Curso de Ventos Estelares Marcelo Borges Fernandes Aula 3 Observações dos Ventos Estelares Referência: Capítulo 2 de Introduction to Stellar Winds (Lamers & Cassinelli) Observações: dM / dt e v∞ M = dM /dt = Taxa de Perda de Massa Equação de Continuidade ou Conservação de Massa dM/dt = 4 π r2 ρ(r) v(r) v∞ = Velocidade Terminal Velocidade que o vento atinge à grandes distâncias da estrela v∞ = [10 – 3000 km/s] Gigantes Vermelhas e AGBs Estrelas quentes e luminosas O gás escapa das camadas mais externas da estrela com uma velocidade radial bem baixa (v ≤ 1 km/s) e alcança a sua velocidade terminal à grandes distâncias v∞ = v (r → ∞) Lei de Velocidades - v(r) A distribuição de velocidades no vento em função da distância radial da estrela Observações e modelos indicam que a lei de velocidades pode frequentemente ser aproximada por uma lei beta: v(r) ≈ vo + (v∞ - vo) (1 – R* / r)β Onde: vo = v (r = R*) = velocidade do som vo « v∞ β descreve o quão acentuada («steep ») é a lei de velocidades - Estrelas quentes: β ~ 0.8 (aceleração rápida) - Estrelas Frias: β maior (aceleração mais lenta) A lei de velocidades também pode ser descrita por uma forma alternativa de lei β v(r) ≈ v∞ (1 – ro / r)β onde: ro = R* { 1 – (vo / v∞)1/β } Essa expressão é mais fácil de se manusear quando aparece em integrais Importância da Taxa de Perda de Massa e da Velocidade Terminal a) A taxa de perda de massa descreve quanto material é perdido pela estrela por unidade de tempo na forma de vento estelar: Importância para a evolução estelar b) Através da comparação de ambos, taxa de perda de massa e velocidade terminal observados com modelos, podemos definir o mecanismo responsável pela perda de massa c) O gás que escapa da estrela deposita energia cinética por unidade de tempo no meio interestelar: 0.5 (dM/dt) v∞2 Para conhecermos os efeitos do vento estelar no meio interestelar precisamos determinar dM / dt e v∞ nas diferentes fases da evolução da estrela A Formação de Linhas Espectrais nos Ventos Estelares Linhas formadas nos ventos ≠ Linhas fotosféricas São mais largas e com deslocamento do comprimento de onda devido aos movimentos de expansão do vento Podem ser de 3 tipos: Absorção Emissão P-Cygni Existindo diferentes processos de formação das linhas nos ventos A – Espalhamento: . absorção de um fóton fotosférico por um átomo excitando um elétron . pouco tempo depois o elétron decai para o nível original (10-10 – 10-9 s) . o fóton emitido tem quase a mesma frequência do fóton absorvido (levando em conta o efeito Doppler) . o fóton na prática é espalhado em outra direção . espalhamento ressonante (se a transição envolve o nível fundamental) B – Recombinação: . íon no vento colide com um elétron que pode recombinar . o elétron pode recombinar para o estado fundamental ou não . se não for o caso, ele pode desexcitar em cascata, gerando diferentes fótons: Hα e outras linhas da série de Balmer C – Excitação Colisional ou por Foto-excitação: . o átomo é excitado do estado fundamental para um estado excitado por colisões resultando numa subsequente foto-desexcitação . conversão de energia cinética em fótons . mais eficiente em plasmas quentes onde as colisões são energéticas e frequentes C – Excitação Colisional ou por Foto-excitação: . se a excitação é através da absorção de um fóton a partir do estado fundamental para um nível excitado, pode ocorrer desexcitação para um outro nível excitado, criando linhas espectrais . esse processo não é importante, pois normalmente ocorrerá um espalhamento ressonante D – Absorção Pura: . um átomo excitado vai para um estado mais excitado, ocorrendo uma desexcitação para um estado mais baixo . ocorre a destruição de um fóton para a criação de outro . não é importante nos ventos, pois a maioria dos átomos está no estado fundamental: espalhamento ressonante E – Maser por emissão estimulada: . um fóton viajando no vento atinge um átomo (ou molécula) excitado que pode emitir ao ser desexcitado um fóton exatemente no mesmo comprimento de onda . desexcitação é estimulada: fóton emitido na mesma direção . passam a existir 2 fótons . processo se repete e intensifica a linha: MASER Microwave Amplification by Stimulated Emission of Radiation Para o MASER ocorrer é necessário: -Alta fração de átomos e moléculas excitadas em um nível específico -Não pode existir um gradiente de velocidade na direção dos fótons (efeito Doppler pode inibir o processo) - Ocorrem linhas muito fortes e estreitas em emissão MASER de moléculas em ventos de estrelas frias Perfis P-Cygni Linhas ressonantes de íons abundantes: O mais sensível indicador de perda de massa em estrelas quentes C IV, N V e Si IV no ultra-violeta de estrelas OB-early C II no UV de estrelas do tipo B-late e A Mg II no UV do tipo B-late até M Grande abundância + grande força do oscilador: produção das linhas, com efeito Doppler no vento, mesmo se a taxa de perda de massa é pequena Se a coluna de densidade dos íons na linha de visada for baixa: 1013 – 1014 íons / cm2, as linhas de ressonância serão fracas e em absorção (blueshifted) Se a coluna de densidade dos íons na linha de visada for mais alta: ≥ 1015 íons / cm2, as linhas de ressonância terão o chamado perfil P-Cygni Absorção com blueshift Emissão com redshift Explicação Qualitativa dos Perfis P-Cygni Estrela emite o contínuo F – matéria em frente ao disco estelar na direção da linha de visada e que está se movendo em direção ao observador com velocidades entre 0 e v∞ O - região oculta pela estrela (gás se afasta do observador) Explicação Qualitativa dos Perfis P-Cygni H – tipo de halo: observador recebe fótons espalhados na sua direção e com velocidades entre -v cos θ e +v cos θ Explicação Qualitativa dos Perfis P-Cygni H – tipo de halo: observador recebe fótons espalhados na sua direção e com velocidades entre -v cos θ e +v cos θ (sen θ = R* / r) (maior contribuição vem da região com vobs = 0 – maior densidade) Os fótons não são destruídos, mas sim espalhados em outra direção (espalhamento isotrópi- co). Uma fração deles pode alcançar o observador. Explicação Quantitativa dos Perfis P-Cygni Camada Fina F H =O Explicação Quantitativa dos Perfis P-Cygni A soma de várias camadas com diferentes velocidades Como o perfil P-Cygni se comporta com mudanças na densidade ou na ionização do vento: a) A presença de uma camada com densidade mais alta no vento e com uma velocidade vs dá origem a um aumento na absorção entre –vs e –vs cos θ e emitirá entre –vs e +vs cos θ. b) Se o íon que produz a linha não ocorre na parte interna do vento, onde v(r) < vin, as camadas com baixas velocidades não irão contribuir. Isso faz com que tenhamos uma absorção de -vin à v∞ e uma emissão entre –vin à +v∞ cos θ. c) Se o íon que produz a linha não ocorre à grandes distâncias no vento, v(r) > vout , as camadas com altas velocidades não irão contribuir. Perfil P-Cygni estreito que não se extende à v∞ Absorção: 0 - -vout Emissão: 0 - +vout cos θ d) Se o íon só ocorre no vento perto da estrela a emissão será significantemente menor do que a absorção devido à uma ocultação importante A razão entre emissão e absorção depende do tamanho da região do vento onde o espalhamento ocorre com relação ao tamanho da estrela d) Se o íon só ocorre no vento perto da estrela a emissão será significantemente menor do que a absorção devido à uma ocultação importante A razão entre emissão e absorção depende do tamanho da região do vento onde o espalhamento ocorre com relação ao tamanho da estrela d) Se o íon só ocorre no vento perto da estrela a emissão será significantemente menor do que a absorção devido à uma ocultação importante A razão entre emissão e absorção depende do tamanho da região do vento onde o espalhamento ocorre com relação ao tamanho da estrela A presença de absorção fotosférica complica essa relação, aumentando a intensidade da absorção comparada à emissão Determinação da Perda de Massa através de Perfis P-Cygni Perfis P-Cygni de linhas no espectro UV estrelas do tipo early Lei de velocidades e taxa de perda de massa Linhas saturadas: v(r) e v∞ Linhas não saturadas: taxa de perda de massa Perfis observados são comparados com perfis dos modelos com diferentes ni(r) ni(r) = (ni(r) / ne(r)) . (ne(r) / nH(r)) . (nH(r) / ρ(r)) . ρ(r) = = qi(r) Ae (nH / ρ) ((dM / dt) / 4 π r2 v(r)) Onde: Ae = ne / nH = abundância do elemento com relação ao H qi = ni / ne = fração de íons no estágio correto de ionização e de excitação para produzir a linha nH / ρ => depende da composição do vento = (1.36 mH)-1 Conhecendo ρ(r) e v(r) obtemos a taxa de perda de massa Pelo que vimos: -v(r) e v∞ podem ser facilmente determinados pelos perfis PCygni - a taxa de perda de massa é mais complicada pois depende das frações de ionização adotadas Para as estrelas quentes não são bem conhecidas devido aos efeitos não-ETL, choques e superionização Linhas em Emissão dos Ventos Estelares Estrelas com dM / dt ≥ 10-6 M / ano: linhas em emissão Principais exemplos nas estrelas do tipo O e B supergigantes: Hα , linhas de Balmer, Paschen e Brackett e do HeII no óptico e no IV Vantagem para o estudo dos ventos estelares: linhas podem ser observadas em observatórios (ao contrário dos P-Cygni no UV que são através de satélites) Essas linhas são formadas por recombinação com emissividade proporcional ao quadrado da densidade São formadas nas regiões de alta densidade mais próximas da estrela, onde a maior parte da aceleração do vento ocorre Linhas simétricas em torno do λo e com FWHM de poucas centenas de km/s (menor que a v∞ dos ventos de estrelas quentes) Para estrelas WR: FWHM = v∞ :Linhas formadas sobre uma região mais extensa, devido a mais alta densidade dos seus ventos Determinação da taxa de perda de massa através de linhas opticamente finas em emissão Referencial externo fixo Referencial comóvel (no vento) Se existir um grande gradiente de velocidades no vento os fótons podem escapar Fóton criado por recombinação após viajar uma distância: l > 2 vth / (dv / dl) dv / dl = gradiente da velocidade no vento ao longo do caminho do fóton Ocorre o efeito Doppler e o fóton não pode ser mais absorvido pela mesma transição no gás Ventos com v∞ muito maior que vth → dv / dl grande e l pequeno: vento opticamente fino para a linha espectral Se o vento é opticamente fino para uma linha: taxa de perda de massa → luminosidade da linha Equação 1 Ll é a quantidade de energia emitida pela estrela por segundo pela linha (precisamos conhecer a distância) = luminosidade total na linha = integral de volume do vento da emissividade jl(r) energia emitida pela transição em ergs / cm3 / s na distância r da estrela = emissividade da linha no vento rmin é a distância onde a τvento ~1 para a radiação do continuum no λ da linha Representa os fótons que podem escapar Se o vento é completamente opticamente fino para uma linha: rmin ~ ro (ponto sônico) ~ R* r > ro → dv / dl é grande e fótons escapam r < ro → dv / dl é pequeno e fótons não escapam Equação 2 W(r) = fator de diluição geométrica = probabilidade de um fóton emitido numa posição r em uma direção randômica colidir com a estrela que tem um raio rmin para o λ da linha 1 - W(r) = probabilidade do fóton escapar: r → rmin : W(r) ~ 0.5 r » rmin : W(r) → 0 jl(r) de linhas de recombinação é proporcional ao quadrado da densidade: jl(r) = ρ2(r) frec(T) por sua vez utilizando a equação de continuidade de massa, temos: Equação 3 Excesso no IV e no Rádio produzido pelos Ventos Estelares Vento ionizado: excesso no continuum em grandes λ Emissão Bremsstrahlung (free-free) dependente de ρ e T Conhecendo v(r) obtemos a taxa de perda de massa Excesso no IV e no rádio são um continuum, com isso v(r) não pode ser determinada pelo efeito Doppler Excesso no IV e no Rádio produzido pelos Ventos Estelares Vento ionizado: excesso no continuum em grandes λ Emissão Bremsstrahlung (free-free) dependente de ρ e T Conhecendo v(r) obtemos a taxa de perda de massa Exemplo: Excesso excesso no no IV rádio no mm sóum para poucas estrelas e noe rádio são continuum, com isso v(r) pode ser a determinada pelo efeito Doppler paranão uma estrela 1 kpc com dM / dt ~ 10-6 M / ano Medido só para de mJy estrelas emissão free-free em λpoucas = 6 cm dúzias = poucos 1 Jy = 10-23 ergs cm-2 s-1 Hz-1 Excesso no IV e no Rádio produzido pelos Ventos Estelares Vento ionizado: excesso no continuum em grandes λ Emissão Bremsstrahlung (free-free) dependente de ρ e T Conhecendo v(r) obtemos a taxa de perda de massa Exemplo: excesso no IV medido para várias estrelas (solo e IRAS) Excesso no IV e no rádio são um continuum, com isso v(r) nãoOpode pelo efeito Doppler estrelas e B: λser = 5determinada – 10 μm para poucas dúzias de estrelas nas excessoMedido no IV = só décimos de magnitude = formado camadas mais internas do vento (aceleração ocorre) λ-2 Aproximação de Rayleigh-Jeans para a função de Planck Explicação Qualitativa da Emissão Free-Free Adotando a solução de ordem zero da equação de transferência radiativa em atmosferas estelares, isto é, a relação de EddingtonBarbier: Lν = 4 π r2 (τν = τeff) π Bν(T(τν = τeff)) Lν = luminosidade monocromática = [ergs s-1 Hz-1] τeff = profundidade óptica efetiva = 2/3 (atmosfera plano-paralela) = 1/3 (vento extendido) Opacidade free-free aumenta para grandes λs como kν ~ ν -2 Equação 4 Considerando a luminosidade estelar (sem o vento): Lν* = 4 π R2 π Bν(Teff) A razão entre o fluxo da estrela com vento e sem vento: Equação 5 Emissão Free-Free em Rádio Considerando a luminosidade estelar (sem o vento): Função Lν* =de 4 πPlanck R2 π Bν(Teff) A razão entre o fluxo da estrela com vento e sem vento: Equação 6 3 < λ < 100 μm depende da estrutura de T e ρ do vento Emissão Free-Free em Rádio λ > 100 μm: fluxo varia com λ-0.6 devido à emissão free-free que se origina em uma região do vento com v = cte