ESTUDO DO EFEITO DO ÓLEO DE Carapa guianensis E DE EXTRATO ETANÓLICO DE FRUTOS DE Melia azedarach EM OVOS DE Aedes aegypti Ciências Biológicas / Ciências Médicas e da Saúde M. M. Soares1; J.S. Prophiro1 1-Universidade do Sul de Santa Catarina, Laboratório de Imunoparasitologia, Departamento de Ciências Biológicas, Avenida José Acácio Moreira, nº 787, Bairro Dehon, 88704-900, Tubarão Santa Catarina, Brasil. Telefone: (48) 3621-3294 / (48) 3621- 3467 Introdução O desenvolvimento de novas substâncias inseticidas biodegradáveis para o controle de Ae. aegypti tem se tornado de grande relevância no Brasil, pois este mosquito é o principal vetor do vírus da dengue. Este fato deve-se principalmente à resistência desta espécie a inseticidas químicos sintéticos em várias regiões do país. Substâncias extraídas de plantas têm inúmeras vantagens quando comparadas ao emprego de sintéticos. Obtidas de recursos naturais renováveis são rapidamente degradáveis no meio ambiente. Além disso, apresentam baixa toxicidade para mamíferos e outros organismos não alvos (TARE et al., 2004). Por outro lado, os insetos apresentam lento processo de desenvolvimento de resistência, pois essas substâncias, diferentemente dos inseticidas químicos sintéticos, são compostas da associação de vários princípios ativos (ROEL, 2001). A fêmea de Ae. aegypti é extremamente antropofílica e tem preferência por criadouros próximos ao ambiente humano. Coloca seus ovos em locais como tonéis, pneus, vasos de plantas, lixo acumulado, entre outros (LIMA et al. 1988). A oviposição ocorre frequentemente nas paredes úmidas dos criadouros, ou seja, um pouco acima da superfície líquida (FORATTINI, 2002). Após a oviposição há o período de incubação, em que os ovos passam um tempo no meio ambiente para que ocorra a embriogênese e a formação de larvas. Em condições favoráveis (25-28 ºC e URA entre 80 e 90%) este fenômeno varia de quatro a sete dias. As condições favoráveis determinam à eclosão ou saída da larva de primeiro estágio. Entretanto, se não houver condições favoráveis o período de incubação poderá ser prolongado. Baseando-se no fato que ovos de Ae. aegypti podem se manter viáveis por vários meses, e, assim, garantir a manutenção da espécie e consequente transmissão do vírus da dengue, é necessário que medidas sejam tomadas no sentido de diminuir a infestação vetorial. Neste sentido, interromper ou mesmo evitar o desenvolvimento embriológico do mosquito é de grande importância no controle vetorial e conseqüente transmissão do vírus. Uma das formas de se interromper o ciclo seria a utilização de produtos naturais nos criadouros dos mosquitos. Alguns trabalhos citam a utilização de produtos naturais para o controle de ovos de Ae. aegypti e outros mosquitos. Nestes, os ovos são colocados diretamente em substâncias aquosas e espera-se pela ação ovicida dos mesmos (BASSOLE et al., 2003; DI DOMENICO et al., 2006; MULLAY E JEBANESAN, 2007). Entretanto, nenhum destes ou outros trabalhos faz referencia a utilização de substâncias botânicas por borrifamento. Na natureza os ovos não são colocados diretamente na água, mas, nas partes úmidas de criadouros. Esta técnica além de facilitar a aplicação em tais ambientes poderá contribuir com mais efetividade no controle dos mosquitos. Objetivos Avaliar o efeito tóxico de substâncias botânicas inseticidas borrifadas em ovos de Aedes aegypti, vetor do vírus da dengue Específicos: - verificar a ação de extrato etanólicos de Melia azedarach; - verificar a ação de soluções contendo óleo de Carapa guianensis. Resultados Os ovos de Ae. aegypti são depositados pela fêmea individualmente, em extratos úmidos, próximos à água ou em local que possa facilmente ser inundado. Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizados ovos depositados em papel filtro umedecido inserido dentro das gaiolas de criação. No momento da oviposição, os ovos apresentam coloração opaca. Logo em seguida, adquirem a cor negra brilhante. Sendo que a fecundação ocorre durante a postura e o desenvolvimento do embrião se completa em 48 horas em condições favoráveis de umidade e temperatura. Após a oviposição há o período de incubação, em que os ovos passam um tempo no meio ambiente para que ocorra a embriogênese e a formação de larvas. Em condições de temperatura e umidade favoráveis varia de quatro a sete dias. Na presente pesquisa os ovos separados para os bioensaios e borrifados/expostos aos produtos ficaram armazenados por sete dias para concluir a embriogênese. Após este período, os ovos foram então submersos em água para eclosão da larva de primeiro estágio. Com a exposição de produtos biológicos tóxicos nos ovos, esperava-se, que o embrião não completasse seu amadurecimento ou seu desenvolvimento não ocorrendo assim a eclosão larval. Entretanto, os ovos expostos por borrifamento nos grupos controle e os experimentais eclodiram, ou seja, estavam viáveis mesmo sendo expostos aos produtos que pela literatura são tóxicos as formas imaturas de culicidae. Possivelmente, a viabilidade destes ovos se deve a não penetração dos princípios ativos no embrião. Isto porque a estrutura que recobre o ovo, a casca, é caracteristicamente impermeável, conhecida como cório. Entretanto, na extremidade anterior dos ovos há um orifício no cório chamado de micrópila, pelo qual o espermatozóide adentra para fecundar o óvulo. Deste modo, a metodologia de borrifamento foi modificada por submersão no produto durante um período de 24 horas e posteriormente submersos em água limpa. Além disso, a idade dos ovos também foi modificada para 12 horas após a oviposição. Com estas modificações, exposição por submersão e menor idade dos ovos, esperava-se que o produto penetrasse no interior do ovo atingindo assim o embrião. Entretanto, mesmo por submersão no produto durante 24 horas e posterior imersão em água estes ovos eclodiram. Conclusões Com base na literatura, os produtos avaliados possuem ação tóxica contra as formas larvais de culicideos (SILVA et al., 2003; CAVALCANTI et al., 2004; SILVA et al., 2004; SILVA et al., 2006; ROSSI et al., 2007; PROPHIRO et al., 2008; PROPHIRO, 2008), entretanto, nas duas metodologias propostos nesta pesquisa nenhuma diferença significativa foi observada quanto a eclosão nos grupos controle e experimental. Com base nos resultados obtidos na presente pesquisa, sugere-se que a metodologia de exposição seja modificada, além do aumento das concentrações dos produtos para que se alcance um método eficaz de controle do vetor do vírus da dengue no estádio de ovo. Bibliografia Metodologia A preparação dos extratos e diluição dos óleos seguiu protocolos descritos em: (SILVA et al. 2006, ROSSI et al., 2007; PROPHIRO et al., 2007), além de técnicas estabelecidas em nosso laboratório. Para realização dos bioensaios foram utilizadas ovos de uma colônia de Ae. aegypti linhagem Rockefeller. Nas gaiolas de criação foram colocados potes com papel filtro umedecido como locais de oviposição para as fêmeas previamente alimentadas com sangue em camundongos. Após 12 horas os papéis filtro foram retirados e os ovos depositados pelas fêmeas foram separados com auxílio de agulha histológica em grupos de 100 e colocados em novo papel filtro. Foram utilizados quatro papéis filtro contendo 100 ovos cada para o grupo experimental e quatro para o grupo controle. Cada papel filtro foi depositado em potes plásticos com capacidade de 500 ml e borrifados numa distância de 12 cm com as diferentes substâncias botânicas e posteriormente armazenados por um período de sete dias. Após uma semana em contato com as substâncias cada papel filtro contendo os ovos foi submerso em 250 ml de água mineral para a eclosão das larvas. Após uma semana tanto as larvas testadas quanto as do grupo controle foram retiradas dos potes, colocadas em placa de Petri, e com auxilio de um estereomicroscópio contadas e identificadas quanto ao estágio larval e se apresentam movimentos vitais. Todo o processo foi realizado em temperatura ambiente. Para a análise de mortalidade, os cálculos de LC50, LC90, LC95, e LC99 foram feitos aplicando-se os dados obtidos para seis diferentes concentrações de cada substância, cuja mortalidade associada terá uma variação de 5 – 95 %, com o PROBIT-analyses. Com relação ao estágio larval e vitalidade das larvas, as analises foram feitas com ANOVA e foi considerado significativo quando p < 0,05. CAVACANTI, E. S., et al. Larvicidal activity of essential oils from Brazilian plants against Aedes aegypti L. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 99: 541-4, 2004. MULLAI K, JEBANESAN. A Larvicidal, ovicidal and repellent activities of the leaf extract of two cucurbitacious plants against filarial vector Culex quinquefasciatus (Say) (Diptera : Culicidae). Trop Biomed. 24:1-6, 2007. PROPHIRO, J. S. et al. Estudo Comparativo do Efeito Larvicida de Extratos de Frutos Verdes e Maduros de Melia azedarach L. (Sapindales: Meliaceae) em Aedes aegypti L. (Diptera: Culicidae). BioAssay 3:2, 2008. PROPHIRO, J.S. Acessibilidade: Susceptibilidade de Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) e de Aedes albopictus (Skuse, 1894) (Diptera: Culicidae) a Organofosforado e Atividade Inseticida de Produtos de Origem Botânica. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Universidade Federal do Paraná, Paraná, 2008. ROSSI, J. C. N. et al. Efeito Larvicida de Extratos Etanólicos de Folhas Secas e Frutos Maduros de Melia azedarach (Meliaceae) sobre Aedes albopictus. Latin American Journal of Pharmacy, 26:737-40, 2007. SILVA, I.G., V.O.M. Zanon & H.H.G. Silva. Larvicidal activity of Copaifera reticulata ducke oil-resin against Culex quinquefasciatus Say (Diptera: Culicidae). Neotropical Entomology 32: 729-732, 2003. SILVA, O.S., et al. Larvicidal effect of andiroba oil Carapa guianensis (Meliaceae) against Aedes aegypti (Diptera: Culicidae). Journal of the American Mosquito Control Association 22: 699-701, 2006. Apoio Financeiro: Unisul