Dario, História da Filosofia I, II e II, Paulus, São Paulo 1997.
VERGEZ, André e HUISMAN, Denis, História da Filosofia Ilustrada pelos Textos, Freitas Bastos, Rio
de Janeiro, 4.ª edição, 1980.
Site: http://www.mundodosfilosofos.com.br
Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8)
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