XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. CAPRINOCULTURA NO NORDESTE DO BRASIL E EM PERNAMBUCO Matheus Landim de Souza1, Alessandra Carla Ceolin2 Introdução A caprinocultura é uma das práticas pecuárias mais antigas do Brasil, cuja origem remonta aos tempos da ocupação portuguesa. Ocorre em todas as cinco grandes regiões do país, mas é mais presente no Nordeste. Essa é uma característica da criação do gado caprino brasileiro que não se dá por pura preferência, no entanto. Uma vez conhecidas as configurações geossociais nordestinas, encontra-se parte dos motivos pelos quais nove entre dez cabeças do gado caprino brasileiro estão nessa região (IBGE, 2012). Entre alguns dos fatores favoráveis à caprinocultura no Nordeste, estão a adequação aos agroecossistemas do semiárido por parte do gado, a baixa necessidade de capital inicial, a capacidade de acumulação de renda em pequena escala, o elevado potencial de geração de ocupações produtivas, a fácil apropriação sociocultural, e, a oferta de produtos com grande apelo em novos mercados (Hollanda Júnior; Martins, 2008). A área do Nordeste brasileiro é de 1.561.177,8 km², o equivalente a, aproximadamente, 18% do território nacional. A maior parte do território da região está sob a influência do clima semiárido, caracterizado por um conjunto de fatores que a leva a uma forte deficiência hídrica: baixo índice pluviométrico anual, entre 200 mm e 800 mm (ASA Brasil, 2013) e irregularidade do regime de chuvas; alta taxa de evaporação, entre 1000 mm e 3000 mm anuais (EMBRAPA, 2011); baixa umidade; alto escoamento superficial das águas; e alta temperatura média: 26º C (FUNDAJ, 2013). É interessante notar que o semiárido é o clima predominante da Região Nordeste (abarca oito dos nove estados, com exceção do Maranhão), mas não está limitado à mesma, pois também se estende pelo norte de Minas Gerais, completando uma área de cerca de 900.000 km² do território nacional (BNB, 2013). Pernambuco se distribui por uma área de 98.148,323 km² (IBGE, 2012). Sua população em 2010 era de 8.796.448 de pessoas (4,6% da população nacional) distribuídas por 185 municípios. Cerca 80,2% da população reside em áreas urbanas e 19,8% em zonas rurais. O território pernambucano se divide em cinco mesorregiões: a Região Metropolitana do Recife, a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Sertão do São Francisco. Sobre essas cinco mesorregiões atuam predominantemente dois climas, o tropical atlântico na área litorânea e o semiárido no interior, esse último em especial sobre partes do Agreste e sobre a maior parte do(s) Sertão(ões) (IBGE, 2013; MAPA, 2013). O bioma característico do semiárido é a caatinga, presente apenas no Brasil. A interação com o clima favorece a predominância de vegetais arbustivos, de galhos retorcidos e raízes profundas, adaptados à capacidade de retenção da água disponível e à perda das pequenas folhas, a fim de que as plantas conservem energia e evitem a perda da água por evaporação. Dados da Embrapa (2013) indicam que 824.000 km² são cobertos por essa vegetação, utilizada como a principal fonte de alimentação para a maioria dos rebanhos caprinos. Material e métodos O presente trabalho foi realizado com base em dados secundários, caracterizando-se como uma pesquisa bibliográfica e exploratória, que apesar de apresentar informações da cadeia de forma quantitativa, possui um caráter mais qualitativo. De acordo com Furasté (2007), a pesquisa bibliográfica baseia-se fundamentalmente no manuseio de obras literárias impressas ou capturadas via internet. Para o autor, quanto mais completas e globalizadas forem as fontes bibliográficas consultadas, melhores serão os resultados e a pesquisa alcançará maior profundidade. Já a pesquisa exploratória é aquela que busca aprimorar informações sobre o estudo em questão (Furasté, 2007). Malhorta (2001) argumenta que a pesquisa qualitativa caracteriza-se uma metodologia não estruturada, exploratória, que visa proporcionar uma compreensão geral do contexto do problema. E, para Vergara (2010), a pesquisa qualitativa tem como objetivo explorar um ambiente, visando ao levantamento de informações para definição de problemas ou oportunidades de melhorias. Dessa forma, para o desenvolvimento desse estudo, foram realizadas coletas de dados que envolvem pesquisas bibliográficas sobre o tema, incluindo livros, teses, dissertações, artigos, legislação, internet, fontes de dados, como as do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos e associações de criadores, além de análise e sistematização dos dados e informações coletados 1 Primeiro Autor é aluno do Curso de Graduação em Administração, Departamento de Administração, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos - Recife-PE - CEP. 52171-900 E-mail: [email protected] 2 Segundo Autor é Professor Adjunto do Departamento de Administração Departamento de Administração, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos - Recife-PE - CEP. 52171-900. E-mail: [email protected] XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. durante as pesquisas. Resultados e Discussão A região semiárida dos estados nordestinos apresenta grandes limitações com relação às atividades agropecuárias. A irregularidade das precipitações pluviais associada às temperaturas elevadas durante o dia e às características físicas dos solos, de forma geral, rasos e pedregosos, apresenta-se como fator limitante da produção agropecuária, seja influenciando diretamente a fisiologia dos animais, seja afetando a produção vegetal destinada a alimentação do rebanho (Goulart; Favero, 2011). Mesmo com este cenário adverso, o Nordeste brasileiro destaca-se na exploração de ruminantes domésticos, sobretudo na criação de ovinos e caprinos (MAPA, 2013). A caprinocultura, atividade presente em quase todos os países, é citada, frequentemente, como das atividades mais indicadas para a região semiárida brasileira. Alguns aspectos devem ser observados: (a) a irregularidade climática torna a atividade agrícola de alto risco, reforçando a vocação pecuária, determinada desde o processo inicial de ocupação da porção semiárida do Nordeste, a partir de meados do século XVII; (b) a predominância da caprino ou ovinocultura em outras regiões semiáridas, como Espanha, Grécia, Austrália, por exemplo; (c) a adequação dessa atividade à pequena produção e à produção familiar devido à menor necessidade de capital para implantação e manutenção da caprinocultura, em relação à bovinocultura; e (d) a existência de mercado local e regional, devido ao consumo generalizado, no interior, da carne de ovinos e caprinos (Sampaio et al., 2001). A região Nordeste se distribui por menos de 20% do território brasileiro, mas concentra aproximadamente 91% do rebanho nacional de caprinos (IBGE, 2013). Abrange uma área total de 166,2 milhões de hectares, dos quais 95,2 milhões (57%) estão inseridos na zona semiárida. 50% dos efetivos dos rebanhos estão localizados em propriedades com até 30 hectares; 29% em propriedades entre 31 e 200 hectares e apenas 21% em propriedades com mais de 200 hectares (Couto Filho, 2001). Sampaio et al. (2011) observaram uma interessante correlação entre o tamanho dos rebanhos e dos estabelecimentos em que esses se encontram. Essa distribuição, em Pernambuco, é semelhante à conformação brasileira: 92,9% dos caprinocultores estão localizados em estabelecimentos com menos de 100 hectares. Nas condições do semiárido, esta é área considerada pequena, não permitindo obter uma renda superior a dois salários mínimos per capita. A caprinocultura nordestina é caracterizada em sua grande maioria pelo sistema extensivo de manejo. O sistema de criação adotado na região é também conhecido como sistema tradicional, apresenta-se geralmente em grandes áreas cujo rebanho é composto de animais sem raça definida ou por raças nativas. Há pouca especialização e produtividade (Santos, 2001). Contudo, a exploração de caprinos tem elevada importância social e econômica para a população rural e para a própria estrutura econômica das regiões onde é desenvolvida (Nogueira Filho & Kasprzykowski, 2006). Segundo informações do IBGE (2013), dos 9.384.894 de caprinos no Brasil em 2011, Pernambuco ocupa o segundo lugar com o maior efetivo e participações relativas, com 1.925.778 (20,5%), perdendo apenas para Bahia que possui 2.741.818 (29,2%) desse rebanho. Assim, esses dois Estados possuem juntos 4.667.596 de cabeças, aproximadamente metade (49,7%) do percentual nacional. A nível municipal, a região nordeste também apresenta números expressivos. Dos municípios com os vinte maiores efetivos do país, todos são localizados no Nordeste: onze se localizam em Pernambuco e oito na Bahia; um, Tauá, não se localiza em nenhum dos dois estados, mas no Ceará. Doze possuem entre 50.000 e 99.999 cabeças; sete apresentam rebanhos entre 100.000 e 199.999 cabeças; o único com mais de 200.000 cabeças, Casa Nova, é localizado na Bahia (IBGE, 2011). Conforme IBGE (2013), em termos absolutos, o interior do estado de Pernambuco concentra os maiores efetivos. O Sertão Pernambucano engloba a maior parte do território de Pernambuco e concentra o maior efetivo: quase um milhão de cabeças, aproximadamente 47% do rebanho do estado. O São Francisco Pernambucano aparece em segundo lugar, com pouco mais de 750.000 cabeças, quase 40% do rebanho. Os cinco maiores produtores municipais do estado encontram-se nessas duas regiões e concentram, aproximadamente, 35% do efetivo estadual: Floresta, Sertânia, Petrolina, Ibimirim e Custódia. A Região Metropolitana do Recife aparece em último lugar, com menos de 1% do efetivo estadual. De 2002 a 2011, apesar de algumas flutuações, percebe-se uma tendência crescente na participação dos rebanhos pernambucanos dentro do efetivo nacional, apresentando variações entre 15,3% e 20,5% (Tab. 1). A nível regional, o menor índice de Pernambuco no referido intervalo de tempo foi de 16,4%, em 2004, quando o estado tinha um efetivo de caprinos estimado em 1,53 milhões de cabeças; no mesmo ano, a Bahia continha quase 4 milhões de cabeças, e o Piauí quase 1,5 milhão. A caprinocultura se mostra como atividade característica fortemente ligada à economia e ao agronegócio nordestinos. Pernambuco possui uma forte liderança no setor. No entanto, as informações ainda são escassas, demonstrando a XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. necessidade de mais estudos com uma análise mais profunda e que gere conhecimento, auxiliando no agenciamento de políticas públicas que fortaleçam e aumentem a eficiência produtiva da caprinocultura. Agradecimentos Agradecemos UFRPE e ao CNPq pela oportunidade de realização dessa pesquisa. Referências ASA Brasil. Articulação Semiárido Brasileiro. Caracterização do semiárido brasileiro. Disponível em: <http://www.asabrasil.org.br/portal/Default.asp>. Acesso em: 15 out. 2013. BNB. Banco do Nordeste. Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste, Central de Informações Econômicas, Sociais e Tecnológicas. Evolução da Pecuária na Região Nordeste 2000 a 2010. Disponível em: <http://www.bnb.gov.br/content/ aplicacao/etene/etene/docs/evolucao_pecuaria_regiao_nordeste_2000_2010.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2013. Couto, F.A.A. Importância econômica e social da ovinocaprinocultura brasileira In: CNPq. Apoio à cadeia produtiva da ovinocaprinocultura brasileira. Relatório Final, Brasília, 2001. 69 p. EMBRAPA. SISPRO - Sistema de Produção de Caprinos e Ovinos de Corte para o Nordeste Brasileiro. 2011. Disponível em: <http://www.cnpc.embrapa.br/?pg=orientacoes_ tecnicas&uiui=mercado>. Acesso em: 18 ago. 2013. FUNDAJ. Fundação Joaquim Nabuco. Semiárido: proposta de convivência com a seca. Disponível em: < http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=659&Itemid=376>. Acesso em: 25 ago. 2013. Furasté, P. A. Normas técnicas para o trabalho científico: elaboração e formatação. 14. ed. Porto Alegre: s/n, 2007. Goulart, D. F.; Favero, F. A. A cadeia produtiva da ovinocaprinocultura de leite na região central do Rio Grande do Norte: estrutura, gargalos e vantagens competitivas. Revista em Agronegócios e Meio Ambiente, v.4, n.1, p. 21-36, jan./abr. 2011. Holanda Júnior, V.; Martins, E. C.. Análise da produção e do mercado de produtos caprinos e ovinos: o caso do território do sertão do Pajeú em Pernambuco. Infoteca EMBRAPA. 2008. Disponível em: < http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/>. Acesso em: 25 out. 2013. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Índice de Produção Pecuária: produção da pecuária municipal. Dados de 2002 a 2011. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Pecuaria/Producao_da_Pecuaria_Municipal/>. Acesso em: 22 ago. 2013. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção da Pecuária Municipal (Economia, Agropecuária, Produção Pecuária). Dados 2004 a 2011. 2012. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=21>. Acesso em: 22 ago. 2013. Malhotra, N. Pesquisa em Marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Caprinocultura. Disponível em: <www.agricultura.gov.br>. 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Efetivo Ano caprino de Pernambuco e participações nos efetivos nacional e regional - 2002 a 2011 Efetivo de caprinos Participações no efetivo total Participações no efetivo total (cabeças) nacional (%) regional (%) 2011 1.925.778 20,5 22,6 2010 1.735.051 18,6 20,5 2009 1.638.514 17,9 19,7 2008 1.720.128 18,4 20,2 2007 1.595.069 16,9 18,5 2006 1.685.845 16,2 17,5 2005 1.601.522 15,5 16,8 2004 1.533.132 15,3 16,4 2003 1.511.906 15,8 17,0 2002 1.485.805 15,8 16,9 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal, 2012.