os fatos sociais

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Tópicos de Sociologia
O comportamento humano é muito complexo e diversificado.
Cada indivíduo recebe influências de seu meio, forma-se de
determinada maneira e age no contexto social de acordo com sua
formação.
O indivíduo aprende com o meio, mas também pode transformálo em sua ação social.
Há comportamentos estritamente individuais - como andar,
respirar, dormir -, que se originam na pessoa enquanto organismo
biológico. São comportamentos estudados pelas Ciências Físicas
e Biológicas.
Por outro lado, receber salário, fazer greve, participar de
reuniões, assistir aulas, casar-se, educar os filhos são
comportamentos sociais, pois se desenvolvem no contexto da
sociedade.
Ao longo da História, a espécie humana tem organizado sua vida
de forma grupal.
As Ciências Sociais pesquisam e estudam o comportamento
social humano e suas várias formas de manifestação.
Entender a sociedade em que vivemos
Pode-se dizer que as Ciências Sociais caracterizam-se pelo
estudo sistemático do comportamento social do ser humano.
Dessa forma, o objeto as Ciências Sociais é o ser humano em
suas relações sociais.
Ao mesmo tempo, as Ciências Sociais têm por objetivo ampliar
o conhecimento sobre o ser humano em suas interações sociais
e estudar a ação social em suas diversas dimensões.
Ao realizar esse objetivo, as Ciências Sociais contribuem para
um melhor entendimento da sociedade em que vivemos,
fornecendo instrumentos que podem ajudar a transformá-la.
O método empregado pelas Ciências Sociais em suas
atividades é a investigação científica.
Disciplinas em que se dividem as Ciências Sociais
Com o avanço do conhecimento da sociedade, tornou-se necessária a divisão
das Ciências Sociais em diversas áreas de conhecimento, de modo a facilitar a
sistematização dos estudos e das pesquisas. Essa divisão abrange atualmente
as seguintes disciplinas:
Sociologia - Estuda as relações sociais e as formas de associação,
considerando as interações que ocorrem na vida em sociedade. A Sociologia
envolve, portanto, o estudo dos grupos e dos fatos sociais, da divisão da
sociedade em classes e camadas, da mobilidade social, dos processos de
cooperação, competição e conflito na sociedade etc.
Antropologia - Estuda e pesquisa as semelhanças e as diferenças culturais
entre os vários agrupamentos humanos, assim como a origem e a evolução
das culturas. Além de estudar a cultura dos povos pré-Ietrados, a Antropologia
ocupa-se também da diversidade cultural existente nas sociedades industriais.
São objetos de estudo da Antropologia os tipos de organização familiar, as
religiões, a magia, os ritos de iniciação dos jovens, o casamento etc.
Economia - Tem por objeto as atividades humanas ligadas à produção,
circulação, distribuição e consumo de bens e serviços. Portanto, são
fenômenos estudados pela Economia a distribuição da renda num país, a
política salarial, a produtividade de uma empresa etc.
Ciência Política - Ocupa-se da distribuição de poder na sociedade, assim
como da formação e do desenvolvimento das diversas formas de governo. É a
Ciência Política que estuda, por exemplo, os partidos políticos, os mecanismos
eleitorais etc.
Não existe uma divisão nítida entre essas disciplinas. Embora cada uma das
Ciências Sociais esteja voltada preferencialmente para um aspecto da
realidade social, elas são complementares entre si e atuam frequentemente
juntas para explicar os complexos fenômenos da vida em sociedade.
A longa marcha das Ciências Sociais
A reflexão sistemática sobre a vida em sociedade e sobre os
grupos que a compõem começou na Grécia Antiga, há milhares
de anos. Vejamos a seguir alguns momentos nesse processo de
conhecimento.
Deuses e heróis
As primeiras tentativas de compreender como as forças sociais
funcionam baseavam-se na imaginação, na fantasia, na
especulação. Assim, certos fenômenos sociais eram explicados a
partir da ação de seres mitológicos, como deuses e heróis.
Na mitologia greco-romana, por exemplo, havia um deus para a
guerra (Ares para os gregos, Marte para os romanos), outro para
o comércio (Hermes ou Mercúrio, entre os romanos), uma deusa
para as relações amorosas (Afrodite ou Vênus, para os romanos),
e assim por diante. O deus supremo era Zeus. Sua mulher, Hera,
protegia o casamento e tutelava a vida familiar.
Entre a filosofia e a religião
Até o início da Idade Moderna, no século XV, as tentativas de explicar a
sociedade foram muito influenciadas pela filosofia e pela religião, que
propunham normas para a sociedade, procurando modificá-Ia de acordo com
seus princípios.
Na Grécia Antiga, como vimos, surgiram explicações mitológicas para alguns
fenômenos sociais. Insatisfeitos com essas explicações, os filósofos gregos
foram os primeiros a empreender o estudo sistemático da sociedade humana.
Entre eles, destacam-se Platão (427-347 a.C.), autor de A República, e
Aristóteles (384-322 a.C.), que escreveu Política. É de Aristóteles a afirmação
segundo a qual "o homem nasce para viver em sociedade".
Na Idade Média, a reflexão teórica sobre a sociedade se deu entre pensadores
ligados à Igreja católica. Santo Agostinho (354-430), por exemplo, em seu livro
A cidade de Deus, propunha normas para evitar o pecado na sociedade. Obras
como essa descreviam a sociedade humana em uma perspectiva religiosa
muito acentuada.
Os pensadores renascentistas
Com o Renascimento, surgiram pensadores que abordavam os fenômenos
sociais de maneira mais realista. Escreveram sobre a sociedade de sua época:
Maquiavel, autor de O príncipe, Tomás Morus (Utopia), Tomaso Campanella
(Cidade do Sol), Francis Bacon (Nova Atlântida), Erasmo de Roterdã (Elogio
da loucura).
Morus
Hobbes
No século XVII, outros pensadores deram sua contribuição ao desenvolvimento
das Ciências Sociais. Um dos mais notáveis foi o inglês Thomas Hobbes, autor
de Leviatã.
Vico e A nova ciência
Particularmente importante nesse processo de reflexão não-religiosa sobre a
sociedade foi, no século XVIII, a obra de Giambattista Vico (1668-1744), A
nova ciência. Segundo Vico, a sociedade se subordina a leis definidas, que
podem ser descobertas pelo estudo e pela observação objetiva. Sua
formulação - "O mundo social é, com toda certeza, obra do homem" - foi
um conceito revolucionário para a época.
Alguns anos depois, Jean-Jacques Rousseau reconheceu a influência decisiva
da sociedade sobre o indivíduo. Em seu livro O contrato social, Rousseau
afirma que "O homem nasce puro, a sociedade é que o corrompe".
Hoje, sabe-se que o indivíduo também influencia e modifica o meio em que
vive ao agir sobre ele.
Rousseau
Vico
Entretanto, foi só no século XIX - com Augusto Comte, Herbert Spencer,
Gabriel Tarde e, principalmente, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx que a investigação dos fenômenos sociais ganhou um caráter verdadeiramente
científico.
Durkheim (1858-1917)
Queria definir a sociologia como ciência, estabelecendo princípios e limites,
rompendo com as ideias de senso comum – os “achismos – que interpretavam
a realidade social de maneira vulgar e sem critérios.
Obra fundamental: As regras do método sociológico (1895).
Nela, definiu o objeto da sociologia: os fatos sociais
Para Durkheim, o fato social é experimentado pelo indivíduo como uma
realidade independente e preexistente.
São três as características básicas que distinguem os fatos sociais:
•Coerção social – a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levandoos a conformarem-se às regras da sociedade em que vivem,
independentemente da vontade ou escolha. Ex.: quando o indivíduo adquire
um idioma, quando é criado e se submete a um código de leis ou regras
morais, a educação (formal e informal), a arte.
• São exteriores aos indivíduos: ou seja, existem e atuam de forma
independente de sua vontade ou de sua adesão consciente.
Ao nascermos já encontramos regras sociais, costumes e leis que somos
coagidos a aceitar por meio de coerção social (educação, por ex.)
•Generalidade: é social todo fato que se repete em todos os indivíduos
ou, pelo menos, na maioria deles; que ocorre em diferentes sociedades,
em determinado momento ou ao longo do tempo – costumes, sentimentos
comuns ao grupo, crenças ou valores, formas de habitação, sistemas de
comunicação, moral existente numa sociedade.
•Fato social como “coisa”: objeto observável pelo cientista de forma clara e
imparcial, isento de paixão, desejo ou preconceito.
•Dúvida metódica
•Crimes são considerados fatos sociais pois existem em qualquer
sociedade e costumam provocar reações negativas, concretas e
observáveis da sociedade contra quem os pratica: penalidade
Consciência Coletiva
-“conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de
uma mesma sociedade”
-Não se baseia na consciência de indivíduos singulares ou de grupos
específicos – está espalhada por toda a sociedade e revelaria o “tipo psíquico
da sociedade”= define o que é considerado “imoral”, “reprovável”, ou
“criminoso”.
Solidariedade Mecânica
-Predominaria nas sociedades pré-capitalistas. Os indivíduos se identificavam
por meio da família, religião, tradição e costumes, permanecendo, em geral,
independentes e autônomos em relação à divisão do trabalho social. A
consciência coletiva exerceria aqui todo o seu poder de coerção sobre os
indivíduos.
Solidariedade Orgânica
-Típica das sociedades capitalistas: acelerada divisão do trabalho social e
interdependência dos indivíduos. Garante a união social em lugar dos
costumes. A consciência coletiva afrouxa.
Max Weber (1864-1920)
Contrasta com o positivismo de Durkheim, pois sua contribuição se dá no
trabalho sociológico a partir do idealismo histórico, com a criação de um
instrumento de análise, o “tipo ideal”.
“Para o positivismo, a história é o processo universal de evolução da
humanidade, cujos estágios o cientista pode perceber pelo método
comparativo, capaz de aproximar sociedades humanas de todos os tempos e
lugares. A história particular de cada sociedade desaparece, diluída nessa lei
geral que os pensadores positivistas tentaram reconstruir. Essa forma de
pensar torna insignificantes as particularidades históricas e as individualidades
são dissolvidas em meio a forças sociais impositivas.”
Weber, no entanto, inverte essa relação e combina a perspectiva histórica –
que respeita as particularidades de cada sociedade e a sociológica, que
ressalta os elementos gerais de cada fase do processo histórico.
Ação social – é o objeto de investigação do seu método sociológico – a
conduta humana dotada de sentido, de uma justificativa subjetivamente
elaborada.
É o agente social que dá sentido à sua ação: estabelece a conexão entre o
motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos.
Ao contrário da sociologia positivista (a ordem social submete os indivíduos
como força exterior a eles), não existe oposição entre o indivíduo e sociedade:
as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada
indivíduo sob a forma de motivação, dado pela tradição, por interesses
racionais ou pela emotividade. Ex.: o envio de uma carta.
Para que se estabeleça uma relação social (diferente de ação social) é
preciso que o sentido seja compartilhado.
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
- A relação entre religião e sociedade não se daria por meios institucionais,
mas por meio de valores introjetados nos indivíduos e transformados em
motivos da ação social. Motivação do protestante: trabalho como dever e
vocação, como fim em si mesmo e não como ganho material obtido por meio
dele
Karl Marx (1818-1883)
Militante da causa socialista, extrapolou com suas ideias o campo filosófico e
econômico para a ação política, a partir do marxismo
Influencias: Hegel (1770-1831), de quem absorveu uma diferente percepção da
história que envolvia diversas instâncias – da religião à economia – e cuja
dinâmica se dava por oposições entre forças antagônicas – tese e antítese.
Desse embate emergia a síntese que fechava o processo “dialético” de
conceber a história. Para Marx, os agentes sociais, apesar de conscientes, não
são os únicos responsáveis pela dinâmica dos acontecimentos – as forças em
oposição atuam sobre o devir.
Adam Smith e David Ricardo: a crítica a esses autores e o esforço teórico
realizado redundou nos conceitos de alienação, classes sociais, valor,
mercadoria, trabalho, mais-valia, modo de produção.
Engels (1820-1895): trabalhou com Marx de 1844 até sua morte, sendo cofundador do socialismo científico ou “comunismo” – doutrina que demonstrava
pela análise científica e dialética da realidade social que as contradições
históricas do capitalismo levariam, necessariamente, à sua superação por um
regime igualitário e democrático que seria sua antítese.
Interpretação econômica da História
Os grandes movimentos políticos, sociais e culturais que ocorrem na
sociedade são determinados, no limite, pelo contexto econômico. Embora a
única explicação não fosse econômica, para ele, todas as transformações
históricas fundamentais implicariam na alteração das relações de produção e
de troca.
Materialismo Dialético
Cada sistema econômico, baseado nas relações de produção e de troca,
prospera até alcançar seu auge. Surgem, então, as contradições, deficiências
e, posteriormente, a decadência. Neste momento, surgiria – segundo Marx -,
outro sistema mais aperfeiçoado cujo resultado seria o comunismo.
Luta de Classes
Para ele, a história da civilização sempre se caracterizou pela luta entre grupos
de privilegiados econômicos e despossuídos, até o capitalismo, com os
proletários de um lado e proprietários de outro (Capital X Trabalho).
Alienação
Conteúdo jurídico que designa a transferência de um bem ou direito. Desde
Rousseau (1712-1778) passou a predominar a ideia de privação, falta ou
exclusão. Filósofos alemães (Hegel, Feuerbach), emprestaram à palavra um
sentido de desumanização e injustiça que foi absorvido por Marx.
“A indústria, a propriedade privada e o assalariamento alienavam ou
separavam o operário dos meios de produção – ferramentas, matéria prima,
terra e máquina – e do fruto do seu trabalho, que se tornaram propriedade
privada do empresário capitalista.
Politicamente, também o homem se tornou alienado, pois o princípio da
representatividade, base do liberalismo, criou a ideia de Estado como órgão
político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder
delegado pelos indivíduos.
Marx mostrou que na sociedade de classes esse Estado representa apenas a
classe dominante e age conforme o interesse desta.”
Teoria da Mais-Valia:
Formada pelo lucro, juros e renda, representa a diferença entre o valor total
que o trabalhador assalariado produziu e a parcela de salário que recebeu.
Só o trabalho, e não o capital, gera riqueza.
Ao contrário, este é criado pelo trabalho.
O valor de um objeto é determinado pelo tempo de trabalho necessário para
produzi-lo.
O trabalhador, porém, só recebe uma parte do valor correspondente ao seu
trabalho, em forma de salário.
A outra parte, criada por esse mesmo trabalho, ele não recebe, ficando nas
mãos do capitalista.
O que recebe, apenas dá condições para o trabalhador satisfazer suas
necessidades básicas e continuar a produzir.
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