Desafios do atendimento pré-hospitalar ao paciente somatizador

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Desafios do atendimento pré-hospitalar ao paciente somatizador impostos à equipe de saúde1
Challenges of the prehospital patient somatizador imposed on staff health
Desafíos de la somatizador paciente prehospitalaria impuestas al personal salud
Gomes Bruna Lauanne Borges Dias2, Oliveira Patrícia Silva de2, Brasileiro Marislei Espíndula3.
Desafios do atendimento pré-hospitalar ao paciente somatizador impostos à equipe de saúde.
Revista Eletrônica de Enfermagem do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição [serial online] 2013 ago-dez 4(4) 1-14. Available from: <http://www.ceen.com.br/revistaeletronica>.
Resumo
Objetivo: Identificar os desafios do atendimento pré-hospitalar ao paciente somatizador impostos
à equipe de saúde e descrever o perfil, manejo e tratamento de pacientes com esse transtorno.
Materiais e Método: Estudo do tipo bibliográfico, descritivo, exploratório, com análise integrativa
da literatura disponível em bibliotecas convencionais e virtuais. Resultados: Identificou-se que o
perfil do paciente somatizador é de difícil caracterização devido à 3 fatores determinantes: difícil
identificação e diagnóstico, despreparo da equipe de saúde no atendimento a esses pacientes e
a falta de homogeneidade entre os termos definidores da doença. Em relação ao manejo e
tratamento fica evidente a discrepância entre os tratamentos padrão recomendados a esses
pacientes no serviço pré-hospitalar, e que devido a isso, esses abarrotam os cenários de saúde
não especializados, gerando grandes encargos financeiros e lentificando o sistema. Conclusão:
Na realização dos atendimentos aos pacientes em todos os setores da saúde, os profissionais
devem manter-se atentos e investigar a presença do conjunto de características peculiares do
paciente com somatização, em caso de diagnóstico positivo da patologia, oferecer adequado
tratamento a esse paciente inclusive o encaminhando ao serviço especializado caso necessário,
de fato o atendimento a esses pacientes é desafiador e nem de longe é o adequado, mas
independente desse fator, de nada adianta um tratamento de qualidade se o paciente não
compreender e aceitar a sua patologia, aderindo voluntariamente ao tratamento, para que
mesmo não conseguindo a cura, ainda assim, obtenha alguma qualidade de vida.
Descritores: somatização, atendimento, equipe, saúde, pré-hospitalar.
Summary
1
Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Enfermagem em emergência e urgência, turma nº15, do
Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição/Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
2
Enfermeiras,
especialistas
em
emergência
e
urgência,
e-mail:[email protected],
patrí[email protected]
3
Doutora em Ciências da Saúde – FM-UFG, Doutora – PUC-Go, Mestre em Enfermagem - UFMG, Enfermeira,
Docente do CEEN, e-mail: [email protected]
2
Objective: To identify the challenges of the prehospital patient somatizador taxes the health
team and describe the profile, management and treatment of patients with this disorder.
Materials and Methods: the bibliographical, descriptive, exploratory, integrative analysis of
available literature on conventional and virtual libraries. Results: It was found that the patient's
profile somatizador is difficult to identify due to 3 factors: identification and diagnosis difficult,
unprepared team of health care to these patients and the lack of homogeneity between the
terms defining pathology. In relation to the management and treatment is evident discrepancy
between the standard treatments recommended for these patients in pre-hospital, and that
because of this, they cram the non-health care settings, generating huge financial burden and
slowing the system. Conclusion: In the implementation of care to patients in all sectors of health
professionals must remain alert and investigate the presence of a set of peculiar characteristics
of patients with somatization, in case of positive diagnosis of the condition, provide adequate
treatment to this patient , including forwarding to specialized service if needed, in fact, the care
of these patients is challenging and not nearly adequate, but regardless of this factor is useless
quality treatment if the patient does not understand and accept their condition , adhering to the
treatment voluntarily, so that even failing to cure still get some life quality.
Descriptor: somatization, service, staff, health emergency.
Resumen
Objetivo: Objetivo: Identificar los retos de los pacientes prehospitalarios impuestos somatizador
el equipo de salud y describir el perfil, la gestión y el tratamiento de los pacientes con este
trastorno. Materiales y métodos: la bibliografía descriptiva exploratoria, análisis, integración de
la literatura disponible en las bibliotecas convencionales y virtuales. Resultados: Se encontró
que el perfil somatizador del paciente es difícil de identificar debido a 3 factores: la identificación
y el diagnóstico difícil, sin preparación del equipo de asistencia sanitaria a estos pacientes y la
falta de homogeneidad entre los términos que definen la patología. En relación con la gestión y
el tratamiento es discrepancia evidente entre los tratamientos estándares recomendados para
estos pacientes en pre-hospitalaria, y que debido a esto, que abarrotan los centros de atención
no sanitarios, generando enorme carga financiera y ralentizar el sistema. Conclusión: En la
aplicación de la atención a los pacientes en todos los sectores de profesionales de la salud debe
permanecer alerta e investigar la presencia de un conjunto de características peculiares de los
pacientes con somatización, en caso de diagnóstico positivo de la condición, proporcionar un
tratamiento adecuado para este paciente , incluido el reenvío de servicio especializado si es
necesario, de hecho, el cuidado de estos pacientes es difícil y no tan adecuada, pero
independientemente de este factor es la calidad del tratamiento inútil si el paciente no entiende
y acepta su condición , la adhesión al tratamiento voluntariamente, de modo que incluso no
para curar aún así obtener una cierta calidad de vida.
Descriptor: somatización, el servicio, el personal de emergencia médica.
3
1 Introdução
O interesse em pesquisar a respeito dos desafios do atendimento pré-hospitalar ao
paciente somatizador impostos à equipe de saúde, surgiu com a dificuldade das autoras em
lidar com portadores dessa síndrome complexa na prática cotidiana do atendimento às
emergências e urgências.
O termo somatização surgiu na língua portuguesa e inglesa a partir de 1980, mas já era
utilizado anteriormente sendo precedido pelo termo somatoforme, que veio da união de dois
radicais, um Grego sõma que significa “corpo inanimado” e o outro surgiu do Latim, -formis
que em português faz alusão a “de forma semelhante à”, fazendo menção a algum elemento
“não corpóreo” ou que se “corporifica”, seja o termo, nomeado como fenômeno (somatização)
ou acusado através de um adjetivo a sua presença (somatoforme)
(1)
.
Somatização é uma tendência de manifestar conflitos e angústias psicológicas por meio
de sintomas corporais sem base orgânica
(1-3)
. Esse termo atualmente tem diversas
conotações, dependendo do contexto em que é empregado
(2)
.
Sendo conhecido de maneira informal como "piti” ou “peripaque”, a somatização está
descrita nos manuais de classificação de transtornos mentais como transtornos somatoformes
conversivos e dissociativos, e mais sumariamente, como sintomas médicos inexplicáveis
(3)
.
Durante a prática clínica, o diagnóstico ocorre geralmente através da exclusão de outras
doenças, e sua expressão vai desde sintomas leves até queixas mais graves
(4)
.
As unidades pré-hospitalares ou de emergência e urgência destinam-se a prestar
assistência imediata a pacientes que possuem afecções agudas. No contexto da saúde mental,
emergência se refere a qualquer perturbação de pensamento, sentimento ou comportamento
em que a pessoa se encontra, causando um funcionamento geral do organismo prejudicado,
no qual o indivíduo se torna incapaz de assumir responsabilidades pessoais, necessitando de
intervenções que protejam sua vida e a dos que o cercam
(5-7)
.
O enfermeiro compõe a equipe de atendimento pré-hospitalar assumindo em conjunto
com a equipe a responsabilidade pela assistência prestada, atua em ambientes diversos, com
limite de tempo que exige decisão imediata baseada em conhecimento e rápida avaliação,
também participa do diagnóstico das necessidades do paciente, define prioridades, inicia
intervenções e estabilização, dentre outras ações
(8)
.
A presença de pacientes com sintomas sem base orgânica correspondente foi descrita
em uma pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (USP), que analisou os prontuários de atendimentos médicos realizados no
período de 1996 a 2004. Verificou-se que 38,2% dos atendimentos tiveram como diagnóstico o
4
transtorno de somatização, sendo que 29% do total de atendimentos ocorreu na unidade de
emergência e urgência do referido serviço hospitalar
(9)
.
No ano de 2012, os dados relacionados à morbidade por transtorno somatoforme no
Sistema Único de Saúde até o mês de novembro, demostraram que a região sudeste é mais
ocorrente com 86 casos relatados, seguida pela região sul com 46 casos e depois o nordeste
com 16 casos. Na região centro oeste foram descritos 23 casos e fica por conta da região norte
a menor ocorrência com apenas um 1 caso
(10)
.
Em Goiás, de janeiro a novembro do ano de 2012, foram relatados apenas seis casos
de somatização que evoluíram para internações, cinco deles ocorridas na capital Goiana
(10)
.
Estudos têm apresentado descobertas importantes a respeito da somatização, como ser
muito comum nos serviços de atendimento primário, gerar elevados gastos à área da saúde,
ser de difícil diagnóstico e terapêutica, além de causar frustração dos profissionais e dos
pacientes por não receberem tratamento adequado e consequentemente evoluírem seus
quadros para um prognóstico desfavorável
(3)
.
Os próprios profissionais reconhecem que existem falhas na abordagem ao paciente
somatizador, sugerindo que mudanças devam ser implementadas, tais com: a educação
permanente em saúde mental, o desenvolvimento de novos estudos a respeito do assunto no
sentido de desvendar a somatização e simplificar o diagnóstico, facilitando o manejo do
paciente
(3, 11)
.
Nesse contexto, o enfermeiro, possui um papel importante, cabe a ele privativamente,
o planejamento, a execução, a coordenação e a avaliação dos serviços de assistência de
enfermagem, sendo responsável pela qualidade do atendimento. Cabe ainda, a educação
permanente de seus colaboradores e a educação continuada da população, visando a melhoria
do atendimento à saúde da mesma
(12)
.
É dever do profissional de enfermagem também, disponibilizar os resultados de
pesquisas para a comunidade científica e sociedade em geral, bem como aprimorar os
conhecimentos técnicos, científicos, éticos e culturais, em benefício da pessoa, família e
coletividade e do desenvolvimento da profissão
(13)
.
Diante disso surge o questionamento: Quais os desafios do atendimento pré-hospitalar ao
paciente somatizador impostos à equipe de saúde?
O que se espera através desse estudo é que sejam desvendados os desafios
enfrentados pela equipe de saúde ao atender pacientes nessa condição e caracterizar a
atuação profissional que vem sendo realizada, descrita na literatura nacional.
5
A variação de prevalências e os custos associados à somatização demonstram a
importância e a necessidade de uma melhor compreensão e reconhecimento dessa condição
por parte dos profissionais de saúde, resultando em benefícios para o serviço e para os
pacientes
(3)
.
Ao promover expansão da ciência a respeito do tema, vislumbra-se que estudos futuros
possam por ele ser norteados. Esperando-se que surjam resoluções cada vez mais pautadas
na cientificidade, proporcionando uma prática profissional efetivamente segura, ética e digna
para esses pacientes.
2 Objetivos
2.1 Objetivo geral
Detectar os desafios do atendimento pré-hospitalar ao paciente somatizador impostos à
equipe de saúde.
2.2 Objetivos específicos
Identificar o perfil dos pacientes com somatização.
Descrever o manejo e tratamento oferecidos ao paciente com somatização relatados
nas literaturas revisadas.
3 Materiais e Método
Trata-se de um estudo do tipo bibliográfico, exploratório, descritivo com análise
integrativa.
O estudo bibliográfico, ou de fontes secundárias, abrange toda a bibliografia já tornada
pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas,
livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, dentre outros, tendo por finalidade
colocar o pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre
determinado assunto
(14)
.
O estudo descritivo-exploratório tem como objetivo proporcionar maior familiaridade
com o problema apresentado, com o objetivo de torná-lo mais explícito, e ao mesmo tempo
descrever as características do fenômeno estudado
(15)
.
A análise integrativa consiste na construção de uma análise ampla da literatura,
contribuindo para discussões sobre métodos e resultados de pesquisas, assim como reflexões
6
sobre a realização de futuros estudos. O objetivo inicial desse método é obter um profundo
entendimento de um determinado fenômeno baseando-se em estudos anteriores
(16)
.
Após a definição do tema foi feita uma busca em bases de dados virtuais em saúde,
Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) – Bireme e Bancos de Teses da Universidade de São Paulo
(USP), utilizando como descritor o termo somatização, tendo enquanto critério de inclusão
serem publicados em bases de dados e como critérios de exclusão, encontrar-se em língua
portuguesa, a partir do ano 2000 e responderem aos objetivos da revisão, sendo localizados
41 documentos.
O passo seguinte foi uma leitura superficial das publicações encontradas na literatura
científica e técnica da área de ciências da saúde em geral, composta pelos sites LILACS
(Sistema Latino-Americano e do Caribe de informação em Ciências da Saúde), MEDLINE
(National Library of Medicine), Scielo (Scientific Electronic Library online), IBECS (Índice
Bibliográfico Espanhol em Ciências da Saúde) e Biblioteca Cochrane, juntamente com as teses
da USP, o que resultou em uma redução dos documentos selecionados para 27, que se
mostraram de relevância para atender os objetivos da pesquisa.
Realizada a leitura exploratória e seleção do material restaram nove documentos que
respondiam aos critérios de inclusão e exclusão, instaurou-se então a leitura analítica das
obras selecionadas que possibilitou a organização das ideias por ordem de importância e a
sintetização destas, que visou a fixação das ideias essenciais para a solução do problema da
pesquisa.
Após a leitura analítica iniciou-se a leitura interpretativa, que tratou do comentário feito
pela ligação dos dados obtidos nas fontes ao problema da pesquisa e conhecimentos prévios.
Na leitura interpretativa houve uma busca mais ampla de resultados, unindo o problema da
pesquisa a possíveis soluções. Feita a leitura interpretativa iniciou-se a tomada de
apontamentos que se referiram a anotações considerando os objetivos da pesquisa,
ressalvando as ideias principais e dados mais importantes.
A partir de tais anotações, foram confeccionados fichamentos estruturados em um
documento do Microsoft Word, que objetivaram a identificação das obras consultadas, o
registro do conteúdo e a formação de observações acerca das obras com posterior ordenação
dos registros. Os fichamentos propiciaram a construção lógica do trabalho possibilitando a
criação de duas categorias: perfil do paciente somatizador e manejo e tratamento do paciente.
A seguir, os dados apresentados foram submetidos a análise de conteúdo e os
resultados foram discutidos com o suporte dos documentos provenientes de revistas científicas
e livros para a construção do relatório final e publicação do trabalho no formato Vancouver.
4 Resultados e Discussão
7
Ao se buscar as Bases de Dados Virtuais em Saúde, em Ciência da Saúde em Geral
composto pelos sites LILACS, MEDLINE, BDENF, Scielo, IBECS, Biblioteca Cochrane e no banco
de teses USP utilizando-se o descritor somatização, foram selecionados 9 artigos publicados
após o ano 2000, sendo que, todos foram publicados por médicos e 89% destes autores eram
médicos psiquiatras. Após leitura interpretativa dos mesmos, foi possível identificar a visão de
diversos autores a respeito do paciente somatizador e de seu atendimento no serviço préhospitalar.
4.1 Perfil do paciente Somatizador.
Dos nove artigos utilizados na pesquisa, todos estão em consenso quanto ao fato de
que, o paciente com somatização é aquele que se dirige a uma unidade de saúde
apresentando queixas físicas variadas que não são esclarecidas após investigação, impossíveis
de fingimento ou manipulação, causando comprometimento social e pessoal desse paciente
(1-
4,9, 17-20)
.
Nos artigos analisados (100%), são referidas diversas características do paciente com
essa patologia, sendo apresentadas em consenso entre alguns deles o fato de serem na sua
maioria mulheres em idade produtiva (36%), que procuram diversas vezes o serviço de
atendimento em saúde não especializado (45%), tendo registro de inúmeras consultas
médicas em um curto período de tempo (18%).
Esses pacientes geralmente foram vítimas de algum tipo de violência ou trauma
psicossocial (36%), fazendo questão de se verem ou serem vistos como doentes (18%), na
maioria das vezes possuem outra comorbidade psiquiátrica associada ao seu diagnóstico de
somatização (54%) ou mesmo alguma patologia crônica ou não (45%).
Uma das razões para as mulheres representarem a maior parcela dos indivíduos
somatizadores é o fato de “procurarem mais por assistência médica, além disso, são mais
vulneráveis a esse tipo de patologia devido às mudanças hormonais e a fatores econômicos”
(8)
.
Em uma pesquisa realizada em ambulatórios de São Paulo foi verificado que “os
pacientes somatizadores frequentavam esses e outros ambulatórios com uma intensidade
variável de caso para caso, mas que, no geral transmitem forte impressão da superutilização
dos serviços médicos (19)”.
Os pacientes somatizadores abarrotam o sistema de saúde, procurando o setor que lhes
parecem favorável no momento para resolver seus sintomas, “a demanda de pacientes sem
uma base orgânica identificável é frequente nos serviços de atendimento básico à saúde e
principalmente nos de pronto-atendimento”
(8)
.
8
Percebe-se nos estudos analisados que há “uma relação frequente entre transtorno de
estresse pós-traumático e sintomas somáticos, sugerindo situações em que ocorram riscos
físicos ao indivíduo ou outras situações potencialmente estressantes seguidas de negligência
emocional
(3)
”, assim como a associação com “uma história de abuso sexual ou físico numa
proporção significativa de pacientes
Talvez
relacionado
ao
(4)”
fato
.
de
terem
sofrido
alguma
situação
potencialmente
estressante, também possa ser citado o fato desses pacientes adquirirem uma identidade de
doentes, “fazendo questão de se verem e serem vistos como doentes... parece que, se
deixarem de ser pacientes não saberão bem o que seriam
(2)
”.
Outra característica importante do paciente somatizador é o fato de sua patologia estar
frequentemente associada à outras síndromes psiquiátricas
(20)
. “No tocante a associação com
transtornos mentais, alguns achados nos chamaram a atenção. Em primeiro lugar, o fato de
absolutamente todos os sintomas físicos estarem associados a risco aumentado para pelo
menos algum transtorno mental. Em segundo, de nenhum sintoma reduzir o risco para
transtorno mental (9)”.
Diante de pacientes com tamanha diversidade de características, estes passam a ser
caracterizados como “casos difíceis, com queixas mal definidas que com frequência
apresentam patologias clínicas concomitantemente
(2)
”, patologias essas que, podem ser
apontadas muitas vezes como o fator estressor para o desenvolvimento do Transtorno de
Somatização
(8)
.
Percebe-se nos estudos acima que o paciente com somatização de fato tem uma
doença séria, que deve ser mais creditada e melhor atendida, já que, nas maioria das vezes
ela está relacionada a algum outro fator estressor, seja ele físico, psíquico, emocional ou
cultural, que realmente vem causando danos à saúde desse paciente.
Evidencia que esses pacientes abarrotam os sistemas de saúde não especializados,
devido principalmente ao grande número de retornos em curto período de tempo, ocasionados
pela falta de efetividade dos atendimentos anteriores, gerando grandes encargos com seu
atendimento e lentificando o sistema.
Na realização dos atendimentos aos pacientes em todos os setores da saúde, os
profissionais devem manter-se atentos e investigar a presença do conjunto de características
peculiares do paciente com somatização, em caso de diagnóstico positivo da patologia,
oferecer tratamento adequado a esse paciente, inclusive o encaminhando ao serviço
especializado caso necessário.
9
Concomitantemente como dificultador do atendimento a esses pacientes está o fato de
que eles “são sabidamente de difícil manejo, requerendo preparo técnico específico e
disponibilidade pessoal dos profissionais que os atendem
(2)
”.
4.2 Manejo e tratamento do paciente
É de comum acordo entre todos os nove artigos analisados que o paciente vítima de
somatização é de difícil diagnóstico e manejo devido ao despreparo da equipe de saúde em
atendê-los, ocasionado em grande parte pelas características peculiares desse paciente
(1-4, 9,
17-20)
, assim como, em 55% dos artigos essa dificuldade é exaltada pela falta de consenso
entre as terminologias e categorias nosológicas utilizadas para a classificação e tratamento
desse paciente
(1, 4, 8, 19, 20)
.
Os tratamentos mais utilizados atualmente são o medicamentoso e o psicológico,
mencionados em 55% da literatura encontrada, muitas vezes associados ainda a algum outro
tipo de tratamento
(2- 4, 17, 19)
.
Diante da análise realizada dos artigos é fato que “a somatização é uma realidade
presente em diversas áreas da medicina, mas recebe diferentes denominações, o que dificulta
uma linguagem única, tornando problemáticos o diagnóstico e o tratamento da condição
(3)
”.
Em acordo com isso é possível afirmar que “muitos autores sentem dificuldade para
estudar esse tema devido à sua complexidade, e disso decorrem os diferentes termos que
designam o problema
(8)
”.
Os profissionais que cuidam do atendimento ao paciente somatizador, principalmente o
médico, tiveram treinamento que “baseia-se na identificação e no tratamento de doenças
orgânicas e que não prepara suficientemente o médico para reconhecer e tratar pacientes que
somatizam
(3)
”.
Quanto ao tratamento oferecido a esse paciente, “alguns autores propõem uma
consulta médica psicologicamente enriquecida, com incorporação de técnicas psicoterápicas
básicas, ou seja, uma tentativa de integrar princípios de tratamentos psiquiátrico e psicológico
aos cuidados médicos
(19)
”.
O tratamento medicamentoso está se mostrando de grande importância no tratamento
dos pacientes somatizadores, “embora a farmacoterapia possa muitas vezes ser benéfica, não
aborda os mecanismos da amplificação de sintomas e a necessidade de estar doente associada
à somatização e, portanto, é apenas parte do tratamento
(4)
”.
Analisando os estudos apresentados é possível observar um tripé que dificulta o
atendimento ao paciente com somatização: paciente de difícil diagnóstico,
equipe de saúde
10
despreparada e falta de homogeneidade entre os termos definidores da patologia, como partes
responsáveis por essa dificuldade.
É possível observar ainda que o tratamento do paciente é a longo prazo, com
abordagem terapêutica e medicamentosa, não deixando claro como tratar esse paciente nos
serviços de urgência e emergência, mas levando a subentender que o somatizador deve ser
tratado como qualquer outro paciente doente que necessite de investigação e tratamento.
A vista disso o tratamento oferecido ao paciente somatizador nem de longe é o
recomendado ou ideal para essa enfermidade, sendo realizado com descaso e despreparo por
parte da equipe de saúde.
Paradoxalmente, os pacientes, por vezes são os responsáveis pela dificuldade
encontrada em fornecer-lhes atendimento adequado.
A justificativa para essa afirmação é o fato de que, esses “pacientes buscam explicações
orgânicas para seus sintomas... não querem aderir ao tratamento e não aceitam suas
características como doentes psiquiátricos, esses pacientes geralmente não conseguem
reconhecer que suas angústias têm relação com acontecimentos psicossociais e explicitamente
negam essa possibilidade
(1)
”.
Entende-se que não basta capacitar a equipe de saúde para atender aos somatizadores
ou mesmo oferecer o melhor e mais moderno tratamento medicamentoso e psicológico, se o
paciente não compreender e aceitar a sua patologia, aderindo voluntariamente ao tratamento,
para que, mesmo não conseguindo a cura ainda sim obtenha alguma qualidade de vida.
5 Considerações finais
O objetivo deste estudo foi caracterizar o paciente com transtorno de somatização e
definir as questões desafiadoras para a equipe de saúde no atendimento pré-hospitalar a esse
paciente.
Verificou-se que atender tais pacientes exige qualificação profissional para prestar um
atendimento digno, já que existem dificuldades desde o momento do diagnóstico.
Para que o atendimento do paciente seja eficiente, além do respeito dispensado pelo
profissional é necessário conhecimento tanto para diagnóstico quanto tratamento, a fim de
facilitar seu manejo.
De forma geral, durante a prática profissional existe a carência de qualificação da
equipe, o que deveria ser solucionado através de mais estudos a respeito do assunto, do
desenvolvimento de métodos de abordagem e definições unívocas, que seriam facilitados
11
também pela notificação correta do atendimento prestado a esses pacientes e alimentação dos
bancos de dados para análise em saúde.
O tratamento do somatizador no serviço pré-hospitalar deve ser feito como o de
qualquer paciente que ali adentra, com atenção, respeito e nunca subjugando seu real
sofrimento.
Encaminhar esse paciente para um tratamento especializado se necessário é a maneira
mais eficaz de evitar que ele volte várias vezes ao serviço, e ao mesmo tempo dar
resolutividade à sua queixa momentânea, aliviando os sintomas.
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