Avaliação da atividade cicatrizante de ácido lipóico nanoencapsulado ou livre na cicatrização de feridas cutâneas em ratos, Ciências médicas e da saúde. Irene Clemes Kulkamp, Marielly Nunes Souza*, Mariana Domingues Bianchin, Mateus Isoppo**, Anna Paula Piovezan, Sílvia Stanisçuaski Guterres (*Bolsista PUIC, **Bolsista Art. 170, Curso de Farmácia, Tubarão). Introdução Objetivos Os objetivos do presente trabalho foram avaliar a atividade antioxidante in vitro e o efeito cicatrizante do acido lipoico na sua forma livre e na sua forma nanoencapsulada, em feridas cutâneas de ratos. Metodologia Atividade antioxidante in vitro do ácido lipóico A avaliação da capacidade antioxidante in vitro foi avaliada a partir da quantificação da inibição da peroxidação lipídica pela determinação de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico TBARS, com adaptação da técnica descrita por Schaffazick e colaboradores (2005). Como substrato para a peroxidação lipídica foi utilizado gema de ovo. A peroxidação lipídica foi induzida pela adição de cloreto férrico e ascorbato, na presença de nanocápsulas de ácido lipóico ou do mesmo livre. O controle negativo foi feito sem adição de agentes antioxidantes. As amostras foram incubadas durante 30 minutos a 37 ºC e posteriormente feita a determinação espectrofotométrica a 532. As amostras testadas foram denominadas AL (solução de ácido lipóico 1mg/mL), NCAL (suspensão de nanocápsulas de ácido lipóico 1 mg/mL) e NCB (suspensão de nanocápsulas sem ácido lipóico). Fez-se os ensaios com alíquotas de 50 ou 100 µL destas amostras. As nanocápsulas foram preparadas conforme descrito por Kulkamp e colaboradores (2009). Experimento de cicatrização O trabalho foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Unisul, sob o protocolo n. 08.365.4.03.V. Foi realizado estudo experimental, com 55 ratos machos da linhagem Wistar, com cerca de 2 meses. O grupo I recebeu uma emulsão semisólida contendo alantoína, que foi utilizada como controle positivo, por ser uma substância com atividade cicatrizante. O grupo II recebeu uma emulsão sem nenhum ativo cicatrizante e sem nanocápsulas, sendo utilizada como controle negativo. O grupo III recebeu uma emulsão semisólida contendo nanocápsulas contendo apenas um núcleo oleoso, sem ácido lipóico. O grupo IV recebeu uma emulsão contendo nanocápsulas de ácido lipóico a 2,5 mg/mL. O grupo V recebeu uma emulsão contendo ácido lipóico livre a 2,5 mg/mL, ou seja, não encapsulado. A emulsão base utilizada em todos os grupos (acrescida de alantoína, nanocápsulas sem ativo, ácido lipóico ou nanocápsulas de ácido lipóico) continha como agente espessante Poliacrilato de sódio (e) Dimeticone (e) Ciclopentasiloxano (e) Tridecete-6 (e) PEG/PPG- 18/18 Dimeticone a 4%. No dia 0, os animais foram anestesiados com uma solução de cetamina e xilasina, e foi confeccionada uma ferida cirúrgica com auíílio de bisturi, no dorso de cada animal , de área 2 x 2 cm, delimitada com um carimbo. As formulações semi-sólidas foram aplicadas diariamente sobre as feridas, na quantidade de 0,5g/mm2, durante o período de 11 dias, tendo inicio imediatamente após o processo cirúrgico. O processo de cicatrização foi acompanhado a partir de fotos com câmera digital, e avaliação dos aspectos macroscópicos das lesões nos dias 0, 4, 7 e 11 após a confecção das feridas. A área da lesão foi calculada pelo programa Image J. Os resultados foram avaliados por análise de variância e teste de Tukey, considerando nível de significância de 0,05%, utilizando o software Statgraphics 5.1. Avaliação da atividade antioxidante in vitro Observou-se na avaliação da atividade antioxidante in vitro que a diferença na quantidade de malondialdeído formada entre os grupos foi significativa (p < 0,001). A quantidade de malondialdeído formada indica a atividade antioxidante, por se tratar de produto da peroxidação lipíca. Quanto menor a quantidade de malondialdeído formada, maior a atividade antioxidante (Lima et al, 2001). 0.0000025 Concentração Molar de Malondialdeído Devido a complexidade do processo de cicatrização e do envolvimento dos radicais livres neste processo, surge o interesse em utilizar antioxidantes. Algumas substâncias antioxidantes tem sido testadas e demonstrado efeito neste sentido. O ácido lipóico, um antioxidante presente em pequenas quantidades nos organismos vivos participa em diversos processos metabólicos, tendo as propriedades de: quelar metais, capacidade de reter espécies reativas ao oxigênio, capacidade de regenerar antioxidantes endógenos (como vitamina C e glutationa) e participação no reparo de sistemas. Embora existam relatos da promoção da cicatrização pelo seu uso via oral, não foram encontrados estudos controlados relacionados com o seu uso tópico no processo de reparação de feridas. Em virtude de o ácido lipóico ser um composto altamente instável, devem ser buscadas alternativas tecnológicas para permitir a sua veiculação em formulações de uso tópico, tendo em vista a manutenção das suas propriedades. Demonstrou-se que a nanoencapsulação do ácido lipóico aumenta a estabilidade do mesmo, permitindo a sua veiculação em um veiculos para aplicação tópica. Adicionalmente, as nanopartículas poliméricas podem ser usadas como reservatórios de fármacos lipofílicos e são capazes de prolongar e controlar a liberação percutânea de fármacos, podendo aumentar a adesividade e o tempo de permanência de fármacos na pele. A nanoencapsulação de substâncias antioxidantes pode ainda potencializar a sua ação, a exemplo da nanoencapsulação da melatonina, um fármaco antioxidante que teve seu potencial substancialmente aumentado através da encapsulação em nanocarreadores. No entanto, com as pesquisas realizadas até o momento, não se sabe qual o efeito que a nanoencapsulação exerce sobre a atividade antioxidante do ácido lipóico. Assim, o estudo da atividade antioxidante de nanocápsulas de ácido lipóico complementa estudos anteriormente realizados podendo demonstrar a potencialidade da nanoencapsulação no aumento do efeito antioxidante do mesmo. Resultados Sem antioxidante 0.000002 Al 50uL 0.0000015 AL 100uL NCAL 50uL 0.000001 NCAL 100uL NCB 50uL 0.0000005 NCB 100uL Observou-se que o ácido lipóico livre exerceu atividade pró-oxidante, aumentando a quantidade de malondialdeído formada, em comparação com o controle que não utilizou antioxidante (Figura 1). Embora diversos trabalhos na literatura demonstrem efeito antioxidante do ácido lipóico, tem-se demonstrado que o mesmo pode também exercer atividade pró-oxidante (Çakatai, 2006). 0 1 Por outro lado, observa-se que as nanocápsulas além de diminuírem o efeito pró-oxidante do ácido lipóico livre, também exerceram, atividade antioxidante. Isto pode ser explicado, primeiramente pela propriedade da nanoencapsulação em potencializar a atividade antioxidante de substânciasou ainda pela presença de BHT nas nanocápsulas, que pode estar exercendo efeito sinérgico com ácido lipóico. Avaliação da cicatrização em feridas cutâneas em ratos Nos dias 0, 4 e 11 não foi observada diferença estatística nas áreas das lesões dos animais. Observou-se maior diferença na área das lesões no 7º dia de análise, conforme apresentado na figura 2 (p = 0,0348). Observou-se diferença estatística entre o grupo controle positivo (I) e controle negativo (II), o que valida o método utilizado. Observou-se que o ácido lipóico livre (V) foi mais efetivo na cicatrização, diferindo significativamente do controle negativo (II) e mostrando atividade semelhante ao controle positivo (I). Por outro lado, a atividade cicatrizante das nanocápsulas de ácido lipóico (IV) foi significativamente inferior ao do ácido lipóico livre (V). É possível que o maior efeito cicatrizante verificado no ácido lipóico livre seja devido à sua atividade próoxidante verificada in vitro, já que tem-se mostrado que agentes oxidantes, podem atuar como sinalizadores celulares. Relata-se que radicais livres e o estado redox são importantes no controle da coagulação sangüínea e trombose, fases envolvidas na cicatrização de feridas. A produção de colágeno também é associada com a produção de peróxido de hidrogênio. Evidencia adicional demonstra a capacidade pró-angiogênica de oxidantes (Sem e Roy, 2008). Para explicar explorar melhor os resultados, estudos complementares de atividade antioxidante, avaliação das características histológicas e determinação do conteúdo de hidroxiprolina são considerados como perspectivas do presente trabalho. Conclusões Verificou-se que o ácido lipóico exerceu atividade pró-oxidante em modelo de peroxidação lipídica in vitro, e que a nanoencapsulação do ácido lipóico evitou este efeito pró-oxidante e exerceu atividade antioxidante. Por outro lado, o ácido lipóico livre mostrou efeito superior ao nanoencapsulado na atividade cicatrizante in vivo, com efeito semelhante ao controle positivo. Concluiu-se que o efeito superior na cicatrização de feridas demonstrado pelo ácido lipóico livre em relação ao nanoencapsulado pode estar relacionado com sua atividade pró-oxidante. Agradecimentos Agradecemos aos professores Renê Darela Blazius , João Alex Alves e Luiz Alberto Kanis bem como ao apoio financeiro recebido pelo programa Unisul de Iniciação científica e bolsa do artigo 170. Bibliografia ÇAKATAI, U. Pro-oxidants action of alfa lipoic acid and dihydrolipoic acid, Medical Hypotheses 66, 110–117, 2006.; FESSI, H.; PUISIEUX, F.; DEVISSAGUET, J-Ph; Ammoury, N.; Benita, S.; Int J. Pharm. 55, r1, 1989.; GUTERRES SS, ALVES MP, POHLMANN AR. Drug Target insights, 2:147-157, 2007.; LIMA, ES E ABDALLA, DSP. Peroxidação lipídica: mecanismos e avaliação em amostras biológicas. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas 37(3), 2001.; SEM, KC, ROY, SASHWATI. Biochimica et Biophysica Acta, 1780:1348-1361, 2008.;SCHAFFAZICK, S.R., POHLMANN, A.R., DE CORDOVA, C.A.S., CRECZYNSKI-PASA, T.B., GUTERRES, S.S. International Journal of Pharmaceutics, 2005. p.210-213