Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Transportes e Impactes Ambientais – Uma Perspectiva Sistémica: diagnóstico, desafios, oportunidades Luis N. Filipe 1 Passageiros Mercadorias PIB Evolução dos Transportes na EU15 (1985-98) Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Crescimento dos transportes 2 Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Evolução da Taxa de Motorização na EU15 (1950-96) 3 Idade média do parque automóvel (1980-96) Belgium France Italy 8 Portugal 6 Sweden UK 4 1996 1994 1992 1990 EU15 Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Netherlands 1980 Years 10 4 As áreas urbanas… Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) O efeito de concentração é causador de uma parte significativa dos problemas ambientais nos grandes aglomerados urbanos, agravado pelo número crescente de residentes em áreas urbanas 5 Aumento da ocupação do solo pelas áreas urbanas “Urban sprawl” (I) Densidade (hab./ha) Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Consumo de Energia (MJ) Aumento das distâncias entre casa e restantes actividades, associado ao decréscimo das densidades urbanas, conduz a uma maior dependência do TI e induz o aumento do consumo energético médio por deslocação 6 Aumento da ocupação do solo pelas áreas urbanas “Urban sprawl” (II) Necessidade de cruzamento entre transportes e a dinâmica espacial de ordenamento do território Área Metropolitana Residência Emprego Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Centro Urbano 7 Congestionamento Área Metropolitana Paris • 600 milhões de horas perdidas / ano Consequências económicas / ambientais • tempo produtivo perdido • atrasos na distribuição de mercadorias ao comércio • redução das velocidades comerciais dos TC • maiores taxas de emissão de poluentes atmosféricos com os motores em ‘ponto morto’. • ocupação ineficiente e indevida do espaço urbano Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) “Place de la Concorde” 8 Mau aproveitamento do espaço Para transportar 50 000 pessoas/hora na mesma direcção são precisos : • 175 m de largura de estrada usados por Transporte Individual (TI) • 35 m para autocarros MS pode ocupar até 20x menos espaço que o TI! Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) • 9 m para o metro de superfície (MS) 9 Aproveitamento ineficiente dos meios de transporte 75 pessoas podem ser transportadas por cerca de 60 carros… …ou por 1 autocarro! Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Considerando as capacidades de carga dos veículos disponíveis em áreas urbanas, observamos hoje um desperdício de espaço urbano… 10 Emissões totais dos transportes (%) no contexto de cada País Dióxido de Carbono (CO2) Óxidos de Azoto (NOx) Monóxido de Carbono (CO) Hidrocarbonetos (HC) EUA Portugal EUROPA (OCDE) JAPÃO 35 47 71 39 28 36 n.d. n.d. 29 51 81 45 25 39 n.d. n.d. Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Poluição Atmosférica 11 Ruído (%) (10^6 hab.) EUA 7 19 EUROPA (OCDE) 14 53 JAPÃO 28 36 Regulamento Geral do Ruído – 65 dBA Diurno – 55 dBA Nocturno Contribuição de cada modo Exposição da população ao ruído (UE, 1994) 10^6 hab. expostos a X dBA. Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) População exposta a mais de 65 dBA (1998) 12 O ciclo vicioso do declínio urbano + pessoas optam pelo carro + carros + tráfego rodoviário + congestionamento - estacionamento - Oferta de TPC - Utilização do TPC Migração para os subúrbios - Qualidade Vida nos centros urbanos Migração da oferta de emprego para os subúrbios Áreas de oferta de emprego c/ acessibilidade + difícil TPC menos eficazes e menos atractivos + poluição + ruído +acidentes Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) + $ para estradas e infra-estruturas de apoio 13 A sustentabilidade como valor inato • O instinto de preservação dos sistemas em que vivemos exerce-se através das retro-acções com que o sistema responde às nossas acções • A vastidão do sistema levou a que ele fosse até há pouco percebido como aberto (sem retro-acções). Só o forte aumento da dosagem dos estímulos levou a que as retro-acções fossem sensíveis Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) • Apesar de só muito recentemente se falar com insistência dos problemas da sustentabilidade, esse é um valor inato, associado à sobrevivência das espécies 14 A que níveis intervir ? (I) Decisões primárias (localizações, actividades) (+) Maior produção e venda de veículos Desejo de mobilidade (+) (+) Os níveis mais tecnológicos são os politicamente mais apreciados porque permitem atacar os problemas do lado da oferta, sem pôr em causa as decisões primárias e as escolhas de modo de transporte das pessoas e empresas Construção de mais infra-estrutura (+) Produção de transporte Tecnologias de produção de veículos Engenharia de infra-estruturas Tecnologias de tracção e combustíveis Emissões Dispersão, absorção Impactes Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) (+) 15 Limitações desta abordagem – poderá não ser suficiente para resolver alguns dos problemas (diminuição da agressão por unidade contrabalançada pelo forte aumento do nº de unidades); – certamente não resolve outras formas de agressão ambiental, mais associadas à fruição do espaço que à contaminação física ou química do ar, água ou solos Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) • Porém, a intervenção exclusiva a níveis tecnológicos: 16 A que níveis intervir ? (II) Preços, regulamentos Planeamento Territorial Será por isso necessário desenvolver também intervenções aos níveis comportamentais de pessoas, empresas e da sociedade em geral Escolha de modo Produção de transporte Maior produção e venda de veículos Tecnologias Fiscalidade de produção automóvel de veículos Construção de mais infra-estrutura Avaliação de projectos Engenharia de infra-estruturas Tecnologias de tracção e combustíveis Emissões Dispersão, absorção Impactes Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Decisões primárias (localizações, actividades) Desejo de mobilidade 17 Intervenção no comportamento dos agentes (I) Várias formas de actuação no comportamento dos agentes – Regulamentação (mecanismo mais antigo) • Normas: eficaz se não houver incumprimento • Alguns problemas de implementação e fiscalização • Exemplo: Normas EURO para o melhoria das tecnologias – Instrumentos fiscais (mecanismo atractivo para os decisores) • Subsídios – – – – Agentes são receptivos Fácil implementação Gerador de falhas de mercado Exemplo: • Taxas e impostos – Fácil implementação – Eficaz nos resultados através da introdução de novos sinais de mercado aos consumidores – Pouco receptivo para os agentes de mercado – Exemplo: ISP, Imposto Automóvel – Mecanismos voluntários (complemento ao anterior numa perspectiva de futuro) • Exemplo: Acordo voluntário entre a ACEA e a União Europeia Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) • 18 Intervenção no comportamento dos agentes (II) Exemplo: Tributação sobre Carburantes e Veículos Imposto sobre a Circulação Imposto Automóvel TRANSPORTE RODOVIÁRIO PÚBLICO DE MERCADORIAS + TRIBUTAÇÃO DO CARBONO DOS CARBURANTES TRANSPORTE RODOVIÁRIO PRIVADO DE MERCADORIAS Tributação do combustível (induz alterações no comportamento dos utentes relativo à eficiência de utilização e à manutenção dos veículos) Tributação da tecnologia (induz alterações no comportamento dos utentes relativo às opções de aquisição e à utilização dos veículos) TRANSPORTE PÚBLICO + TRANSPORTE INDIVIDUAL Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Transferência progressiva do IA para o IC, até à abolição do 1º [Orientação Europeia] 19 • É frequente ouvir-se que determinados problemas só podem ser resolvidos depois de se conseguir a mudança das mentalidades da população • Mas essas mentalidades são baseadas na percepção das realidades, nas emoções que elas despertam e na experiência de respostas positivas ou negativas às várias actuações desenvolvidas no passado (remuneração pelos actos praticados) • Há um papel importante dos cientistas e políticos na divulgação séria dos efeitos ambientais de determinadas acções. Quando esses efeitos sejam contrários à evidência à escala do cidadão, há que fornecer informação que permita entender porquê Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) A Mudança de Mentalidades e Valores 20 Exemplos • A inércia do sistema (bases actuais, principais tendências) • Quais as acções correctivas desejáveis ? – No plano tecnológico – No plano da gestão da procura • Que falta para serem realizáveis ? Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) • Quais os principais problemas de insustentabilidade ? 21 Exemplo 1: Poluição do ar nas cidades (I) • Inércia do Sistema: – Apesar de novos veículos e combustíveis mais “limpos”, forte aumento da motorização limita os ganhos. – Problemas especiais com veículos mais antigos – A nível local: alta concentração de ozono e outros gases tóxicos e partículas. Forte agravamento das doenças respiratórias, corrosão de monumentos – A nível global: Aquecimento global do planeta, redução da camada de ozono • Acções correctivas: – Tecnologias: Continuação da pressão internacional para formas de tracção mais limpas(motores híbridos, células de combustível); – Gestão da procura: Contenção da mobilidade em TI, melhoria da oferta em TC, gestão estratégica dos usos de solo Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) • Problemas de insustentabilidade: 22 Exemplo 1: Poluição do ar nas cidades (II) – Tempo de amortização dos investimentos das indústria automóvel e petrolífera – Contenção da mobilidade em TI muito contrária à “cultura da evasão”, tarificação em sintonia com externalidades de difícil aceitação política – Política tarifária do TC origina investimentos em pára - arranca – Lei das Finanças Locais não dá qualquer estímulo aos municípios para essa gestão estratégica de usos de solo (divergência de interesses periferias vs. centros, necessidades de arrecadação de receitas) Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) • Dificuldades de aplicação 23 Exemplo 2: Apropriação progressiva do espaço urbano pelas funções de serviço ao automóvel (I) – Crescimento do parque automóvel sem contenção da sua mobilidade gera pressão contínua para construção / alargamento de vias e maior oferta de estacionamento – Grandes Investimentos imobiliários (empregos, equipamentos, comércios) exclusivamente acessíveis por (auto-) estrada geram maior estímulo à utilização do transporte individual • Problemas de insustentabilidade – Diminuição sistemática dos espaços de maior tranquilidade (passeios, pracetas) e das zonas de solo permeável. – Descaracterização do ambiente urbano tradicional – Riscos sérios de exclusão social de quem não dispuser de automóvel para as suas deslocações Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) • Inércia do Sistema: 24 Exemplo 2: Apropriação progressiva do espaço urbano pelas funções de serviço ao automóvel (II) – Privilegiar utilização de modos com menor consumo de espaço.tempo por unidade transportada (Apoio a estes modos e restrição ao modo automóvel) – Adopção de legislação do tipo da A-B-C holandesa – Estudos de impacte de tráfego associados às operações urbanísticas mais frequentemente necessários e realizados com maior rigor técnico • Dificuldades de Aplicação – Para a transferência modal, idênticas às do exemplo I – Para a legislação tipo A-B-C, as relações de poder entre promotores imobiliários e câmaras municipais – Para os estudos de impacte de tráfego, falta de tradição, dificuldade técnica (custos) e falta de técnicos qualificados nas Câmaras Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) • Acções Correctivas 25 Exemplo 3: Elevado consumo energético e agressão ambiental no transporte inter-regional de mercadorias (I) • Inércia do Sistema – Transporte quase exclusivamente realizado por camião – Parte muito significativa do mercado correspondente a transporte por conta própria, com baixas taxas de ocupação e veículos antiquados – Frequentes abusos de limites de carga e de velocidade – Graves riscos de segurança rodoviária – Elevados níveis de poluição atmosférica por unidade transportada – Riscos de rotura produtiva em caso de adopção de normas mais severas antipoluição ou de eco-taxas Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) • Problemas de Insustentabilidade 26 Exemplo 3: Elevado consumo energético e agressão ambiental no transporte inter-regional de mercadorias (II) • Acções correctivas • Dificuldades de Aplicação – Falta de preparação de muitas empresas p/ cálculo rigoroso dos custos de produção – Dimensão de parque de viaturas de conta própria, já disponíveis e utilizáveis – Transferência para transporte público provocaria graves problemas de desemprego de motoristas – Insuficiência de meios para fiscalização rodoviária + persuasão dos agentes por pequenos empresários sempre prontos a invocar dificuldades económicas Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) – Programas de estímulo à modernização das frotas (já em vigor) – Programas de estímulo à utilização de transporte público profissional – Aumento do rigor da fiscalização rodoviária (na vigilância e na punição) 27 • Actuações do lado da oferta continuam a progredir, sujeitas a demoras principalmente pelas disputas em torno do estabelecimento de standards • Progresso tecnológico pode criar ideia de que não é preciso mais qualquer esforço do lado da gestão da procura • Intervenções do lado da gestão da procura mais difíceis politicamente, quer por efeito dessa ilusão, quer por falta de discussão profunda destas questões e de transmissão da sua gravidade para a opinião pública • Vários elementos do regime fiscal estimulam comportamentos de impacte negativo Impactes Ambientais Luis N. Filipe ([email protected]) Conclusões 28