Fitness & Performance Journal ISSN: 1519-9088 [email protected] Instituto Crescer com Meta Brasil Pereira Melo, Bruno; Aparecida Delfino, Amanda; da Silva, Célia A.; Mendonça, Letícia M.; de Geraldo, Jeferson T.; Barbosa, Talita K. C.; Araújo, Rafaela S.; Malta, Marcel V. S.; Carvalho, Fernanda S.; Carvalho, Rony R.; Fernandes da Silva, Sandro Capacidade funcional e composiçao corporal em portadores de câncer Fitness & Performance Journal, vol. 9, núm. 2, abril-junio, 2010, pp. 19-26 Instituto Crescer com Meta Río de Janeiro, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=75121689003 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto ISSN 1519-9088 Capacidade funcional e composiçao corporal em portadores de câncer Bruno Pereira Melo1,2 [email protected] Amanda Aparecida Delfino1,2 Célia A. da Silva1,2 Letícia M. Mendonça1,2 Jeferson T. de Geraldo1,2 Talita K. C. Barbosa1,2 Rafaela S. Araújo1,2 Marcel V. S. Malta1,2 Fernanda S. Carvalho1,2 Rony R. Carvalho1,2 Sandro Fernandes da Silva1,2 CREF- 1407-G/MG [email protected] doi:10.3900/fpj.9.2.19.p Melo BP, Delfino AA, Silva CA, Mendonça LM, Geraldo JT, Barbosa TKC, Araújo RS, Malta MVS, Carvalho FS, Carvalho RR, Silva SF. Capacidade funcional e composiçao corporal em portadores de cancer. Fit Perf J. 2010 abr-jun;9(2):19-26. Resumo Introdução: O câncer pode ser caracterizado pelo crescimento descontrolado de células anormais. A atividade física gera modificações metabólicas e morfológicas que podem torná-la um elemento atraente no tratamento e na recuperação de pacientes com câncer. Objetivo: Avaliar os componentes da capacidade funcional (força e flexibilidade) e a composição corporal em portadores de câncer. Metodologia: Participaram do estudo 25 portadores de câncer. Os sujeitos assinaram o TCLE autorizando sua participação no estudo, o mesmo foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade de Itaúna sob o numero de protocolo 017/10. Na avaliação da capacidade funcional foram adotadas 2 capacidades físicas: Força e Flexibilidade. Na avaliação da composição corporal foi adotado o método de bioimpedância. Resultados: Identificamos uma maior gordura na composição corporal. A flexibilidade foi negativa tanto para o membro inferior quanto superior, enquanto que na força encontramos diferença significativa entre a força de membro superior e inferior. Conclusão: A gordura corporal em portadores de câncer é maior que a população na mesma faixa etária. A atividade física pode servir como um mediador dessas perdas. Palavras-Chaves: Portador de Câncer, Capacidade Funcional, Composição Corporal. Núcleo de Estudos em Movimento Humano – NEMOH- Departamento de Educação Física – Universidade Federal de Lavras. Pesquisa e Extensão Câncer e Atividade Física – PECAF- Departamento de Educação Física – Universidade Federal de Lavras. Apoio Financeiro da Pro Reitoria de Extensão e Cultura – PROEC-UFLA O trabalho foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade de Itaúna sob o numero de protocolo 017/10. Departamento de Educação Física – Campus Universitário. Caixa Postal: 3037 CEP 37200 000 Lavras – MG 1 2 Copyright© 2010 por Centro Brasileiro de Atividade Física Fit Perf J | Rio de Janeiro | 9 | 2 | 19-26 | abr/jun 2010 Melo, Delfino, Silva, Mendonça, Geraldo, Barbosa, Araújo, Malta, S. Carvalho, R. Carvalho, Silva Functional capacity and body composition in bearers of cancer ABSTRACT Introduction: The cancer can be characterized for the disorderly growth of the abnormal cells. The physical activity generates morphological and metabolic modifications that do with which she be an attractive element in the rehabilitation of the patients with cancer. Objective: Evaluating the components of the functional capacity (strength and flexibility) and the body composition in bearers of cancer. Methods: They did part of the study 25 bearers of cancer. The subjects signed the TCLE authorizing their participation in the study, which was approved by the committee of ethics of the University of Itaúna on the protocol number 017/10. In the evaluation of the functional capacity they were adopted 2 physical capacities: It strength and Flexibility. In the evaluation of the body composition was adopted the bioimpedancia method. Results: We identify a bigger fat in the body composition. The flexibility was refusal in the upper and lower members, already in the strength was found a significant difference between the upper and lower member. Conclusion: The body fat in bearers of cancer is bigger than the population in the same age group. The physical activity can serve like a mediator of those losses. Key-Words: Bearers of Cancer, Functional Capacity, Body Composition Capacidad funcional y composición corporal en portadores de cáncer RESUMEn Introducción: El cáncer puede ser caracterizado por el crecimiento desordenado de las células anormales. La actividad física genera modificaciones metabólicas y morfológicas que hacen con que ella sea un elemento atractivo en la rehabilitación de los pacientes con cáncer. Objetivo: Evaluar los componentes de la capacidad funcional (fuerza y flexibilidad) y la composición corporal en portadores de cáncer. Metodología: Hicieran parte del estudio 25 portadores de cáncer. Los sujetos firmaran el TCLE autorizando su participación en el estudio, que fue aprobado por el comité de ética de la Universidad de Itaúna sobre el numero de protocolo 017/10. En la evaluación de la capacidad funcional fueron adoptadas 2 capacidades físicas: Fuerza y Flexibilidad. En la evaluación de la composición corporal fue adoptado el método de la bioimpedancia. Resultados: Identificamos una mayor grasa corporal. La flexibilidad fue negativa en los miembros inferiores y superiores, ya en la fuerza fue encontrado una diferencia significativa entre el miembro superior e inferior. Conclusión: La grasa corporal en portadores de cáncer es mayor que en la población del rango etario. La actividad física puede ayudar a mermar las perdidas. Palabras-Claves: Portador de Cáncer, Capacidad Funcional, Composición Corporal. INTRODUÇAO O câncer pode ser definido como uma massa anormal de tecido, cujo crescimento excede o dos tecidos normais e não está coordenado com esse crescimento, persistindo da mesma maneira excessiva após o término do estímulo que evocou a mudança1. O câncer é caracterizado pelo crescimento descontrolado e a disseminação de células anormais, que continuam a se reproduzir até que formem uma massa de tecido conhecida como tumor2. Um tumor maligno interrompe as funções do corpo e desvia o alimento e suprimento sanguíneo de células normais. Segundo Hanahan & Weinberg (2000)3, câncer é uma desordem hiperproliferativa que envolve transformação na morfologia celular, desregulacão da apoptose, proliferação descontrolada, invasão, angiogênese e metástase. O cân- cer pode ocorrer em vários órgãos do corpo humano e requer diferentes métodos de controle. O câncer tem aparecido como um importante problema de saúde pública em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento, devido ao acelerado crescimento da população de faixa etária mais elevada. A enfermidade representa a segunda causa de mortes no mundo, sendo geralmente superada apenas pelas doenças cardiovasculares4. Infelizmente, esse não é o único problema dos pacientes que são acometidos pela doença, sendo os tratamentos utilizados para combatê-lo, muitas vezes estão acompanhados de efeitos colaterais que comprometem a qualidade de vida dos pacientes por longos períodos5. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer nos Estados Unidos, de 72% a 95% dos pacientes com Capacidade funcional e composiçao corporal em portadores de cancer câncer (CA) que recebem tratamento apresentam aumento nos níveis de fadiga resultando em diminuição significativa na capacidade funcional, levando-os a uma perda muito grande da saúde e na qualidade de vida6. As causas da fadiga relacionada ao tratamento de câncer deveriam ser vistas como multifatoriais e associadas tanto ao descondicionamento físico quanto emocional que ocorre após um diagnóstico de câncer e seu subseqüente tratamento7. O metabolismo de pacientes portadores de CA sofre modificações drásticas devido ao estresse criado pela própria doença, como também pelos efeitos colaterais produzidos pelos tratamentos tradicionais administrados (cirurgia, quimioterapia ou radiação). O tratamento de câncer, de forma geral, de acordo com o grau de evolução da doença, é pautado em intervenções cirúrgicas, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e imunoterapia e os efeitos colaterais do tratamento implicam, na maioria das vezes, em sensação de extrema fadiga, em geral, associada à perda de peso e à redução da força muscular, bem como, quadros de depressão afetando o aspecto psicológico do paciente. Aproximadamente 75% dos indivíduos que sobrevivem ao câncer relatam sensações extremas de fadiga durante a radioterapia ou quimioterapia, em geral associadas à perda de peso e à redução da força muscular e da resistência cardiovascular5. O interesse em medir a quantidade dos diferentes componentes do corpo humano iniciou no século XIX e aumentou no final do século XX devido à associação do excesso de gordura corporal com o aumento do risco em desenvolver doenças do tipo arterial coronariana, hipertensão, diabetes tipo II, pulmonar obstrutiva, osteoartrite e certos tipos de câncer8. O sobrepeso e a obesidade contribuem fortemente para a carga de doenças crônicas e de incapacidades, que vão desde dificuldades respiratórias até condições graves, como doença coronariana e certos tipos de câncer. Estima-se que 90 mil mortes por câncer poderiam ser evitadas a cada ano se a população adulta mantivesse um peso corporal adequado e que, aproximadamente, 20-33% dos casos de câncer mais comuns possam ser atribuídos ao peso corporal excedente e à inatividade física9. Em relação ao metabolismo dos lipídios, temos a elevação dos níveis de circulação destes e a depleção da reserva nos hospedeiros devido a fatores circulantes que levam ao aumento do catabolismo da gordura e à diminuição da sua síntese. O principal fator é a lipase-lipoproteína, que está diminuída nos portadores de câncer. A perda de peso envolve basicamente o tecido adiposo e muscular estriado esquelético10,11, sendo consequência da síndrome a morte de cerca de 22 % dos pacientes com câncer12. Há evidên- cias de que o efeito da gordura da dieta seja exercido depois do início da tumorgênese e que esse processo geralmente aumenta com o conteúdo de gordura. Os portadores submetidos à intervenções como radioterapia e quimioterapia relatam sintomas como náuseas, perda de apetite, diarréias e mal estar, fatores que levam os pacientes a iniciarem um ciclo vicioso de perda de massa corporal e consequentemente a perda da força muscular. Essa perda de força muscular é um golpe a mais nos esforços do paciente de câncer para executar tarefas diárias simples, comprometendo significativamente sua qualidade de vida. A capacidade funcional pode ser definida como a capacidade do indivíduo de realizar as atividades da vida diária de forma independente, incluindo atividades ocupacionais e recreativas, ações de deslocamento e auto cuidado13. A revisão de literatura efetuada por Battaglini et al (2003)14 demonstra ainda que os declínios da capacidade funcional são experimentados por um terço dos pacientes de câncer e podem ser atribuídos a condições hipocinéticas desenvolvidas por prolongada inatividade física. A condição hipocinética pode causar a redução da eficiência dos sistemas de energia, bem como, pode ter alguns efeitos sobre os níveis de hormônios devido ao desequilíbrio homeostático. A atividade física produz alterações metabólicas e morfológicas crônicas que podem torná-la uma opção importante no tratamento e no processo de recuperação envolvendo pacientes com câncer15. Estudos parecem indicar preliminarmente que a prática da atividade física pode atuar em sentido adverso da condição hipocinética em pacientes em tratamento de câncer, podendo reduzir consideravelmente os efeitos colaterais do referido tratamento16,17,18. Os benefícios da atividade física em pacientes com câncer estão relacionados de acordo com Courneya (2001)19 ao: aumento da força muscular e da capacidade funcional, controle do peso corporal, redução da fadiga, melhora do autoconceito e do humor e, conseqüentemente, melhora da qualidade de vida. Battaglini et al (2003)14 afirmam que exercício físico tem demonstrado potente intervenção para pacientes com câncer, mas que também pode apresentar alguns riscos. Para que sejam efetivos e seguro, exercícios deveriam, de acordo com os autores, serem prescritos incluindo cinco critérios: a) capacidade individual; b) tipo de exercício; c) intensidade do exercício; d) freqüência e duração do exercício. O objetivo do estudo foi verificar os componentes da capacidade funcional (força e flexibilidade) e a composição corporal em portadores de câncer, e identificar a relação entre as variáveis estudadas componentes da aptidão física. Melo, Delfino, Silva, Mendonça, Geraldo, Barbosa, Araújo, Malta, S. Carvalho, R. Carvalho, Silva METODOLOGIA Amostra Foram utilizados no estudo 25 portadores de câncer (8 homens e 17 mulheres). As características da Amostra estão descritas na tabela 1. Todos os sujeitos foram pré informados sobre os riscos do projeto e os mesmos assinaram um consentimento livre e esclarecido para participar do mesmo, aprovado pelo comitê de ética da Universidade de Itaúna sob o numero de protocolo 017/10. Tabela 1- Características da Amostra. Grupo N Idade (Anos) Massa Corporal (Kg) Estatura (m) Portadores 24 61,00 ± 14,48 68,87 ± 10,21 1,61± 0,08 de Câncer Procedimentos As variáveis da aptidão física funcional serão avaliadas através dos seguintes testes: I- PROVAS FUNCIONAIS 1- Avaliação Funcional de Força: A) Força de Membro Inferior: Teste de levantar da cadeira: a força dos membros inferiores será avaliada observando-se o número de vezes que o idoso conseguirá se levantar de uma cadeira em 30 segundos. O participante será encorajado a completar tantas ações de ficar completamente em pé e sentar quanto possível em 30 segundos. B) Força de Membro Superior: Flexão de cotovelo: a força dos membros superiores será avaliada através da quantidade de flexões de cúbito que o idoso conseguirá realizar durante 30 segundos. Para realizar este teste será utilizado um cronômetro, cadeira de recosto reto, halter de 2,0 kg para mulheres e 4,0 kg para homens. O participante irá flexionar o braço em amplitude total de movimento e então retornar o braço para uma posição completamente estendida. 2- Avaliação Funcional da Flexibilidade A) Flexibilidade de membros inferiores (Sentar e Alcançar): Será verificada solicitando-se para o idoso ficar sentado em uma cadeira e tentar tocar os dedos do pé com os dedos da mão. Com a perna estendida, o participante inclinará lentamente para frente, mantendo a coluna o mais reta possível e a cabeça alinhada com a coluna. O avaliado tentará tocar os dedos dos pés escorregando as mãos, uma em cima da outra, com as pontas dos dedos médios, na perna estendida. A posição devirá ser mantida por 2 segundos. B) Flexibilidade de membro superior (Flexão de Ombros): Será avaliada a flexibilidade dos membros superiores (ombro). Para tanto será observado se o idoso conseguirá alcançar atrás das costas com as mãos para tocar ou sobrepor os dedos de ambas as mãos o máximo possível. Em pé o avaliado colocará a mão preferida sobre o mesmo ombro, a palma aberta e os dedos estendidos, alcançando o meio das costas tanto quanto possível. II- COMPOSIÇÃO CORPORAL A) Composição Corporal- Foi realizado um estudo da composição corporal dos portadores de câncer, onde foram coletados os seguintes dados: A) Altura, B) Massa Corporal; C) Porcentagem de gordura; D) Massa Gorda; E) Massa Magra; F) Massa Seca; G) Água Corporal Total; H) Água Intracelular; I) Água Extracelular. A análise da composição corporal foi através da bioimpedância RJL Systems. ESTATISTICA Estatística descritiva com comparação de médias e desvio padrão. Foi utilizado o teste de Shapiro Wilk para verificar a distribuição da amostra, para identificar as diferenças entre as variáveis foi utilizado o teste não paramétrico de Mann-Whitney. Foi utilizado o teste de Sperman para a correlação entre as variáveis. Para comprovação estatística foi adotado o p< 0,05. RESULTADOS Nos gráficos 1 e 2 apresentamos os resultados composição corporal. Encontramos diferenças entre quantidade de gordura com massa livre de gordura, e a gordura com massa magra. Na quantidade de água corporal no corpo, verificamos diferença entre a água total e a água intra e extra celular, e não encontramos diferenças entre a água intra e extracelular. Gráfico 1 – Composição Corporal em Portadores de Câncer Capacidade funcional e composiçao corporal em portadores de cancer Gráfico 2 – Distribuição da Água Corporal em Portadores de Câncer Nos gráficos 3, 4 e 5 destacamos os resultados da avaliação funcional, onde os resultados composição corporal, onde identificamos uma flexibilidade negativa tanto para o membro inferior quanto superior, em que não identificamos diferenças significativas entre os lados do corpo. Já na avaliação funcional da força encontramos diferença significativa entre a força de membro superior e inferior. Gráfico 4 – Flexibilidade de Membro Inferior Gráfico 5 – Avaliação Funcional da Força Gráfico 3 – Flexibilidade de Membro Superior Na tabela 2, verificamos a correlação entre as variáveis estudadas, onde encontramos uma correlação positiva entre a massa livre de gordura e a massa magra, a massa magra e a força de membro inferior. Ao analisar as qualidades físicas identificamos uma correlação positiva entre a flexibilidade de membro superior direita e a esquerda, entre a flexibilidade de membro inferior do lado direito com o esquerdo, e a flexibilidade de membro inferior direito e a força de membro inferior. Tabela 2 – Tabela de Correlação G G MLG -,290 MM ,009 MLG MM -,290 ,009 ,586** ,586** FMMSD FMMSE FMMID FOMMS FOMMI -,064 -,064 -,242 -,259 FMMIE ,028 ,077 ,177 ,132 ,177 ,182 -,062 ,354 ,280 ,109 ,066 ,007 -,337 ,471* ,817** ,157 ,194 ,304 ,050 ,130 ,159 ,189 ,191 ,970** ,326 ,400* ,330 ,377 FMMSD -,064 ,177 ,280 FMMSE -,064 ,132 ,109 ,817** FMMID -,242 ,177 ,066 ,157 ,130 FMMIE -,259 ,182 ,007 ,194 ,159 ,970** FOMMS ,028 -,062 -,337 ,304 ,189 ,326 ,330 FOMMI ,077 ,354 ,050 ,191 ,400* ,377 ,471* ,318 ,318 * Correlação Significativa p < 0,05 / ** Correlação Significativa p < 0,01. Legenda: G (Gordura); MLG (Massa Livre de Gordura); MM (Massa Magra); FMMSD (Flexibilidade Membro Superior Direito); FMMSE (Flexibilidade Membro Superior Esquerdo); FMMID (Flexibilidade Membro Inferior Direito); FMMIE (Flexibilidade Membro Inferior Esquerdo); FOMMS (Força Membro Superior); FOMMI (Força Membro Inferior). Melo, Delfino, Silva, Mendonça, Geraldo, Barbosa, Araújo, Malta, S. Carvalho, R. Carvalho, Silva DISCUSSAO A amostra estudada mostrou um índice de gordura corporal acima dos esperados para indivíduos não portadores de câncer. Os estudos que relatam a quantidade de gordura corporal apresentam valores ao redor de 28% o que é abaixo de nossos resultados (30%). O aumento da gordura corporal em portadores de câncer pode ser explicado pelo baixo nível de atividade física de nossos indivíduos. Um dos dados mais interessantes que devemos analisar durante a análise da composição corporal é a quantidade de água corporal que os pacientes de câncer apresentaram em que fica evidenciado que a água total é de 24% da massa total do sujeito e que ao excluir a massa gorda essa proporção chega a 35%. Esse dado é importante para esclarecer que em media a população normal apresenta uma variação entre 45 a 75% da massa corporal total em água. Uma menor quantidade de água corporal em portadores de câncer deve-se principalmente a 2 fatores: 1) Resposta de defesa do organismo a doença; 2) A doença provoca uma perda de liquido considerável, como por exemplo, o câncer de colón, que gera uma maior evacuação e com isso uma maior perda de água20 A combinação do sedentarismo com o excesso de peso (ou de massa gorda) gera alterações de mecanismos fisiológicos como a formação de radicais livres e danos oxidativos, redução da capacidade de reparo do DNA, modificação das atividades de enzimas carcinógenas, aumento do refluxo gástrico e do trânsito gastrintestinal, o que resulta numa maior exposição da mucosa a ácidos, aumento da possibilidade de desenvolvimento de resistência à insulina e alterações no equilíbrio hormonal endógeno21. Os valores encontrados neste estudo demonstraram que a quantidade de gordura encontrada nos pacientes é maior comparada á massa magra, o que indica que o acúmulo de células cancerígenas e a formação de tumores contribuem para o aumento da gordura corporal e consequentemente aumento do peso corporal. A massa magra apresentou valores abaixo do esperado quando comparada com a quantidade de gordura, este comportamento pode ser a combinação de dois fatores principais: sarcopenia, ou seja, perda da massa muscular relacionada com fatores do envelhecimento, e a combinação de fatores da doença que leva os pacientes portadores de câncer a iniciarem uma perda de massa muscular16. Pesquisas comprovam que o metabolismo basal diminui gradualmente com a idade e a massa magra declina em torno de 10 a 20% entre os 25 e 65 anos. Neste período há um acúmulo de tecido adiposo, principalmente na região do tronco, resultando em ganho de peso22, 23,24. A flexibilidade é um componente da aptidão física importante para a manutenção de bons níveis de saúde e qualidade de vida, porque a flexibilidade diminuída restringe as possibilidades de movimento, além de aumentar as chances de lesões articulares e musculares25,26,27. A grande quantidade de gordura corporal também pode contribuir para limitar a flexibilidade28. A flexibilidade em geral dos sujeitos do estudo foram baixas, já que tanto o membro superior como inferior os resultados foram negativos. Com o envelhecimento é normal uma redução na flexibilidade como já demonstrado em outros estudos com idosos. A falta de atividade física contribui ainda mais para agravar esses valores, o que torna indispensável um programa de atividade física para esses portadores. Há sugestão de que a atividade física possa manter e até aumentar os níveis de energia, contribuir numa rotina diária - otimizando períodos de sono e descanso - e aumentar os momentos de lazer21,29. A força muscular é uma variável primordial na manutenção da autonomia e qualidade de vida do idoso e do portador de câncer, sendo uma das variáveis que mais sofre com o envelhecimento. A perda da massa muscular e consequentemente da força muscular é a principal responsável pela deterioração na mobilidade da capacidade funcional do indivíduo que está envelhecendo30. O presente estudo observou uma diferença significativa entre força de membro inferior atingindo em média 11,21 repetições e, força de membro superior com média de 16,31 repetições. Faria e Machala (2003)30 apontam que o envelhecimento conduz a perda progressiva da eficiência dos órgãos e tecidos do organismo humano, em ritmo de queda que varia de sujeito para sujeito e também de acordo com o tipo de tecido. Dentre essas perdas caracteriza-se a redução da força muscular e conseqüentemente da capacidade funcional. A perda de força muscular ocorre principalmente devido ao declínio da função neuromuscular, ou seja, redução na capacidade de inervação e ativação dos músculos, o que leva a uma perda conseqüente na quantidade de massa muscular. Muitos fatores participam colaborando com a perda da força muscular. Dentre esses podemos citar: as alterações morfofuncionais, músculo-esqueléticas, estado nutricional, aumento da gordura intramuscular, presença de doenças crônicas, alterações hormonais e atrofia em função do desuso30. As pessoas com mais idade, mesmo saudáveis, também diminuem seus níveis de força com a idade, cerca de 1 a 2% ao ano31. Os valores referenciais de Rikli e Jones (1999)27 para o teste de flexão do cotovelo em 30 segundos Capacidade funcional e composiçao corporal em portadores de cancer estão de acordo com os resultados encontrados, pois em seu estudo encontrou para as idades de 60 a 64 anos uma média de 16,1 repetições e para as idades de 65 a 69 anos uma média de 15,2 repetições. A força de preensão dos ombros e dos braços é importante para a realização de atividades da vida diária e o levantamento do tronco pode ser importante em algumas profissões, entretanto as mensurações da força mostram uma correlação relativamente fraca com a capacidade de realizar as tarefas diárias. O teste de flexão dos cotovelos em 30s tem sido utilizado, pois esse movimento é bastante requerido em atividades rotineiras e profissionais como levantar e carregar objetos, pegar crianças ao colo, fazer as atividades domésticas e desempenhar tarefas relacionadas ao auto-cuidado27. Os valores referenciais27 para o teste de Levantar da cadeira em 30 segundos são superiores ao encontrado em nossa pesquisa, para as idades de 60 a 64 anos, encontrou-se a média de 14,5 repetições e para as idades de 65 a 69 aos uma média de 13,5 repetições. A força de membros inferiores contribui para a manutenção do equilíbrio e a diminuição do risco de quedas. Menores índices de força estão associados ainda a maiores chances de desenvolver incapacidade e maior predisposição a quedas32,27. O declínio dos níveis de força dos MMII tem sido relacionado a uma pior performance na execução de atividades rotineiras simples, como subir escadas, por exemplo, e com o prejuízo ao equilíbrio27. O teste de força de membro inferior correlaciona-se satisfatoriamente com outros testes que objetivam medidas de força em porção inferior do corpo e outras medidas funcionais27. Tem sido defendido também que o teste em questão é recomendável para aferir benefícios adquiridos pelo efeito do treinamento físico em idosos33. O número de repetições decresce de acordo com o aumento da idade em ambos os testes, isso se dá, segundo MATSUDO (2001)34, devido à perda da massa magra, havendo uma perda maior com o envelhecimento, pois estão associados à diminuição no nível de atividade física do idoso. A partir dos 60 anos há uma diminuição mais acentuada da força muscular, principalmente nas mulheres, sendo essa diminuição da força a músculos específicos, principalmente nos membros inferiores36. Em geral, o pico de força muscular é bem mantido dos 35 aos 40 anos de idade, daí em diante a perda de força sofre uma aceleração, devido à perda de massa de tecido magro, atrofia seletiva das fibras musculares tipo II e uma menor sincronização no acionamento das unidades motoras em adultos mais velhos. CONCLUSÕES E RECOMEDAÇÕES Fica evidente que os portadores de câncer possuem uma gordura corporal maior que a população na mesma faixa etária. Esse aumento na gordura corporal parece interferir na capacidade funcional. Esse acumulo de gordura e perda de força muscular, ocorrem em função de 2 fatores básicos, a baixa predisposição para realizar atividade física em função da doença, alem das perdas fisiológicas provocadas pela doença. A atividade física pode servir como um mediador dessas perdas convém estudar a influencia da atividade física nessas variáveis fisiológicas e ainda verificar como o nível de fadiga é afetado pela pratica de atividade física em portadores de câncer. REFERÊNCIAS 1. Diettrich SHC. Efeitos de um programa de caminhada sobre os níveis de fadiga em pacientes com câncer de mama. Rev. Bras. Ciên. Mov.,2006; 13 (4): 33-40. 2. Peckenpaugh NJ, Poleman CM. Nutrição Essência e Dietoterapia. 7ª ed., São Paulo: Editora Roca, 1997. 3. Hanahan D, Weinberg RA. 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