A luta de classes em França – de 1848 a 1850 O 18 Brumário de Luis Bonaparte Obras de Marx 1842/3 – A Questão Judaica; 1843 – Introdução à Crítica à Filosofia do Direito de Hegel; 1844 – Manuscritos Econômico-Filosóficos; 1845 – A Sagrada Família; 1845 – Teses sobre Feuerbach (A Ideologia Alemã); 1847 – Miséria da Filosofia; 1848 – O Manifesto Comunista; 1850 – Lutas de Classe na França; 1852 – O Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte; 1857 – Grundrisse; 1859 – Para a Crítica da Economia Política; 1867 – O Capital – Livro 1; 1871 – Guerra Civil na França; 1875 – Crítica do Programa de Gotha; 1885 – O Capital Livro II; 1894 – O Capital Livro III. Contexto A) Ciclo das Revoluções Burguesas - Experiências inglesas (fim do sec. XVII e início do sec. XVIII) - Independência dos EUA (1776) - Revolução Francesa (1789) #Luta da burguesia pelo poder do Estado# Contexto A) Ciclo das Revoluções Burguesas - Textos que analisam a conjuntura da onda revolucionária que abalou a Europa -Primavera dos Povos: conjunto de revoluções na Europa central e oriental (países alemães, italianos e a hoje República Tcheca) de natureza liberal, nacionalista e democrática contra os governos autocráticos; -Período do livro: apogeu e crise deste ciclo - Se o século XIX consolidou as bases para a universalização do sistema capitalista de produção, seus resultados para os séculos seguintes são as embrionárias lutas proletárias. Contexto B) Revolução Burguesa de julho de 1830 - Pós-derrota da França Napoleônica, o Congresso de Viena (1814) inicia um movimento de restauração do Absolutismo e redesenho geopolítico, colocando na França Carlos X (Bourbons); - 27 a 29 de julho de 1830: o povo e burguesia liberal fazem levantes contra Carlos X. Levantam barricadas e se arma uma guerra civil – o último Bourbon parte para o exílio. Contexto B) Revolução Burguesa de julho de 1830 - Burguesia temerosa com a radicalidade dos acontecimentos, alça Luis Felipe de Orleans (“O rei burguês”) ao trono, e orleanistas dominam Câmara e Administração; Contexto B) Revolução Burguesa de julho de 1830 - Jacques Lafitte: “Agora o reino dos banqueiros vai começar”; - Hegemonia da grande burguesia e aristocracia financeira: “banqueiros, reis da Bolsa, reis da ferrovia, proprietários de minas de carvão e de ferro e de florestas e uma parte da propriedade fundiária aliada a estes”; - fração da classe dominante que endividamento do Estado, obrigado empréstimos; construções de ferrovias. lucrava com o a fazer novos Insatisfações -Guizot como Primeiro-Ministro (perde apoio da Igreja); - Propagação do Socialismo entre o proletariado; - Corrupção e aumento dos impostos; - Motins duramente reprimidos em 1832 (Paris), 34 (Lyon) e 39 (Paris); - 2 fatores econômicos mundiais que fazem amadurecer o descontentamento e o converte em revolta: a) praga da batata e as más colheitas de 1845-6 (Buzançais: operários e aldeões assaltam armazéns e víveres de especuladores. Prisões de trabalho forçado e execuções). b) crise geral do comércio e indústria na Inglaterra que afeta Paris: coloca merceeiros e lojistas falidos na cena revolucionária; Barricadas de fevereiro de 1848 O Governo provisório de coalizão - Monarquia constitucional é suprimida e proletariado consegue arrancar a República com sufrágio (para os homens somente): “constrói o terreno para a luta pela sua emancipação”, (mas o poder de Estado ainda continuava com a burguesia); - Governo provisório composto com maioria de republicanos e socialistas (Blanqui), que preparam a Constituinte em abril; - conseguem concessões: comissão para melhoria das condições de trabalho e oficinas nacionais (workhouses); - Ao mesmo tempo em que atraem contra si todas as frações da burguesia. A desilusão Constituinte - Conservadores e liberais se coligam no Partido da Ordem e socialistas perdem todo o espaço conquistado; - Oficinas Nacionais são desmanteladas. Revoltas de maio e junho/48 - 15/05/48: tentativa malsucedida do proletariado em reconquistar sua influência revolucionária, ao invadir a Assembleia Nacional, declará-la dissolvida e formar um governo revolucionário; - imediatamente, a Guarda Nacional dispersa o movimento e prende os principais líderes (Blanqui, Raspail...) - revoltas do proletariado de junho e sua repressão (morte de 3 mil operários e camponeses e 15 mil deportados): ficava claro a forma pura do Estado burguês, ao instituir o estado de sítio. - primeira grande guerra civil entre proletariado e burguesia; Tese central deste período - jornadas de fevereiro demonstram que o proletariado ainda não podia realizar uma revolução “autêntica”, posto que a burguesia industrial ainda não havia se desenvolvido nacionalmente, salvo em Paris e outros centros industriais esparsos - incapacidade do proletariado em levar a cabo sua revolução o impõe, objetivamente, a necessidade de fazer alianças com frações menores da burguesia, impedindo-o de se colocar na vanguarda do movimento revolucionário; - não se colocava proletariado X burguesia, antes o lema fraternité. Tese central deste período - “A luta contra o capital, na sua forma moderna desenvolvida, no seu fator decisivo, a luta do operário assalariado industrial contra o burguês industrial, é na França um fato parcial que, depois das jornadas de fevereiro, podia tanto menos fornecer o conteúdo nacional às revoluções quanto a luta contra os modos subordinados da exploração do capital, a luta do camponês contra a usura e a hipoteca, do pequeno-burguês contra os grandes comerciantes, banqueiros e fabricantes, numa palavra, contra a bancarrota, estava ainda embrulhada na sublevação geral contra a aristocracia financeira” p. 77 - "Enquanto a dominação da classe burguesa não tivesse se organizado integralmente, não tivesse adquirido a sua expressão política pura, o antagonismo das outras classes também não poderia se manifestar em sua forma pura e, onde o fizesse, não poderia assumir esse caráter perigoso que converte toda a luta contra o poder de Estado numa luta contra o capital" p. 263. Entre junho de 1848 e junho de 1849 - momento de avanço da contrarrevolução: supressão das concessões, do sufrágio, do imposto progressivo sobre o capital e da redução da jornada para 10 horas; - Luis Napoleão Bonaparte (burguesia realista) vence as eleições presidenciais de 10 de dezembro de 1848; - conquista 5,5 milhões de votos, Blanqui consegue 370 mil, um republicano moderado (Cavaignac) consegue 1,5 milhões e um católico 17 mil. - os conservadores buscavam neste voto a salvaguarda de suas propriedades, os proletários foram seduzidos pelos planos de prosperidade de seu livro “A extinção do pauperismo” e as promessas de redução de impostos, o restante do povo votou num símbolo de glória e grandeza: “Como deixar de votar nesse homem, eu que tive o nariz congelado na Rússia?”. Luis Bonaparte - compõe o governo com legitimistas e orleanistas, afastando a burguesia liberal. Legitimistas - casa de Bourbon - ligados à grande propriedade, alto clero. Orleanistas - casa de Orléans - ligados à alta finança, grande indústria e comércio, ou seja, ao grande capital Assembleia Nacional Legislativa - Partido da ordem (orleanistas e legitimistas), partido democrata-socialista e republicanos. - o partido da ordem ganha maioria na Assembleia, e se torna o porta-voz geral da classe burguesa. - Parlamento aprova uma lei em 1851 que reduz em 1/3 o sufrágio O golpe na República - Luis Bonaparte aproveita a oportunidade e desfecha um golpe na 2ª República: dissolve a Assembleia e convoca o povo via plebiscito a conceder-lhe o direito de redigir uma nova Constituição com plenos poderes - 7,5 milhões X 640 mil - Convoca novo plebiscito em 1852 e com 95% do eleitorado, assume o título de Napoleão III 18 Brumário? - mês do calendário republicano francês. 9 de novembro de 1799 é quando Napoleão articula um golpe de Estado e instaura uma ditadura - 2 de dezembro de 1851 é a segunda edição do 18 Brumário, com o golpe do sobrinho. Base social de Bonaparte - o Estado se autonomiza frente à sociedade burguesa, e Bonaparte passa a representar a classe mais numerosa: o campesinato. Sendo cada família camponesa relativamente independente, não se forma entre elas nenhum laço de classe. “Na medida em que milhões de famílias vivem em condições econômicas de existência que as separam pelo seu modo de viver, pelos seus interesses e pela sua cultura das outras classes e as opõem a estas de um modo hostil, aquelas formam uma classe. Na medida em que subsiste entre os camponeses detentores de parcelas uma conexão apenas local e a identidade dos seus interesses não gera entre eles nenhuma comunidade, nenhuma união nacional e nenhuma organização política, não formam uma classe”. p. 325. Significados - Dois méritos principais: aplicação do materialismo histórico à analise da conjuntura política e esboço da estratégia revolucionaria para os trabalhadores conquistarem o poder de Estado. - Do primeiro elemento, é notória a observação segundo a qual as condições materiais ainda não estavam amadurecidas para a revolução proletária. E releva para o segundo mérito a indicação de que os trabalhadores não precisariam aguardar passivamente tal amadurecimento caráter ininterrupto da revolução. Pegar carona na revolução burguesa, tornando a dominação burguesa tão instável que fosse possível assumir a dianteira. - Procede a uma junção entre fatos e história; conjuntura e estrutura. Significados - Preocupação latente na constituição das condições subjetivas para a superação do sistema de dominação do capital - a construção do partido autônomo da classe operária, portador de um novo projeto de sociedade. - como atuar neste paradoxo (dentro da revolução burguesa mas contra ela)? Construção de partidos independentes, aliado à burguesia em tudo que fosse de interesse dos trabalhadores, como a destruição da nobreza, mas conspirando silenciosamente contra a burguesia. - Tarefas dentro e fora da ordem, posto que o poder de Estado ainda não estava em disputa. Significados - As contradições entre monarquia e república eram aparentes; - O capitalismo inova ao criar a “cena política”, formalmente aberta a todos: Senado Romano X Parlamento no capitalismo; - Metáforas teatrais indicam algo que deve ser analisado fora do que se está vendo; - no cenário republicano, a dominação era dissimulada na vontade da nação (sofisticação da dominação); - tanto que monarquistas aparentam antagonismo com republicanos, mas “agem como burgueses, [...] como representantes do regime burguês, não como paladinos de princesas errantes” (ex. aliança contra insurreições proletárias e pequeno-burguesas). Significados - Estado tornou-se orgânico aos interesses da burguesia: autonomia relativa do Estado. - a burguesia não precisava gerir diretamente seus interesses via parlamento ou executivo, podendo “entregar-se então a seus negócios particulares com plena confiança sob a proteção de um governo forte e absoluto” - nunca a burguesia tinha governado com tanta força quanto naquele momento em que fora aparentemente expurgada do poder político direto. - Por isso que esta autonomia é aparencial. Significados - “A revolução social do século 19 não pode tirar sua poesia do passado, mas apenas do futuro. Não pode começar consigo mesma antes de se limpar de toda a superstição perante o passado. As revoluções anteriores necessitavam de reminiscências da história universal para dissimularem o seu próprio conteúdo. A revolução do século 19 tem que deixar os mortos enterrarem os seus mortos, para chegar ao seu próprio conteúdo. Ali, a frase ultrapassava o conteúdo; aqui o conteúdo ultrapassa a frase”. p. 210-11. - ou seja, a frase da “república social” de fevereiro de 1848 ultrapassava o conteúdo real da sociedade, era uma “profecia”. Mas os conteúdos das futuras revoluções, teriam de superar suas frases, enterrando a antiga sociedade.