Eu falo tecnologiquês - Professor Patrick Nunes

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Eu falo tecnologiquês!
Isis Nóbile Diniz
A linguagem tecnológica está invadindo o dia-a-dia. Veja porque isso ocorre e quais serão as conseqüências
para a língua portuguesa
Dar um google, dar um print, deletar, clicar, linkar... Até o escritor brasileiro Guimarães Rosa, conhecido por inventar,
misturar e usar palavras “esquecidas” nas suas obras, ficaria cismado. São inúmeros os novos verbos e as palavras
criados naturalmente pelos adeptos da tecnologia. E quem não está acostumado com computadores, mais
especificadamente com a internet, não entende o significado deles.
Cerca de 80% da população brasileira, que de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não
têm acesso à internet, não desvendaria os mistérios da frase: “Dei um google, depois printei o resultado”. Em maio, o
Parlamento de Portugal aprovou o acordo ortográfico que unifica a forma de escrever o português. As mudanças deverão
valer dentro de seis anos. Até lá, se depender dos internautas brasileiros, com certeza os dicionários ganharão novas
palavras.
A cada programa, função ou novidade que a tecnologia e a internet disponibilizam mais verbos são incorporados ao
vocabulário do cotidiano. Esse fenômeno de transformar substantivos em verbos se chama “verbalização”. Ele
ocorre espontaneamente, com a necessidade de ter uma linguagem prática que carregue seu significado. Por exemplo,
“googlar”, “dar um google” ou “coloca no google” são palavras ou expressões que no seu conteúdo resumem duas
interpretações. A primeira, que será feita uma pesquisa. Segundo, que ela se dará no respectivo site.
Quando criar novas palavras é errado
“Não acredito que seja algo errado”, diz Ricardo Yamashita Santos, pesquisador de lingüística e discente da
Universidade Federal do Rio Grande de Norte (UFRN). Para ele, esse caso é diferente de “americanizar” a língua como
falar "hot dog" no lugar de “cachorro-quente” ou "self-service" ao contrário de “comida por quilo”.
A praticidade é o elemento necessário para a criação da linguagem virtual. “É mais complicado imaginar que uma
‘americanização’ visa somente a praticidade e, portanto, não leva em conta aspectos culturais de nosso povo”, afirma.
Assim, americanizar e elaborar essa linguagem são coisas diferentes. “Não saberia precisar o quanto a linguagem
virtual afeta a língua cotidiana”, diz Santos.
Aliás, há outro detalhe. A língua falada é mais espontânea do que a escrita. “A necessidade fatalmente faz com que
tomemos discursos que tenham bases distintas”, afirma o pesquisador. Exceto nas conversar eletrônicas informais com
amigos, como em salas de bate-papo ou pelo correio eletrônico – “chat” e “e-mail” é americanizar! -, o discurso escrito
obriga normas estruturais e sintáticas do texto.
A evolução do português
A língua não é estática. E nunca foi. O português nasceu do latim e continua se transformando. São inúmeras as
mudanças que ocorrem como o clássico exemplo da palavra “farmácia” que antes era grafada como “pharmacia”.
Existem aquelas palavras que são “abrasileiradas” como, por exemplo, o verbo “deletar” que já está no dicionário de
português. E outras são incorporadas do jeito que se escreve na língua estrangeira como o “off”, do inglês. “Isso sempre
vai acontecer. Principalmente, em um País que dialoga facilmente com qualquer outro do mundo”, acredita o
pesquisador.
Será que isso acontece por faltar palavras em português? “Muito pelo contrário”, diz o pesquisador. “No caso da
tecnologia, especificamente, estamos entrando em um novo universo. Onde a simplificação é primordial para uma
comunicação mais rápida”, explica. Trata-se de elaborar uma maneira simples, rápida e prática de representar o “mundo
virtual”.
Como elas estarão no dicionário
De acordo com Ricardo Yamashita Santos, para uma palavra nova constar no dicionário da língua portuguesa deve
ocorrer um fenômeno chamado “variação lingüística”. Quando a palavra se torna mais usada do que um termo que já
existia com o mesmo sentido. Caso da palavra “download” que superou o uso do verbete “baixar”. “Isso ocorre tendo um
embasamento de pesquisa sociolingüística, que considera essas variantes por meio de estatísticas”, diz.
Santos afirma que uma variação lingüística é analisada enquanto ela ocorre e entre 12 ou 50 anos depois, para conferir
se a mudança é realmente efetiva ou se foi temporária. As palavras que entram rapidamente ao dicionário possuem
formação inicial pesquisada a mais tempo ou o radical – base da palavra – antigo. Como quando uma palavra é derivada
de outra. Exemplo, “jogada” é proveniente de “jogo”. “Essas criações lexicais, sufixais e prefixais vão acontecer com
grande constância de acordo com a necessidade de comunicação”, afirma Santos.
Em princípio, a linguagem virtual nasceu para ficar. Mas não precisam se preocupar os caretas. A importância de
praticidade na informação virtual fará com que ela seja uma linguagem própria de um universo restrito. “Obviamente,
elementos metafóricos irão surgir e serão agregados em nossa linguagem cotidiana, como por exemplo ‘vou te deletar
de minha vida’ ou ‘eu add aquele rapaz como meu amigo de verdade’”, completa. Será assim, desse modo, que o
download do assunto não será mais lento para ninguém.
Dica: A Academia Brasileira de Letras possui no site um canal onde responde dúvidas sobre a língua portuguesa.
Glossário
Abaixo, veja uma lista de palavras que já constam em alguns dicionários da língua portuguesa e outras que podem fazer
parte.
Encontradas no dicionário:
Adir: Acrescentar, juntar, somar, unir.
Clicar: No sentido de fotografar.
Compact disc: Disco a laser, disco compacto
Conectar: Ligar.
Deletar: Apagar, remover, cancelar, destruir.
Download: baixar algo da internet.
e-mail: Correio eletrônico
Emulador: Dispositivo ou programa que imita um sistema.
Hardware: Componentes do computador.
Off-line: Fora de linha.
On-line: Conectado.
Plugar: Ligar a uma tomada; ligar um aparelho na tomada.
Postar: Colocar (alguém) em um lugar ou posto ou colocar no correio.
Remover: Mudar ou passar de um lugar para outro.
Ripar: No sentido de fechar com ripas.
Software: Programa ou grupo de programas.
Teclar: Bater em teclas.
Upgrade: Atualização de um computador
Candidatas a verbetes:
Blogar: Manter um blog.
Chat: Conversa.
Discador: Software que conecta à internet.
eBook: Livro disponível on-line.
Encriptar: Colocar dados em código secreto.
Geek: Quem gosta de tecnologia.
Googlar ou “dar um google”: Pesquisar no Google.
Hackear: Invadir um sistema.
iPod: Qualquer tocador de MP3.
Linkar: Ligar a outra página de internet.
Palm: Qualquer computador de mão.
Pendrive: Guardador de informação.
Photoshopar: Usar o programa Photoshop.
Plug-in: Programa auxiliar opcional, usado para melhor alguns softwares.
Post: Mensagem.
Dar um print: Copiar exatamente o que estiver aparecendo na tela do computador, com o uso da tecla "Print screen".
Queimar (um CD): Finalizar a gravação de um CD, sem que mais nenhum arquivo possa ser inserido depois; gastar um
CD sem necessidade; gravar um CD.
Scrap: Recado.
Wi-fi: Ligação sem fio.
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