Luciele Oliveira de Ávila, Andrea Valli Nummer, Rinaldo José

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VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
EROSÃO NA MICROBACIA DO ARROIO SARANDI: VOÇOROCA DO
BURACO FUNDO, SANTA MARIA/RS-BRAZIL
Luciele Oliveira De Avila, Mestre em Geografia –UFSM, [email protected]
DrªAndréa Nummer, Deptº. de Geociências/UFSM,[email protected]
Dr.Rinaldo J. Barbosa Pinheiro, Deptº Tansportes/UFSM,[email protected]
1.Introdução
A erosão é um fenômeno geológico natural que ocorre nas camadas de solos e
rochas mais superficiais da crosta terrestre e que pode ser potencializada pela ação do
homem em um curto período de tempo acarretando conseqüências desastrosas, tanto
no meio rural quanto no meio urbano. Em virtude disto, nos últimos anos tem havido
no meio técnico-científico, uma intensa investigação e debate sobre os parâmetros e
mecanismos responsáveis pela erosão e possíveis medidas a serem adotadas para a
prevenção e controle das áreas afetadas.
O entendimento do mecanismo de desencadeamento e evolução dos processos
erosivos não é simples, envolve o conhecimento de muitas variáveis e exige uma visão
sistêmica do fenômeno. Para autores como Galeti (1985), Bertoni e Lombardi Neto
(1985), Guerra e Mendonça (2004), entre outros, os fatores que condicionam a erosão
são: clima; relevo; cobertura vegetal; natureza do solo e ação antrópica. Entretanto,
pode-se dizer que dois são os elementos centrais responsáveis pelo desencadeamento
do processo erosivo, a erosividade da água, elemento ativo, e a erodibilidade do solo,
elemento passivo. Complementarmente, intervêm os demais fatores, facilitando ou
dificultando o processo erosivo.
A erodibilidade é definida segundo Bastos (1999) como a maior ou menor facilidade
com que as partículas de solo/rocha são destacadas e transportadas pela ação de um
agente erosivo. Esta propriedade está relacionada à natureza do solo/rocha e, está
intimamente associada à textura, estrutura, estratificação, permeabilidade, teor de
umidade, e composição destes materiais.
De acordo com Camapum de Carvalho et al. (2006) as características geológicogeotécnicas do solo como textura, estrutura, mineralogia, sucção e teor de matéria
orgânica (M.O) influem na erodibilidade dos solos. Já Bigarella (2003) inclui a
intensidade da chuva, além das propriedades físicas e químicas do solo, como fatores
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Tema 4 - Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios
que interferem na erodibilidade.
A erodibilidade dos solos é um dos parâmetros que pode causar ou acelerar o
processo erosivo. A sua avaliação pode ser realizada por meio de estudos geológicogeotécnicos que serão utilizados para compor um diagnostico correto dos mecanismos
responsáveis pelo surgimento e evolução das erosões e desta forma propor medidas
preventivas ou corretivas eficientes do processo erosivo.
A erodibilidade pode ser avaliada por meio de ensaios geotécnicos de maneira
direta, como o ensaio de Inderbitzen e/ou indireta. Ensaios de caracterização física;
perda de massa por imersão e infiltrabilidade da metodologia MCT (Nogami e Villibor,
1979) e o ensaio de desagregação; são considerados ensaios de avaliação indireta da
erodibilidade.
Os ensaios de caracterização física são considerados primordiais na análise, da
erodibilidade. Sua inter-relação com a erodibilidade não é considerada simples e direta
para alguns autores, como Jacintho et al. (2006). Para estes autores, os solos tropicais
possuem a característica de serem agregados quando intemperizados, sendo um
equívoco a relação direta entre a granulometria do solo e a erodibilidade, por
exemplo. A análise direta também não deve ser feita em relação à plasticidade, pois
sabe-se que solos com maior índice de plasticidade são menos erodíveis, porém, no
caso dos solos tropicais, a presença de oxi-hidróxido de ferro, confere uma maior
estabilidade e resistência ao solo, tornando-o menos erodível, mesmo apresentando
uma baixa plasticidade.
A metodologia MCT envolve um conjunto de ensaios em solos tropicais e
subtropicais, que foi desenvolvido para o uso em rodovias e estradas vicinais,
substituindo métodos propostos para solos de países de climas frios e temperados.
Esta avaliação é fundamentada em dois parâmetros: o coeficiente de sorção (s) obtido
no ensaio de infiltrabilidade, e o coeficiente (pi) obtido pelo ensaio de perda de massa
por imersão modificado (ensaio de erodibilidade específica).
O ensaio de Infiltrabilidade consiste na medição da quantidade de água que infiltra
em corpos de prova de 5 cm de diâmetro, pela sua base, em função da raiz quadrada
do tempo. Através da divisão do parâmetro pi por s, é possível a classificação dos solos
em relação ao grau de erodibilidade, sendo considerados solos erodíveis quando esta
relação for superior ao valor 52. Para Pejon (1992 apud Vilar e Prandi, 1993) a relação
entre pi e s deve ser superior ao valor 40, para que os solos sejam classificados como
erodíveis.
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O ensaio de perda de massa por imersão modificado, também chamado de
ensaio de erodibilidade específica, consiste, segundo Nogami e Villibor (1979), em
submergir em água, durante 20 h, amostras indeformadas de solo, confinadas pelo
anel. Recolhe-se o solo desprendido do anel e determina-se a sua massa seca. A perda
de massa por imersão pi (%) é calculada através da relação entre o peso do solo seco
desagregado e o peso do solo seco total da amostra.
O ensaio de desagregação, conhecido como Slaking Test, tem por objetivo verificar
a estabilidade de uma amostra de solo indeformada quando da imersão em água,
independente da dispersão do material. Com este teste pode-se prever o
comportamento do solo quando inundado por água o que possibilita a determinação
da capacidade da água em desagregar o mesmo.
O ensaio de Inderbitzen, também chamado de “erosômetro”, é um dos mais
utilizados no meio geotécnico, sendo aplicado por pesquisadores como Bastos (1999a),
Freire (2001) e Fácio (1991) e tem como objetivo a simulação aproximada, do efeito do
escoamento superficial sobre o solo, permitindo analisar diferentes resultados
conforme a mudança da vazão do fluxo, seu tempo de atuação, declividade da rampa e
propriedades do solo, como sua densidade e umidade.
Com o objetivo de avaliar o comportamento de alguns parâmetros que controlam o
surgimento e avanço dos processos erosivos foi realizado um levantamento das
diferentes feições erosivas que ocorrem na microbacia do Arroio Sarandi, localizada na
região central do Rio Grande do Sul (Brasil). A microbacia está localizada entre as
coordenadas 540 7’ 35”; 530 57’ 24.50” de longitude oeste e 290 50’ 58”; 290 43’ 27”
de latitude sul e possui uma área de aproximadamente 22 Km2 , abrangendo parte dos
municípios de Santa Maria e Dilermando de Aguiar (Figura 1). Essa região apresenta
um clima Subtropical, onde as temperaturas médias anuais são em torno de 22°C,
ocorrendo grandes oscilações térmicas ao longo do ano, pela presença das quatro
estações. Os índices pluviométricos variam entre 1500 mm e 1900mm com períodos
onde ocorrem chuvas torrenciais.
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Tema 4 - Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios
A microbacia está localizada na Província Geomorfológica da Depressão Central
onde predominam coxilhas suaves e alongadas. A geologia local corresponde a
arenitos finos a conglomeráticos com estratificações cruzadas acanaladas e planares
de pequeno a médio porte pertencentes à Formação Santa Maria, Membro Passo das
Tropas. Predominam argissolos, caracterizados pela ocorrência de um horizonte A
seguido por um horizonte E ou B. Grande parte da área é coberta por herbáceas e
arbustos típicos dos campos gaúchos. A maioria dos cursos de água apresenta mata
ciliar no seu entorno.
Figura 1. Localização da área, Imagem Google Earth (2009).
A ocupação predominante entre os habitantes desta área é a agricultura de
subsistência, cujos principais produtos cultivados são o milho, a mandioca, a cana-deaçúcar, a batata-doce e o feijão. A pecuária também se destaca pelos rebanhos
bovinos, suínos, eqüinos e ovinos em propriedades cujas extensões variam entre 15 e
100ha.
Na microbacia ocorrem vários focos de erosão correspondentes a feições de
pseudo-carste1 associadas a fraturas de direção preferencialmente nordeste.
1
Halliday (2004) utiliza o termo pseudo-carste para definir relevos tipo cárstico presentes em rochas
não carbonáticas, que apresentam elevada solubilidade tanto pelas águas meteóricas quanto as
subterrâneas.
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Depressões do tipo dolinas e uvalas, feições típicas de relevos cársticos, são comuns a
oeste e nordeste da microbacia, porém, como a área não é formada por terrenos
calcáreos, optou-se por chamar tais depressões de pseudo-dolinas e pseudo-uvalas.
Em períodos de chuva intensa as pseudo-dolinas ficam cheias de água e muitos
moradores constroem barramentos nas suas porções mais baixas para
armazenamento de água para dessedentação de animais. Estes barramentos
normalmente não possuem vertedouro o que em períodos de chuvas intensas, muitas
vezes rompem acelerando o processo erosivo.
O surgimento das pseudo-dolinas está associado à presença de rochas estratificadas
com diferenciação textural que é um condicionante geológico geralmente favorável à
ocorrência de piping, pois concentra o fluxo em uma determinada camada onde se
originam aberturas em forma de tubos, que podem vir a sofrer colapsos e originar as
cavidades na superfície.
Além das feições de pseudo-carste, ocorrem, na microbacia do Arroio Sarandi,
sulcos, ravinas e voçorocas. Com base na evolução do processo erosivo atuante na
área, foi escolhida para estudo de caso uma voçoroca de grandes dimensões
conhecida na região como “Buraco Fundo” onde foi realizada a caracterização
geológico-geotécnica e de erodibilidade dos materiais associados procurando
compreender o processo erosivo da região.
2.DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento deste trabalho ocorreu em três etapas: i) Etapa de gabinete,
onde foram levantados dados bibliográficos sobre a área de estudo e elaboradas as
bases cartográficas para o desenvolvimento da pesquisa; ii) Etapa de campo, quando
foram realizadas as observações em ralação aos processos erosivos, com coleta de
amostras de rochas e solos, para ensaios de laboratório e; iii) Etapa de laboratório,
onde foram realizados os ensaios de caracterização e os ensaios de avaliação direta e
indireta da erodibilidade.
A metodologia MCT de Nogami e Villibor (1979) foi utilizada para prever a
erodibilidade dos materiais, fundamentada na obtenção de dois parâmetros: o
coeficiente de sorção (s), obtido no ensaio de infiltrabilidade e a perda de massa por
imersão modificado (Pi), obtido no ensaio de erodibilidade específica. Os autores
propõem uma relação adimensional obtida da divisão do parâmetro “Pi” por “s” ( Pi/s)
com a qual é possível classificar os solos em relação ao grau de erodibilidade, sendo
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Tema 4 - Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios
considerados, por eles, como solos erodíveis quando esta relação for superior ao valor
52.
O ensaio de infiltrabilidade da Metodologia MCT tem como objetivo quantificar a
velocidade de ascensão capilar em amostras de solos indeformadas, nas condições de
umidade natural, seca ao ar (por no mínimo 72 horas) e pré-umedecidas (reensaiando
as amostras), estando confinadas em anéis cilíndricos de PVC, com 5 cm de altura e 5
cm de diâmetro.
O ensaio de perda de massa por imersão modificado foi executado para a avaliação
quantitativa do potencial de desagregação de uma amostra indeformada de solo
quando submersa em água. Para a realização deste ensaio foram utilizadas amostras
de solos nas condições de umidade natural, seca ao ar (por no mínimo 72 horas) e préumedecidas (amostras oriundas do ensaio de infiltrabilidade), confinadas em anéis
cilíndricos idênticos aos utilizados no ensaio de infiltrabilidade.
O ensaio de desagregação ou slaking test consiste em avaliar qualitativa e
visualmente a desagregação de uma amostra de solo circular e não confinada quando
submetida à ascensão do nível de água destilada, até estar totalmente submersa,
totalizando 25 horas de ensaio. Este ensaio foi realizado com amostras indeformadas,
nas condições de umidade natural e seca ao ar, por no mínimo 72 horas, conforme a
metodologia apresentada por Bastos (1999).
Para avaliação direta da erodibilidade foi realizado o ensaio de Inderbitzen (1991),
cujo equipamento consiste em uma rampa hidráulica articulada de 25 cm de largura e
60 cm de comprimento, cuja inclinação pode variar entre 0° e 54. A rampa possui uma
abertura circular central de 10 cm de diâmetro, onde é acoplado um anel contendo a
amostra indeformada, de tal maneira, que seu nível superior coincida com o nível da
rampa para que o escoamento laminar entre em contato com o topo da amostra. A
água e o solo desagregado pelo fluxo são coletados em baldes e passados por um
conjunto de peneiras. As variáveis de ensaio adotadas nesta pesquisa foram as
mesmas utilizadas por Bastos (1999).
2.1.Voçoroca do Buraco Fundo: caracterização geológico-geotécnica e de
erodibilidade
A voçoroca do Buraco Fundo possui 300 m de extensão, 180 m de largura e 10 m de
profundidade e, segundo moradores da região, nos últimos 30 anos o processo erosivo
avançou aproximadamente 40 m em direção a sua cabeceira. Encontra-se encaixada
na rede de drenagem segundo direção preferencial N15º-50ºW e subordinadamente
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N30º-55ºE, mesma direção do alinhamento das pseudo-dolinas e pseudo-uvalas. Um
dos indícios destas falhas é o alinhamento dos pináculos que se encontram no interior
da voçoroca.
A voçoroca está localizada numa vertente convexo-côncava com declividade em
torno de 12º. Na porção convexa, o avanço do processo erosivo se dá
preferencialmente por escorregamentos circulares. Já na porção côncava, a evolução
se dá pela concentração das linhas de fluxo subterrânea originando piping e, como
conseqüência, as pseudo-dolinas e pseudo-uvalas, além dos fluxos superficiais
responsáveis por aprofundar a incisão erosiva.
Um dos principais mecanismos de evolução da voçoroca pode ser observado na
porção noroeste onde se desenvolve uma ramificação relacionada a presença de três
pseudo-dolinas alinhadas decorrentes de abatimentos gerados pelo fluxo subterrâneo
que erodiu parte da camada de arenito da base, deixando o material superficial sem
sustentação o que originou o seu colapso. O fluxo superficial por sua vez, contribui
carregando o material que separa as pseudo-dolinas fazendo com haja a sua união
formando pseudo-uvalas. O fluxo superficial tende a aprofundar a incisão formando
sulcos e ravinas até atingir o lençol freático expandindo a área da voçoroca.
No interior da voçoroca foram encontradas diversas feições erosivas resultantes dos
mecanismos que atuam no processo erosivo como marmitas, pináculos, pedestais ou
demoiselles, alcovas de regressão, dutos ou piping, sulcos, ravinas e escamas. Estas
feições apresentam formas e dimensões variadas dependendo da natureza do solo ou
rocha onde foram desenvolvidas e da origem da água atuante (superficial ou
subterrânea) no processo.
Os solos são classificados como argissolos de espessuras variáveis com substrato de
rochas sedimentares pertencentes à Formação Passo das Tropas, onde ocorre uma
intercalação de camadas de areias finas, médias e grossas com lentes silto-argilosas.
Foi detalhado um perfil de 8,5 m de espessura, denominado de Perfil II, no interior da
voçoroca onde foram identificadas três unidades distintas: arenito na base, acima
deste rocha alterada e no topo o horizonte pedológico A/B.
A camada de arenito rosado mostra estratificação cruzada planar que pode variar
de milimétrica a centimétrica com diferentes graus de cimentação caracterizada por
uma parede vertical que mede em torno de 3,80 m de espessura
A rocha alterada, com espessura média de 3,7 m está localizada sob a camada de
arenito. Sobre esta camada é possível verificar escorregamentos dos horizontes
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Tema 4 - Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios
superficiais, com material depositado no degrau inferior. A unidade superficial é
constituída de um horizonte A pedológico com espessura de até 1 m e um horizonte B
com espessuras variáveis de 10 a 30 cm ou as vezes inexistentes. Apresenta uma
coloração marrom escura e contém, em profundidade, óxido de ferro, raízes e matéria
orgânica.
Na área geotécnica, as rochas sedimentares são conhecidas como rochas “brandas”
por terem um comportamento muito semelhante ao dos solos pré-adesandos. O
horizonte A e a rocha alterada são classificados como areia argilosa e o horizonte B
como uma argila plástica, pois, além do elevado percentual da fração argila na sua
composição, apresenta um limite de plasticidade de 33%. O arenito é classificado
como uma areia bem graduada.
O arenito apresenta um grau de saturação maior do que as demais amostras do
Perfil II, em torno e 68,4%, enquanto o horizonte superficial A/B obteve 34,4% e a
rocha alterada 64,38%.
A porosidade para a camada de arenito foi de
aproximadamente 40%; para a camada do horizonte superficial o percentual foi de
52%.
2.2.Avaliação da erodibillidade
A avaliação qualitativa da erodibilidade foi realizada de maneira visual analisando o
comportamento de amostras indeformadas frente à ascensão capilar.
O horizonte A/B, independente da sua condição de umidade, mostrou-se muito
resistente frente à inundação, pois permaneceu praticamente intacto ao final do
ensaio. É possível justificar tal comportamento pela presença de matéria orgânica,
raízes e óxido de ferro que tendem a estabilizar os agregados.
Já nas amostras de arenito, as partículas foram se desprendendo facilmente desde
os primeiros estágios do ensaio, tendo sua estrutura totalmente desagregada sob ação
da inundação completa, após 24 horas imersão (Figura 2). O processo de ruína das
amostras pode estar associado à baixa cimentação do arenito e a frente de avanço
capilar que expulsa o ar preso nos poros, causando a desestruturação do material.
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Figura 2. Ensaio de desagregação para (A) horizonte A/B e (B) arenito após 24 horas de
imersão.
Os ensaios de infiltrabilidade e perda de massa por imersão da metodologia MCT
foram realizados com amostras do horizonte A/B e do arenito para três condições de
umidade: natural, seca ao ar e pré-umedecida. No ensaio de infiltrabilidade o volume
de água infiltrado diferiu significativamente nas camadas amostradas e nas três
condições de umidade à que foram submetidas. O volume infiltrado nas amostras préumedecidas foi muito menor quando comparado com o volume infiltrado nas outras
duas condições de umidade, para todas as camadas ensaiadas (Figura 3).
Na umidade natural, o coeficiente de infiltrabilidade foi mais elevado no arenito
quando comprado ao horizonte A/B, portanto, a saturação é mais rápida no arenito,
fazendo com que neste material se estabeleça mais rapidamente o escoamento
superficial. Além disto, observa-se uma relação direta entre os resultados do ensaio de
desagregação e os de infiltrabilidade para o material ensaiado, pois as amostras de
arenito mostraram alta desagregação frente à inundação e valores de coeficiente de
infiltrabilidade mais elevados.
130
120
Leitura (cm)
110
100
90
80
70
60
50
40
Horiz. superficial seco
Horiz. superficial natural
Arenito seco
Arenito natural
30
20
10
0
0
1,41
3
5
7
9
11
13
Tem po (Raiz t)
Figura 3. Deslocamento do menisco versus tempo, ensaio de infiltrabilidade
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Tema 4 - Riscos naturais e a sustentabilidade dos territórios
A perda de massa por imersão (Pi) é a porcentagem da massa seca da porção que se
desprende do corpo-de-prova, quando o mesmo é preparado e imerso em água, sob
condições padronizadas. Para as amostras ensaiadas, a perda de massa foi mais
elevada no arenito do que no horizonte A/B. Os valores de Pi/s foram plotados no
gráfico da Figura 4.
3,0
Horiz. Superficial natural
Horiz. Superficial seco
Horiz. Superficial úmido
Arenito natural
Arenito seco
Arenito úmido
2,5
NÃO ERODÍVEL
pi = 40 s
s (cm/min1/2)
2,0
pi = 52 s
1,5
ERODÍVEL
1,0
0,5
0,0
0
20
40
pi (% )
60
80
100
Figura 4. Classificação da erodibilidade segundo Nogami e Villibor (1995) e Pejon (1992).
Para Nogami e Villibor (1979), o solo é considerado erodível quando relação Pi/s é
maior ou igual a 52 desta forma, o arenito em todas as condições de umidade
ensaiadas e o horizonte A/B, nas amostras secas ao ar e pré-umedecidos são erodíveis.
Na condição de umidade natural o horizonte A/B não é erodível.
O ensaio de Inderbitzen para avaliação direta da erodibilidade foi realizado com 24
amostras indeformadas do horizonte A/B e do arenito, totalizando 48 amostras em
condição de umidade natural secas ao ar durante 72 horas e pré-umedecidas com
inclinações de 10o, 26o, 45o e 54o de rampa e vazões de 3 l/min e 6 l/min.
Tanto para o horizonte A/B quanto para o arenito foi possível confirmar a relação
direta entre a perda de solo, a inclinação da rampa e a vazão de ensaio. As amostras na
condição de umidade seca perderam mais solo do que as amostras nas demais
condições, verificando a influência da sucção. Verificou-se que a perda de material foi
maior no arenito do que no horizonte A/B sendo que para uma mesma condição inicial
da amostra, as perdas foram maiores nas amostras secas ao ar e menores nas préumedecidas
Para a determinação do parâmetro k (g/cm2/min/Pa) e a tensão cisalhante
hidráulica crítica h crit (Pa), efetuou-se o cálculo de erodibilidade para os resultados
obtidos no tempo de 10 min do ensaio Inderbtizen. Através dos valores de K e h, foi
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possível estabelecer comparações entre a suscetibilidade à erosão entre as camadas
do horizonte superficial e de arenito presentes na voçoroca do Buraco Fundo.
O parâmetro k indica a erodibilidade do solo, então, quanto mais elevado for, mais
suscetível é o solo/rocha à erosão. Valores baixos para h a indicam que uma tensão
menor é suficiente para desencadear o processo de destacamento e transporte das
partículas. As amostras demonstraram um comportamento típico para o ensaio, ou
seja, para tensões menores ocorreram perdas menores e, com o aumento da tensão
hidráulica imposta pelo ensaio, à quantidade de partículas desprendidas das amostras
também formam maiores.
Para a camada de arenito o coeficiente de erodibilidade (k) obtido foi de 0,08
g/cm2/min para tensão hidráulica de 3,5 Pa. Para o horizonte superficial esse valor
ficou em torno de 0,02 g/cm2/min para a mesma tensão. Os valores hcrit de ambas as
camadas ficaram bem próximos, porém a camada de arenito apresentou h crit inferior,
entre 0,5 e 1,0, enquanto que os valores para a camada superficial situaram-se entre
0,8 e 1,2. Para a amostra de arenito em condição de umidade pré-umedecida não foi
possível calcular a tensão hidráulica crítica.
Os valores de K foram, em média, maiores para a camada de arenito do que para a
camada superficial, portanto, neste caso, a rocha é considerada mais erodível que o
solo. Suas taxas variam de 0,002 a 0,005, bem inferiores quando comparadas com as
taxas do arenito que são de 0,001 a 0,0044. A Figura 5 apresenta o resultado de todos
os ensaios com os valores de perda de solo e a sua relação com a h crit e o coeficiente
de erodibilidade (K).
A média da h para todas as amostras nas diferentes vazões e teores de umidade foi
de 1,1 Pa para o horizonte superficial e de 0,95 Pa para o arenito. O coeficiente de
erodibilidade médio para as camadas foi de 0,004 g/cm2/min/Pa para o horizonte
superficial e de 0,03 g/cm2/min/Pa para a camada de arenito.
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0,14
0,12
Perda de solo (g/cm2/min)
Horizonte superficial
Arenito
0,1
0,08
k = 0,03 g/cm2/min/Pa
th = 0,95 Pa
0,06
0,04
k = 0,004 g/cm2/min/Pa
th = 1,1 Pa
0,02
0
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
Tensão hidráulica (Pa)
Figura 5 - Perda de solo versus tensão hidráulica para o horizonte A/B e arenito
3. CONCLUSÃO
Ensaios de desagregação e ensaios de erodibilidade (infiltração e perda por
imersão) são métodos indiretos que fornecem bons resultados para avaliação da
erodibilidade. Estes ensaios são simples, de baixo custo e podem ser utilizados para
uma avaliação prévia do comportamento dos materiais frente à erosão hídrica.
Com base nos resultados dos ensaios constatou-se que o destacamento das
partículas do arenito é superior e ocorre mais rapidamente do que no horizonte A/B, o
que pode estar relacionado à perda da resistência devido à sucção e a aparente
fragilidade do agente cimentante entre suas partículas.
O horizonte A/B apresenta uma resistência à erosão mais elevada, devido
principalmente a presença de matéria orgânica, raízes, maior teor de finos e uma
estrutura pedológica mais desenvolvida.
Com esses resultados é possível afirmar que os teores de umidade, tanto do solo
quanto da rocha sedimentar, são decisivos para o comportamento do material frente à
ação erosiva da água. Em períodos de estiagem, as camadas expostas perdem umidade
para atmosfera, sendo facilmente erodidas em um evento de chuva torrencial.
A diferença de erodibilidade entre o arenito e o solo explicaria em parte a gênese
dos pseudo-carste encontrados na área de estudo. A percolação de água subterrânea
ao longo da camada de arenito que apresenta uma erodibilidade mais elevada dá
origem a dutos pelo carreamento de partículas provocando um colapso do material
acima (camadas superficiais).
Sugere-se, para os processos erosivos ainda incipientes que ocorrem na região, a
sua contenção a fim de evitar estes avancem e atinjam a camada de rocha sedimentar,
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pois, conforme os resultados deste trabalho, esta é mais erodível que as camadas
superficiais do solo.
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