Tipos funcionais de plantas para estudos de modelagem de biodiversidade André Vitor Fleuri Jardim Bolsista PCI-DTI Orientadora: Dra. Silvana Amaral Kampel DPI - Inpe André V.F. Jardim, 2008 Classificação funcional de plantas • classificação das plantas baseada nas suas funções, em vez de na identidade taxonômica (ou nas relações filogenéticas) André V.F. Jardim, 2008 • tipos funcionais de plantas = grupos de plantas com funções similares (em nível de organismo) quanto: – à resposta a um fator ambiental (disponibilidade de recursos, condições climáticas) (ex.: heliófilas vs umbrófilas; tolerantes vs intolerantes à seca) – ao efeito na comunidade (produtividade primária, ciclagem de nutrientes, cadeia alimentar) (ex.: fixadoras de nitrogênio; promotoras de fogo) André V.F. Jardim, 2008 espécies funcionalmente similares (ou com uma mesma estratégia ecológica) tendência a compartilhar um conjunto de traços (ou atributos) funcionais • traços funcionais = características (morfológicas, ecofisiológicas, bioquímicas, demográficas) de um organismo consideradas relevantes à sua resposta ao ambiente e/ou ao seu efeito sobre o funcionamento da comunidade André V.F. Jardim, 2008 • traços funcionais: – hábito da planta (árvore, arbusto, erva) – altura – área foliar específica (área / massa; AFE) – deciduidade (sempre-verdes vs decíduas) – massa da semente – modo de dispersão (gravidade, vento, animais) – modo de polinização (vento, animais) – densidade da madeira – espessura da casca André V.F. Jardim, 2008 atributos funcionais vs espécies • ↑ número de espécies no planeta → modelos baseados na taxonomia: capacidade de generalização limitada • exemplo: manejo de comunidades alagáveis no Reino Unido – modelo baseado em espécies: não é facilmente aplicado para uma comunidade alagável de outra região – modelo baseado em traços funcionais (altura da planta e exigências para a germinação): mais fácil desenvolver um modelo geral André V.F. Jardim, 2008 Resposta Função Traço Climática Efeito Recursos solo Distúrbio * * Ciclagem nutrientes fecundidade dispersão massa da semente recrutamento intercepção de luz habilidade competitiva reabsorção de nutrientes decomposição da serapilheira absorção de nutrientes e água altura * * * * longevidade foliar * * * * distribuição da raiz * * * * André V.F. Jardim, 2008 Traços funcionais e respostas a gradientes ambientais clima recursos do solo CO2 água sombreamento distúrbio forma de vida AFE ciclo de vida CER TCR ciclo de vida atributos foliares conteúdo de matéria seca da folha (CMSF) taxa de crescimento relativo (TCR) diâmetro e arquitetura da raiz morfologia da folha altura e arquitetura da planta profundidade da raiz composição química da folha via fotossintética --- morfologia da raiz capacidade de rebrotamento --- --- massa da semente atributos da semente comprimento espalhamento específico da lateral da raiz raiz (CER) André V.F. Jardim, 2008 Níveis de classificação funcional de plantas 1. funções da planta (recrutamento, economia de água) 2. gradiente(s) (disponibilidade distúrbio, clima) 3. estrutura da comunidade (competição interespecífica) 4. processos no ecossistema (ciclos biogeoquímicos, produtividade primária, decomposição de serapilheira) 5. dinâmica de paisagem 6. modelagem de vegetação (regional e global) traços funcionais ecofisiologia ⇆ modelagem (global) ambiental(is) de nutrientes, André V.F. Jardim, 2008 • classificação funcional universal? – objetivo do estudo – escala do estudo (local, regional, global) – processo do ecossistema – fator ambiental • lista de atributos funcionais – respostas e efeitos-chave da vegetação em várias escalas – mensuráveis (medição prática, barata e padronizada) – quantificáveis para ↑ número de espécies – correlacionados com traços mais acurados (mas difíceis) • massa da semente (fácil) persistência da semente (difícil) • forma da semente (fácil) André V.F. Jardim, 2008 Exemplo O esquema de estratégia ecológica folha-altura-semente: uma comparação entre duas guildas de dispersão em uma área disjunta de cerrado sensu stricto André Vitor Fleuri Jardim Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio Batalha - Dep. Botânica PPG-ERN-Ufscar André V.F. Jardim, 2008 O esquema Folha-Altura-Semente - FAS (Westoby 1998) Área foliar específica (AFE) Altura Massa da semente espécies dispersas por agentes abióticos (vento, gravidade): espécies dispersas por agentes bióticos (animais): ↓ AFE (↑ luz) ↑ altura (queda lenta da semente) ↓ massa da semente (queda lenta da semente) ↑ AFE ↓ altura ↑ massa da semente André V.F. Jardim, 2008 • processo de dispersão: amostragem difícil AFE, altura e massa da semente (atributos de fácil medição) ↷ modo de dispersão: facilitação da comparação entre estratégias ecológicas de plantas e os experimentos de campo André V.F. Jardim, 2008 André V.F. Jardim, 2008 André V.F. Jardim, 2008 Resultados do estudo • 11 espécies – 3 abioticamente dispersas Bauhinia rufa Dalbergia miscolobium Anadenanthera falcata Manoel Cláudio da Silva Júnior (2005) André V.F. Jardim, 2008 Resultados do estudo – 8 bioticamente dispersas modificado de Silva Júnior (2005) Rapanea guianensis Miconia rubiginosa (modificado de Durigan et al. 2004) Didymopanax vinosum (modificado de Durigan et al. 2004) Xylopia aromatica André V.F. Jardim, 2008 Resultados do estudo Ocotea pulchella Myrcia lingua Erythroxylum pelleterianum Miconia albicans (modificado de Durigan et al. 2004) André V.F. Jardim, 2008 Resultados do estudo • AFE, altura e massa da semente não se relacionaram com os grupos de dispersão • nenhuma das variáveis estudadas pôde prever a guilda de dispersão André V.F. Jardim, 2008 Conclusões do estudo • qualidade nutricional do solo – esclerofilia – alturas similares – sementes abioticamente dispersas com massa maior do que esperada • profundidade da raiz, estratégia de captação de nutrientes • mais espécies André V.F. Jardim, 2008 Modelagem de vegetação (Box, 1981) • previsão da distribuição da vegetação (relação com condições ambientais) • vegetação – taxonomicamente: conjunto de espécies – funcionalmente (ecofisionomicamente: estrutura da planta ↔ ambiente): conjunto de formas de vida • vegetação (padrões estruturais, funcionais e geográficos) ↔ clima • adaptação das plantas ao ambiente: balanço de água e energia André V.F. Jardim, 2008 • forma de vida → processos fisiológicos primários (balanço de água e energia) – tamanho: biomassa respirada – tamanho e forma da folha: superfície de transpiração e de fotossíntese – hábito foliar: variações estacionais • características determinantes da forma de vida: – – – – – – classe geral de forma de vida (árvore, arbusto, erva) tamanho da planta (altura) tipo de folha (larga, estreita) tamanho da folha estrutura da superfície foliar (esclerófila, suculenta) hábito fotossintético estacional (sempre-verde, semidecídua) André V.F. Jardim, 2008 • formas de vida = unidades de vegetação • 90 formas de vida: tentativa de representação dos principais tipos de vegetação no mundo • tipos de formações vegetais = combinações hierárquicas de formas de vida • modelo: formas de vida ↔ variáveis climáticas (envelopes climáticos) Box (1981) clima da região de distribuição da formação vegetal André V.F. Jardim, 2008 • variáveis climáticas (para cada forma de vida): 1. 2. 3. temperatura média do mês mais quente (°C) (TMAX) temperatura média do mês mais frio (°C) (TMIN) intervalo anual das temperaturas médias mensais (°C) (TMAX TMIN) (DTY) 4. precipitação média anual (mm) (PRCP) 5. índice de umidade anual [PRCP / (temperatura média anual x 58.93) (estimativa de Thornthwaite da evapotranspiração potencial anual)] (MI) 6. maior precipitação média mensal (mm) (PMAX) 7. menor precipitação média mensal (mm) (PMIN) 8. precipitação média do mês mais quente (mm) (PMTMAX) 9. biotemperatura (Holdridge): soma das temperaturas médias mensais acima de 0°C, dividida por 12 (BT) 10. temperatura mínima absoluta (TABMIN) André V.F. Jardim, 2008 Box (1981) • • • em que medida os padrões de vegetação são limitados por fatores climáticos ao invés de outros fatores (desenvolvimento histórico, relações florísticas, interações biológicas, solo, influência antrópica)? dados climáticos de 1225 locais (teste) → previsão da distribuição mundial das formas de vida e dos tipos de vegetação dados climáticos de 74 locais adicionais (validação) – previsão correta de formas de vida dominantes (dentre outras) = 92% – previsão exata de formas de vida dominantes = 50% André V.F. Jardim, 2008 Conclusões do modelo (Box, 1981) • modelo de formas de vida prevê com ↑ acurácia a estrutura e a distribuição da vegetação global • combinação de formas de vida traduz a estrutura e a função do ecossistema • condições macroclimáticas são mais importantes que outros fatores na determinação da estrutura ecológica geral André V.F. Jardim, 2008 Modelagem da vegetação sob mudança climática • aquecimento global vs Amazônia – ↑ temperatura → ↑ evapotranspiração → ↓ umidade (solo) + ↑ estação seca → savanização (floresta amazônica ↷ cerrado) (?) • Salazar et al. (2007): – distribuição de floresta amazônica e cerrado vs aquecimento global – modelos climáticos (IPCC) + 2 cenários de emissão de CO2 vs modelo de vegetação (floresta amazônica e cerrado) • CPTEC-PVM: variáveis ambientais (precipitação + temperatura) ↔ bioma – 2100: floresta (↓ 8,2 ou 18%) ↷ cerrado (13,4 ou 30,2%) (sudeste da Amazônia): savanização André V.F. Jardim, 2008 Salazar et al. (2007) • incerteza dos modelos climáticos (precipitação) • classificação da vegetação – 12 biomas – unidade = bioma • intacto • migra como um todo, diante das mudanças climáticas E as espécies que fazem parte do mesmo bioma e podem ter respostas distintas às mudanças ambientais? André V.F. Jardim, 2008 Box (1981) • unidade = tipo funcional de planta (espécies agrupadas de acordo com sua resposta ao e seu efeito no ambiente) • bioma = interação dos tipos funcionais constituintes • previsão da distribuição das formas de vida (e da combinação delas) diante de um quadro de mudanças climáticas mudança dos valores das variáveis climáticas do modelo – distribuição da vegetação “antes” e “depois” André V.F. Jardim, 2008 “Projeto formas de vida” (A) (Box, 1981) • quais serão as potenciais combinações de formas de vida, nas áreas de cerrado e de floresta amazônica (fronteira), diante dos cenários climáticos previstos? • há tendência de mudança da combinação de formas de vida nas áreas de floresta e nas áreas de cerrado (fronteira)? • suposição: cerrado e floresta amazônica possuiriam combinações distintas de formas de vida André V.F. Jardim, 2008 Etapas do “Projeto formas de vida” • listas de espécies de cerrado e de floresta amazônica (região de fronteira) com localização geográfica • variáveis climáticas atuais da região de ocorrência de cada bioma • classificação de cada espécie segundo as formas de vida propostas por Box (1981) • associação das variáveis climáticas atuais a cada forma de vida André V.F. Jardim, 2008 • combinação hierárquica das formas de vida para a discriminação dos dois tipos de vegetação: cerrado e floresta • modelagem da distribuição atual e futura das formas de vida dominantes de cada bioma consideração: modelo de Box (1981) → global (grosseiro p/ a área de estudo?) André V.F. Jardim, 2008 “Projeto B: espécies” • há tendência de mudança da combinação de espécies das áreas de floresta e das áreas de cerrado (fronteira)? • modelagem de distribuição de espécies de cerrado e de floresta amazônica por meio de envelopes climáticos, diante dos cenários climáticos previstos na região de fronteira entre os dois domínios • envelope climático para cada espécie de cada bioma • não adota a classificação funcional de plantas André V.F. Jardim, 2008 Etapas do “Projeto savanização (B)” • classificação de cada espécie segundo as formas de vida propostas por Box (1981) • associação das variáveis climáticas atuais a cada forma de vida espécie (“específica”) • combinação hierárquica das formas de vida para a discriminação dos dois tipos de vegetação: cerrado e floresta André V.F. Jardim, 2008