PRESSÃO ARTERIAL RELACIONADA À FREQUÊNCIA CARDÍACA

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PRESSÃO ARTERIAL RELACIONADA À FREQUÊNCIA CARDÍACA EM CÃES”.
“BLOOD PRESSURE RELATED TO HEART RATE IN DOGS”
Adriana Jardim de Almeida1; Fernanda Chicharo Chacar2
RESUMO:
A mensuração da pressão arterial em cães na rotina clínica constitui o exame diagnóstico para
a hipertensão sistêmica. Esta doença compromete a qualidade e expectativa de vida dos
pacientes, por causar injúrias aos órgãos vitais. As variações epidemiológicas na espécie
canina representam obstáculos para a padronização da pressão arterial. A correlação entre os
parâmetros físicos, como a frequência cardíaca, e a pressão arterial em cães, é pouco
conhecida, sendo necessários maiores estudos a respeito. Diante destas problemáticas, o
presente estudo objetivou mensurar a pressão arterial de cães, através do método
oscilométrico, e relacionar os resultados obtidos com a frequência cardíaca. Para tanto, foram
utilizados 50 cães, de idades, sexos, raças e porte variados, atendidos no Hospital Veterinário
da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), em Campos dos
Goytacazes, RJ. Para verificar a associação em questão, foi utilizado o Teste de Fisher, com
95% de intervalo de confiança, utilizando-se o software SAS. Os resultados obtidos revelaram
que 40% dos cães apresentaram hipertensão, e que não houve associação significativa entre
alteração da pressão arterial e a frequência cardíaca dos animais testados.
Palavras-chave: canino; estudo epidemiológico; pressão arterial
SUMMARY:
The measurement of blood pressure in dogs in clinical routine is the diagnostic test for
systemic hypertension. This disease affects the quality and life expectancy of patients by
causing injuries to vital organs. The epidemiological variations in canine species represent
obstacles to the standardization of blood pressure. The correlation between the physical
parameters, such as heart rate and blood pressure in dogs are poorly understood, requiring
further study concerning. On this issue, the aim of this study was to evaluate blood pressure in
dogs by oscillometric method, and correlating the results with the heart rate. To this end, were
used 50 dogs of different ages, genders, breeds and sizes that were being treated at the
Veterinary Hospital at the Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(UENF), in Campos, RJ. The association between changes in blood pressure and heart rate
was obtained using Fisher statistical test, with confidence interval of 95%, trought the
software SAS. 40% of the dogs presented hypertension and there was no significant
association between changes in blood pressure and the heart rate in analyzed dogs.
Key words: canine, blood pressure; epidemiological studies; heart rate.
INTRODUÇÃO:
A determinação da pressão arterial em cães e gatos é de extrema importância, já que a
hipertensão pode ocasionar alterações significativas no paciente. Frazén (2007), ao
estabelecer parâmetros de pressão arterial para a raça canina Cavaliers King Charles Spaniels,
concluiu que as mensurações de pressão sistólica encontradas foram menores do que as
médias descritas para os cães em geral, e em especial, para as raças hispânicas. Braslasu et al.
(2008) relatou que, em cães, valores de pressão arterial reduzidos devem ser adotados para as
1
Professora Associada, LCCA/CCTA/Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Av. Alberto
Lamego, 2000, Parque Califórnia, Campos dos Goytacazes, RJ. CEP 28013-602. [email protected]
2
Médica Veterinária residente.
raças consideradas de baixo metabolismo. Parâmetros físicos, como a frequência cardíaca,
também podem interferir na pressão arterial, uma vez que, do ponto de vista hemodinâmico,
esta é definida como o produto do débito cardíaco pela resistência vascular periférica, e o
débito cardíaco, por sua vez, é o produto do volume de ejeção pela frequência cardíaca
(EGNER et al., 2003). Devido ao pouco conhecimento dos efeitos da frequência cardíaca na
regulação da pressão arterial nesta espécie, o presente estudo objetivou realizar uma análise
epidemiológica da pressão arterial em cães, além de verificar o impacto da frequência
cardíaca seu valor.
MATERIAL E MÉTODOS:
Para a realização deste estudo, foram utilizados 50 cães, de idades, gêneros, raças e
porte variados, atendidos no Hospital Veterinário da UENF, em Campos dos Goytacazes, RJ.
Precedia-se à mensuração da pressão arterial, a ambientalização do animal por cerca de 30
minutos, objetivando reduzir o estresse e, desta forma, evitar falsos resultados de hipertensão.
O método utilizado para a aferição da pressão arterial foi o oscilométrico, o qual consiste em
um sistema automatizado para a detecção e o processamento dos sinais de oscilação da
pressão do manguito. Com este sistema, o manguito de oclusão do fluxo é ajustado abaixo da
articulação do cotovelo direito, insuflado a uma pressão acima da sistólica e, em seguida,
lentamente desinflado em aumentos de 5 a 10 mmHg (WARE, 2006). Neste estudo, a aferição
da pressão arterial foi realizada oito vezes. Os resultados obtidos foram analisados
estatisticamente através dos Teste de Fisher, com 95% de intervalo de confiança (SAS, 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O presente estudou considerou “hipotensos” os animais que apresentaram pressão
arterial menor que 110/70 mmHg; “normotensos” os cães que apresentaram pressão arterial
de 110/70 mmHg a 160/95 mmHg e “hipertensos” os animais que apresentaram pressão
arterial maior que 160/95 mmHg, conforme parâmetros adotados por Stepien (2002). Nenhum
cão utilizado no presente estudo apresentava sinais clínicos compatíveis com
hiperadrenocorticismo, doença renal, doença tireoidiana, diabetes mellitus, ou com outras
patologias que sabidamente provocam hipertensão, de acordo com estudo realizado por
Acierno e Labato (2004).
Tabela 1 - Risco relativo da frequência cardíaca para a alteração da pressão arterial em
cães.
Fisher Exact Test
Variável
Hipertensos
Normotensos
Total
(CI 95%)
Normal
19 (38%)
1(36%)
20
p=0,4000
Frequência
Rr=0.9500
cardíaca
Taquicardia
30 (60%)
0 (24%)
30
0,8591>Rr >1,051
Neste trabalho não se observou associação significativa entre a frequência cardíaca e
alteração na pressão arterial. Foram adotados os seguintes parâmetros de normalidade de
frequência cardíaca para a classificação dos animais: 70 a 160 bpm para cães adultos; 60 a
140 bpm para raças gigantes; até 180 bpm raças toy; até 220 bpm filhotes, conforme
Macintire et al. (2007). A pressão arterial é o produto do débito cardíaco pela resistência
periférica. O débito cardíaco, por sua vez, é o produto do volume de ejeção pela frequência
cardíaca. Portanto, quaisquer alterações sofridas por estes parâmetros podem interferir na
pressão arterial (EGNER et al., 2003). Estudos mostram que nova leitura da pressão arterial
deve ser realizada, se no momento da aferição for verificada taquicardia. A frequência
cardíaca acelerada funciona como um indicador de estresse, o qual altera a pressão arterial
2
sistólica, devido à liberação de catecolaminas (EGNER et al., 2003; FRANZÉN, 2007).
Segundo Bodey e Michell (1996), embora a frequência cardíaca e a pressão arterial sistólica
aumentem devido ao estresse, a pressão arterial diastólica permanece estável. Franzén (2007),
ao realizar estudo em cães, também observou que a frequência cardíaca não afetou
consistentemente a pressão arterial diastólica. Em estudo realizado em humanos por Mancia et
al. (1983) , no qual a pressão arterial e a frequência cardíaca foram monitoradas ao longo de
48 horas, foi verificado que a variação da frequência cardíaca foi similar em indivíduos
normotensos e hipertensos.
A correlação entre estas variáveis se apresentou
significantemente positiva.
CONCLUSÃO:
Concluiu-se que a frequência cardíaca não constituiu risco para a alteração da pressão
arterial na espécie canina.
REFERÊNCIAS:
ACIERNO, M.J., LABATO, M.A. Hypertension in dogs and cats. Compendium on
continuing education for practicing veterinarians, v.26, p.336-345, 2004;
BODEY, A. R.; MICHELL, A. R. Epidemiological study of blood pressure in domestic dogs.
Journal of Small Animal Pratice, v. 3, p. 135-142, 1996;
BRASLASU, M. C., BRASLASU, D., JOHA, S. Aspects Regarding Arterial Hypertension in
Dog and Cat. Lucrari Scientific Papers, v. 41, p.547-549, 2008.
BROWN, S.; ATKINS, C.; BAGLEY, R. et al. Guidelines for the Identification, Evaluation,
and Management of Systemic Hypertension in Dogs and Cats. Journal of Veterinary Internal
Medicine, v. 21, p. 542-558, 2007;
EGNER, B. Blood pressure measurement - basic principles and practical application. In
BEGNER, B.; CARR, A.; BROWN, S. A. Essential facts of blood pressure in dogs and cats.
Babenhausen: VetVerlag, 2007. cap.1, p.1-14;
FRAZÉN, A. Blood pressure in the Cavalier King Charles Spaniel. 2007. 21p. Tese
(Doutorado em Veterinária) - Swedish University of Agricultural Sciences, Suécia;
MACINTIRE, D. K.; DROBATZ, K. J.; HASKINS, S. C. et al. Emergencia e cuidados
intensivos em Pequenos Animais. Barueri, São Paulo: Manole, 2007. 552p.;
MANCIA, G.; FERRARI, A.; GREGORINI, L. et al. Blood pressure and heart rate
variabilities in normotensive and hypertensive humans beings. Journal of the American Heart
Association, v.53, p. 96-104, 1983; S.A.S User’s Guide Statistics, inst., inc., cary, NC. 1998;
STEPIEN, R.L. Hypertension in Cats and Dogs. In: THE ANNUAL WALTHAM/OSU
SYMPOSIUM SMALL ANIMAL CARDIOLOGY, 26, 2002, Ohio, Anais…Ohio: Waltham
USA, Inc, 2002, p.3.;
WARE, W. A. Hipertensão Arterial Sistêmica. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina
Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 193-202.
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