Caso Clínico Fernanda Susy Marcus Vinicius Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral www.gemecs.com.br INTRODUÇÃO • ID: Homem, 27 anos, casado, branco, católico, natural e procedente de Sobral. • QP: “Rosto e mãos inchadas há dois dias” www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral HISTÓRICO • HDA: O homem revela que notou o inchaço na face, nas mãos há dois dias. Notou também inchaço em torno dos olhos pela primeira vez há 2 dias, juntamente com a dificuldade de colocar a aliança por causa do dedo inchado. Além disso, disse que a urina estava marromavermelhada e que urinou menos nos últimos dias. • HPP: Não tem história médica significativa, e a única medicação que tomou foi ibuprofeno para febre e dor de garganta há duas semanas, as quais já melhoraram. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral HISTÓRICO • HF: Pai e mãe saudáveis. • HPS (psicossocial): Nega tabagismo, uso de álcool e drogas. • Revisão de sistema corporal: Nega acometimentos em outros sistemas, tais como dor de cabeça, dor muscular e alterações de pele. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral Exames Afebril, com edema periorbital, edema de face, nos pés e nas mãos. Frequência cardíaca: 85bpm Pressão arterial: 164/98 mmHg Fundoscopia normal, sem edema de papila Pulmões limpos Ritmo cardíaco regular sem deslocamento do ictus e sem sopros Não há massas abdominais a palpação Exame de urina com presença de sangue e proteínas www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral RESUMO • Homem de 27 anos queixa-se há dois dias de edema de face e das mãos, de diminuição do volume urinário e de urina marrom-avermelhada. Tomou ibuprofeno para a febre e dor de garganta há duas semanas. Está afebril, hipertenso e apresenta edema periorbital com fundo de olho normal. Os exames cardíaco, pulmonar e abdominal estão normais, mas ele tem edema dos pés, das mãos e da face. O exame de urina mostrou hematúria e proteinúria. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral • Quais exames pedir? O que queres encontrar ou excluir? • Qual sua conduta? Encaminhar a um especialista Encaminhar à cirurgia Passar algum medicamento e marcar retorno • Quais hipóteses? www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral •Qual o Diagnóstico? www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral Glomerulonefrite aguda após infecção estreptocócica www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral Suspeitar de... Paciente jovem sem história médica significativa que apresenta hipertensão recente, edema e hematúria após uma infecção das vias aéreas superiores. Não apresenta história de doenças inflamatórias, como lúpus eritematoso sistêmico. A cor marrom-avermelhada da urina pode representar hematúria. Exeme para pedir: Exame de sedimento urinário (componentes celulares, cilindros hemáticos e eritrócitos dismórficos). Se +, é sinal de inflamação e estabelece o diagnóstico de GN aguda. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral Glomerulonefrite aguda após infecção estreptocócica • A glomerulonefrite aguda (GNA) após infecção de vias aéreas superiores ou pele é uma doença renal inflamatória causada geralmente por cepas estreptocócicas nefritogênicas, podendo cursar com quadro súbito de hematúria macroscópica, hipertensão arterial, edema e, ocasionalmente, insuficiência renal aguda • Epidemiologia: Comum na infância e pouco incidente em adultos e indivíduos mais jovens. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral EPIDEMOLOGIA • A GNPE pode ocorrer de forma esporádica ou epidêmica. Acomete predominantemente crianças em idade pré-escolar e escolar, com pico de incidência ao redor dos 7 anos de idade, sendo raro o acometimento de crianças menores de 2 anos de idade (5%) e adultos acima de 40 anos (5 a 10%). • O sexo masculino geralmente é 2 vezes mais acometido, embora alguns autores relatem que quando o processo é secundário à estreptococcia cutânea, não há predomínio de sexo. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral ETIOLOGIA • A glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE) geralmente é precedida por uma infecção da orofaringe ou da pele por certas cepas “nefritogênicas” dos estreptococos beta-hemolíticos dos grupos A, C e G. As cepas ditas nefritogênicas mais relacionadas a infecções respiratórias são as dos sorotipos 1, 4, 12 e 25, e a infecção de pele está mais relacionada aos sorotipos 2, 42, 49, 56 e 60. • Os fatores que permitem que as cepas sejam nefritogênicas permanecem obscuros. Entretanto, quadro clínico semelhante já foi descrito em associação a outros agentes infecciosos, como bactérias, vírus e parasitas www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral PATOGENIA • deposição glomerular de imunocomplexos de antígeno estreptococo-anticorpo ou de produtos produzidos pelo estreptococo (como a estreptoquinase); • • mecanismos autoimunes, pelos quais certos antígenos estreptocócicos simulariam anticorpos que apresentam reação cruzada com antígenos glomerulares renais (glicoproteínas da membrana basal glomerular); • • complexos terminais do complemento, formados a partir da ativação da cascata do complemento, que estimulam a produção de prostanoides pelas células mesangiais glomerulares e a elaboração de interleucinas, estando, assim, implicados na injúria glomerular aguda e, particularmente, como um estímulo para a proliferação mesangial. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral PATOGENIA • Patogenia do antígeno autólogo : Neuraminidase - igG • Os imunocomplexos depositam-se no lado subendotelial da parede capilar. A partir daí, ocorre: - Ativação do sistema complemento (tanto pela via clássica quanto pela via alternada, na maioria dos casos); - Liberação de C5a e C5b, que possuem atividades quimiotáxicas; - Ativação de neutrófilos que, por sua vez, secretarão proteases - Ativação de substâncias oxidantes que irão determinar alterações na membrana basal glomerular (MBG), principalmente no que se refere à proteinúria. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral FISIOPATOLOGIA • • • A fisiopatologia da GNDA inclui a redução no ritmo de filtração glomerular determinada pela infiltração de células inflamatórias e pela queda da permeabilidade basal glomerular. Durante a fase aguda, há importante processo inflamatório de natureza imunológica e alterações dos capilares glomerulares com redução de seus lúmens por tumefação de suas paredes ou por obstrução causada por coagulação intravascular. Este processo leva a uma queda da filtração glomerular com aumento dos níveis séricos, de ureia e creatinina. As lesões dos capilares glomerulares permitem a passagem de hemácias da luz capilar para o espaço de Bowman, causando hematúria. A própria reação inflamatória nos glomérulos altera as condições de permeabilidade da membrana glomerular às proteínas, condicionando proteinúria de pequena intensidade. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral FISIOPATOLOGIA • A baixa aguda do ritmo de filtração glomerular leva à retenção de sódio pelas células tubulares, principalmente distais. O sódio plasmático, em geral, fica diminuído, porém a massa total de sódio, em razão da expansão do espaço extracelular, fica aumentada. A reabsorção do sódio no nível dos túbulos está preservada, principalmente nos túbulos distais. • Este fato resultará na expansão do volume extracelular e na consequente supressão do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). • São discutíveis as condições que induzem à hipertensão na GNDA. Atribui-se seu aparecimento à existência de vasoespasmo generalizado, associado à hipervolemia por retenção de sódio e água, levando à expansão do volume intravascular, visto que o SRAA não está ativado nesta patologia. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral ANATOMIA PATOLÓGICA www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral DIAGNÓSTICO • Diante de um paciente com síndrome nefrítica, como proceder? • tentar encontrar, pela anamnese e exame físico, a presença de manifestações extrarrenais que possam indicar uma etiologia específica . • Caso a síndrome nefrítica seja a única condição do paciente, o médico deve: - Perguntar a ele sobre faringite ou piodermite prévias recentes, - Verificar se o período entre as infecções estreptocócicas prévias e o início dos sintomas da GNDA é compatível, - Documentar laboratorialmente a infecção estreptocócica - Avaliar queda transitória típica de complemento (C3 e CH50), com um retorno a níveis normais entre 2 e 8 semanas a contar dos primeiros sinais de nefropatia. • www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral DIAGNÓSTICO LABORATORIAL • Teste de Urina - Na maioria dos casos, mostra sinais de inflamação glomerular ativa, com hemácias dismórficas, presença de cilindros hemáticos, granulosos, hialinos e leucocitários, osmolaridade elevada e proteinúria positiva (raramente maciça). • Teste de Função Renal - Níveis séricos de ureia e creatinina podem estar elevados; - Função tubular costuma estar preservada; - Hiponatremia, acidose metabólica e hipercalemia podem ocorrer quando a queda no ritmo de filtração glomerular for importante, causando insuficiência renal aguda. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral TRATAMENTO • O tratamento da GNDA é geralmente sintomático e ambulatorial. • A hospitalização do paciente nem sempre é obrigatória, tornando-se necessária em casos de complicações: congestão cardiocirculatória, insuficiência renal aguda ou encefalopatia hipertensiva. • É indicada a avaliação diária do paciente, visando reconhecer a evolução do edema e o peso, com controle da pressão arterial e do débito urinário. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral TRATAMENTO • Repouso • Medidas Dietéticas • Diuréticos - Nos casos de edema mais intenso, com hipertensão arterial e/ou sinais de congestão cardiocirculatória, indica-se o uso de diuréticos como a furosemida (1 a 2 até 6 mg/kg/dia). - Nas hipertensões mais graves, deve-se administrar drogas hipotensoras, como os bloqueadores de canais de cálcio (nifedipina 0,15 até 1,5 mg/kg/dia a cada 6 horas). - O tratamento medicamentoso compreende a erradicação da estreptococcia. Utiliza-se penicilina benzatina . Nos alérgicos à penicilina, usa-se eritromicina na dose de 30 mg/kg/dia por 10 dias. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral PREVENÇÃO • A antibioticoterapia sistêmica precoce das infecções orofaríngeas e cutâneas estreptocócicas não elimina o risco de glomerulonefrite. • Os familiares de pacientes com glomerulonefrite pósestreptocócica aguda devem realizar exame de cultura quanto à procura de estreptococos beta-hemolíticos do grupo A e tratados, se a cultura for positiva. • Após o início da antibioticoterapia adequada, o doente deve ser mantido em isolamento respiratório por 24 horas, para evitar a disseminação das cepas nefritogênicas dos estreptococos. www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral PROGNÓSTICO • A recuperação completa ocorre em mais de 95% das crianças com GNPE aguda. Em torno de 1 semana após o quadro inicial, há a normalização da pressão arterial, aumento da diurese e queda dos níveis de ureia e creatinina séricas. • A resolução da hematúria macroscópica ocorre em torno de 2 a 3 semanas, enquanto a microscópica pode persistir por 1 ano ou mais, sem que isso seja indicação de mau prognóstico. A proteinúria tende a se resolver em torno de 3 a 6 meses. • www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Casos Clínicos em Medicina Interna. 4ª edição. Toy e Patlan. Editora Lange. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010128002010000300003&script=sci_arttext http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/3046/gl omerulonefrite_difusa_aguda_ou_glomerulonefrite_pos_est reptococica.htm www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral OBRIGADO! www.gemecs.com.br Grupo de Estudos em Medicina Clínica de Sobral