1 Insuficiência cardíaca: características sociodemográficas e clínicas de pacientes Heart failure: sociodemographic and clinical characteristics of patients Insuficiencia cardiaca: características sociodemográficas y clínicas del pacientes Francisca Elisângela Teixeira Lima: Enfermeira. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará/UFC. Doutora pela Universidade Federal do Ceará. Fortaleza-CE, Brasil. E-mail: [email protected] Moziane Mendonça de Araújo: Enfermeira. Membro do Grupo de Estudos de Consulta de Enfermagem/GECE. Fortaleza-CE, Brasil. E-mail: [email protected] Shérida Karanini Paz Oliveira: Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Fortaleza/CE. E mail: [email protected] Valderina Guimarães Holanda: Enfermeira. Membro do Grupo de Estudos de Consulta de Enfermagem/GECE. Fortaleza-CE, Brasil. E-mail: [email protected] Fernanda Macedo de Oliveira Neves: Enfermeira. Mestranda em Ciência Médica pela UFC. Membro do Grupo de Estudos de Consulta de Enfermagem/GECE. Fortaleza-CE, Brasil. E-mail: [email protected] Maria José Monteiro de Assis: Enfermeira. Membro do Grupo de Estudos de Consulta de Enfermagem/GECE. Fortaleza-CE, Brasil. E-mail: [email protected] Autor responsável pela troca de correspondência: Rua: Alexandre Baraúna, 949. Rodolfo Teófilo. CEP: 60430-160. Fortaleza/CE, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Resumo Objetivo: verificar as características sociodemográficas e clínicas de pacientes hospitalizados com Insuficiência Cardíaca (IC). Método: estudo descritivo e quantitativo, desenvolvido em um hospital público de nível terciário de Fortaleza/CE. A amostra foi composta por 69 participantes. Para coleta realizou-se entrevista com os pacientes e consulta aos prontuários. Os dados foram tabulados em um banco de dados no programa Excel. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê sob protocolo 774/10, respeitando os princípios da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Resultados: predominaram como dados sociodemográficos: sexo masculino (65,2%), casado ou união estável (52,1%), faixa etária entre 40 e 59 anos (44,9%) e aposentados (73,8%). Fatores de risco destacaram-se a hereditariedade (75,3%) e a hipertensão arterial (62,3%). As etiologias mais detectadas foram: miocardiopatia dilatada idiopática (28,9%) e isquêmica (23,2%). Conclusão: diante destes dados, constata-se que conhecer a epidemiologia da IC é de fundamental importância para o planejamento de ações para promoção da saúde da população. Descritores: insuficiência cardiaca; hospitalização; pacientes. Abstract Objective: to examine the sociodemographic and clinical characteristics of patients hospitalized with HF. Method: a descriptive and quantitative study, carried out in a tertiary public hospital. The sample consisted of 69 patients. For collection held interviews with the patients and hospital records. Data were tabulated in a database on Excel. The research project was approved by the Committee under protocol 774/10, respecting the principles of Resolution 196/96 of the National Health. Results: as results, predominate: males (65.2%), married or stable (52.1%), aged between 40 and 59 years (44.9%) and retired (73.8%). As risk factors stood out 3 heredity (75.3%) and hypertension (62.3%). The most etiologies were: idiopathic dilated cardiomyopathy (28.9%) and ischemic (23.2%). Conclusion: on these data, it appears that the epidemiology of HF is of fundamental importance for the plane ¬ ning of actions to promote health. Descriptors: heart failure; hospitalization; patients. Resumen Objetivo: estudiar las características sociodemográficas y clínicas de los pacientes hospitalizados con IC. Método: se realizó un estudio descriptivo y cuantitativo, realizado en un hospital público de tercer nivel. La muestra estuvo constituida por 69 pacientes. Para la recolección se entrevistaron con los pacientes y los registros hospitalarios. Los datos se tabularon en una base de datos en Excel. El proyecto de investigación fue aprobado por el Comité en virtud del Protocolo 774/10, respetando los principios de la Resolución 196/96 del Consejo Nacional de Salud. Resultados: como resultados, predominan los varones (65,2%), casados o estable (52,1%), con edades comprendidas entre los 40 y 59 años (44,9%) y los jubilados (73,8%). Como factores de riesgo se destacó la herencia (75,3%) y la hipertensión (62,3%). La mayoría de las etiologías fueron: miocardiopatía dilatada idiopática (28,9%) y la cardiopatía isquémica (23,2%). Conclusión: en estos datos, parece que la epidemiología de la IC es de importancia fundamental para el plano ¬ nificación de acciones de promoción de la salud. Descriptores: insuficiencia cardiaca; hospitalización; los pacientes. Introdução A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome endêmica causada por disfunção cardíaca, caracterizada por dilatação ou hipertrofia do ventrículo esquerdo. Pode se 4 manifestar como doença crônica estável ou descompensada, marcando limitação funcional e piorando a qualidade de vida dos pacientes.1-2 Um estudo conduzido no Brasil publicado recentemente demonstrou que, de 263 pacientes internados por descompensação da IC, 25,8% foram a óbito após um ano de seguimento e 51,2% procuraram o atendimento de emergência de 1 a 12 vezes durante esse período. 1 No Brasil, existem poucos recursos de informação epidemiológica a respeito de IC. A maior parte das informações é obtida nos arquivos do DATASUS, advindas de dados de internação hospitalar. 3 (LOURES et al., 2009). Dados do DATASUS mostram que no município de Fortaleza-Ceará, de janeiro a novembro de 2012, foram 5.330 internações hospitalares por insuficiência cardíaca, sendo 316 óbitos. 4 O estimulo ao desenvolvimento de estudos sobre insuficiência cardíaca é importante para que haja o reconhecimento das peculiaridades em nosso contexto e programas de atenção à saúde possam ser implementados. Logo, a gestão IC é um grande desafio para os sistemas de saúde atuais em que estes devem ser ajustados para reduzir os custos e taxas de mortalidade, sem comprometer a qualidade de atendimento ao cliente. O cuidado em saúde especializado, tornou-se uma ferramenta para determinar o perfil dos clientes, proporcionado melhores resultados na segurança e na promoção da saúde.5 Assim, busca-se respostas para o seguinte questionamento: quais as características sociodemográficas e clínicas de pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca? Segundo um estudo, sexo, idade, escolaridade e obesidade são os principais determinantes dos sintomas e sinais sugestivos de IC, além do seu papel como fatores 5 de risco para IC, e pode contribuir para a classificação da sua etiologia. Além disso, o julgamento clínico é modificado com base na probabilidade a priori de IC, dependendo, principalmente, da história pregressa da insuficiência cardíaca e dos fatores de risco para tais condições. 6 Diante destas considerações percebe-se que é primordial conhecer as características sociodemográficas e clínicas de pacientes que se internam na vigência da descompensação cardíaca, pois através desta pesquisa, profissionais de saúde poderão alertar a população que possui fatores de risco para o desenvolvimento da doença, quanto à importância das modificações no estilo de vida contribuindo para a diminuição dos riscos de desenvolvimento da mesma. Portanto, o estudo tem como objetivo: verificar as características sociodemográficas e clínicas de pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca. Métodos Trata-se de uma pesquisa descritiva, com análise quantitativa, desenvolvida em um hospital público terciário, referência em atendimento cardiovascular e pulmonar, situado em Fortaleza-Ceará-Brasil. A população do estudo foi constituída por 1629 pacientes com diagnóstico médico de insuficiência cardíaca admitidos para internamento no referido hospital no período de janeiro a abril de 2012. A amostra foi composta por 69 pacientes que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: ter diagnóstico médico estabelecido de insuficiência cardíaca; ter idade > 18 anos; estar em condições físicas e psicológicas para responder as questões da entrevista. Teve-se como critério de exclusão: ser paciente com quadro clínico grave. 6 A coleta de dados ocorreu por meio de um roteiro de entrevista individualizada, realizada com os pacientes e mediante a consulta ao prontuário para levantar os dados de identificação. O roteiro para entrevista foi dividido em duas partes, quais sejam: 1- dados sociodemográficos: sexo, idade, cor, estado civil, procedência, escolaridade, ocupação, renda familiar mensal; 2- dados clínicos: fatores de risco, etiologia, classe funcional, fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), pressão arterial no momento da internação e índice de massa corpórea (IMC). Para avaliar a complexidade da IC foi adotada a classificação funcional da NYHA devido sua fácil compreensão, maior utilização e ser adotada pela instituição onde o estudo foi realizado. A variável FEVE, medida pelo ecocardiograma, foi agrupada em duas categorias: <55 (disfunção sistólica) e ≥55 (função sistólica normal). 7 A análise da pressão arterial foi feita embasada na VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão que classifica a pressão em ótima (PAS < 120 e PAD < 80 mmHg), normal (PAS < 130 e PAD < 85), limítrofe (PAS 130-139 e PAD 85-89), hipertensão estagio 1 (PAS 140-159 e PAD 90-99), hipertensão estagio 2 (PAS 160-179 e PAD 100-109), hipertensão estagio 3 (PAS ≥180 e PAD ≥110), hipertensão sistólica isolada (PAS ≥140 e PAD < 90). 8 O IMC foi obtido pela divisão do peso corporal total (em quilogramas) pelo quadrado da altura (em metros). Foi classificado de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS), isto é, normal: 18,5-24,9 kg/m2; pré-obesidade: 25,0-29,9 kg/m2; obesidade classe I: 30,0-34,9 kg/m2; obesidade classe II: 35,0-39,9 kg/m2; obesidade classe III: > 40,0 kg/m2. 7 7 Para análise, os dados foram tabulados em um banco de dados do Programa Excel e processados e analisados de forma descritiva. Os resultados foram apresentados em forma de tabelas e gráficos, que são os meios melhores para se visualizarem os dados encontrados. Para respeitar os princípios da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, o projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, o qual forneceu parecer favorável para seu desenvolvimento sob protocolo nº 774/10. Resultados As características sociodemográficas e clínicas de pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca estão expostas nas tabelas a seguir. Tabela 1. Distribuição dos pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca, considerando os indicadores: sexo, idade, cor, estado civil, procedência, escolaridade, atividade laboral e renda familiar. Fortaleza – CE, 2012. Características dos pacientes Sexo Masculino Masculino n=69 % 45 24 65,2 34,8 Idade < 40 anos 40 a 59 anos > 60 anos 8 31 30 11,6 44,9 43,5 Cor Não-branca Branca 45 24 65,2 34,8 Estado civil Casado/união estável Viúvo Separado/divorciado Solteiro 36 13 10 10 52,1 18,9 14,5 14,5 8 Procedência Fortaleza Interior do Ceará Outros estados 34 31 4 49,3 44,9 5,8 Escolaridade (anos de estudo) Analfabeto Educação infantil (< 8 anos) Ensino fundamental (8 a 12 anos) Ensino médio (13 a 15 anos) 6 6 42 15 8,7 8,7 60,9 21,7 Ocupação Aposentado Trabalha Prendas do lar (sem remuneração) 51 9 9 73,8 13,1 13,1 Renda familiar* <1 1 ┤2 2 ┤5 >5 20 17 30 2 28,9 24,7 43,5 2,9 Legenda: * o salário vigente no período do estudo foi de R$ 545,00. No grupo de 69 pacientes, houve predomínio do sexo masculino (65,2%). No que se refere a faixa etária, apresentou média de 57 + 14,8 anos, predominando as pessoas entre 40 e 59 anos (44,9%), seguida pela faixa etária acima de 69 anos (43,5%). As pessoas classificadas na cor não-branca corresponderam a 65,2% da amostra. A maioria revelou ser casada ou ter união estável (52,1%). Os separados/divorciados e os solteiros aparecem em 14,5% cada. Quanto à procedência, 49,3% são de Fortaleza, 44,9% são do interior do Ceará e 5,8% de outros estados (2 pacientes do Piauí, 1 do Maranhão e 1 do Pará). Quanto à escolaridade, predominou a baixa escolaridade. Ou seja, eram analfabetos ou haviam estudado até o ensino fundamental (78,3%). 9 Os aposentados totalizaram 73,8% da amostra. A renda familiar teve média de 1.567 + 158 reais, predominando as pessoas que recebem até dois salários mínimos (53,6%). Fatores associados à IC n =69 % Hereditariedade 52 75,3 Hipertensão arterial 43 62,3 Diabetes Mellitus 20 28,9 Dislipidemia 17 24,7 Doença arterial coronariana 14 20,2 Valvulopatias 9 13,1 Doença Renal Crônica 6 8,8 Acidente vascular encefálico 4 5,7 Febre reumática 2 2,9 Doença pulmonar obstrutiva 1 1,4 crônica Quadro 1. Caracterização dos pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca, considerando os fatores de risco. Fortaleza-CE, 2012. De modo geral, os fatores de risco atuam em conjunto, e quanto maior a quantidade de fatores presentes, maior será a probabilidade de desencadear doenças cardíacas. Diante desta realidade, as pessoas com maiores índices de risco devem receber acompanhamento periódico e exercer uma prática de autocuidado favorável à redução das complicações. 9 Dos pacientes entrevistados, 85,5% alegaram ter fatores de risco associados à IC, sendo que 45,6% relataram mais de um fator. Assim, verificou-se no quadro 1, que a IC está relacionada a fatores constitucionais, tais como a hereditariedade (75,3%), bem como a fatores passíveis de controle e tratamento, tais como hipertensão arterial (62,3%), diabetes mellitus 10 (28,9%), dislipidemia, doença arterial coronariana, valvulopatias, doença renal crônica, acidente vascular, febre reumática e doença pulmonar obstrutiva crônica. Diante destes fatores de risco, é necessário que os profissionais da saúde desenvolvam estratégias de prevenção primária e secundária para evitar que os pacientes que apresentem tais fatores e desenvolvam a insuficiência cardíaca. Tabela 2. Caracterização dos pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca, segundo a etiologia da IC, classe funcional, fração de ejeção do ventrículo esquerdo, pressão arterial na admissão e Índice de massa corpórea. Fortaleza,Ceará, Brasil, 2012. Etiologia da IC Dilatada idiopática Isquêmica Valvar Tóxica Chagásica Hipertensiva Congênita Outras n =69 20 16 10 7 6 4 3 3 % 28,9 23,2 14,5 10,1 8,7 5,8 4,4 4,4 Classe funcional NYHA 1 NYHA 2 NYHA 3 NYHA 4 Não classificada 1 2 6 22 38 1,4 2,9 8,7 31,9 55,1 Fração de ejeção do ventrículo esquerdo < 55 ≥ 55 Não consta 50 12 7 72,5 17,4 10,1 Pressão arterial Ótima Normal Estágio I Estágio III HAS isolada 51 5 1 1 11 73,8 7,4 1,4 1,4 16,0 IMC 11 18,5-24,9 kg/m2 25 a 29,9 kg/m2 30 a 34,99 kg/m2 35-39,9 kg/m2 46 13 9 1 66,6 18,9 13,1 1,4 A etiologia mais frequente foi a miocardiopatia dilatada idiopática, que correspondeu a 20 casos (28,9%). Seis pacientes (8,7%) possuem etiologia chagásica, sendo 4 provenientes do interior de Ceará (5,8%) e 2 da capital cearense (2,9%). Dentre as outras causas, constatou-se a periparto (2,9%) e a viral (1,5%). A classe funcional de acordo com NYHA, não foi encontrada em 55,1% da amostra. Vale dizer que esta categorização tem como base de referência para sua gradação as atividades cotidianas, que são variáveis de um indivíduo para outro, o que confere subjetividade a esta medida. 7 Portanto, torna-se difícil determinar a classe funcional. A fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) teve média de 40,6 + 5,6%. Predominou 50 pacientes com FEVE < 55% seguido de 12 pacientes com FEVE ≥ 55%. Os sete pacientes restantes estavam aguardando a realização do ecocardiograma, o que justifica a ausência desses dados. Quanto aos níveis pressóricos registrados em prontuário e mensurados durante a admissão do paciente, observou-se que há predomínio de pessoas com pressão arterial ótima (PAS < 120 mmHg e PAD < 80 mmHg). Os dados indicam boa aderência medicamentosa aos anti-hipertensivos, já que 62.3% da amostra, declarou ter a hipertensão arterial como fator associado a IC. A obesidade é um fator de risco para a ocorrência de eventos cardiovasculares, especialmente insuficiência cardíaca. 9 No que se refere ao índice de massa corpórea (IMC), grande parte da amostra (66,6%) apresentou IMC normal. 12 Tabela 3. Distribuição segundo pressão artéria (PA) na admissão e índice de massa corpórea (IMC). Fortaleza-CE, 2012. PA Ótima Normal Limítrofe HAS HAS estágio I estágio IMC II Normal 38(55,0%) 3(4,3%) Pré- 7(10,2%) HAS Sistólica estágio isolada III 1(1,5%) 4(5,8%) 1(1,5%) 5(7,2%) 1(1,5%) 3(4,3%) obesidade Obesidade 5(7,2%) classe I Obesidade 1(1,5%) classe II Obesidade classe III Na relação entra IMC e PA observa-se que 55% da amostra apresentou pressão arterial ótima e índice de massa corpórea normal no momento da admissão. Os préobesos com PA ótima, totalizaram 10,2%. A obesidade classe I e PA ótima estiveram presentes em 7,2%. Pacientes com obesidade e PA alterada totalizam apenas 4,3%. Os dados mostram bom controle da pressão arterial, ingesta hídrica e do peso. DISCUSSÕES No presente estudo, verificou-se que a maioria dos pacientes é do sexo masculino (65,2.%). Outro estudo realizado em Fortaleza-Ceará no ano de 2008 mostrou resultado semelhante (63%).9 Assim como estes, pesquisa realizada em 13 Hospital Universitário de Campinas-SP, também mostrou predomínio do sexo masculino (54,1%). 10 Quanto à distribuição por idade, observou-se que há equilíbrio com relação a faixa etária entre 40 e 59 anos (44,9%) e faixa etária acima de 69 anos (43,5%). Observa-se mudança com relação ao estudo realizado por Lima e colaboradores em 2008. Neste, 43% da amostra apresentava mais de 60 anos, enquanto 35% tinham entre 41-59 anos. 9 Observa-se que o surgimento da IC está mais precoce. Nos dias atuais, as pessoas alimentam-se mais frequentemente com dietas ricas em gordura e sal, e pouco praticam atividade física. Já está bem estabelecido na literatura científica que o sedentarismo aliado a quantidade e o tipo de gordura alimentar exercem influência direta sobre fatores de risco cardiovascular.11 A análise da faixa etária mostra que embora 56,5% dos entrevistados apresentem idade inferior a 60 anos, apenas 13,1% são profissionalmente ativos, o que evidencia o impacto social imposto pela IC, retirando do mercado de trabalho pessoas em idade produtiva. 10 Foi constatado predomínio da cor não-branca (65,2%). A literatura mostra que há excesso de morte em negros, já que nesta etnia há maior prevalência e pior prognóstico de doença cardiovascular, particularmente a hipertensão arterial e a insuficiência cardíaca. 12 Quanto ao estado civil, a maioria declarou ser casada ou ter união estável. Tal fato deve ser utilizado no trabalho educativo do enfermeiro, já que estudos demonstram que pacientes com IC que vivem sozinhos têm pior qualidade de vida. 10 Com relação a escolaridade nota-se discrepância ao comparar a atual pesquisa com estudo feito em 2008. Neste, 22% declararam ser analfabetos, 53% estudaram até 14 a educação infantil, 12% até o ensino fundamental, 10% ensino médio e 3% superior. 9 Na atual pesquisa, observou-se diminuição no quantitativo de pessoas analfabetas e que estudaram até a educação infantil. Consequentemente houve aumento no número de pessoas que cursaram até o ensino médio. Há discordância também com relação a renda em comparação ao estudo de Lima de 2008. Na atual pesquisa, 20 pessoas declararam renda familiar inferior há 1 salário mínimo. Enquanto no estudo anterior, 70 entrevistados informaram ter essa renda. Percebe-se melhora com relação a escolaridade e a renda familiar. Destaca-se que o tempo de estudo e a renda familiar são fatores importantes no seguimento do tratamento da IC, pois a baixa escolaridade e o baixo nível sócio-econômico geram dificuldades para o paciente entender as orientações da equipe, influenciando no aumento do risco de readmissões hospitalares por insuficiência cardíaca. 13 No que se refere aos fatores associados, houve predomínio da hereditariedade seguida por hipertensão arterial e Diabetes Mellitus. Em pesquisa desenvolvida na área rural de um município Fluminense observou uma predominância da hipertensão arterial em 91%. 14 Já estudo realizado por Lima e colaboradores, mostrou o sedentarismo como fator principal (82%). 9 Enfatiza-se que, o conhecimento dos fatores de risco deve levar ao incentivo da prática de autocuidado, com vistas a alterar o estilo de vida ou hábitos pessoais, no intuito de minimizar esses fatores, proporcionando a manutenção da saúde ao longo do tempo. 9 No que se refere a etiologia, a mais encontrada foi a dilatada idiopática seguida da isquêmica. Estas são as principais causas que levam ao transplante cardíaco no Ceará. 15 15 Embora a cardiomiopatia dilatada não possua uma causa aparente, a doença pode ser causada por herança genética familiar em 25% a 30% dos casos. 16 Ficando uma parte significativa dos pacientes sem diagnóstico etiológico. É necessário se prosseguir com a investigação porque muitas das diversas etiologias apresentam evoluções bastante distintas e tratamentos específicos. 7 Na literatura consultada, há outro estudo que mostra a isquêmica (29,7%) e a hipertensiva (20,8%) como os fatores etiológicos mais citados. 17 Divergindo destes dados, em Goiânia-Goiás, a cardiomiopatia isquêmica foi a menos frequente (17%), havendo predomínio da cardiomiopatia chagásica (41%). Tais informações podem ser explicadas pelo fato da região centro-oeste ser considerada uma das mais endêmicas para a doença de Chagas. 18 No que se refere a classe funcional de NYHA, possuem registro no prontuário hospitalar, 31 pacientes. Dentre estes, 22 estão categorizados como NYHA 4. Esse dado pode ser explicado pelo fato do estudo ter sido realizado em um hospital, onde observa-se que as pessoas se internam por descompensação da doença, que é mais comum ocorrer nos pacientes classificados como NYHA 3 e 4. Para os pacientes não classificados há 2 possibilidades: o não registro nos prontuários ou a não classificação médica. Além disso, na classe funcional I, o paciente pode ainda não ter diagnóstico fechado, já que a limitação para esforços é semelhante à esperada em indivíduos normais. 7 É importante salientar que a determinação da classe funcional é importante, pois serve para avaliar a resposta terapêutica e contribui para a determinação do melhor momento para intervenções. 7 Considerando a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), a maioria apresentou função sistólica reduzida. Nos prontuários onde não foi encontrado 16 registro da FEVE justifica-se pelo fato dos pacientes estarem aguardando a realização do ecocardiograma durante o período de coleta de dados. Outro estudo, realizado na zona rural, mostrou equilíbrio entre os pacientes com FEVE normal (49%) e FEVE reduzida (51%). 14 A análise dos fatores associados mostrou a pressão arterial como fator associado a IC em 62,3% da amostra. Mas no momento da admissão, 55% apresentou pressão considerada ótima. O que pode sugerir uma boa adesão medicamentosa e consequente redução de níveis pressóricos. A pressão arterial deve ser intensamente reduzida. Nos estudos em que a pressão arterial foi mais rigorosamente controlada, os pacientes apresentaram menor frequência de descompensações cardíacas no seguimento. 19 Com relação ao IMC, a maioria foi classificada como normal. Divergindo de outra pesquisa, onde 60% apresentou obesidade. A obesidade é um fator de risco para a ocorrência de eventos cardiovasculares, especialmente doença coronariana, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral. 9 Portanto, o monitoramento do peso deve ser realizado, pois é medida simples que pode auxiliar na aferição do estado nutricional e volêmico de pacientes com IC. A variação de peso pode ser um bom parâmetro de piora do estado volêmico. Adicionalmente, pacientes podem manter peso à custa de retenção hídrica e perda de massa muscular. 7 CONCLUSÕES Com base nos objetivos propostos e nos resultados obtidos, constatou-se como principais características sociodemográficas dos pacientes internados com insuficiência cardíaca: sexo masculino; idade entre 40-59 anos; não-brancos; casados; procedência de Fortaleza-Ceará, com 8-12 anos de estudo, aposentados, e com renda familiar de 2-5 salários mínimos. 17 Com relação às características clínicas, concluiu-se que o fator de risco mais encontrado foi a hereditariedade, a etiologia foi a dilatada idiopática, a classe funcional não estava presente em 31 prontuários, a fração de ejeção prevalente foi a < 55, a pressão no momento da internação foi considerada ótima e o IMC encontravase normal. Considera-se de grande importância a realização de estudos que caracterizem pacientes com IC, já que tais pesquisas contribuem para alertar gestores e sociedade para a criação de estratégias que contribuam para a promoção, proteção e recuperação da saúde do paciente com IC e à sua reabilitação. Para a enfermagem, conhecer a epidemiologia da IC é de fundamental importância, já que esta categoria realiza a educação em saúde. Para que tal tarefa seja desempenhada com êxito, é necessário conhecer a população que apresenta maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares e suas complicações. Este estudo deve incentivar a realização de outras pesquisas sobre insuficiência cardíaca, por causa da grande extensão territorial e diferenças epidemiológicas intraterritoriais para melhor entendimento desta patologia em nosso meio, fornecendo subsídios para tratamentos mais específicos. Logo os resultados de pesquisas podem ser utilizadas para a redução da incidência e para a condução de casos diagnosticados, melhorando a qualidade da assistência prestada a esta clientela. Referências 1. Barretto ACP, Del Carlo CH, Cardoso JN, Morgado PC, Munhoz RT, Eid MO et al. Re-hospitalizações e morte por insuficiência cardíaca: índices ainda alarmantes. Arq Bras Cardiol [Internet]. 2008 [cited 2011 Dec 20]; 91(5):335-41. Available from: www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2008001700009 18 2. Rabelo ERR, Alit GB, Domingues FB, Ruschel KB, Brun AO. O que ensinar aos pacientes com insuficiência cardíaca e por quê: o papel dos enfermeiros em clínicas de insuficiência cardíaca. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Internet]. 2007 [cited 2012 Dec 19]; 15(1). Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010411692007000100024 &lng=en&nrm=iso. 3. Loures VA, Noronha MFA, Bastos RG, Girardi JM. Aspectos clínicos e epidemiológicos da insuficiência cardíaca. 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