Avaliação de Acessos de Melancia Para Resistência a Potyvirus em Diferentes Ambientes Lindomar Maria da Silveira1; Manoel Abílio de Queiróz2; José Albérsio de A. Lima3; Maria Zuleide de Negreiros1; Aline Kelly Q. do Nascimento3; Najara F. Ramos3 Escola Superior de Agricultura de Mossoró, ESAM, BR 110, Km 47, Bairro Presidente Costa e Silva, 59625900, Mossoró, RN; 2DTCS/UNEB, Av. Edgard Chastinet Guimarães, s/n, CP 171, Bairro São Geraldo, 48905680, Juazeiro, BA ([email protected]); 3UFC, Lab. de Virologia Vegetal, CP 6046, Fortaleza, CE 1 RESUMO Quatro acessos de melancia, BAGs 2 a 5, envolvendo as espécies, Citrullus lanatus, C. colocynthis e C. lanatus var. citróides, do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Cucurbitáceas do Nordeste brasileiro, foram avaliados para resistência a potyvirus. As avaliações ocorreram em casa de vegetação mediante inoculação mecânica, sendo que as plantas selecionadas foram levadas a campo para avaliação em condições naturais. Amostras de folhas e frutos, com e sem sintomas, foram enviadas para laboratório para serem testadas por teste ELISA. Duas plantas do BAG 4 selecionadas em casa de vegetação para resistência a PRSV-W e uma planta para resistência a WMV não mantiveram o resultado quando avaliadas em campo, podendo essa instabilidade ser devida a variações no ambiente ou a presença de uma estirpe do vírus diferente daquela para o qual a planta foi avaliada em condições controladas. Essas plantas foram descartadas. De outra parte, em todos os acessos avaliados ocorreram plantas selecionadas em laboratório que mantiveram os resultados em campo, ocorrendo plantas negativas para o PRSV-W nos BAGs 2, 3, 4, e 5, para o WMV nos BAGs 2, 3 e 4 e para o ZYMV nos BAGs 3 e 4. As plantas que se mostraram estáveis, repetindo o resultado de casa de vegetação, quando avaliadas em campo, foram submetidas a polinizações controladas para obtenção de progênies endogâmicas que darão continuidade ao processo de seleção. Palavras-chave: Citrullus lanatus, germoplasma, recursos genéticos, PRSV-W, WMV, ZYMV ABSTRACT Evaluation of watermelon accessions for resistance to potyvirus in differents environments Four watermelon accessions (BAGs 2, 3, 4 and 5) of three different species from the Watermelon Germoplasm Bank of Northeast of Brazil were evaluated against potyvirus strains. The experiment was performed in green house conditions and the virus was mechanically inoculated into watermelon plants. The symptomless plants evaluated by ELISA test were selected and planted in field conditions, without artificial inoculation. Leaves and fruits, from with and without symptoms were collected and sent to the Virology Laboratory of the Federal University of Ceará to be analyzed by the ELISA test. Two plants of BAG 4, evaluated against PRSV-W and one plant of the same accession evaluated against WMV did not keep the resistance in the field experiment. This instability may be a result of environmental variation and the presence of different virus strain from the one used in the laboratory evaluation. These plants were discarded. On the other hand, plants selected in the lab from all accessions that were evaluated kept the resistance in field experiment (negative plants against PRSV-W in accessions BAGs 2 to 5; against WMV in the accessions BAG 2, 3 and 4; and against ZYMV in the accessions BAGs 3 and 4). These plants were stable since they do not allow the virus multiplication when in field. These plants were selfed in order to obtain selfed progenies to continue the selection process. Key-Words: Citrullus lanatus, germplasm, genetic resources, PRSV-W, WMV, ZYMV INTRODUÇÃO A melancia [Citrullus lanatus (Thumb.) Matsun e Nakai), membro da família cucurbitaceae, encontra-se entre as cinco mais importantes hortaliças cultivadas no Brasil. Sua área plantada em 2002 foi em torno de 82.000 ha e sua produção em torno de 830 mil toneladas (FAO, 2003). Dada a importância econômica da cultura da melancia no país, estratégias têm sido adotadas para tornar o produto mais competitivo, especialmente com relação ao controle de pragas e doenças. Os genótipos de melancia utilizados nos cultivos comerciais são poucos e foram introduzidos de outros países, o que acarreta gastos com defensivos, visto que as variedades, quando cultivadas em condições ambientais diferentes daquelas para onde foram desenvolvidas, mostrando-se suscetíveis ao ataque de pragas e doenças. No Nordeste brasileiro, entre as principais doenças que infetam a melancia, as viroses ocasionadas por potyvirus são fatores limitantes para o cultivo dessa hortaliça (LIMA et al., 2002; OLIVEIRA, 2000). No entanto, fontes de resistência têm sido identificadas em acessos de melancia da agricultura tradicional da região e preservados no Banco de Germoplasma de Cucurbitáceas para o Nordeste brasileiro (OLIVEIRA et al., 2002; QUEIRÓZ, 1998), podendo ser utilizadas para o desenvolvimento de cultivares comerciais, uma vez que essa estratégia pode substituir métodos menos eficientes, como o controle químico dos vetores. Para isso é necessário se identificar fontes de resistência aos diferentes potyvirus estáveis em diferentes ambientes. Este trabalho teve como objetivo avaliar acessos de melancia quanto à resistência a potyvirus, em casa de vegetação e em campo. MATERIAL E MÉTODOS Foram avaliados quatro acessos de melancia, Citrullus lanatus, C. colocynthis e C. lanatus var. citróides, BAGs 2 a 5, para resistência a PRSV-W, WMV e ZYMV mediante inoculação mecânica em casa de vegetação do Laboratório de Virologia Vegetal da Universidade Federal do Ceará (LabVVeg/UFC). Sementes dos acessos foram semeadas em vasos, preenchidos com substrato esterilizado, constituído de uma parte de esterco bovino e duas partes de solo. Após a germinação, foram conduzidas quatro plantas por vaso, sendo utilizadas oito plantas de cada acesso para inoculação com cada um dos vírus citados e oito plantas como controle (sem inoculação), totalizando 32 plantas por acesso. Antes do surgimento da primeira folha definitiva, foi realizada uma primeira inoculação, utilizando-se como inóculo, extrato de plantas sistemicamente infetadas pelos respectivos vírus. Decorridos 15 dias da primeira inoculação, as plantas que não apresentaram sintomas foram submetidas a uma segunda inoculação. Dez dias após a segunda inoculação, amostras de cada acesso foram testadas utilizando-se o teste ELISA indireto (ALMEIDA e LIMA, 2001), contra anti-soros específicos para os respectivos vírus, sendo que todas as plantas que se mantiveram sem sintomas foram testadas. As plantas que se mantiveram sem sintomas e tiveram resultados negativos em ELISA foram transplantadas em campo para serem avaliadas em condições naturais. Durante o desenvolvimento das plantas em campo, amostras de folhas e frutos, com e sem sintomas, foram enviadas ao LabVVeg/UFC para serem avaliadas por ELISA. Uma planta foi considerada negativa em ELISA quando teve absorbância inferior ou igual a duas vezes a média das absobâncias das plantas sadias. RESULTADOS E DISCUSÃO As amostras de folhas e de frutos das plantas selecionadas em laboratório e conduzidas em campo, quando avaliadas por ELISA apresentaram alguns resultados positivos com relação à presença de potyvirus, enquanto que a maioria das amostras avaliadas manteve o resultado do laboratório (Tabela 1). Duas amostras do BAG 4 apresentaram resultado positivo para o PRSV-W e uma amostra do mesmo acesso apresentou resultado positivo para o WMV. Por outro lado, em todos os acessos avaliados ocorreram plantas que foram selecionadas em laboratório para os três vírus e mantiveram os resultados anteriores, ocorrendo plantas negativas para o PRSV-W nos BAGs 2, 3, 4, e 5, para o WMV nos BAGs 2, 3 e 4 e para o ZYMV nos BAGs 3 e 4. Quando da seleção em condições controladas, embora cada acesso tenha sido avaliado para resistência aos três vírus em questão, cada planta foi avaliada individualmente para apenas um vírus. Ao serem transplantadas para o campo, as mesmas podem ter sido submetidas a contato com os demais vírus para os quais não sofreram seleção, sendo contaminados com os mesmos, uma vez que não foi realizado nenhum controle dos vetores. Por outro lado, mesmo sob uma menor pressão de inóculo, variações no ambiente podem promover a diminuição da capacidade que têm determinados genótipos de resistir ao ataque de patógenos. De outra parte, os potyvirus apresentam uma grande variabilidade de estirpes, sendo que seus hospedeiros apresentam comportamento diferenciado para as mesmas, sendo possível um genótipo se apresentar resistente a uma determinada estirpe e suscetibilidade quando na presença de outra, podendo ser esta uma das explicações para a divergência de resultados entre avaliações em casa de vegetação e em campo. Este fato deve ser considerado para avaliação de genótipos para resistência a estes vírus. É preferível que os inóculos utilizados para seleção em laboratório sejam provenientes de isolados que ocorram na região onde as referidas fontes serão utilizadas, evitando que a seleção do material ocorra com uma estirpe diferente daquela que se pretende controlar. Do contrário, a seleção realizada em laboratório poderá não ter eficiência em condições de campo. As plantas selecionadas em condições controladas que mantiveram os resultados em campo foram multiplicadas e submetidas a polinizações artificiais para obtenção de progênies endogâmicas, as quais darão continuidade ao processo de seleção. TABELA 1 – Resultados sorológicos de folhas e frutos de melancia (Citrullus lanatus, Citrullus colocynthis e Citrullus lanatus var. citroides) de acessos selecionados em casa de vegetação e conduzidos em campo. LabVVeg/UFC. Fortaleza, CE, 2002. Acesso BAG 2 BAG 2 BAG 2 BAG 2 BAG 2 BAG 3 BAG 3 BAG 3 BAG 3 BAG 3 BAG 3 BAG 3 BAG 4 BAG 4 BAG 4 BAG 4 BAG 4 BAG 4 BAG 4 BAG 4 BAG 4 BAG 4 BAG 4 BAG 5 BAG 5 BAG 5 Vírus para o qual foi avaliado PRSV-W PRSV-W WMV WMV WMV PRSV-W PRSV-W WMV ZYMV ZYMV ZYMV ZYMV PRSV-W PRSV-W PRSV-W PRSV-W WMV WMV WMV ZYMV ZYMV ZYMV ZYMV PRSV-W PRSV-W PRSV-W PRSV-W 1ª1 2ª2 não3 não não não não não não - -4 não + não não não não não - Tipos de virus WMV 1ª 2ª não não não não não +5 + + + não + + não não não + + + + não não + não não + não - ZYMV 1ª não não não não não + + + não não não 2ª não não + + não não + não não não - – Primeira amostragem (meados de outubro) – Segunda amostragem (final de outubro) 3 – Não testado para o respectivo vírus durante a amostragem 4 – Resultado negativo em ELISA 5 – Resultado positivo em ELISA 1 2 LITERATURA CITADA ALMEIDA, A. M. R.; LIMA, J. A. A. Princípios e Técnicas aplicados em Fitovirologia. 1. ed. Brasília: Sociedade Brasileira de Fitopatologia, 2001, 186p. FAO-FAOSTAT – Database Results. Disponível em <http://www.apps.fao.org>. Acesso em: 17 nov. 2003. LIMA, J. A. A.; QUEIRÓZ, M. A.; RAMOS, N. F.; GONÇALVES, M. F. B. Sintomas atípicos em frutos de meloeiro e de melancia ocasionados por Watermelon mosaic vírus – 2. Fitopatologia brasileira, v. 27, n. 5, p. 546, 2002. OLIVEIRA, V. B.; QUEIRÓZ, M. A.; LIMA, A. A. Fontes de resistência aos principais potyvirus isolados de cucurbitáceas no Nordeste brasileiro. Horticultura Brasileira, Brasília v. 20, n. 4, p. 589-592, 2002. OLIVEIRA, V. B.; LIMA, J. A. A.; VALE, C. C.; WALDELICE, P. Caracterização biológica e sorológica de isolados de potyvirus obtidos de cucurbitáceas no Nordeste brasileiro. Fitopalogia Brasileira, v. 25, n. 4, p. 628-636, 2000. QUEIRÓZ, M. A de. Cucurbitáceas no semi-árido do Nordeste brasileiro: resgate, conservação e uso. In: ENCONTRO SOBRE TEMAS DE GENÉTICA E MELHORAMENTO, 15, 1998, Piracicaba, SP. Anais... Piracicaba: USP/ESALQ, p. 1-12, 1998.