Racionalidade Criadora e Matematização no Desenvolvimento do Eletromagnetismo. Ivã Gurgel. Instituto de Física [email protected] Qual o papel da matemática na física? É possível compreender o mundo físico sem o uso da matemática? Matemática como Linguagem; Linguagem como estruturante pensamento. do No século XIX a Física já é uma ciência fortemente matematizada. Pierre Simon Laplace => William Whewell Séc. XIX “Ele temia que os matemáticos estivessem entrado em um ‘labirinto profundo e charmoso muito mais longo e mais além do que a ciência física requeria’ ” (Silva, 2002) Período anterior à Experiência de Oersted (1820) Intuição da Relação Eletricidade Magnetismo; Assimetria das Forças Elétrica e Magnética; Descontinuidade dos fenômenos elétricos; Física Matematizada. A partir da experiência de Oersted, todos viram a mesma coisa? A mesma “realidade”? Conflito Elétrico; Turbilhões que saiam do fio; Ação sobre as partículas magnéticas dos corpos. Magnetização das faces do Fio Condutor Extensão da Magnetização do Fio Condutor Extensão Dinâmica da Magnetização do Fio Condutor A maior parte dos cientistas viram um fio se tornar um imã. Era possível “ver” outra coisa? Em 11 de Setembro de 1820, François Arago reproduz a experiência de Oersted na academia de ciências. Ampère declara em uma carta a seu filho: “Depois que eu ouvi falar pela primeira vez da bela descoberta do Sr. Oersted, professor em Copenhague, sobre a ação das corrente galvânicas sobre a agulha magnetizada, eu pensei nela continuamente e eu não fiz nada além de escrever uma grande teoria sobre esses fenômenos e todos aqueles já conhecidos sobre o imã” (Ampère, 1820a, p.1, tradução nossa) Ampère, mesmo sem realizar experimentos e achar uma expressão analítica para a ação do condutor sobre a agulha, anuncia seus “resultados simples e gerais”. Ação Diretiva; Ação de Atração e Repulsão; E propõe a nomenclatura “corrente elétrica” para o que é produzido internamente ao condutor. Se baseando nos princípios estabelecidos anteriormente, Ampère irá “concluir” que a causa do magnetismo terrestre é a existência de correntes elétricas na Terra. “a idéia mais simples, e aquela que se apresenta imediatamente a aquele que gostaria de explicar esta direção constante da agulha, não seria ela de admitir na Terra uma corrente elétrica, em uma direção tal que o norte se acharia à esquerda de um homem que, deitado sobre a superfície para ter a face virada do lado da agulha, receberia essa corrente na direção dos seus pés à sua cabeça, de onde concluímos que ela ocorre de leste a oeste, em uma direção perpendicular ao meridiano magnético?” (Ampère, 1820, pgs 55-56, tradução nossa) As correntes dentro de um imã: “Agora, se as correntes elétricas são a causa da ação diretiva da terra, as correntes elétricas serão também a causa daquelas de um imã sobre outro imã, de onde se segue que um imã deve ser considerado como um conjunto de correntes elétricas que ocorrem nos planos perpendiculares a seu eixo” O primeiro texto de Ampère é composto como uma narrativa. Nova Personagem = Corrente Elétrica. Enredo = Fenômenos de atração e repulsão entre correntes. A caracterização da corrente(sua definição conceitual) se dá quando Ampère mostra que a mesma explicação se mantém em diferentes contextos, isto é, eu posso explicar os efeitos sobre uma bússola, considerando um fio condutor, a Terra, e os próprios imãs como portadores de corrente. Explora novamente os mesmos fenômenos anteriores em um texto baseado em 9 princípios. Realiza seus experimentos. Dispositivo para estudo da atração entre correntes. Dispositivos para simular o campo magnético de imãs. Michael Faraday Busca produzir uma corrente elétrica a partir de efeitos magnéticos (fenômeno complementar à experiência de Oersted) Em busca da Indução. “com esse anel, quando o contato era fechado ou aberto e o circuito era ligado ou desligado, o impulso no galvanômetro era tão grande que fazia a agulha girar quatro ou cinco vezes antes que o ar e o magnetismo terrestre pudessem reduzir este movimento para uma mera oscilação” (Faraday, 1831). As linhas de Força. - As curvas da limalha de Ferro sugeriram a noção de linhas de Força. Cada linha de força seria uma curva fechada que passaria em algum ponto de sua trajetória pelo imã. - Faraday estabelece que a corrente elétrica induzida é diretamente proporcional ao número de linhas interceptadas pelo circuito durante o movimento. Esse é o princípio fundamental da indução de correntes. As linhas de Força. - Faraday elimina o conceito de ação a distância enfatizando que uma ação se propaga no meio pela influência de partículas vizinhas; - O convencimento de Faraday sobre a existência Física das linhas de força evoluiu com o tempo. Algumas palavra como “poder magnético” sugeriam a realidade das linhas. Mas em público Faraday preferia manter uma definição formal de suas linhas. As linhas de Força. - Outro elemento importante na definição da realidade das linhas de força é a experiência que Faraday faz com a luz em um campo magnético. Ele demonstra que é possível modificar o plano de polarização da luz com a presença do campo. - É importante lembrar que nesta época a definição da luz como uma onda transversal no éter estava ganhando força com Fresnel, Young e Fizeau. J. B. Fourier – Théorie analytique de la chaleur - Neste trabalho, partindo da lei de troca de calor entre elementos vizinhos de matéria, ele reduz o problema da propagação de calor à solução de uma equação diferencial; - Fourier enfatizou a relação entre a quantidade de calor que flui através de uma superfície por unidade de tempo com a taxa de variação de temperatura através da superfície. - Hábil em Física-Matemática; - Faz analogias formais em termodinâmica, eletromagnetismo e ótica. - Thomson sugeriu que a ação eletrostática poderia ser uma ação contígua no meio entre as fontes, como era a propagação de calor. - Ele encontra a equação do potencial através de uma analogia formal com o calor. - Para isso, associa calor com eletricidade, temperatura com potencial e fontes de calor com cargas elétricas. - Thomson em analogia com os trabalhos com fluidos e sólidos elásticos elabora um conceito de éter. - Stokes estudou matematicamente o movimento mais geral de um fluido decompondo o movimento de um elemento de fluido em três dilatações em torno de três eixos ortogonais e uma rotação. - Aluno de Thomson; - Faz a síntese do eletromagnetismo. Sobre as linhas de força (1861/62). - Maxwell desenvolve uma analogia entre magnetismo e um sólido elástico tensionado de modo que o deslocamento angular seria proporcional à força magnética e o deslocamento relativo das partículas vizinhas corresponderia em magnitude e direção à quantidade de corrente elétrica passando pelo correspondente do campo magnético. - E escreve a relação de uma corrente a partir das “componentes da força que age sobre a extremidade de uma barra magnética unitária”. p = 1/4 (dc/dx – db/dy) q = 1/4 (da/dx – dc/dy) r = 1/4 (db/dx – da/dy) - Que hoje chamamos de lei de Ampère. - Foi inventada por Willian H. Hamilton em 1843, mas suas aplicações em Física foram desenvolvidas por Peter G. Tait a partir de 1860. O quatérnio é um “vetor” que contém uma parte real e três direções imaginárias. T = a+bi+cj+dk - Os quatérnios obedecem a uma lógica não comutativa. ij = -ji = k - A interpretação algébrica de um quatérnio. T = Sa + Vb No final do século XIX a revista nature foi palco de uma disputa em torno de qual formalismo deveria ser utilizado no eletromagnetismo. Vetores X Quatérnios Elabora a versão contemporânea do eletromagnetismo, com cálculo vetorial. Gaston Bachelard. Séc. XX Desenvolvimento da Ciência como Superação do Próprio Pensamento. Diferentes Perfis Epistemológicos. Filosofia do Não. (1940) Desenvolve a Ideia de Perfis Epistemológicos. “Seria através de um tal perfil mental que poderia medir-se a ação psicológica efetiva das diversas filosofias na obra do conhecimento. Expliquemos o nosso pensamento através do conceito de massa." Perfis Epistemológicos: Realismo Ingênuo. Um primeiro nível para a noção de massa, seria um nível de caráter animista, ligando grandes massas às grandes coisas. Assim a massa acaba tendo uma conotação de poder, tendo uma carga de afetividade muito grande. Perfis Epistemológicos: Empiricista. Um segundo nível, a massa é estudada de maneira empírica através de uma balança. Logo o conceito de massa é entendido através de um empirismo primeiro, onde o instrumento precede e teoria, e o conceito se resume à medição feita. Perfis Epistemológicos: Racionalista. Com Newton, a massa atinge um terceiro aspecto. Ela será definida como o quociente da força pela aceleração. Com isso a definição da massa vem devido a relação com F e a, isto é, uma relação racional. Perfis Epistemológicos: Racionalista Complexo. Com a relatividade, a relação da massa com o movimento faz com que ela ganhe um caráter complexo, mas ainda assim é uma construção racional sem declinar o seu papel de elemento do mundo. Perfis Epistemológicos: Ultra Racionalista. Na mecânica de Dirac, a massa se pluraliza, por uma lado esta massa resume tudo que o que se sabia da massa nas filosofias anteriores, mas por outro lado a massa pode adquirir uma caráter negativo, conceito inadmissível nas filosofias antecedentes. Isso suscita uma dialética externa, uma dialética que nunca teria sido encontrada meditando sobre a essência do conceito de massa, aprofundando as noções anteriores. Com a evolução dos perfis epistemológicos cada vez mais a massa deixa de ser um objeto ou propriedade de um objeto e passa a ser uma propriedade de um sistema racional. Mas como é possível dar um significado físico a esta “realidade”?