TRÊS VISÕES SOBRE A SOCIEDADE MODERNA: positivismo, racionalismo, materialismo- histórico Há necessidade de compreender as diferentes contribuições teóricas das Ciências Sociais para compreensão da sociedade moderna. Também precisamos compreender que existem diferentes princípios explicativos para a sociedade capitalista. Os 3 teóricos clássicos da sociologia: Durkhein, Weber, Marx = criaram concepções para a observação social. SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIN (1858-1917) Durkhein foi o criador do organicismo comparando a sociedade a um organismo vivo (cada órgão tem que cumprir a sua função para que o todo se mantenha saudável e na vida social cada indivíduo deve cumprir a sua função, do contrário a sociedade ficará doente). Acreditava que os problemas sociais não eram de natureza econômica, mas de natureza moral. Definiu com clareza o objeto da sociologia: os fatos sociais, distingue 3 características dos fatos sociais: 1. Coercitividade (exercem pressão sobre nosso comportamento, levando os indivíduos a conformar-se às regras da sociedade em que vivem, independente de sua vontade. EX: adota um idioma, se submete a um tipo de formação familiar, está subordinado a um código de leis). 2. Exterioridade (as regras, os costumes, as leis existem antes do nascimento das pessoas, portanto não surgem de nossa vontade). 3. Generalidade (atingem parte considerável da população, possuem natureza coletiva. EX: formas de habitação, comunicação, moral). A OBJETIVIDADE DO FATO SOCIAL Para Durkhein como para os positivistas a explicação científica exige que o pesquisador mantenha certa distância e neutralidade em relação aos fatos, pois caso contrário nada tem de científico e podem distorcer a realidade dos fatos. Aconselhava o sociólogo a encarar os fatos sociais como coisas, fenômenos que lhe são exteriores e devem ser medidos, observados e comparados independentemente do que os indivíduos envolvidos pensem ou declarem a seu respeito. Para Durkhein, a sociologia tinha por finalidade não só explicar a sociedade como encontrar soluções para a vida social. A sociedade, apresentaria estados normais e patológicos (saudáveis e doentios). Normal: quando desempenha alguma função importante para a adaptação ou evolução da sociedade (ex. eleições), reflete os valores e as condutas aceitas pela maior parte da população. Patológico: é aquele que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente (ex. criminalidade nas grandes cidades). Os fatos patológicos como as doenças, são considerados transitórios e excepcionais. CONSCIÊNCIA COLETIVA Toda teoria sociológica de Durkhein demonstra que os fatos sociais tem existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Embora todos possuam sua consciência individual, seu modo de se comportar e interpretar a vida, pode-se notar em qualquer grupo ou sociedade, formas padronizadas de conduta e pensamento, ou seja, consciência coletiva. Consciência coletiva: idéias comuns que estão presentes em todas as consciências individuais de uma sociedade. Não é o que o indivíduo pensa, mas o que a sociedade pensa. É a consciência coletiva que define o que em uma sociedade é considerado imoral, reprovável ou criminoso. Solidariedade mecânica: união das pessoas a partir da semelhança na religião, tradição ou sentimento. Solidariedade orgânica: união de pessoas a partir da dependência que uma tem da outra para realizar alguma atividade social - o que une o grupo é a dependência que cada um tem da atividade do outro - a união é dada pela especialização de funções. A solidariedade orgânica é superior à mecânica, pois, ao se especializarem as funções, a individualidade, de certo modo, é ressaltada, permitindo maior liberdade de ação. O progresso desencadeado pelo capitalismo aumentaria a solidariedade orgânica, a ponto de fazer com que a sociedade chegasse a um estágio sem conflitos e problemas sociais. Para o pensamento positivista, a sociedade moderna é perfeita, porém falta aos homens uma base moral. É necessário apenas conhecer os problemas sociais e buscar uma solução científica para eles. Portanto, a sociedade é boa, sendo necessário apenas “curar suas doenças”. SOCIOLOGIA ALEMÃ DE MAX WEBER (1864-1920) A França desenvolveu seu pensamento social sob influência da filosofia positivista. Na Alemanha, o pensamento burguês se organiza tardiamente e é sob influência de outras correntes filosóficas, como a história e a antropologia. A Alemanha se unifica e se organiza como Estado Nacional mais tardiamente, o que atrasou seu ingresso na corrida industrial. Segundo Weber o capitalismo era a expressão da modernização e da racionalização, mas essa racionalização levaria a excessiva especialização a um mundo cada vez mais tecnicista e artificial, deteriorando as relações humanas. Foi Max Weber o grande sistematizador da sociologia na Alemanha. Para o positivismo, a história é o processo universal de evolução da humanidade, cujos estágios o cientista pode perceber pelo método comparativo, capaz de aproximar sociedades humanas de todos os tempos e lugares. Essa forma de pensar faz desaparecer as particularidades históricas, e os indivíduos são dissolvidos em meio as forças sociais impositivas. Para Weber, a pesquisa histórica é essencial para a compreensão das sociedades. Essa pesquisa, baseada na coletividade de documentos e no esforço interpretativo das fontes, permite o entendimento das diferenças sociais, que seriam para Weber formação e não estágios de evolução. Weber consegue combinar 2 perspectivas: a histórica, que respeita as particularidades de cada sociedade, e a sociológica, que ressalta os elementos mais gerais da cada fase do processo histórico. A AÇÃO SOCIAL: uma ação com sentido O ponto de partida da sociologia de Weber não estava nas entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu objeto de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido, isto é, de uma justificativa elaborada. Ex: o modo como o eleitor define seu voto orientando-se pela ação dos demais eleitores. Assim o homem passou a ter enquanto indivíduo significado e especificidade, é ele que dá sentido à sua ação social: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos. Para a sociologia positivista, a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles. Para a sociologia racionalismo, não existe oposição entre indivíduo e sociedade, as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação, ou seja, cada sujeito age levado por um motivo que é dado pela tradição, por interesses racionais ou pela emotividade. Para Weber a tarefa do cientista é descobrir os possíveis sentidos das ações humanas presentes na realidade social que lhe interessa estudar. O cientista pode, portanto, descobrir o nexo entre as várias etapas em que se decompõe a ação social. EX: o simples ato de enviar uma carta se decompõe em uma série de ações sociais com sentido - escrever, selar, enviar, receber – que terminam por realizar um objetivo. Por outro lado, muitos agentes ou atores estão relacionados a essa ação social – o atendente, o carteiro. Essa interdependência entre os sentidos das diversas ações que dá a esse conjunto de ações se caráter social. É o indivíduo por meio de valores sociais e de sua motivação, que produz o sentido da ação social. Isso não significa que cada sujeito possa prever com certeza todas as consequências de determinada ação e cabe ao cientista perceber isto. KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM (1818-1883) Marx exerceu grande influência sobre os movimentos políticos do séc. XX. Demonstrando que nos diferentes períodos históricos o processo produtivo foi organizado com base na exploração de uma classe sobre a outra. Por isso, o materialismo histórico foi a corrente mais revolucionária do pensamento social. Sua intenção não era apenas contribuir para o desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla transformação política, econômica e social desenvolvendo conceitos importantes. Marx desenvolveu conceito como ideologia, concebida com um sistema de inversão da realidade (as idéias da classe dominante aparecem com as idéias dominantes de uma época). A ideologia burguesa faz com que as pessoas não percebam que a sociedade é dividida em classes sociais. Desenvolveu também o conceito de alienação, faz com que o trabalhador perca consciência da sua realidade, não se percebendo como o verdadeiro produtor das riquezas e passa a ser controlado pelo seu patrão (determina o salário, a jornada). Marx mostrou que na sociedade de classes esse Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse dela. As idéias liberais consideravam os homens iguais, Marx, proclama a inexistência de tal igualdade, as desigualdades sociais eram provocadas pelas relações de produção do sistema capitalista, que dividem os homens em proprietários e não proprietários dos meios de produção. A desigualdades são a base da formação das classes sociais. O operário, é aquele que nada possuindo é obrigado a sobreviver da venda de sua força de trabalho, com o capitalismo, a força de trabalho se torna uma mercadoria (pode-se comprar e vender), surge um contrato, o salário, que é o valor da força de trabalho considerada como mercadoria, este deve corresponder a quantia que permita o operário alimentar-se, vestir-se, cuidar dos filhos, recuperar as energias e estar de volta ao serviço no dia seguinte. O salário deve variar de lugar para lugar garantindo portanto a subsistência do trabalhador e de sua família. O processo de extração da mais-valia descrito por Marx no princípio do capitalismo se dá da mesma maneira atualmente (o trabalho do proletário – mão de obra assalariada, engrossa o lucro da burguesia – industriais que investem na produção). Uma coisa é o valor da força de trabalho, isto é, o salário, e outra, é quanto esse trabalho rende ao capitalista. Esse valor excedente produzido pelo operário é mais-valia. Para entender o capitalismo e explicar a organização econômica humana, Marx desenvolveu uma teoria, os princípios dessa teoria estão expressos em seu método de análise – materialismo histórico (parte do princípio de que a estrutura de uma sociedade qualquer reflete a forma como os homens organizam a produção social dos bens). A produção social engloba 2 fatores: as forças produtivas e as relações de produção. forças produtivas: constituem as condições materiais de toda a produção. Qualquer processo de trabalho implica: determinados objetos (matérias-primas), instrumentos (ferramentas/máquinas), homem (ligação entre todos). Essas combinações procuram atingir o máximo de produção em função do mercado existente. relações de produção: são as formas pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. Assim as relações de produção podem ser cooperativistas (como mutirão), escravistas (como na Antiguidade), servis (como na Europa feudal), capitalistas (como na indústria moderna). Estes conceitos possibilitam a compreensão das razões pelas quais os oprimidos não se rebelam contra o sistema, pois a dominação faz com que vejam com naturalidade a desigualdade e a opressão, dificultando os processos de transformação social. Marx conseguiu com sua obra estabelecer relações profundas entre a realidade, a filosofia e a ciência. A idéia de uma sociedade doente ou normal, preocupação dos positivistas, desaparece em Marx, para ele a sociedade é constituída de relações de conflito e é de sua dinâmica que surge a mudança social (luta, revolução, conflito) são momentos históricos e não disfunções sociais. FINALMENTE Só é possível compreender a complexidade do mundo contemporâneo se percebemos que não existe um pensamento único para explicar as relações sociais. A formação do espírito crítico se deve basicamente a existência de princípios explicativos distintos para a realidade. Através desses princípios explicativos é possível compreender diferentes visões de sociedade e diferentes estilos de pensamento. QUESTÃO: 1. O crime é um fato social normal ou patológico? Por quê? 2. O que você entende por mais-valia?