SOLIDARIEDADES FAMILIARES E APOIO A IDOSOS: LIMITES E IMPLICAÇÕES Luísa Pimentel Começando pelo princípio… No sistema de trocas familiares, os mais velhos não são somente recetores, são também provedores de ajuda. - ajudas financeiras (mais ou menos substanciais) - apoio emocional - cuidados aos netos - provisão de alojamento - prestação de serviços - ajuda na realização de tarefas domésticas - transmissão de valores e de saberes Daniel Sampaio (A razão dos avós - 2008) realça o contributo dos avós na transmissão das heranças e patrimónios familiares, na continuidade das relações e, particularmente, no apoio emocional aos netos, em caso de instabilidade familiar, como elemento de suporte e de referência. Mas as relações familiares (intra e intergeracionais) não são fáceis… … e os problemas aumentam quando as pessoas idosas se tornam dependentes de cuidados no seu quotidiano. Altruísmo Hedonismo Solidariedade Individualismo Liberdade Disponibilidade Família e afetos Trabalho e realização profissional CONCILIAÇÃO DIFÍCIL Lazer e tempos livres Participação social e cívica Cuidados e apoio social Hoje, o contrato entre as gerações, no domínio dos cuidados, assenta em novas premissas É mais frequente o suporte aos mais velhos ser assegurado de forma indireta, através do recurso a instituições ou a outros agentes externos à família. Contudo, muitos familiares, sozinhos ou com apoios externos, continuam a cuidar. Ajustam-se a novas exigências e a novas circunstâncias, revelando uma enorme maleabilidade e capacidade de adaptação. Encontramos soluções de apoio muito diversas e inventivas A predominância dos cuidados familiares pode estar associada a vários fatores, dos quais realçamos: fatores de índole normativa e moral; fatores de índole afectiva e relacional; escassez de equipamentos e de serviços disponíveis ou considerados de qualidade; falta de informação sobre o leque de respostas disponíveis e sobre a especificidade dos serviços que podem ser prestados; escassez de recursos económicos por parte dos idosos e das suas famílias, especialmente para arcar com os custos de serviços de maior qualidade. Limites à constituição das redes de entreajudas - inserção dos familiares adultos no mercado de trabalho e transformação dos papéis assumidos pelas mulheres nas sociedades contemporâneas; - constrangimentos materiais e escassez de recursos (tempo, recursos financeiros, dimensão das habitações, distanciamento geográfico, …); - constrangimentos de ordem relacional (conflitos familiares ou distanciamento afetivo. Retrospetiva das interações familiares); - constrangimentos no processo negocial subjacente à constituição das redes de apoio; - constrangimentos relacionados com as atuais tendências no domínio dos valores e dos comportamentos demográficos (valorização da privacidade e autonomia, instabilidade conjugal, diminuição do nº de filhos); - escassez de competências dos cuidadores informais; - indisponibilidade ou inadequação dos recursos formais. Luísa Pimentel (2006) - Estudo sobre as interações familiares no contexto da prestação de cuidados a idosos dependentes. Entrevistas a 34 pessoas, todas elas fazendo parte da geração intermédia (descendentes dos idosos) e todas elas pertencendo a fratrias. Perfil dos cuidadores entrevistados - são predominantemente do sexo feminino (32 mulheres/2 homens) - têm idades compreendidas entre os 38 e os 73 anos - são predominantemente casados - têm baixos níveis de escolaridade (em particular em meio rural) - a maioria está integrada no mercado de trabalho (por conta de outrem) - na sua grande maioria são filhas dos idosos a quem prestam cuidados Fratrias constituídas predominantemente por 2/3/4 pessoas Cuidados prestados preferencialmente por um elemento da fratria Uma prole numerosa não é garantia de cuidados Modos de Cuidar Articulação de dois indicadores: as estratégias utilizadas e os esquemas delineados. estratégias de exclusividade apelam unicamente à mobilização dos recursos familiares (sem apoio exterior). estratégias de complementaridade permitem conciliar os esforços dos elementos da fratria com a utilização de recursos externos (mais frequente em meio urbano) Esquemas rotativos, envolvimento (eventualmente diferenciado) de vários irmãos que implica uma articulação interna. esquemas “egocentrados” só um dos irmãos assume a responsabilidade de cuidar, podendo haver um envolvimento menor e pontual dos outros irmãos. Baixas expetativas em relação à disponibilidades das gerações mais jovens Entendem-se como a ultima geração de cuidadores inevitabilidade do apoio institucional para a sua geração Mais recetivos a apoios formais ou informais pagos Pela consciência das dificuldades O trabalho não pago tem custos e conduz à desvalorização do papel das mulheres. (O’Shea, 2002) INTERFERENCIA NA ATIVIDADE PROFISSIONAL ABANDONO DE OUTRAS ACTIVIDADES Perda de INTERFERÊNCIA NAS RELAÇÕES liberdade PERDA DE ESPAÇO E TEMPO INDIVIDUAIS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE Contudo, não podemos ignorar que o trabalho de cuidar dos parentes dependentes pode ser gerador de muita satisfação pessoal e trazer compensações diversas. Estas são, essencialmente, de natureza psicológica e relacional: - sensação de ter cumprido o seu dever - sensação de ter dado um sentido à sua vida - sensação de ter pago uma dívida de gratidão - elevação do estatuto social - fortalecimento dos laços familiares - transmissão de valores de solidariedade às crianças Mas também podem ser materiais – ganhos financeiros Os cuidadores familiares precisam cada vez mais de: Acompanhamento e apoio financeiro Respostas adequadas e facilitadoras das suas tarefas Reconhecimento A maior flor do mundo de José Saramago Grata pela atenção!