História da Música II Os mestres borgonheses: Dufay e Binchois Prof. Diósnio Machado Neto A corte do ducado da Borgonha • Na época de Binchois e Dufay (1433 a 1477) a Borgonha tinha se tornado um poderoso ducado que incluía os Flandres e os Países Baixos (Holanda, Bélgica e Luxemburgo) Também fazia parte do seu território Alsace e Lorraine (noroeste da França). O ducado termina com a morte de Carlos, o corajoso, em 1477. • O ducado se torna um grande mecenas. • Dunstable, Dufay e Binchois servem na corte à época de Felipe, o Bom. • A princípio a capela (15 cantores) era formada por músicos franceses, dirigidos por Binchois Estilo internacional •Polifonia francesa como base • Canon italiano da antiga Caccia • Sonoridade inglesa do discante (6/3) e do Fauxbourdon • Forma francesa • Manutenção e ampliação das formas fixas • Cantus firmus como elemento organizador – princípio do motete da escola de Notre-Dame Binchois • Serviu na corte borgonhesa por trinta anos, a partir de 1426 • Sua primeira obra para a corte de Felipe, o Bom foi Nove cantum melodie • Chanson simples • Influência inglesa, pela própria experiência • Preferivelmente na forma rondeau • Quase todas a 3 • Texto quase sempre confiado ao superius • Exemplo da canção de Binchois é Je me recommande • Introduz a chanson dentro da igreja • Porém, escreveu missas cíclicas e, também, com uso de isorritmia. Dufay • Nasce em Cambrai, norte da França. • Aluno de Grenon e Loqueville, em Cambrai. • Durante sua vida serviu na corte Borgonhesa, em Pesaro (Itália) e viveu em Roma como membro da capela papal. Ainda serviu nas capelas de Bologna, Firenze e do Duque de Saboya (França) • A partir de 1420 permanece na Itália. Empregado da família Malatesta • Essa movimentação de Dufay é típica dos compositores renascentistas e ajudaram a estabelecer o estilo internacional da época. • Foi nomeado cônego devido a sua grande erudição - doutor em Direito Canônico. • Falece em 1474 Escrita a quatro vozes • Século XV altera-se a malha polifônica • O tenor continua sendo a voz harmônica base • Abandona-se o contratenor em detrimento do altus e do bassus Discantus (superious): condutor da melodia Altus: “recehio harmônico” Tenor: voz condutora da estrutura musical Bassus: “reforço harmônico • Formação dos movimentos de cláusula • Dois movimentos são fundamentais na “pontuação” da música • Cláusula de Tenor (tenorizans): passo em grau conjunto para baixo (quando for de meio tom chama-se “passo frígio” • Cláusula de soprano (cantizans): movimento em grau conjunto (semitom) ascendente Cadências • Diversidade de cadências • Foram descobertas no século XIII e persistiram até o XVI • Continua se empregando a cadência Landini. • Cadência borgonhesa, usada por Dufay, se vale de duas sensíveis • Cadências modais • São as cadências que explicam a existência de armadura de clave diferente entre o “superius” e o tenor (b e bb) • Gradativa substituição das cadências modais (6/3) pela cadência I – V – I, motivadas pelo uso de um contrabassus • O sentido da harmonia é nos termos de arranjo de consonâncias na conexão dos requerimentos melódicos e modais. A partir do século XV, principalmente em Dufay, é que ela assume cada vez mais um aspecto "harmônico-vertical". Chanson • Texto típico da tradição poética do amor cortesão. • Textos preferivelmente em francês. • Geralmente emprega as “formas fixas” tais como o Rondeau (A B a A a b A B) e a Balladèe (a a b C) • Sua predileção no entanto recai sobre o Rondeau. • Textura similar à ballade: “tiple" ou "discantus" com maior interesse, tenor e contratenor tocado por instrumentos. • • • • Não existe uma uniformidade no uso de instrumentos Contratenor funciona como “recheio”. Tenores serviram às missas. Escrita à 4 e à 3. • Ocasionalmente breves pontos de imitação entre as partes (nada que afete a estrutura, como acontecerá na música de Josquin) • Combinação do estilo do Fauxbourdon com o Discante Inglês • Dufay usa uma cadência muito próxima da relação D – T, que produz uma sensação primária de coerência tonal. Ballade Reveislles Vous • Escrita para o matrimônio de Carlos Malatesta, em 1423 • Estrutura A A’ B C (estribilho) • Cadências que definem bem as seções A e B • A mudança de estrutura mensural • A – Tempus Imperfecto – prolação maior (6/8) • B – Tempus Perfeito – prolação menor (3/4) • Uso de rimas melódicas • Recorrente na escrita das Balladeès de Dufay • Uso da gematria Rondeau Adieu M’Amour • Gênero mais difundido, inclusive por Dufay • Estrutura ABaAabAB • Novamente uso de cadências bem definidas entre A e B • A grands rhéthoriques • A poesia é um exemplo do uso do pensamento retórico • O impacto da palavra Adieu (repetido 9 vezes nos versos de 1 a 11) • Pathopoeia visto na quebra da condução diatônica • A música do Rondeau • Mensuração e ritmo • Uso das transições • 2/2 para 3/2 • Textura e cadências • Predominância da voz aguda • As duas vozes mais graves sugerem uma subordinação • Alguns pontos de imitação Motetes • Originalmente não existe diferença entre obras sagradas e seculares: motetes e missas freqüentemente estavam no estilo das chansons (dominadas pelo tiple). • O uso do cantus firmus é mais obvio do que em antigas obras. • Usava-se um cantus firmus pré-estabelecido. • Realce do cantus firmus: freqüentemente aparece ornamentado na voz superior (paráfrase) • O Fauxbourdon também é típico nos motetes e nas missas • Muitas vezes alterava-se fauxbourdon com polifonia livre • Pode aparecer o antigo estilo issorrítmico. • O motete mais famoso é Nuper rosarum flores • Indícios do que viria ser a “música reservata” (relação semântica entre texto e música) • Cânon livre • Relações proporcionais matemáticas (vozes em pés métricos diferentes) • Técnica de variação Cantus Firmus • Em Du Fay a técnica de conduzir as seções musicais a partir de uma melodia dada (cantus firmus) torna-se um princípio formal • Cantus firmus é uma melodia posta, em Du Fay, no tenor. • Função: dar unidade às seções, tropando o material condutor (variações de diversas classes) • Aumentações, diminuições, fragmnentações Missas • Uso da técnica de Cantus Firmus • A missa evolui no sentido da unificação das partes • Missa Choralis ou Missa de Cantochão • • Cada movimento do Ordinário usa um cantochão próprio tomado do Graduale. O uso do cantochão trazia uma preocupação litúrgica e não um sentido de unidade • Missa Motto ou Missa paráfrase • Os inícios de cada movimento deveriam ter uma melodia (motivo) recorrente, “motto”, usualmente estava no treble. Conseguia-se uma parcial unidade. • Missas originales ou sine nomine • todo o material é original do compositor • Missa de Cantus Firmus • Onde uma melodia integral é utilizada como tenor • Excerto de um tenor de uma canção profana Missa “cantus firmus” • Uma das grandes inovações formais da História da Música. Primeira forma cíclica altamente organizada. • Este tipo de missa usava em todos os movimentos o mesmo cantus firmus. • Esse canto poderia ser emprestado tanto do canto gregoriano como de uma canção profana. • Princípios básicos: • Escrita à 4 • Caudatária do motete do século XIII: o uso de uma “linha guia”, no caso, o Cantus Firmus. Mantinha, também, os princípios da isorritmia. • Pode ocorrer do cantus firmus infiltrar-se em outras vozes (Se la face ay pale). • A disposição do cantus firmus na voz tenor contrapondo uma voz baixa foi uma inovação de Dufay • Missa Caput, de Dufay, foi a primeira missa cantus-firmus • Dentro dos princípios da Missa Tenora havia uma derivativa, a Missa Paródia • Nesse caso, o autor utiliza um motivo, uma parte ou até mesmo um motete ou uma obra polifônica já existente. Ao escrever a missa, o autor não só modifica o texto, mas acrescenta, ornamenta e até modifica as partes internas da obra referenciada. É uma forma de demonstrar a ingenuidade da obra parodiada e era tido como um exercício intelectual. Josquin foi um mestre nessa técnica.