2.3.3._interacao_em_ambientes_virtuais

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Interação
Um simples ato de comunicação ou uma relação entre
indivíduos?
Talvez você já tenha
ouvido falar em
interação em algum
momento.
No mundo em que vivemos, parece que a interação está inserida
em tudo. Na internet temos blogs, e-mails, facebook, twitter,
videoconferências. Fala-se em interatividade nos videogames,
nos programas de rádio e televisão.
Podemos ouvir em situações banais, como um cinema interativo,
ou um brinquedo interativo. Já teve até anúncio de tênis (“Esse
interage com seus pés!”)
Ela está no senso comum, confundindo-se com vários termos,
como o diálogo, a comunicação, a ação involuntária, entre outros.
Referência do termo
Segundo estudos em linguística histórica de Starobinski (2002):
● a palavra interação não possui antecedentes na língua latina;
● o substantivo interaction surgiu no Oxford English Dictionary,
em 1832 (como neologismo);
● em 1839, surge o verbo to interact, significando "agir
reciprocamente";
● na França, a palavra surge em 1867 depois de outro
neologismo, a "interdependência".
Ela também está na Física, na Informática, na Matemática,
na Saúde, na Educação, nas relações sociais e em outras
áreas do conhecimento.
A interação é base para compreensão de processos
interpessoais, informáticos, educativos, psicológicos
e sociais.
Vamos partir da seguinte definição:
Interação é uma "ação entre"
(inter+ação).
Ela está apoiada no princípio de reciprocidade da ação
entre pessoas ou entes (máquinas, substâncias químicas,
variáveis estatísticas, etc.).
É estabelecida uma relação entre entes.
Vejamos alguns exemplos:
Interação biológica
Relações entre seres vivos e não vivos
dentro de um ecossistema. Podem ocorrer
de vários tipos. Aqui podemos ver uma
interação harmônica do tipo sociedade (de
abelhas), com indivíduos da mesma
espécie, caracterizado por uma divisão do
trabalho.
Interação eletrostática
(ou lei de Coulomb)
A Lei de Coulomb trata da força de interação
entre partículas eletrizadas; partículas de
mesmo sinal se repelem, e as de sinais
opostos se atraem.
Fonte: texto e imagem: http://www.efeitojoule.com/2008/09/lei-decoulomb.html
Interação entre
pessoas
Interação social = Interação que ocorre entre uma
pessoa e outra, entre uma pessoa e um grupo ou
entre um grupo e outro.
É um fenômeno estudado pelo campo da sociologia,
como podemos ver na teoria da ação social de Max
Weber.
A ação social não é qualquer ação do indivíduo; ela
ocorre quando o indivíduo age com algum sentido na
relação com o outro.
As ações dos homens carregam propósitos, intenções e
significados, e uma das grandes questões sociológicas
de Weber era saber decifrar isso.
Quando o indivíduo age com o outro, acontece uma
relação social.
A interação é um dos objetos da ação social, além da
presença do outro e do significado.
A sociedade é uma totalidade constituída de uma
multiplicidade de interações sociais.
Com base em Weber,
“os indivíduos estão ligados uns aos
outros por uma trama de relações sociais,
e a interação implicada pela orientação do
comportamento em relação a outrem toma
lugar, por conseguinte, no seio de um
conjunto". (Apud SILVA, 2007).
Com base no que vimos até agora, o aspecto mais
importante da interação é que ela provoca uma
modificação de comportamento nos indivíduos
envolvidos, como resultado do contato e da
comunicação que se estabelece entre eles.
Essa relação precisa fazer sentido aos envolvidos.
Quando falamos de interação social, levamos em
consideração as relações, o comportamento, as
mudanças de comportamento, sabendo que o indivíduo
é produto de um sistema complexo, com culturas,
símbolos e linguagens diferentes.
Significados de determinados gestos e
comportamentos variam de uma cultura
para outra, de uma época para
outra, concordam?
Do Interacionismo Simbólico
Por Herbert Mead e Herbert Blumer (discípulo de Mead)
“A sociedade nasce das interações individuais. Nenhuma ação humana
existe separada da interação. Quase tudo o que uma pessoa é e faz é
formado no processo de interatuar simbolicamente com outras pessoas. A
interação consiste num mútuo levar-em-conta e responder, e a sociedade
resulta de cada pessoa coordenar a sua própria conduta como a dos outros.
Mas a vida em grupo e a conduta individual modelam-se através do
processo em curso de interação simbólica.”
(LITTLEJOHN, 1982)
E quando levamos essa
discussão para os
ambientes criados pelas
novas tecnologias?
Quando se trata de computadores, além do termo
interação, ouvimos muito o termo interatividade.
"Este site tem interatividade!"
"O curso a distância tem um grau elevado de
interatividade por apresentar uma animação que
praticamente fala com a gente."
O Professor Alex Primo (2005) prefere usar o conceito de
interação mediada pelo computador.
Mas, como vimos, a interação deve valorizar a ação
recíproca e a interdependência. Para isso, Primo
problematiza alguns enfoques que se dão ao termo
interação, principalmente por conta das visões limitadas
de comunicação.
Enfoque transmissionista
A interação está limitada à polarização "Webdesigner" e
"Usuário"(*).
Há uma crítica ao modelo tradicional de comunicação, de
emissor que transmite a informação por um canal para o
receptor. (SHANNON e WEAVER, 1949). Esse modelo ajuda a
pensar a comunicação de massa (de um emissor para muitos
receptores, como é a televisão), e a lógica do webdesigner
que disponibiliza.
* Para Primo (2005), “usuário” é aquele que está à mercê de alguém hierarquicamente superior, que
disponibiliza um pacote para uso baseado em determinadas regras. Primo prefere usar o termo
interagente, pois que emana dele a ideia de interação.
Feedback
Mensagem
Emissor
Receptor
Meio
Meio
Enfoque informacional
Esse enfoque incorpora os pressupostos da Teoria da Informação, mas
valoriza a possibilidade de escolha entre alternativas disponíveis. Nessa
perspectiva, a interatividade é classificada a partir do número de escolhas
que o programador coloca à disposição do "usuário" e de como este usuário
pode reagir (seleção entre alternativas).
Somos reféns de um programador, que pode nos dar poucas ou muitas
possibilidades de escolha. Isso não contempla pensar em dinâmicas como
criação compartilhada (wiki, por exemplo).
Por exemplo, um formulário
online de múltipla escolha. São
escolhas limitadas,
predeterminadas por alguém.
Enfoque tecnicista
Por sempre remeter ao aparato tecnológico, esse enfoque
da interação mediada por computador destaca
características técnicas, abordando a capacidade do canal
(quantidade de informações que pode transmitir).
Steuer (1999) define interatividade como "a medida da
habilidade potencial da mídia em permitir que o usuário
manifeste uma influência no conteúdo e/ou forma de
comunicação mediada" (PRIMO, 2005, p. 7)
Enfoque mercadológico
É um argumento de venda. Se há a capacidade de nos
incluir na cena e nos fazer crer que estamos inclusos,
é interatividade. É nos dar uma resposta rápida, como,
por exemplo, uma pesquisa que eu faço no buscador
do Google. Não há necessidade de
um diálogo.
É puro marketing!
Enfoque antropomórfico
Bairon (1995, p 16): "Por interativo podemos entender
todo o sistema de computação onde se manifesta um
diálogo entre o usuário e a máquina."
O computador dialoga?
Quando uso o sistema operacional Windows, estou
dialogando com o computador?
Abordagem sistêmico-relacional de
interação
Após problematizar esses enfoques, Primo (2005) vai buscar na comunicação
interpessoal o estudo sobre as interações mediadas por computador. Toma
como base Gregory Bateson, que visa destacar padrões de interação em vez
de atos individuais.
Descrever uma amizade entre duas pessoas, por exemplo, não deve ser um
estudo separado de cada pessoa, pois a relação que se forma é diferente da
soma das características individuais.
Segundo Fisher (1982), uma pessoa não comunica, mas se engaja em um
processo de comunicação, cria relacionamentos através da interação.
A partir dessa
abordagem, Alex Primo
propõe dois tipos de
interação mediada por
computador
1) Interação mútua
"O relacionamento entre os participantes vai definindo-se ao
mesmo tempo que acontecem os eventos interativos (nunca
isentos dos impactos contextuais)." (Primo, 2005, p.13 ). É um
constante vir-a-ser, que vai se atualizando através das ações na
relação entre os interagentes.
Nessa interação, há modificações recíprocas dos interagentes
durante o processo: um modifica o outro. O comportamento de
um afeta o do outro.
Vai além da ação de um e da reação do outro.
Leva em conta uma
complexidade global
de comportamentos
(intencionais ou não e
verbais ou não), além
de contextos sociais,
físicos, culturais,
temporais, etc.
Como num fórum de um
curso.
2) Interação reativa
Baseados no modelo estímulo-resposta, permite uma ação,
porém simples e limitada.
Depende da previsibilidade e da automatização nas trocas.
Podem recorrer a trilhas previsíveis, permitido que uma troca
reativa aconteça repetidamente até a exaustão.
São os sistemas fechados, com situações previstas de
participação do usuário.
Como ocorre nas enquetes de redes sociais.
Pode haver uma multi-interação várias interações simultâneas
Se ao mesmo tempo pode "rolar" uma interação presencial entre
duas pessoas através da fala, dos gestos,
do perfume...
… na mediação do computador, pode rolar interações reativas e
mútuas ao mesmo tempo, como é o caso do chat ("rola" a
conversa, ao mesmo tempo que a pessoa interage com as
limitações da interface do software utilizado).
Finalizando
Como vimos, a interação social não é apenas o ato de
transmitir informação. São ações entre pessoas que implicam
reciprocidade, mudanças de comportamento, relações
culturais, sociais, territoriais.
Isso ocorre nas relações presencias e nas virtuais.
Você acha que a Comunidade de Práticas é um espaço potente
de interação para as equipes de saúde, para discutir políticas
públicas, novos projetos, entre tantos outros encontros entre os
profissionais do Sistema Único de Saúde?
Se sim, consegue enxergar sua experiência interagindo com
outras experiências? Provocando mudanças de comportamento,
transformações em outros territórios, ou criando relações?
Referências
BAIRON, S. . Multimídia. 1. ed. São Paulo: Global, 1995. v. 3.000. 250p .
FISHER, B. A. The pragmatic perspective of human communication: a view from system theory. In F.E.X. DANCE
(Ed.). Human communication theory. New York: Harper & Row, 1982, p. 192-219
LITTLEJOHN, S.W. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982.
p. 65-86.
PRIMO, Alex; CASSOL, Márcio. Explorando o conceito de interatividade: definições e taxonomias . Informática na
Educação: teoria & prática, Porto Alegre, v. 2, n. 2, 1999.
Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/InfEducTeoriaPratica/article/view/6286> Acesso em: 15 abr. 2015.
PRIMO, Alex. Enfoques e desfoques no estudo da interação mediada por computador. Salvador, v. 1, n. 45, p. 115, 2005. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/AlexPrimo/enfoques-e-desfoques-no-estudo-da-interaomediada-por-computador> Acesso em: 15 abr. 2015.
SHANNON, Claude; WEAVER, W. The Mathematical Theory of Communication. Illinois: University of Illinois
Press, 1949.
SILVA, M. Sala de aula interativa. 4. ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2007.
STAROBINSKI, Jean. Ação e reação: vida e aventuras de um casal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
STEUER, Jonathan. Defining virtual reality: dimensions determining telepresence. Journal of Communication,
v.42, n.4, p.72-93, Autumm 1992.
UNIVESPTV. Canal no Youtube. Clássicos da Sociologia: Max Weber. <https://www.youtube.com/watch?v=easXQ5rwZ4>. Acesso em: 16 abr. 2015.
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