Incontinência urinária de urgência e sintomas de

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Rodrigues AC, Abreu AR, Frutuoso C, Rebelo T, Falcão F, Freire-de-Oliveira C
Artigo Original/Original Article
Incontinência urinária de urgência e sintomas de
hiperactividade vesical após slings transobturadores
Urge urinary incontinence and overactive bladder symptoms
after transobturator slings
Ana Cláudia Rodrigues*, Ana Rita Abreu*, Cristina Frutuoso**, Teresa Rebelo**, Francisco Falcão***,
Carlos Freire-de-Oliveira****
Departamento de Medicina Materno-Fetal, Genética e Reprodução Humana, Serviço de Ginecologia, Hospitais da
Universidade de Coimbra: Clínica Ginecológica, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Abstract
Objectives: The aim of this study was to evaluate the incidence of urge symptoms occurring de
novo, the cure rates of preoperative overactive bladder symptoms and the cure rates of urge incontinence, after surgical transobturator approach techniques for urinary incontinence.
Study Design: Prospective observational study.
Material and Methods: A total of 359 patients underwent transobturator tape procedures at our institution between January 2003 and May 2007. These were divided in three groups: A – 148 patients
exclusively with stress incontinence; B – 64 patients with stress incontinence and overactive bladder
symptoms such as urgency, frequency and nocturia, but without urge incontinence; C – 147 patients
with stress and urge incontinence. Average time of follow-up was 8 months (range 1 to 40).
Results: In group A, overactive bladder symptoms developed de novo in 10.1%, urge incontinence
developed in 2.7%, and 2.7% needed treatment with anticholinergics. The urge component showed
cure or improvement in 87.5% of cases in group B, and treatment with anticholinergics decreased
from 12.5% to 4.7%. In group C, 62.6% of cases improved or were cured of their urge incontinence,
while 35.4% were unaltered, and 2.0% reported worsening of the symptoms. Fifty-six percent of
those who used anticholinergics preoperatively, no longer required them after surgery.
Conclusions: Our results suggest that TOT and TVT-O offers excellent cure rates of the urge component in patients with overactive bladder symptoms, with or without urge incontinence, whilst
causing a low proportion of urge symptoms occurring de novo.
Key words: urge urinary incontinence, overactive bladder symptoms, transobturator tape procedures
* Interna Complementar de Ginecologia/Obstetrícia
** Assistente Hospitalar de Ginecologia
*** Assistente Graduado de Ginecologia
**** Director do Serviço de Ginecologia, Hospitais da Universidade de
Coimbra, Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
10
Introdução
A perda involuntária de urina é um problema de saúde
grave, quer pela elevada prevalência quer pelas repercussões a nível pessoal, físico, psíquico, social e sexual1.
Acta Obstet Ginecol Port 2009;3(1):10-16
A prevalência de sintomas de urgência em mulheres
com queixas de incontinência urinária varia entre
29% e 61%2,3. A incontinência urinária de urgência e
os sintomas de hiperactividade vesical estão associados a alterações da contractilidade do músculo detrusor e, eventualmente, da sensibilidade vesical. Esta
síndrome de hiperactividade vesical manifesta-se por
urgência, acompanhada ou não de incontinência urinária, resposta a estímulos sensoriais, polaquiúria e
nictúria. Apesar desta poder ser provocada por doenças neurológicas ou infecciosas, na maioria dos casos
a sua etiologia não é identificada 3.
O tratamento de primeira linha dos sintomas de urgência é médico. No entanto, Walters mostrou resolução destes sintomas em 50% a 60% após restabelecimento cirúrgico do suporte uretral4. Por outro lado, os
procedimentos cirúrgicos de correcção da incontinência urinária de esforço podem levar ao aparecimento de
sintomas de urgência de novo, descritos em 0 a 30%5.
Os estudos publicados relativamente aos efeitos
da colocação de próteses pubo-vaginais na história
natural da síndrome de hiperactividade do detrusor
são escassos, sobretudo no que diz respeito às fitas
em posição transobturadora.
Assim foram objectivos deste estudo: 1) a determinação de sintomas de urgência de novo; 2) a avaliação da evolução natural dos sintomas de hiperactividade vesical e da incontinência urinária de urgência
pré-operatórios em mulheres submetidas a cirurgia de
correcção da incontinência urinária usando próteses
por via transobturadora (‘inside out’ e ‘outside in’).
Material e métodos
Neste estudo foram incluídas as mulheres submetidas
a tension-free vaginal tape-obturator (TVT-O) ou a
transobturator tape (TOT) no Serviço de Ginecologia
dos Hospitais da Universidade de Coimbra, entre Janeiro de 2003 e Maio de 2007.
Foram propostas para estas cirurgias as doentes
com incontinência urinária de esforço e hipermobilidade uretral, acompanhadas ou não de sintomas de
urgência, que condicionavam limitações significativas do dia-a-dia e/ou que não responderam a medidas
terapêuticas conservadoras.
Todas as doentes incluídas deram o seu consentimento informado; aquelas com queixas de urgência foram esclarecidas de que a cirurgia não constitui o tratamento primário destes sintomas, podendo persistir ou
mesmo sofrer agravamento no período pós-operatório.
Antes da cirurgia, as doentes responderam a um
questionário, que teve por objectivo determinar a etiologia da incontinência urinária, o seu tipo, severidade
e impacto na qualidade de vida, através da análise detalhada das circunstâncias das perdas urinárias e das
micções. A história clínica incluiu ainda a pesquisa de
antecedentes obstétricos e cirúrgicos, patologias concomitantes, estado hormonal e medicação habitual.
O exame objectivo destas mulheres englobou a
avaliação da vulva, meato uretral, vagina, estado do
pavimento do pélvico, toque bimanual e testes, segundo a descrição de Walters6. O teste de stress foi
realizado para verificar a existência de incontinência
urinária de esforço. Este consistiu em pedir à doente, com a bexiga cheia, que tossisse ou aumentasse
a pressão intra abdominal, para se ver se ocorria ou
não emissão de urina. A angulação da uretra com o
aumento da pressão intra-abdominal foi determinada
através do teste do cotonete (Q-Tip Test) introduzido
no meato urinário. Este teste serviu para distinguir a
incontinência urinária de esforço associada a hipermobilidade uretral daquela associada a deficiência
intrínseca do esfíncter (uretra fixa).
Efectuaram ainda o Pad-Teste (1 hora), que consistiu na quantificação da urina perdida (peso do
PAD) sob situações padrão (marcha, tosse, mãos na
água….) após ingestão prévia 500 ml de líquidos. Um
peso do PAD superior a 4 g foi considerado positivo.
No caso de sintomas sugestivos de incontinência
urinária mista ou discordantes com os achados objectivos, foram obtidos estudos urodinâmicos (debitometria, perfilometria, uretrocistomanometria), segundo as técnicas descritas por Karram7.
Na presença de sintomas de urgência foram também realizadas urocultura e ecografia renovesical, para
exclusão de patologia infecciosa, litiásica ou tumoral.
As 359 mulheres incluídas neste estudo foram submetidas à colocação de slings de polipropileno, sem
tensão, em posição transobturadora (TOT e TVT-O),
de acordo com as técnicas originalmente descritas por
11
Rodrigues AC, Abreu AR, Frutuoso C, Rebelo T, Falcão F, Freire-de-Oliveira C
Delorme8 e de Leval9. Em todos os casos, o procedimento foi realizado sob sedação profunda com apoio
ventilatório e sem controlo cistoscópico.
Na TOT, uma incisão longitudinal de 15mm, cerca
de 10mm abaixo da uretra, foi obtida. A partir desta
procedeu-se à dissecção do espaço paravesical. Depois, de cada um dos lados, no sulco genitofemural
ao nível do clítoris foram realizadas duas incisões
com cerca de 5mm, através das quais a agulha foi
introduzida até atingir o dedo introduzido no espaço
paravesical. A prótese foi então fixada à extremidade
da agulha e removida através da incisão no sulco genitofemural. No caso da TVT-O, o procedimento foi
idêntico mas a dissecção paravesical foi menos extensa, foi usado um guia metálico para conduzir a agulha
e impedir lesões vesicais (não o dedo) e, finalmente, a
agulha foi introduzida de dentro para fora.
Antes da alta hospitalar, as doentes foram submetidas a pelo menos duas avaliações do resíduo pósmiccional.
O período médio de seguimento das doentes foi
de 8 meses, com um mínimo de 1 mês. A avaliação
dos resultados cirúrgicos baseou-se no interrogatório
clínico e no exame ginecológico.
Às doentes que apresentaram urgência de novo ou
persistência das queixas de urgência pré-operatórias,
na presença de um resíduo pós-miccional normal e
após exclusão de infeccção urinária, foram prescritos
anticolinérgicos ou antiespasmódicos.
As doentes foram distribuídas por três grupos. O
grupo A englobou as mulheres que no pré-operatório
apresentavam exclusivamente incontinência urinária
de esforço. O grupo B incluiu as doentes com incontinência urinária de esforço e sintomas de hiperactividade vesical, mas sem incontinência urinária de urgência. As doentes com incontinência urinária mista
formaram o grupo C.
As seguintes variáveis foram avaliadas e comparadas entre os grupos: idade à data da cirurgia, paridade, índice de massa corporal (IMC), estado hormonal,
uso de terapêutica hormonal de substituição (THS)
pelas mulheres pós-menopáusicas, história de comorbilidades, presença de prolapso urogenital (grau
≥2), antecedentes de cirurgia pélvica (histerectomia,
cirurgia vaginal ou vesical), técnica cirúrgica (TVT-O
12
ou TOT) e associação de outra intervenção cirúrgica
vaginal. As co-morbilidades consideradas foram hipertensão arterial e doenças cardiovasculares, doenças psiquiátricas, doenças neurológicas, doenças pulmonares crónicas, diabetes mellitus e obstipação.
Foi também determinada, no primeiro grupo, a
percentagem de sintomas de hiperactividade vesical e
de incontinência de urgência de novo após a cirurgia;
nos grupos B e C, avaliaram-se subjectivamente os
sintomas de urgência no pós-operatório, classificando-os em termos de cura ou melhoria significativa,
persistência com igual intensidade ou agravamento.
Por fim, comparou-se o uso fármacos anticolinérgicos
nos períodos pré e pós-operatório.
A análise estatística dos dados foi efectuada
através do programa Statistical Packages for Social
Sciences-14, utilizando o teste ANOVA I para as variáveis quantitativas e o teste de Kruskal-Wallis para as
variáveis qualitativas. Um valor de p inferior a 0.05
foi considerado estatisticamente significativo.
Resultados
Das 359 mulheres incluídas, 148 foram integradas no
grupo A, 64 no grupo B e 147 no grupo C.
A tabela I resume as características epidemiológicas dos três grupos. Não se identificaram diferenças com significado estatístico no que diz respeito à
idade, paridade média, IMC médio, estado hormonal,
uso de THS, co-morbilidades, presença de prolapso
urogenital e antecedentes de cirurgia pélvica.
Em relação à técnica cirúrgica usada (Tabela II),
a TVT-O foi o procedimento eleito em 86.5%, 81.2%
e 77.6% das mulheres, respectivamente, nos grupos
A, B e C. As restantes foram submetidas a TOT. Outra cirurgia vaginal foi associada ao procedimento de
correcção da incontinência urinária em 33.1% das
doentes do grupo A, 25.0% do grupo B e 26.5% do
grupo C. Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos quando se considerou a
técnica cirúrgica.
Após a cirurgia, no grupo A, foi obtida uma percentagem de sintomas de hiperactividade vesical de
novo de 10.1% e de incontinência de urgência de
novo de 2.7%. Pós-operatoriamente, o componente
Acta Obstet Ginecol Port 2009;3(1):10-16
Tabela I. Características epidemiológicas
Características Epidemiológicas
Grupo A
(n=148)
Grupo B
(n=64)
Grupo C
(n=147)
p
Idade média anos (min-max)
Paridade média filhos (min-max)
IMC médio kg/m2 (min-max)
Menopausa n (%)
THS n (%) *
Co-morbilidades n (%)
Prolapso Associado n (%)
Cirurgia Pélvica Anterior n (%)
54.1 (28-82)
2.1 (0-5)
28.1 (20-44)
96 (64.9%)
26 (27.1%)
103 (69.6%)
43 (29.0%)
65 (43.9%)
53.7 (33-76)
2.3 (0-7)
27.3 (18-42)
43 (67.2%)
12 (27.9%)
39 (60.9%)
17 (26.6%)
27 (42.2%)
56.6 (37-83)
2.3 (0-6)
27.7 (21-43)
108 (73.5%)
25 (23.1%)
113 (76.9%)
26 (17.7%)
72 (49.0%)
NS
NS
NS
NS
NS
NS
NS
NS
Grupo A
(n=148)
Grupo B
(n=64)
Grupo C
(n=147)
P
20 (13.5%)
128 (86.5%)
49 (33.1%)
12 (18.8%)
42 (81.2%)
16 (25.0%)
33 (22.4%)
114 (77.6%)
39 (26.5%)
NS
NS
NS
* Percentagem calculada com base nas mulheres pós-menopáusicas
NS= não significativo
Tabela II. Técnicas cirúrgicas
Técnicas Cirúrgicas
TVT-O n (%)
TOT n (%)
Cirurgia Vaginal Associada n (%)
NS = não significativo
Tabela III. Evolução dos sintomas de urgência no pós-operatório
Grupo A
Sintomas de hiperactividade vesical de novo n (%)
Incontinência urinária de urgência de novo n (%)
15 (10.1%)
4 (2.7%)
Grupo B
Cura ou melhoria da hiperactividade vesical n (%)
Persistência com igual intensidade n (%)
Agravamento da hiperactividade vesical n (%)
56 (87.5%)
3 (4.7%)
5 (7.8%)
Grupo C
Cura ou melhoria da incontinência de urgência n (%)
Persistência com igual intensidade n (%)
Agravamento da incontinência de urgência n (%) 92 (62.6%)
52 (35.4 %)
3 (2.0%)
de urgência sofreu cura ou melhoria em 87.5% das
doentes incluídas no grupo B, manteve-se inalterado
em 4.7% e agravou-se em 7.8%. No grupo com incontinência urinária mista pré-operatória (grupo C),
após TOT e TVT-O, 62.6% apresentaram ausência ou
redução significativa da incontinência urinária de urgência, 35.4% permaneceram com incontinência uri-
nária com características idênticas às pré-operatórias,
e 2.0% apresentaram agravamento da incontinência
de urgência (Tabela III).
Uma das mulheres com incontinência urinária de
esforço genuína no período pré-operatório (grupo A)
que desenvolveu sintomas de irritação vesical e três
das que desenvolveram incontinência de urgência de
13
Rodrigues AC, Abreu AR, Frutuoso C, Rebelo T, Falcão F, Freire-de-Oliveira C
Tabela IV. Utilização de anticolinérgicos e/ou anti-espasmódicos no período pré e pós-operatório
Grupo A
Grupo B
Grupo C
Pré-operatório n (%)
Pós-operatório n (%)
0 (0%)
8 (12.5%)
69 (46.9%)
4 (2.7%)
3 (4.7%)
30 (20.4%)
novo no período pós-operatório, manifestaram grande incómodo pelo que houve necessidade de instituir
medicação com anti-colinérgicos e/ou anti-espasmódicos. No grupo B, o uso de fármacos anti-colinérgicos/anti- espasmódicos diminuiu de 12.5% no préoperatório para 4.7% no pós-operatório. Cinquenta e
seis por cento das mulheres com incontinência urinária mista no período pré-operatório, suspenderam
no pós-operatório a utilização de anti-colinérgicos
(Tabela IV).
Discussão
Os procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos
são a opção cada vez mais frequente para o tratamento da incontinência urinária de esforço, pela elevada
eficácia que a curto quer a longo prazo, facilidade de
execução, menor tempo operatório e de internamento.
Neste trabalho foram incluídas duas técnicas minimamente invasivas usando próteses por via transobturadora (TOT e TVT-O). Estas consistem na colocação
de uma fita sem tensão ao nível da uretra média que
se faz passar lateralmente através dos foramina obturadores. Assim, poupam o espaço retropúbico, associando-se a menor número de complicações viscerais,
vasculares e neurológicas, causam menor compressão
uretral excessiva, têm menor tempo operatório e não
necessitam de controlo cistoscópico8. Foram avaliadas, a TOT e a TVT-O em conjunto, uma vez que têm
mostrado percentagens de cura e fracasso idênticas,
bem como tempos operatórios e complicações10.
A avaliação da ocorrência de queixas de urgência
de novo após cirurgia da incontinência urinária é de
extrema importância, uma vez que estas podem ser
tanto ou mais incomodativas que a incontinência urinária de esforço previamente existente.
14
Sabe-se que a cirurgia de correcção da incontinência urinária pode resultar em sintomas de hiperactividade vesical devido a fenómenos de irritação da
mucosa vesical ou a reacção de corpo estranho produzidos pela prótese. A presença desta pode igualmente
alterar a enervação autónoma da bexiga e dos músculos do pavimento pélvico. Do mesmo modo, uma excessiva compressão uretral provocada pela fita, pode
causar obstrução parcial e resultar em contracções
involuntárias do detrusor. Finalmente, o aumento da
resistência miccional pode intensificar a hiperactividade vesical que ocorria anteriormente apenas com
elevados volumes vesicais de urina11.
Existem poucos estudos publicados que se ocuparam da análise da urgência de novo após slings
transobturadores. No entanto, foi descrita a ocorrência de urgência de novo em 5-32% das mulheres após colpossuspensão12,13, em 3-50% após
fitas suburetrais14,15 e em 5-16% após fitas colocadas ao nível da uretra média, sem tensão, por via
retropúbica16,17. Krauth et al.18 encontraram baixas
percentagens de urgência de novo e atribuíram esses
bons resultados à via transobturadora, pois a prótese
é colocada formando um ângulo mais aberto com a
uretra e por isso há menor risco de compressão uretral
excessiva. Já Montefiore et al.19 consideraram que o
risco de urgência de novo está essencialmente dependente do tipo de fitas usadas; as fitas de polipropileno
não-elásticas originam com menor frequência sintomas irritativos.
No presente estudo, identificou-se uma proporção
de sintomas de hiperactividade vesical de novo (sem
incontinência de urgência) de 10,1% e de incontinência de urgência de novo de 2.7%.
Quanto à evolução da incontinência urinária de urgência e dos sintomas de hiperactividade vesical após
Acta Obstet Ginecol Port 2009;3(1):10-16
cirurgia de correcção da incontinência urinária de esforço, esta pode variar desde a resolução completa ao
agravamento.
A presença de contracções involuntárias do detrusor resulta em queixas de perda urinária imediatamente precedida ou acompanhada de urgência, urgência,
polaquiúria, nictúria e resposta a estímulos sensoriais3. A presença de queixas de urgência, em doentes
com incontinência urinária de esforço, pode ser explicada pela lesão ou estiramento dos nervos da bexiga,
resultante da laxidão dos tecidos e da falta de suporte
uretral aquando da expansão do volume da urina ou
do aumento da pressão intra-abdominal, originando
um reflexo de micção involuntário20. Outra hipótese
apontada para explicar este tipo de incontinência é o
refluxo de urina para a uretra proximal causada pela
deficiência intrínseca do esfíncter, com consequente
estimulação sensorial e surgimento de contracções involuntárias da bexiga21. Deste modo, a cirurgia pode
tratar a incontinência urinária mista, pois ao fixar a
uretra e ao reforçar os ligamentos pubouretrais, impede o estiramento nervoso e o refluxo de urina.
Bump et al.22 consideraram que a incontinência
urinária de esforço e a incontinência urinária mista
não são duas entidades distintas, mas sim que a incontinência urinária mista constitui uma forma de
apresentação mais grave da incontinência urinária de
esforço.
Walters 4 mostrou resolução do componente de urgência em 50% a 60% das mulheres com incontinência urinária mista, após restabelecimento cirúrgico
do suporte uretral. Outras publicações19,//20 referem
percentagens de cura de 69% e 73% após slings pubovaginais. Contudo, poucas publicações avaliaram
o efeito das fitas por via transobturadora no componente de urgência de mulheres com incontinência
urinária mista. Os nossos resultados mostraram cura
ou melhoria dos sintomas de hiperactividade vesical
pré-operatórios em 87,5% e da incontinência urinária
de urgência em 62,6%.
O presente trabalho tem, no entanto, algumas limitações, relacionadas com a falta de objectividade na
definição e caracterização dos sintomas de urgência
pré e pós-operatórios, baseando-se na história clínica
estandardizada feita a todas as doentes.
Apesar destas limitações, os resultados obtidos
sugerem que a cirurgia de correcção da incontinência
urinária usando próteses colocadas por via transobturadora (TOT e TVT-O) proporcionam elevadas percentagens de cura dos sintomas de urgência em doentes com incontinência urinária de esforço e sintomas
de hiperactividade vesical, com ou sem incontinência
urinária de urgência. Igualmente, causam pequena
proporção de sintomas de urgência de novo.
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