Centros sentinela alertarão sobre pandemia de gripe Criada em 2000 para detectar novos tipos de influenza, rede ganha reforço para barrar possível pandemia Para conter uma epidemia generalizada (pandemia) de gripe, o governo federal está tomando algumas providências de prevenção. O Ministério da Saúde acaba de inaugurar mais 14 centros sentinelas para identificação de novas cepas (tipos) do vírus influenza, causador da gripe. Essas unidades vão ajudar a alertar o país, caso haja diagnóstico de um novo vírus capaz de ser transmitido entre humanos e que possa provocar pandemia. Com essas últimas instalações em funcionamento, a rede agora conta com 66 pontos de detecção, espalhados por 20 estados e no Distrito Federal. O projeto dos centros sentinelas é uma das medidas de controle apresentadas pelo ministério para conter a possível doença. A rede surgiu em 2000, mas com a ameaça de uma epidemia mundial de gripe, o governo intensificou os esforços para aprimorar o sistema de vigilância. Além disso, a Saúde quer atingir a meta de, em 2006, criar o serviço também no Mato Grosso, Maranhão, Piauí, Acre, Amapá e Rondônia. As unidades sentinelas são hospitais, postos de saúde e policlínicas. Elas se cadastram e recebem treinamento do Ministério da Saúde, equipamentos de informática e refrigeração e kits de coleta de amostras. Essas unidades têm como função recolher secreções nasais e da faringe de pessoas com sintomas de gripe. O objetivo é verificar quais vírus estão presentes naquela região, o que permite traçar estratégias, por exemplo, de vacinação e de distribuição de remédios. “O critério para seleção de que unidades serão sentinelas é geográfico”, explica o coordenador de Vigilância Epidemiológica do ministério, Eduardo Hage. “É necessário que haja pelo menos uma por estado e mais de uma em estados maiores”, diz. As equipes de sentinelas ficam atentas à chegada de pacientes com sintomas de gripe nos ambulatórios e emergências hospitalares. As informações recolhidas sobre novas cepas de vírus influenza são encaminhadas por essas unidades aos Laboratórios Centrais (Lacen) de cada estado . Lá os técnicos verificam se a secreção contém o influenza ou outros vírus causadores de problemas respiratórios. Caso haja detecção de um vírus influenza do tipo A – o mais potente – as amostras seguem para estudos mais detalhados nos laboratórios de referência nacional: o da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Carlos Chagas e Adolfo Lutz. Nesses locais, os cientistas identificam as proteínas contidas no vírus e utilizam esse material como subsídio para produção de novas vacinas. As informações também chegam à Organização Mundial da Saúde (OMS), como contribuição para reforçar ações contra a gripe. Eduardo Hage, do Ministério da Saúde, chama a atenção que não é necessário ainda a população se preocupar com sintomas de uma gripe como a que atingiu a Ásia. “Até o momento a população não deve tomar nenhuma medida fora do normal. Caso tenha algum sintoma de gripe, a recomendação é que a população se dirija a uma unidade de saúde, como já faz”, afirma Hage. Estratégia – O ministro Saraiva Felipe levou esta semana para o Canadá o exemplo dos centros sentinelas e outras iniciativas que mostram como o Brasil se antecipa a uma possível pandemia. Saraiva Felipe participou de um congresso para ministros da saúde. O objetivo do evento foi traçar uma estratégia internacional de prevenção e de atuação caso se verifique a transmissão do vírus entre humanos. Até então, o vírus H5N1, responsável pela gripe na Ásia, tem transmissão dos animais para os humanos. Os cientistas temem que uma mutação no H5N1 gere um novo vírus capaz de ser transmitido entre seres humanos. O Plano Brasileiro de Contingência para a Pandemia de Gripe já está em fase final de elaboração e será apresentado no dia 16 de novembro em Brasília. Nos dias 16, 17 e 18 de novembro a possibilidade de uma pandemia de gripe será tema de um evento promovido pelo Ministério da Saúde na cidade do Rio de Janeiro. Participarão autoridades em saúde e especialistas do mundo inteiro. O encontro servirá para intercâmbio de experiências internacionais sobre a prevenção de pandemias de gripe. Caso ocorra uma pandemia da gripe, o Ministério da Saúde brasileiro vai reservar R$ 1 bilhão para o plano de contingência a ser colocado em prática. Essa verba será gasta ao longo de um ano na compra de medicamentos, fabricação de vacinas e campanhas educativas. O governo brasileiro negocia a compra do antiviral Tamiflu em quantidade suficiente para o tratamento de nove milhões de pessoas. Outra medida imediata anunciada pelo governo é o aumento na fiscalização de portos, granjas e frigoríficos para tentar barrar a entrada do vírus. O Ministério da Saúde também repassou R$ 3,1 milhões para adequar as instalações do Instituto Butantã. Em paralelo, está em fase de construção uma nova fábrica do instituto, em São Paulo, que dará autonomia ao Brasil na produção de uma nova vacina. Essa fábrica resulta de parceria do Ministério da Saúde com o governo estadual de São Paulo. Vigilância epidemiológica precisa de reforço global O ministro Saraiva Felipe defendeu na última terça-feira, em Ottawa, no Canadá, o fortalecimento da vigilância epidemiológica em escala mundial e a facilitação do acesso dos países a vacinas e antivirais como forma de evitar o surgimento de uma pandemia de gripe. “O fortalecimento da vigilância epidemiológica, em cada país e em escala global, é uma das tarefas mais fundamentais que temos no momento epidemiológico pré-pandêmico em que nos encontramos”, afirmou Saraiva Felipe em discurso no encontro. O ministro disse também que a detecção rápida de casos de gripe, no presente momento, possibilita a adoção de medidas de controle dessa epizootia (epidemia entre animais). “A rapidez na detecção dessa situação fará enorme diferença no sucesso de medidas de contenção que evitem ou retardem a disseminação do vírus”, declarou Saraiva Felipe, lembrando que o Brasil está reforçando a rede de unidades sentinelas. H5N1: o vírus da gripe aviária O Brasil ainda não registrou nenhum caso da chamada gripe aviária. Com 121 casos em humanos e a morte de 63 pessoas em quatro países da Ásia, desde 2003, a doença, causada pelo vírus influenza H5N1 já chegou à Europa. Descobriu-se a presença do vírus em aves na Rússia, Turquia, Romênia, Grécia, Croácia, Suécia e Reino Unido. O maior medo das autoridades de saúde de todo o mundo é de que esse vírus, hoje transmitido apenas de aves para humanos, sofra uma mutação. A partir daí, poderia haver o contágio entre pessoas, o que provocaria uma epidemia em escala global. A gripe aviária resulta da infecção das aves pelo vírus da influenza e é classificada como de baixa ou de alta patogenicidade, de acordo com a capacidade de provocar doença leve ou grave nesses animais. Nos casos mais graves, pode matar em um prazo de 24 horas. A doença apareceu, primeiramente, no Sudeste Asiático e tem se espalhado pelo mundo nas asas de aves migratórias. O vírus é transmitido através de aves migratórias (principalmente patos selvagens). Esse tipo de ave, muitas vezes, não manifesta a doença por ser mais resistente às infecções; apenas serve como reservatório dos vírus. Os sintomas da doença se manifestarão no frango. O vírus da gripe aviária pode ser transmitido para o homem através do contato direto com as fezes da ave. Outra forma de contaminação é por meio das secreções, como corrimento nasal, espirro e tosse das aves. Segundo os profissionais de saúde, não se pega a doença comendo a carne preparada do animal. Nos últimos dias, divulgou-se que uma pessoa na Tailândia, filho de uma vítima fatal da doença, teria se contaminado após ingerir carne de frango. “Isso não é verdade. Provavelmente ele se contaminou ao ter contato físico com a ave, ao matá-la para comer”, desmente Eduardo Hage, do Ministério da Saúde. “As altas temperaturas matam microorganismos como o vírus H5N1”, afirma. Segundo Hage, também não há problema em comer ovos fritos ou cozidos, pois o preparo desse alimento também elimina os vírus. Já o risco de ser contaminado comendo carne de frango é quase nulo. O vírus não suportaria altas temperaturas de cozimento.