SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 1 VULNERABILIDADE SÍSMICA DE INSTALAÇÕES HOSPITALARES H. MARQUES Eng. Civil GEG Lda. Porto – Portugal R. M. DELGADO Prof. Catedrático FEUP Porto – Portugal J. CUNHA Eng. Civil GEG Lda. Porto – Portugal A. C. MATOS Prof. Auxiliar FEUP Porto – Portugal SUMÁRIO Nos edifícios hospitalares os efeitos dos movimentos sísmicos devem ser moderados. Este tipo de edifícios apresentam um risco sísmico elevado, entre as características particulares que justificam esta consideração realçam-se: •A sua função social é relevante e de importância acrescida após a ocorrência de um sismo intenso pela prestação dos cuidados de saúde aos sinistrados. •A evacuação de pacientes graves pode ser prejudicial ou até fatal, por isso os hospitais não podem ser evacuados como os outros edifícios, tornando imperativa a manutenção da sua integridade. •O nível de ocupação destas instalações, por pessoal médico, funcionários e pacientes, é permanentemente elevado podendo originar um número de vítimas significativo. •A protecção do elevado valor material do seu conteúdo (equipamentos médicos e mecânicos), pode justificar, na sua construção, um investimento inicial superior. Por estes motivos, neste tipo de edifícios, além da abordagem comum a outras estruturas, será necessária a verificação da segurança por metodologias de dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho (Performance-Based Seismic Design) [1]. Estas metodologias distinguem diferentes classes de edifícios, classificam objectivos de desempenho e procuram conjugar os níveis de desempenho com a casualidade sísmica. Nesta comunicação são apresentados dois exemplos de edifícios hospitalares que tiveram por base concepções arquitectónicas e estruturais distintas. Num caso procedeu-se à adaptação de um projecto não orientado por princípios de construção sismo-resistente, edifício A. O outro exemplo apresentado, edifício B, procura ilustrar a concretização daqueles princípios integrados, desde o início, na concepção arquitectónica do edifício. 1. INTRODUÇÃO Os regulamentos actualmente em vigor são baseados na “salvaguarda da vida”, ou seja, o seu objectivo é proteger a vida dos ocupantes de um edifício evitando, essencialmente, o colapso da estrutura. Para os níveis de acção sísmica contemplados nos referidos regulamentos os edifícios podem sofrer danos severos estruturais e não estruturais possivelmente ao ponto de terem de ser demolidos. Contudo, desde que o edifício não entre em colapso, ele atingiu os requisitos da presente regulamentação [2]. Se por um lado este pode ser um nível mínimo aceitável de desempenho para muitos tipos de edifícios, não é adequado para determinadas utilizações, tais como edifícios críticos ou os edifícios onde o proprietário quer ter os danos limitados a um nível reparável ou ter a instalação funcional imediatamente depois de um sismo. Verificou-se que após a ocorrência de sismos recentes, muitos edifícios, ainda que bem dimensionados observando os códigos actuais, apresentaram avarias graves evidenciando que as recomendações vigentes para uma boa concepção estrutural podem ser inadequadas para se garantir a manutenção da operacionalidade após a 2 SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA ocorrência do evento sísmico. Isto aponta para a necessidade de abordar o problema de projectar uma estrutura para níveis de desempenho considerando múltiplos estados limite, isto é, adoptar o conceito de dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho. 2. AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE SÍSMICA COM BASE EM INDICADORES DE DESEMPENHO 2.1. Dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho O relatório Vision 2000 [3] elaborado pela Structural Engineers Association of California e as normas da National Earthquake Hazards Reduction Program [1] [4] [5] [6] para a reabilitação sísmica de edifícios constituem contribuições fundamentais para o desenvolvimento do dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho, introduzindo os conceitos de objectivos do desempenho do projecto, os critérios de aceitação associados ao nível de desempenho e o uso de técnicas analíticas alternativas para a avaliação do desempenho. O dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho é um processo que procura avaliar explicitamente de que forma provável um edifício se irá comportar, considerando as incertezas inerentes à quantificação do perigo potencial e incertezas na avaliação da resposta real do edifício. No dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho identificar e avaliar o desempenho de um edifício são uma parte integral do processo do dimensionamento e guiam muitas decisões do projecto. É um processo iterativo que começa com a selecção de objectivos de desempenho, seguida pelo desenvolvimento de um projecto preliminar, uma avaliação se o projecto se encontra ou não ao nível dos objectivos de desempenho e finalmente redimensionar e reavaliar, se requerido, até que o nível de desempenho desejado seja alcançado. Cada objectivo de desempenho é uma indicação da aceitação do risco de incorrer em níveis específicos de danos, e das perdas consequentes, que ocorrem em resultado destes danos face a um nível especificado da acção sísmica. As perdas podem ser associadas aos danos estruturais, danos não-estruturais ou ambos. Estas podem ser expressas sob a forma de vítimas, de custos económicos directos e de tempo fora do serviço resultando em danos. Os métodos para estimar perdas e comunicar estas perdas às partes interessadas estão no centro da evolução do dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho As vantagens do dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho, em contraste com as aproximações prescritivas de projecto, consistem em fornecer uma metodologia sistemática, avaliando a potencialidade do desempenho de um edifício, de um sistema ou de um componente. Esta metodologia pode ser usada para verificar o desempenho equivalente e alternativas, permitir o desempenho padrão com um custo reduzido ou confirmar um desempenho mais elevado exigido para edifícios críticos. 2.2. Relatório Vision 2000 No relatório Vision 2000 [3] os níveis de desempenho são definidos em termos de danos na estrutura e nos componentes não-estruturais e em termos das consequências para os ocupantes e na perturbação das funções que se realizam dentro do edifício. Quatro níveis de desempenho são identificados e descritos no relatório. Estes níveis de desempenho são os que se seguem: Totalmente operacional (Fully operacional) – o edifício continua em operação com danos insignificantes. Operacional (Operational) – o edifício continua em operação com os danos menores e com pequenas perturbações em serviços secundários Preservação de vidas humanas (Life Safe) – a salvaguarda da vida é substancialmente assegurada, os danos são moderados a extensos SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 3 Colapso Incipiente (Near Collapse) – a salvaguarda da vida está em risco, os danos são severos, o colapso estrutural é impedido. Os objectivos de desempenho são compostos de objectivos múltiplos (Figura 1). Um conjunto de objectivos mínimos para edifícios correntes, objectivos para edifícios essenciais, como Hospitais, e os objectivos mais exigentes para instalações que constituam um risco acrescido. A Tabela 1 define estes níveis de desempenho nos termos dos danos dos vários componentes estruturais do edifício. Figura 1: Objectivos de desempenho – Vision 2000. Tabela 1 – Niveis de desempenho da estrutura [5]. Descrição do Sistema Danos globais Drift transitório Drift permanente Danos nos elementos de suporte de cargas verticais Danos nos elementos de suporte de cargas horizontais Nível de desempenho Preservação de Vidas Humanas Ligeiros Moderados <0,5% <1,5% Totalmente Operacional Insignificantes <0,2% Funcional Insignificante Insignificante <0,5% Insignificantes Insignificantes Insignificantes; Em geral resposta elástica; Sem perda significativa de resistência ou rigidez Ligeiros; Quase resposta elástica; Retêm parte substancial da resistência e rigidez originais; pequenas fissuras que podem oportunamente ser reparadas Ligeiros a moderados, mas retêm substancial capacidade de suportar acções gravíticas Moderado; Reduzida resistência e rigidez, mas o sistema de apoio lateral mantémse funcional Colapso Incipiente Severos <2,5% Colapso <2,5% >2,5% Totais >2,5% Moderados a Perda parcial a severos, mas total de retêm capacidade capacidade de de suportar suportar acções acções gravíticas gravíticas Insignificante Colapso parcial ou resistência e rigidez; sem total; os mecanismos de elementos colapso de pisos, principais mas com grandes poderão ter de deformadas de ser demolidos drift; elementos secundários podem ruir 4 SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 2.3. RSA/REBAP No actual enquadramento regulamentar, aplicável em Portugal [7], a acção sísmica é caracterizada em dois regulamentos: RSA [8] e REBAP [9]. A acção sísmica encontra-se representada no RSA por meio de espectros de resposta elásticos de aceleração, em correspondência com três tipos de terrenos (I a III, do mais rijo para o mais brando) e dois mecanismos de sismogénese: sismo tipo 1 (magnitude moderada e pequena distância focal) e sismo tipo 2 (maior magnitude e maior distância focal). Para efeito da quantificação da acção dos sismos considera-se ainda o país dividido em quatro zonas (A a D, por ordem decrescente de sismicidade). A regra de combinação dos efeitos da acção sísmica implica uma majoração por um coeficiente parcial de segurança cujo valor é 1.5 na única combinação de acções que intervém, onde a acção variável de base é a acção sísmica. O comportamento não linear das estruturas é simulado pela aplicação aos efeitos da acção dos sismos obtidos por uma análise linear de um coeficiente de comportamento, devidamente caracterizado no REBAP tendo em conta o tipo de estrutura, os materiais que a constituem e as suas características de ductilidade. No caso de estruturas de betão armado e especificamente em edifícios hospitalares cuja operacionalidade tem de ser assegurada após a ocorrência de um sismo intenso, os coeficientes de comportamento relativos aos esforços deverão ser reduzidos em 30%, tendo por referencia os valores indicados para estruturas correntes em condições análogas em termos de tipo de estrutura e suas características de ductilidade. Na regulamentação vigente em Portugal, a redução dos coeficientes de comportamento revela-se como sendo a única referência que se aproxima dos critérios de desempenho no dimensionamento sísmico. 2.4. Eurocódigo 8 NP ENV1998/DNA A acção sísmica, se quantificada de acordo com a norma europeia provisória NP ENV 1998 [10]; [11] conjugada com o respectivo documento de aplicação nacional [9], é caracterizada por meio de espectros de resposta (elásticos e de dimensionamento) cuja apresentação diferencia três tipos de terreno (A a C, do mais rijo para o mais brando) e ainda dois mecanismos de sismogénese: sismo tipo 1 (magnitude moderada e pequena distância focal) e sismo tipo 2 (magnitude elevada e maior distância focal), conforme o recomendado no Documento Nacional de Aplicação (DNA) e em consonância com o expresso no anexo III do R.S.A.. O zonamento sísmico considerado coincide com o indicado no RSA, definindo quatro zonas distintas no território nacional (zonas A a D, por ordem decrescente de sismicidade) Os efeitos da acção sísmica não são majorados por nenhum coeficiente parcial de segurança adicional. A diferenciação do nível de protecção sísmica pretendido é considerada mediante a aplicação de um factor de importância γI que, no caso de instalações hospitalares, assume um valor de 1.4[11]reflectindo, este coeficiente, um período de vida útil da estrutura maior e também, de certa forma, procurando garantir as condições de operabilidade após um evento sísmico. 2.5. Eurocódigo 8 EN1998 A norma europeia EN 1998 [12], que ainda não foi adaptada pelas autoridades nacionais Portuguesas não havendo por isso uma definição dos parâmetros de determinação nacional [7], define a acção sísmica segundo uma metodologia semelhante à proposta pela ENV 1998/DNA na qual a acção sísmica é caracterizada por meio de espectros de resposta (elásticos e de dimensionamento) considerando cinco tipos de terreno (A a E genericamente do mais rijo para o mais brando e ainda mais dois tipos de terreno singulares S1 e S2). Esta norma considera dois tipos de sismo diferenciados: Tipo 1 (magnitude moderada ou elevada) e Tipo 2 (pequena magnitude). A EN1998 admite que a verificação da segurança das estruturas deve ser verificada diferenciando dois tipos de requisitos (Performance Requirements): Não colapso (No-collapse Requirements) que deverão ser conduzidos para uma acção sísmica quantificada para um período de retorno de TNCR= 475 anos para estruturas correntes e Limitação de danos (Damage Limitation Requirements) que deverão ser estimados admitindo uma acção sísmica quantificada com um período de retorno mais reduzido TDLR = 95 anos, para estruturas correntes. A diferenciação do nível de protecção sísmica pretendido é realizada por meio de um factor de importância γI cujo valor sugerido para instalações hospitalares é de 1.4. SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 5 3. DESCRIÇÃO DAS ESTRUTURAS Relativamente ao edifício A, a sua concepção geral não tinha os seus princípios estruturais perfeitamente orientados no sentido de dotar a estrutura de características sismo-resistente, alguns pontos reveladores dessa concepção não sensibilizada para esse objectivo são a localização excêntrica do seu núcleo rígido, a falta de simetria em planta dos elementos de maior rigidez, descontinuidade de rigidez e massa em altura e excessiva deformabilidade, havendo por isso necessidade de ajustar a estrutura inicial [13]. No sentido de corrigir o comportamento da estrutura, aproximando o seu desempenho daquele esperado para uma estrutura sismo resistente introduziram-se elementos laminares verticais e horizontais de grande rigidez nas zonas dos pátios interiores, efectuaram-se reforços na ligação entre o núcleo rígido excêntrico e a restante estrutura, introduziramse micro-estacas na fundação do núcleo de modo a absorver as elevadas tracções que se verificavam para as combinações da acção sísmica. No que diz respeito ao edifício B, procurou-se integrar na sua concepção de base os princípios de concepção de estruturas sismo-resistentes, nomeadamente pela adopção de uma estrutura simples, distribuição regular em planta e em altura da rigidez e divisão em vários corpos estruturais. Em ambos os edifícios, A e B, as análises sísmicas foram efectuadas adoptando os princípios inscritos no RSA e REBAP. Para atender à especificidade destes edifícios com este tipo de ocupação especial, numa primeira aproximação aos princípios de dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho, foi feito o controle do máximo deslocamento relativo (drift) entre pisos e ainda os deslocamentos máximos horizontais, impondo-se como limites máximos os definidos no Vision 2000 [3] por estes limites serem mais restritivos do que os valores máximos impostos pela NP ENV 1998-1-2:2000 [12]. 3.1. Edifício A O edifício A ocupa uma área em planta de 41x35 m2, tem 4 pisos elevados e 2 pisos parcialmente enterrados. Os pisos elevados têm diferentes configurações em planta devido à existência de terraços a diferentes cotas. Os pavimentos são constituídos por lajes fungiformes aligeiradas de funcionamento bidireccional apoiadas numa malha de pilares afastados 6.9x6.9m. As lajes apresentam uma espessura total de 0.37m e recorreu-se à introdução de blocos de cofragem perdidos de betão leve para aligeiramento tendo uma lâmina de compressão de betão na face superior de 0.07m. Os blocos de aligeiramento, tripartidos, formam uma malha ortogonal de nervuras com 0.15 m de largura, separadas de 0.90m entre eixos. Figura 2: Modelo de elementos finitos adoptado para o edifício A. 3.2. Edifício B O edifício B ocupa uma área em planta de 42x29.50 m2, tem 4 pisos elevados. O piso 4 apresenta uma configuração distinta dos restantes pisos. Os pavimentos são constituídos por lajes fungiformes maciças de 6 SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA funcionamento bidireccional com uma espessura de 0.35m. No sentido de dotar os pisos de uma maior rigidez no seu plano (diafragma rígido), conferindo ao edifício um comportamento à acção sísmica mais eficiente, colocaram-se vigas de bordadura com cutelo aparente com uma secção de 0.40x0.90m, em toda a periferia dos diversos pisos, contribuindo também para a redução da deformabilidade vertical e horizontal do edifício como um todo. Figura 3: Modelo de elementos finitos adoptado para o edifício B. 4. RESULTADOS 4.1. Edifício A Verifica-se pela configuração das deformadas dos três primeiros modos de vibração que o primeiro modo corresponde a um modo composto de translação em x e rotação, o segundo uma translação em y e o terceiro apresenta-se como um modo de torção mais acentuado. De igual modo da análise dos deslocamentos dos nós extremos de cada piso, para as duas acções sísmicas, verifica-se claramente o efeito de torção. De facto a relação entre os deslocamentos nos topos dos pontos extremos chega a ser de 8.5 (para a acção sísmica tipo 2). Na direcção perpendicular praticamente não se verifica nenhuma diferença relativa pois, nesta direcção, a rigidez está mais distribuída não existindo por isso grande diferença entre o centro de rigidez e o centro de gravidade. Tabela 2 – Modos de vibração do edifício A. modo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 frequência (Hz) 1,43 1,91 3,20 4,00 4,07 4,17 4,23 5,04 5,49 4,93 SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA Figura 4: deformadas dos três primeiros modos de vibração do edifício A. Tabela 3 – deslocamentos dos nós extremos em cada piso do edifício A. 289 295 261 267 247 253 212 218 205 211 170 176 163 169 106 112 156 162 71 77 Piso 4 Nós 289 295 261 267 média Sismo tipo 1 Ux (cm) Uy (cm) 1,6 1,1 1,6 1,3 0,8 1,1 0,8 1,3 1,21 1,19 Sismo tipo 2 Ux (cm) Uy (cm) 1,9 1,0 1,9 1,1 0,7 1,0 0,7 1,1 1,30 1,09 Piso 3 Nós 247 253 212 218 média Sismo tipo 1 Ux (cm) Uy (cm) 1,4 1,0 1,4 1,0 0,3 1,0 0,3 1,0 0,88 0,99 Sismo tipo 2 Ux (cm) Uy (cm) 1,7 0,9 1,7 0,9 0,2 0,9 0,2 0,9 0,95 0,90 Piso 2 Nós 205 211 170 176 média Sismo tipo 1 Ux (cm) Uy (cm) 1,1 0,7 1,1 0,7 0,2 0,7 0,2 0,7 0,65 0,68 Sismo tipo 2 Ux (cm) Uy (cm) 1,2 0,6 1,2 0,6 0,2 0,6 0,2 0,6 0,70 0,62 Piso 1 Nós 163 169 106 112 média Sismo tipo 1 Ux (cm) Uy (cm) 0,5 0,4 0,5 0,3 0,1 0,4 0,1 0,3 0,33 0,36 Sismo tipo 2 Ux (cm) Uy (cm) 0,6 0,3 0,6 0,3 0,1 0,3 0,1 0,3 0,35 0,32 Piso 0 Nós 156 162 71 77 média Sismo tipo 1 Ux (cm) Uy (cm) 0,1 0,0 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,1 0,03 0,04 Sismo tipo 2 Ux (cm) Uy (cm) 0,1 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,03 0,04 7 8 SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA Tabela 4 – drift entre pisos do edifício A. Drift P4-P3 247-205 253-211 212-170 218-176 Sismo tipo 1 Ux (%) Uy (%) 0,05 0,03 0,05 0,06 0,10 0,03 0,11 0,06 Sismo tipo 2 Ux (%) Uy (%) 0,06 0,03 0,06 0,06 0,10 0,03 0,10 0,06 Drift P3-P2 205-163 211-169 170-106 176-112 Sismo tipo 1 Ux (%) Uy (%) 0,08 0,06 0,08 0,07 0,02 0,06 0,02 0,07 Sismo tipo 2 Ux (%) Uy (%) 0,10 0,06 0,10 0,07 0,02 0,06 0,02 0,07 Drift P2-P1 163-156 169-162 106-71 112-77 Sismo tipo 1 Ux (%) Uy (%) 0,12 0,08 0,12 0,07 0,02 0,08 0,02 0,07 Sismo tipo 2 Ux (%) Uy (%) 0,14 0,07 0,14 0,06 0,02 0,07 0,02 0,06 Drift P1-P0 156-fund 162-fund 71-fund 77-fund Sismo tipo 1 Ux (%) Uy (%) 0,11 0,07 0,11 0,07 0,03 0,07 0,03 0,07 Sismo tipo 2 Ux (%) Uy (%) 0,12 0,07 0,12 0,06 0,02 0,07 0,02 0,06 Tabela 5 – esforços globais no núcleo do edifício A. esforço axial (kN) momento dir x (kN.m) excentricidade (m) sismo 1 3445 70945 21 sismo 2 3451 59907 17 Tabela 6 – esforços nos pilares extremos na base do edifício A. Pilar NO NE SE SO esforço axial (kN) momento dir x (kN.m) excentricidade (m) esforço axial (kN) momento dir x (kN.m) excentricidade (m) esforço axial (kN) momento dir x (kN.m) excentricidade (m) esforço axial (kN) momento dir x (kN.m) excentricidade (m) sismo 1 200 23 0,12 18 4 0,21 101 21 0,21 472 38 0,08 sismo 2 188 20 0,11 17 4 0,24 88 22 0,25 464 38 0,08 SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 9 Observam-se ainda excentricidades no núcleo do edifício A da ordem dos 20m, fortemente condicionado pela posição bastante afastada relativamente ao centro de gravidade dos pisos estando, também por isso, sujeitos a um reduzido esforço axial. 4.2. Edifício B Relativamente aos resultados atingidos no caso do edifício B verificamos que não existe igualmente, de um modo geral, modos puros de translação, correspondendo as configurações das deformadas a uma combinação de translações e de rotações, em virtude de um efeito de rotação. No entanto pode-se constatar, pela observação dos resultados dos deslocamentos nos nós extremos de cada piso, que a relação máxima entre deslocamentos de pontos extremos, na direcção x, não ultrapassa o valor de 2.4 (para a acção sísmica tipo 2, afastado), valor substancialmente inferior ao obtido no caso do edifício A. Confirma-se também que na direcção perpendicular essa variação de deslocamentos não existe, revelando que esta direcção se encontra muito mais equilibrada em termos da localização dos elementos rígidos em relação ao centro de gravidade dos pisos. O valor da excentricidade dos esforços actuantes no núcleo central revela um maior equilíbrio no posicionamento dos elementos de maior rigidez pois estes valores não excedem os 3.0cm. Tabela 7 – Modos de vibração do edifício B. modo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 frequência (Hz) 1,59 2,91 3,27 5,28 5,48 5,92 5,97 6,12 6,21 6,28 Figura 5: deformadas dos três primeiros modos de vibração do edifício B. 10 SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA Tabela 8 – deslocamentos dos nós extremos em cada piso do edifício B. 245 236 248 257 187 178 191 192 129 120 133 134 51 45 55 56 Sismo tipo 1 Piso 4 Nós Ux (cm) Uy (cm) 245 1,5 0,7 236 0,9 0,6 248 1,5 0,5 257 0,9 0,5 média 1,17 0,60 Sismo tipo 2 Ux (cm) Uy (cm) 1,6 0,5 0,7 0,5 1,6 0,5 0,7 0,5 1,15 0,46 Sismo tipo 1 Piso 3 Nós Ux (cm) Uy (cm) 187 1,1 0,5 178 0,7 0,5 191 1,1 0,5 192 0,7 0,5 média 0,87 0,49 Sismo tipo 2 Ux (cm) Uy (cm) 1,2 0,4 0,5 0,4 1,2 0,5 0,6 0,5 0,86 0,41 Piso 2 Sismo tipo 1 Nós Ux (cm) Uy (cm) 129 0,7 0,3 120 0,4 0,3 133 0,7 0,3 134 0,4 0,3 média 0,54 0,31 Sismo tipo 2 Ux (cm) Uy (cm) 0,7 0,2 0,3 0,2 0,7 0,3 0,4 0,3 0,53 0,26 Sismo tipo 1 Piso 1 Nós Ux (cm) Uy (cm) 51 0,2 0,1 45 0,2 0,1 55 0,2 0,1 56 0,2 0,1 média 0,21 0,12 Sismo tipo 2 Ux (cm) Uy (cm) 0,3 0,1 0,1 0,1 0,3 0,1 0,1 0,1 0,20 0,10 Tabela 9 – drift entre pisos do edifício B. Drift P4-P3 245-187 236-178 248-190 257-199 Sismo tipo 1 Ux (%) Uy (%) 0,10 0,04 0,05 0,04 0,10 0,03 0,05 0,03 Sismo tipo 2 Ux (%) Uy (%) 0,10 0,03 0,04 0,03 0,10 0,03 0,04 0,03 Drift P3-P2 187-129 178-120 191-133 192-134 Sismo tipo 1 Ux (%) Uy (%) 0,10 0,05 0,06 0,05 0,10 0,05 0,06 0,05 Sismo tipo 2 Ux (%) Uy (%) 0,11 0,03 0,05 0,03 0,11 0,04 0,05 0,04 Drift P2-P1 129-51 120-45 133-55 134-56 Sismo tipo 1 Ux (%) Uy (%) 0,10 0,05 0,06 0,04 0,10 0,05 0,06 0,05 Sismo tipo 2 Ux (%) Uy (%) 0,11 0,03 0,05 0,03 0,11 0,05 0,05 0,04 Drift P1-Fund 51-91 45-1 55-11 56-12 Sismo tipo 1 Ux (%) Uy (%) 0,06 0,03 0,04 0,03 0,06 0,03 0,04 0,03 Sismo tipo 2 Ux (%) Uy (%) 0,07 0,02 0,04 0,02 0,07 0,03 0,04 0,03 SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 11 Tabela 10 – esforços globais no núcleo central do edifício B. esforço axial (kN) momento dir x (kN.m) excentricidade (m) sismo 1 22920 594 0.026 sismo 2 20271 442 0.022 Tabela 11 – esforços nos pilares extremos na base do edifício B. Pilar NO NE SE SO esforço axial (kN) momento dir x (kN.m) excentricidade (m) esforço axial (kN) momento dir x (kN.m) excentricidade (m) esforço axial (kN) momento dir x (kN.m) excentricidade (m) esforço axial (kN) momento dir x (kN.m) excentricidade (m) Sismo 1 sismo 2 1030 1018 226 177 0.22 0.17 805 760 280 230 0.35 0.30 735 720 360 372 0.49 0.52 1235 1146 305 318 0.25 0.28 5. DISCUSSÃO DE RESULTADOS Comparando os resultados obtidos nas duas estruturas em análise, com base numa filosofia de aproximação aos princípios de dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho, verifica-se que em ambos os casos os limites do máximo deslocamento relativo, impostos pela NP ENV 1998 -1-2:2000 são cumpridos. Para edifícios da categoria de importância I, impõem-se um máximo de 0.75%, a qual é amplamente verificada por ambas as estruturas cujos valores do deslocamento relativo são de 0.14% (edifício A) e 0.11% (edifício B). Observa-se ainda, da leitura da Tabela 1 [5], que para valores transitórios do deslocamento relativo máximo (drift) inferiores a 0.2%, se obtêm um desempenho do nível totalmente operacional em termos dos danos dos vários componentes estruturais do edifício. Verifica-se igualmente que os deslocamentos máximos nos pontos extremos e no piso mais elevado, em ambas as situações, não excedem o valor do afastamento previsto entre corpos, podendo pois concluir-se que o risco de choque entre edifícios (pounding) está salvaguardado. Observa-se igualmente, nas tabelas relativas aos esforços nos pilares de canto, que a ordem de grandeza das excentricidades dos pilares extremos é semelhante nas duas estruturas. Estes valores reduzidos de excentricidades, no caso do edifício A, foram obtidos recorrendo à introdução de novos elementos de grande rigidez ao nível das caves, de modo a minimizar os efeitos adversos do posicionamento bastante excêntrico do núcleo rígido nesses elementos extremos. No edifício B o mesmo comportamento foi atingido apenas adoptando-se uma disposição criteriosa dos elementos de maior rigidez. Observa-se, no entanto, que o comportamento da estrutura do edifício B se enquadra melhor na filosofia inerente ao dimensionamento de estruturas sismo-resistentes o que é traduzido numa resposta às acções sísmicas mais equilibrada, reflexo do cuidado da concepção estrutural na procura da distribuição da massa e da rigidez o mais uniforme possível, em altura e em planta. Os resultados das excentricidades de esforços, deslocamentos globais e relativos são comparativamente menores quer nos elementos rígidos da estrutura quer nos pilares de canto, limitando assim a ocorrência de danos locais importantes na estrutura, sendo esta condição, por vezes, difícil de 12 SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA controlar no processo de dimensionamento. Este aspecto revela-se de uma importância ainda maior dada a especificidade das estruturas em causa. Verificou-se pois que no caso do edifício A houve necessidade de recorrer a uma estrutura com soluções mais complexas, do que no edifício B, pois o projecto original não tinha integrado os princípios de concepção das estruturas sismo-resistentes. 6. CONCLUSÕES A concepção das estruturas sujeitas à acção sísmica, em particular de edifícios hospitalares dado que o seu contributo é indispensável nos planos de emergência pós-sismo, deve obedecer a princípios base de concepção sísmica e por isso contemplar medidas especiais que conduzam a um melhoramento do seu comportamento face a este tipo de acções. Estas estruturas, assim como as suas acessibilidades, devem, obviamente, estar preparadas para resistir ao colapso mas também deverão assegurar a operacionalidade após a ocorrência de um sismo. Esta necessidade deve ser particularmente considerada no projecto de estruturas, alem de ser uma necessidade a ter em conta nos projectos das restantes especialidades. Contudo é actualmente reconhecido, que este objectivo não está garantido apenas pelo cumprimento dos actuais códigos de projecto estrutural. De facto, a verificação do não colapso estrutural está muito longe de garantir a continuidade do desempenho hospitalar. Na tentativa de encontrar outros princípios de dimensionamento foram aqui abordadas algumas questões relacionadas com verificação da segurança por metodologias de dimensionamento sísmico baseado em critérios de desempenho. Há ainda, quer na fase de concepção, quer na de dimensionamento, alguns princípios gerais que devem ser atendidos, a saber: • • • • • Simplicidade Estrutural; Uniformidade e simetria; Resistência e rigidez às forças horizontais; Resistência e rigidez à torção; Diafragmas indeformáveis no plano horizontal; Além dos aspectos anteriormente referidos, também será sempre relevante e absolutamente necessário, a caracterização das condições geológicas e da sua interferência no desempenho estrutural. Com este trabalho procurou-se ilustrar os resultados práticos da aplicação dos princípios base da concepção sísmica apresentando dois exemplos de edifícios hospitalares que tiveram por base concepções arquitectónicas e estruturais distintas. Pretendeu-se ainda demonstrar que, para obtenção de níveis de desempenho semelhantes, as soluções estruturais podem divergir substancialmente podendo chegar-se a soluções bastante onerosas resultantes de decisões conceptuais menos ajustadas para atingir os objectivos pretendidos. Registe-se ainda que relativamente a estruturas existentes, os princípios gerais apresentados, não sendo na sua totalidade aplicáveis, servem de orientação para estudos de comportamento e de eventuais melhoramentos estruturais. 7. REFERÊNCIAS [1] Applied Technology Council, (2006) Next-Generation Performance-Based Seismic Design Guidelines Program Plan for New and Existing Buildings, FEMA 445. [2] A. Kappos & G. Panagopoulos (2004) “Performance-Based Seismic Design of 3D R/C Buildings using Inelastic Static and Dynamic Analysis Procedures”, ISET Journal of Earthquake Technology, Paper No. 444, Vol. 41, No. 1, March 2004, pp. 141-158. [3] Structural Engineers Association of California (1995). "Vision 2000 - A Framework for Performance Based Earthquake Engineering." Vol. 1, January 1995. SÍSMICA 2007 – 7º CONGRESSO DE SISMOLOGIA E ENGENHARIA SÍSMICA 13 [4] United States Federal Emergency Management Agency. (2003) NEHRP Recommended Provisions for Seismic Regulations for New Buildings and Other Structures, FEMA 450- 2003 Edition. [5] Applied Technology Council, (2003) ATC-58-2 Preliminary Evaluation of Methods for Defining Performance. [6] American Society of Civil Engineers. (2000) Prestandard and Commentary for the Seismic Rehabilitation of Buildings, FEMA 356 / November 2000. [7] Recomendações para Regulamentação Sismo-Resistente de Novas Instalações Hospitalares – Relatório ICIST EP nº 61/04, Dezembro de 2004. [8] RSA, “Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes”, Decreto-Lei nº235/83 de 31 de Maio, Porto Editora, Porto, Novembro de 2001. [9] REBAP, “Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado”, Decreto-lei nº 349-c/83 de 30 de Julho, Porto Editora, Porto, Setembro de 1999. [10] NP ENV 1998-1-1, “Eurocódigo 8: Disposições para projecto de estruturas sismo-resistentes. – Parte 1-1: Regras Gerais – Acções sísmicas e requisitos gerais para as estruturas” Instituto Português da Qualidade, Caparica, Portugal, Junho de 2000. [11] NP ENV 1998-1-2, “Eurocódigo 8: Disposições para projecto de estruturas sismo-resistentes. – Parte 1-2: Regras Gerais – Regras gerais para edifícios” Instituto Português da Qualidade, Caparica, Portugal, Junho de 2000. [12] BS EN 1998-1:2004, “Eurocode 8: Design of structures for earthquake resistance – Part 1: General rules, seismic actions and rules for buildings”, CEN, Bruxelas, Bélgica, Dezembro de 2004. [13] Parecer sobre a segurança sísmica dos edifícios do novo Hospital Pediátrico de Coimbra – Nota Técnica nº4/2006 – NESDE, LNEC, Julho de 2006.