Alegoria da Caverna Platão Alegoria da Caverna “ A descrição platônica é dramática: o caminho em direção ao mundo exterior é íngreme e rude; o prisioneiro libertado sofre e se lamenta de dores no corpo; a luz do Sol o cega; ele se sente arrancado, puxado para fora por uma força incompreensível. Platão narra um parto: O parto da alma que nasce para a verdade e é dada à luz.” (Chauí, Marilena – Introdução à História da Filosofia.) Significado de algumas metáforas: Caverna – corresponde ao mundo sensível onde vivemos. Exterior da caverna – esfera inteligível. Fogo na caverna – reflexo da luz verdadeira ( do Bem e das idéias). Prisioneiros – todos os que vivem sob o domínio dos sentidos e das opiniões. Sombras projetadas pelo fogo – as sensações produzidas pelos sentidos que produzem as opiniões e as conjecturas. As correntes – nossos preconceitos e opiniões distorcida pelos sentidos e pelo discurso de outras pessoas. Muro – a linha divisória entre as coisas sensíveis e supra-sensíveis. A confiança em nossos sentidos – nossas paixões e opiniões. Instrumento que rompe as correntes e nos liberta da prisão da caverna – o método dialético de conduzir o pensamento. O prisioneiro que escapa – é o filósofo, que, no texto, apesar de não ser explícito, é uma referência que Platão faz a seu mestre, Sócrates. As coisas situadas no lado de fora da caverna – representação simbólica do ser verdadeiro e das Idéias. A luz que o filósofo vê para fora da caverna – é a ação do Bem, que ilumina as instâncias do mundo inteligível, assim como o sol ilumina o mundo sensível. Ascensão para o alto e a contemplação do mundo superior – simboliza o caminho da alma em direção ao mundo inteligível. O conhecimento do verdadeiro Ser – passagem do temporal para o atemporal. O Retorno à Caverna O Alegoria da Caverna coloca o proceder filosófico como agente libertador da ignorância e da servidão dos sentidos e nos lança a um mundo novo onde a verdade e a compreensão é a ordem normal das coisas. Uma vez que a consciência se expande, lhe é impossível retornar ao que era. Presenciamos hoje multidões de pessoas sem identidade – rostos sem face – vivendo basicamente em função da satisfação de seus instintos fundamentais. As reservas florestais e animais estão desaparecendo na mesma espantosa velocidade com que o consumo tem aumentado. A violência, a miséria, a doença, as catástrofes climáticas, a concentração de renda, as guerras, o desencanto, a desesperança nada mais são do que os companheiros daqueles que decidem e insistem em viver na mediocridade das opiniões e do preconceito. A pergunta que fica, obviamente, é: Como é possível que ninguém perceba que o mundo está desabando? Platão, de uma certa forma, já nos deu a resposta 2.400 anos atrás. Para ele, os sofistas eram aqueles que carregavam as marionetes que faziam as sombras na parede. Através de uma retórica estrategicamente arquitetada convenciam qualquer um sobre qualquer coisa. Na medida em que não pensamos por nós mesmos, podemos ser facilmente enganados por discursos de outros mais astutos. Platão, de certa forma, em seu Alegoria da Caverna, predisse uma famosa máxima de Jesus relatada no evangelho de João: Conhece a Verdade e Ela vos libertará. Na medida em que nos libertamos da ilusão dos sentidos e elevamos nossa mente nas alturas, passamos a perceber uma outra ordem de realidade (mundo das idéias), onde é possível a harmonia, o equilíbrio, a beleza e, o que era o grande sonho de Platão, a Justiça plena, total e irrestrita. Neste estado iluminado numa consciência mais elevada, quando se volta para a caverna, para a mediocridade do mundano, a pessoa se sente perdida, não reconhece mais os valores reinantes neste domínio, não se enquadra nos esquemas, não se veste como eles nem deseja o mesmo que eles. Daí o filósofo que retorna à caverna ser ridicularizado, como expressa Platão no final do texto. Alegoria da Caverna e a Educação É importante ter em mente que um dos principais objetivos de Platão ao escrever A República é fazer uma crítica severa à estrutura de poder em Atenas e, ao mesmo tempo, propor as reformas necessárias para, segundo ele, estabelecer um governo realmente justo e voltado para o bem-estar da maioria. Na democracia o que importa não é a verdade, mas sim o poder de convencimento. Desta forma, homens astutos e de boa oratória enganam facilmente o povo crédulo! (Platão) Desenvolver um método para afastar a incompetência e a canalhice dos cargos públicos e para selecionar e preparar os melhores para governar – eis o problema da filosofia política que Platão oferece na República. Portanto, conclui, “não haverá término para os males humanos até que aqueles que estão buscando a reta e verdadeira filosofia recebam o poder soberano nas cidades, ou aqueles que estão no poder nas cidades, por alguma disposição da providência, se tornem verdadeiros filósofos”. Presas que estão ao ato de possuir objetos não percebem que apenas obedecem a uma ideologia que diz ser o consumo a fonte de toda felicidade. Para manter uma sociedade de consumo desenfreada e ensandecida, as indústrias queimam inimagináveis quantidades de combustíveis fósseis que liberam poluentes na biosfera. Alguns aspectos sobre a formação do filósofo que traduzem a noção geral de educação no Livro VII: Os chefes de estado não devem ser simples intelectuais e possuírem conhecimento apenas por possuir; O conhecimento deve tornar o governante uma pessoa de bom caráter e benevolente para sua comunidade; Um filósofo deve conhecer profundamente todas as ciências para que tenha condições de analisar com perfeição o mundo inteligível. Curso Positivo. Filosofia. Livro 02.