estratégias para aumentar a adesão ao tratamento não

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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PRÁTICAS CLÍNICAS EM SAÚDE DA FAMÍLIA
MICHELY TEÓFILO LEMOS FERREIRA
ESTRATÉGIAS PARA AUMENTAR A ADESÃO AO TRATAMENTO
NÃO-MEDICAMENTOSO PELOS PORTADORES DE HIPERTENSÃO
ARTERIAL SISTÊMICA DA CAPONGA DA BERNARDA
FORTALEZA
2009
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MICHELY TEÓFILO LEMOS FERREIRA
ESTRATÉGIAS PARA AUMENTAR A ADESÃO AO TRATAMENTO
NÃO-MEDICAMENTOSO PELOS PORTADORES DE HIPERTENSÃO
ARTERIAL SISTÊMICA DA CAPONGA DA BERNARDA
Projeto de Intervenção submetido à Escola de
Saúde Pública do Ceará, como parte dos requisitos
para a obtenção do título de Especialista em
práticas clínicas em saúde da família.
Orientadora:
Profa Ms. Ana Roberta Vilarouca da Silva
FORTALEZA
2009
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RESUMO
A Hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença cardiovascular, crônica, não transmissível.
Ocupa lugar de destaque no contexto da transição epidemiológica, constituindo um dos principais
fatores de risco para o aparecimento das doenças cardíacas. O controle da HAS está diretamente
relacionado ao grau de adesão do paciente ao regime terapêutico, seja ele medicamentoso ou não.
Portanto, o presente projeto tem por objetivo contribuir para aumentar a adesão ao tratamento
não-medicamentoso pelos portadores de HAS da Caponga da Bernarda, aperfeiçoando a prática
da educação em saúde pela Equipe Saúde da Família e aumentando o nível de conhecimento dos
portadores de HAS sobre sua patologia e os agravos que os acometem. O projeto será
desenvolvido na Caponga da Bernarda, distrito de Aquiraz, que possui 1932 habitantes, 214
famílias cadastradas, com 132 hipertensos acompanhados. Portanto, serão realizadas entrevistas
individuais, semanais, com os pacientes portadores de HAS, assim como serão agendados
encontros em grupo, de 15 em 15 dias, com no máximo 20 pacientes por encontro. Ainda serão
realizadas reuniões com a Equipe de Saúde da Família, para reavaliação das ações e
aperfeiçoamento das práticas realizadas no atendimento aos portadores de HAS da comunidade
em questão. O aumento do número de pacientes com PA controlada servirá de parâmetro para
avaliar a eficácia da intervenção. O relato dos pacientes, das agentes da saúde da área e as visitas
domiciliares que serão realizadas pela equipe serão considerados para calcular a contribuição do
trabalho.
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ABSTRACT
The systemic arterial hypertension (HAS) it is a cardiovascular disease, chronicle, not
transferable. It occupies prominence place in the context of the epidemic transition, constituting
one of the principal risk factors for the emergence of the heart diseases. The control of HAS it is
directly related to the adhesion degree of the patient to the therapeutic regime, pharmacologic or
not. Therefore the project has for objective to contribute to increase the adhesion to the treatment
non pharmacologic for the bearers of HAS in Caponga da Bernarda. Improving the practice of the
education in health for the Equipe Saúde Família and increasing the level of knowledge of the
bearers of HAS on your pathology and the offences that attack them. The project will be
developed in Caponga da Bernarda, district of Aquiraz, that possesses 1932 inhabitants, 214
registered families, with 132 accompanied HAS’ bearers.
This way, interviews individual,
weekly will be accomplished, with the patients bearers HAS, as well will be program encounters
in group, of 15 in 15 days, inclunding meetings with the Equipe Saúde Família, for revaluation of
the actions and improvement of the practices accomplished in the attendance to the bearers of
HAS of the community in subject. The increase of the number of patients with controlled blood
pressure will serve as parameter to evaluate the effectiveness of the intervention. The report of
the patient and of the health agents on the area and the home care visits that will be accomplished
by the team will be considered to calculate the contribution of the work.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 06.
2. OBJETIVOS ................................................................................................................. 08.
2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................... 08.
2.2 Objetivos Específicos ................................................................................................ 08.
3. REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................................... 09.
4 .METODOLOGIA .......................................................................................................... 14.
4.1 Cenário e Sujeitos .........................................................................................................14.
4.2 Procedimentos da Intervenção ......................................................................................14.
4.3. Avaliação ......................................................................................................................15.
4.4 Resultados Esperados. ...................................................................................................15.
5. CRONOGRAMA ............................................................................................................ 16.
REFERÊNCIAS ................................................................................................................17.
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1. INTRODUÇÃO
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma das doenças cardiovasculares de maior
prevalência no Brasil e no mundo. Estima-se que no Brasil haja um número elevado de pessoas
adultas com hipertensão arterial em tratamento nas instituições de saúde. Não há levantamentos
de prevalência de hipertensão arterial como um todo, porém estudos isolados mostram variações
de 22,3% a 43,9% (LÓLIO, 1990; FREITAS et al, 2001; JAMA, 2003; European Society of
Hypertension, 2003).
Enquadra-se entre as doenças crônicas não-transmissíveis, sendo conceituada como
uma síndrome caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados, associados a alterações
metabólicas e hormonais e a fenômenos tróficos, como, hipertrofias cardíacas e vasculares (SBH,
2003).
Sendo a HAS uma doença crônica, ela pode ser controlada, mas não curada,
requerendo tratamento por toda a vida. Um fato preocupante é que muitos indivíduos só
descobrem que são portadores da doença quando apresentam complicações grave; haja vista que
a HAS pode evoluir por um longo período sem ocasionar sintomas. Brandão et al (1993)
enfatizam que, de toda a população de hipertensos, cerca de um terço não sabe que tem a doença
e, dentre os que sabem, apenas a metade adere, efetivamente, ao tratamento. Segundo a
Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH, 2003), estudo concluído em julho de 2003 pela OMS
revelou que a manutenção do tratamento por parte dos pacientes portadores de doenças crônicas
nos países desenvolvidos é realizada por apenas 50% dos doentes. Mas nos países em
desenvolvimento esse número é muito menor.
Mais de 80% dos brasileiros adultos medem a pressão arterial regularmente, como
comprova uma pesquisa de 2006, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
"O problema é a negligência nas demais etapas do processo, do diagnóstico, orientação do
tratamento e uso efetivo dos medicamentos. E ela ocorre porque a doença não causa dor. Por ser
assintomática, sua descoberta dá-se de maneira quase acidental, pelo menos no seu início, em
virtude de agir silenciosamente. Diante dessas características, 50% das pessoas portadoras de
hipertensão não sabem dessa condição, e das demais que sabem da existência da patologia,
apenas metade faz tratamento (MION JR, 1995).
7
A HAS ocupa lugar de destaque no contexto da transição epidemiológica, e constitui
um dos principais fatores de risco para o aparecimento das doenças cardíacas (ARAÚJO,
GARCIA, 2006). O controle da HAS está diretamente relacionado ao grau de adesão do paciente
ao regime terapêutico, seja ele medicamentoso ou não.
Para o tratamento da hipertensão arterial utilizam-se medidas tanto nãofarmacológicas isoladas, como associadas a fármacos anti-hipertensivos. Assim, o objetivo
primordial do tratamento da hipertensão arterial é a redução da morbidade e da mortalidade
cardiovasculares do paciente hipertenso, aumentadas em decorrência dos altos níveis tensionais e
de outros fatores agravantes (ARAÚJO, GARCIA, 2006).
Levando em consideração que o tratamento para HAS não é só medicamentoso,
implica modificações no estilo de vida, tenho percebido que os pacientes portadores de HAS da
Caponga da Bernarda, localizada no município de Aquiraz, não vêem realizado o tratamento nãomedicamentoso conforme orientações dadas pelos profissionais de saúde da Unidade Básica
Saúde da Família (UBASF). A pouca adesão ao tratamento não medicamentoso pelos portadores
de HAS da população alvo e a sua relação com o fato de muitos pacientes manterem-se com PA
elevada, constatado em visitas domiciliares e durante o atendimento individualizado, torna-se um
problema, uma vez que a HAS não tratada adequadamente, diminui a expectativa e a qualidade
de vida dessas pessoas.
Acredita-se que tal fato ocorra por falta de conhecimento dos pacientes sobre a sua
patologia e o modo adequado para tratá-la, como também as ações desenvolvidas pela Equipe
Saúde da Família (ESF) na UBASF, na qual estou inserida, não tenham sido eficazes, ou ocorram
de forma insuficiente para ajudá-los a superar esse déficit de conhecimento e para convencê-los
da importância em adequar seu estilo de vida.
Assim, um dos principais desafios da equipe multidisciplinar de saúde é obter dos
portadores de hipertensão arterial melhor adesão ao tratamento não-medicamentoso. Neste
contexto, a educação em saúde apresenta-se como uma estratégia adequada para ensinar o
hipertenso sobre sua doença e os modos de viver melhor, proporcionando-lhe oportunidades para
expor dúvidas, dificuldades e acima de tudo conseguir os recursos e meios para se manter em
tratamento.
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2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
• Contribuir para melhorar a adesão ao tratamento não medicamentoso pelos portadores de
HAS da Caponga da Bernarda.
2.2. Objetivos Específicos
• Aperfeiçoar a prática da educação em saúde pela Equipe Saúde da Família.
• Controlar a hipertensão na comunidade.
• Aumentar o nível de conhecimento dos portadores de HAS sobre a patologia e os agravos
que os acometem.
• Melhorar a relação enfermeiro-paciente.
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3. REVISÃO DE LITERATURA
De acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH, 2003), estudo realizado
pela OMS ressalta como prejuízos do não-cumprimento do tratamento, as complicações médicas
e psicossociais da enfermidade, a redução da qualidade de vida dos pacientes, a maior
probabilidade de resistência aos fármacos e o desperdício dos recursos assistenciais.
Para Lopes, Ferreira et al (2003) o tratamento não-medicamentoso pode controlar a hipertensão
leve; quando associado com o tratamento farmacológico, pode melhorar o controle do paciente
com hipertensão moderada/grave. A boa adesão ao tratamento não-farmacológico e ao tratamento
farmacológico da hipertensão constitui tarefa difícil para médico e paciente. Existem várias
medidas não-farmacológicas que, quando praticadas, resultam em grande benefício em relação ao
controle da pressão arterial e co-morbidades comumente encontradas no paciente hipertenso.
Dentre as medidas com eficácia comprovada e de melhor impacto na pressão arterial, merecem
destaque a redução do peso, a redução do sódio da dieta e a prática regular de atividade física.
Em relação à perda de peso, já foi demonstrado que pequena perda (~5 por cento do peso total)
resulta em melhor controle da pressão arterial e das alterações metabólicas associadas e em
regressão da hipertrofia cardíaca. A redução moderada do sal da dieta (~6 g/dia) resulta em queda
significativa da pressão arterial no paciente hipertenso. O benefício da atividade física no
tratamento da hipertensão arterial até recentemente ainda não estava bem estabelecido; porém,
novos estudos têm demonstrado que a prática de exercícios do tipo isotônico de carga moderada
resulta na redução sustentada da pressão arterial. Outras medidas, tais como suplementação de
potássio e aumento do consumo do ácido graxo ômega 3, também resultam em queda da pressão
arterial (LOPES et al, 2003).
O esforço conjunto de equipe multidisciplinar no sentido de entender melhor os
pacientes e o empenho no sentido da mudança de estilo de vida podem resultar em melhor
controle da hipertensão e em redução do risco cardiovascular global.
Para Mano, Pierin (2005), muitos fatores predispõem os indivíduos ao aumento da
pressão arterial. A herança genética é o único que não é modificável. Os demais, como ingestão
de muito sal, estresse, obesidade, sedentarismo e ingestão de bebidas alcoólicas em excesso são
passíveis de modificação. Portanto a atuação dos profissionais de saúde no controle da
hipertensão deve prever a adoção de vida saudável.
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Existem múltiplas intervenções não-medicamentosas para diminuir a hipertensão arterial. A
pessoa portadora da hipertensão e a realização do auto cuidado irão depender de alguns fatores,
como por exemplo, a percepção e o significado e experiência com a doença em seu grupo
familiar. As ações da equipe de saúde, principalmente a de enfermagem no combate a hipertensão
arterial, devem seguir algumas metas, entre elas: compreensão do processo patológico, do
tratamento, incentivo do indivíduo a participação de programas de auto cuidado, bem como a
certificação da ausência de complicações para controlar a hipertensão com tratamento
medicamentoso e não-medicamentoso. Justificando assim, a motivação e a orientação à
população quanto à importância do tratamento-não medicamentoso para hipertensão arterial,
através de mudanças no estilo de vida, enfocando a prevenção dos fatores de riscos (CADE,
1999).
Considera-se que baixos níveis de controle da hipertensão arterial tenham relação
direta com a pouca adesão ao tratamento. De acordo com Mano, Pierin (2005), promover a
adesão ao tratamento da doença, por meio de estratégias que elevem o controle da hipertensão
arterial, traz benefícios não só para as instituições de saúde, bem como melhoram o tratamento
nesse nível de intervenção. Para as autoras o Programa Saúde da Família é uma estratégia que
representa um dos principais eixos de ação do ministério da Saúde para mudar o modelo de
assistência à saúde no país. A estratégia prioriza as ações de promoção, proteção e recuperação da
saúde dos indivíduos e da família, integral e/ou contínua. Com base em manuais editados pelo
Ministério da Saúde, o programa oferece grande ajuda na detecção precoce da hipertensão arterial
realizando medidas regulares da pressão arterial, assim como, prevenindo e controlando outras
doenças crônicas, com o acesso dos profissionais de Saúde da Família para os hipertensos há o
favorecimento nos esforços de prevenção, incentivando tanto portadores da doença como seus
familiares a adotarem hábitos de vida mais saudáveis ,controlando, corrigindo e evitando
complicações.
Para Marcon et al (1995), a adesão do paciente ao regime terapêutico é de suma
importância para o controle dos sintomas e progressão da doença. Na pesquisa realizada pelos
autores, 34,1 % dos hipertensos entrevistados referiram como motivo para iniciar o tratamento, a
presença de alguém da família ou algum conhecido com alguma complicação relacionada à HAS
não controlada. Sarquis et al (1998) enfatizam que a meta primordial das ações das equipes de
saúde deve ser a de buscar otimizar a adesão do hipertenso ao tratamento.
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A presença dos pacientes aos encontros e consultas também é relevante, pois favorece
a adesão ao tratamento da HAS. Jardim,Souza, Monego (1996) verificaram, em um programa de
acompanhamento de hipertenso, que indivíduos assíduos aos encontros tiveram uma maior
redução dos níveis tensionais. Para esses autores, a freqüência com que os pacientes comparecem
à Unidade de Saúde é fundamental no controle da hipertensão, pois traz motivação individual e
esta por sua vez, leva a atitudes que contribuem para redução da PA. Para Clark et al (2000),
encontros freqüentes propiciam uma melhor monitoração dos níveis pressóricos, assim como a
oportunidade de ter mais acesso a informações que podem servir de base para a adesão.
O número de vezes em que ocorrem as consultas e os encontros entre hipertensos e
profissionais de saúde foi outro fator apontado como evento antecedente da adesão ao tratamento.
Guerra-Reccio (2001) constatou uma queda maior nos níveis pressóricos no grupo de pacientes
com visitas de acompanhamento a cada 15 dias, quando comparados a outro grupo, cujos
encontros aconteciam a cada 90 dias. Além disso, no grupo onde os encontros eram frequentes,
houve a manutenção da redução dos níveis pressóricos ao longo do tratamento, o que demonstra
o efeito favorável das visitas frequentes para garantir o comportamento de adesão e manter a
eficácia da terapêutica. Para o autor,um dos principais benefícios do número maior de visitas é a
possibilidade de ajustes terapêuticos, no caso da ocorrência de efeitos colaterais, as visitas
frequentes também proporcionam uma mudança mais efetivo no estilo de vida e bem-estar aos
pacientes.
Sendo a HAS uma doença muticausal e multifatorial, exige diferentes abordagens, e
só uma equipe multidisciplinar pode proporcionar essa ação diferenciada. Jardim, Souza, Monego
(1996) ressaltam que o atendimento dos hipertensos por profissionais de diferentes áreas melhora,
em muito, a adesão à terapêutica recomendada. A satisfação com o atendimento é item
fundamental para se conseguir bons níveis de adesão e controle da HAS. Levando isso em
consideração, a qualidade do trabalho desenvolvido nos serviços de saúde torna-se um fator
determinante na eficácia da terapêutica. A qualidade da relação que a equipe de Saúde estabelece
com o paciente é fator preponderante, visto que o hipertenso tem necessidade de transmitir suas
inquietudes, sintomas e limitações, além de apoio e reforço para conseguir adaptar-se à doença. O
relacionamento profissional de saúde/paciente é fator que exerce influência sobre a adesão do
paciente ao tratamento. Segundo Svensson et al (2000), para otimizar o tratamento anti-
12
hipertensivo, é importante formar uma aliança terapêutica entre o profissional e o paciente, de
modo que as dúvidas e as dificuldades possam ser detectadas e resolvidas.
Para Cade (1999), a receptividade é outro fator motivante para que os pacientes
frequentem programas de controle da HAS, contribuindo dessa forma, para melhorar a adesão ao
tratamento, visto que nesses programas, eles encontram espaços para exteriorizar suas angústias,
no que diz respeito ao tratamento e a sua patologia.
De acordo com Campos (1996), o trabalho em grupos, com a participação de
familiares dos hipertensos, tem se mostrado favorável à adesão ao tratamento. O grupo estimula a
reflexão, amplia o nível de conhecimento, permite que cada um fale de suas experiências em
relação a sua patologia. Essa técnica funciona como suporte social, uma vez que os pacientes
estão reunidos em torno de um problema comum e apoiados por uma equipe disposta a ouvi-los e
a ajudá-los.
Para Araújo et al (1998), deve-se incluir o grupo familiar no contexto do tratamento e
acompanhamento dos hipertensos, uma vez que a HAS provoca limitações no estilo de vida não
somente do hipertenso, como também no estilo de vida de outros componentes familiares, pois a
alteração na saúde de um dos membros da família acaba por provocar mudanças no todo. Desta
forma, o apoio familiar foi apontado como um evento antecedente a adesão ao tratamento antihipertensivo. Clark et al (2000), enumerando as vantagens do trabalho realizado por um grupo de
Enfermeiras visitadoras na China, coloca que, ao visitar os pacientes em seu próprio ambiente,
elas também entrariam em contato e desenvolveriam atividades educativas com a família e outras
pessoas significativas, que são o suporte social do paciente.
Castro, Car (2000) averiguaram que os pacientes relacionam o tratamento à mudanças
difíceis no cotidiano, como restrições alimentares, de lazer e trabalho. Tal adaptação nem sempre
é fácil, pois, muitas vezes, determina mudanças de hábitos prazerosos. Para Kingãs e Lahdenperã
(1999), os pacientes que usam medicamento tendem a aderir menos às mudanças no estilo de
vida, pois acreditam que o uso das drogas é suficiente para se obter o controle da pressão arterial.
Este comportamento é de fato preocupante, tendo em vista que os objetivos do tratamento nãomedicamentoso são, além de reduzir os níveis tensionais, reduzir os fatores de risco
cardiovasculares. Segundo as autoras, enquanto os mais altos níveis de adesão relacionavam-se à
medicação, os piores estavam relacionados justamente ao tratamento não-farmacológico,
incluindo a dieta, atividades físicas e ingestão de álcool. Neste contexto, é aconselhável que os
13
profissionais de saúde discutam com os pacientes quais modificações esses consideram possíveis
de serem realizadas, desta forma as práticas podem ser feitas dentro da realidade de cada
paciente, portanto mais efetivas. É recomendável os profissionais pesquisem a opinião dos
pacientes a respeito do tratamento e das mudanças no estilo de vida, como também de sua
prontidão e capacidade de seguir o tratamento.
Entende-se que a "Adesão ao tratamento anti-hipertensivo" pode ser influenciada por
três grupos de fatores antecedentes, os quais, atuando de modo inter-relacionado, podem
determinar diferentes graus de adesão: os relativos ao próprio paciente, como as variáveis
sociodemográficas, os conhecimentos e crenças que os pacientes têm sobre a doença e o
tratamento, e o apoio familiar; os relacionados a terapêutica farmacológica e não farmacológica;
e os fatores relacionados ao sistema de saúde, entre os quais foram ressaltados a estrutura dos
serviços de saúde e o processo de atendimento do portador de hipertensão (ARAUJO, GARCIA,
2006).
De acordo com Araújo, Garcia (2006), a satisfação do hipertenso com o atendimento é
fator fundamental para a adesão à terapêutica aconselhada. Dentro deste contexto, a forma como
os profissionais de saúde se relaciona com os pacientes hipertensos é fator preponderante a
"adesão ao tratamento anti-hipertensivo".
14
4. METODOLOGIA
4.1. Cenário e Sujeitos
Trata-se de um trabalho de intervenção a ser desenvolvido na Caponga da Bernarda,
distrito de Aquiraz. Essa localidade possui 1932 habitantes, 214 famílias cadastradas e 132
Hipertensos acompanhados pela ESF. O projeto envolverá todos os pacientes hipertensos da
Caponga da Bernarda e a equipe de saúde da UBSF que atende essa localidade, no intuito de
melhorar a adesão ao tratamento não medicamentoso pelos portadores de HAS. Como
componente da equipe saúde da família em questão, desempenharei papel ativo na tentativa de
resolução do problema identificado, no acompanhamento e na avaliação das ações desenvolvidas
para sua realização. O trabalho acontecerá no período de Julho de 2009 à Dezembro de 2009.
4.2. Procedimentos da Intervenção
As técnicas iniciais a serem utilizadas neste projeto de intervenção serão as entrevistas
individuais com os pacientes, realizadas de modo aprofundado, levantando as questões
relacionadas à terapêutica não-farmacológica, de modo que as dúvidas e as dificuldades possam
ser detectadas e resolvidas. Neste momento será avaliado o grau de satisfação desses pacientes ao
atendimento realizado pela equipe de saúde em questão. As entrevistas individuais acontecerão
semanalmente no dia do atendimento aos portadores de HAS e DM, com duração de 15 à 20
minutos, em cronograma semanal já estabelecido no posto.
Um dia após as entrevistas com os pacientes serão realizadas reuniões com a Equipe
Saúde da Família (ESF), que também serão semanais. Durante essas reuniões serão consideradas
as questões de maiores necessidades apontadas pelos próprios pacientes, assim como as
necessidades da equipe saúde da família, reavaliando nossas ações, na tentativa de aperfeiçoamos
nossas práticas, no intuito de melhor atendermos os pacientes portadores de HAS. No dia das
reuniões serão realizados treinamentos com ESF para aperfeiçoamento da acolhida desses
pacientes.
15
Posteriormente serão agendados encontros em grupo, que servirá como sessões
educativas, com os portadores de HAS. Acontecerão de 15 em 15 dias, com duração de 60
minutos, com uma média de 20 pacientes por encontro. Os assuntos enfocados serão as questões
relatadas nos encontros individuais. Será utilizada linguagem adequada para que todos os
participantes possam entender o conteúdo exposto. Haverá a participação de equipe
multiprofissional.
4.3. Avaliação
Os prontuários dos portadores de HAS em questão será o instrumento para observação
do número de pacientes com PA controlada, que servirá de parâmetro para avaliar a eficácia da
intervenção. O relato dos pacientes, das agentes da saúde da área e as visitas domiciliares que
serão realizadas pela equipe serão considerados para calcular a contribuição do trabalho para a
melhoria da adesão ao tratamento não- medicamentoso pelos pacientes em estudo.
4.4. Resultados Esperados
Espera-se que com a realização desse trabalho, as necessidades e anseios dos
pacientes portadores de HAS da Caponga da Bernarda sejam atendidos, e a prática da equipe
saúde da família melhorada, para que de fato esses pacientes aumentem sua adesão ao tratamento
não-medicamentoso da patologia em questão.
16
5. CRONOGRAMA
2009 (2° semestre)
Etapas da pesquisa
Jul.
Entrevistas individuais com os pacientes X
Ag.
Set.
Out.
Nov. Dez.
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
portadores de HAS da comunidade.
Reuniões com a Equipe Saúde da Família X
para aperfeiçoamento da acolhida e da
prática no atendimento aos portadores de
HAS.
Encontros em grupo (20 pacientes) com X
portadores de HAS da Caponga da
Bernarda.
Avaliação da intervenção
X
17
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